segunda-feira, 21 de novembro de 2011

22 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - MUSGO SOB OS PÉS

reprodução
Insone que tornara-se durante estes anos depois dos 35, caminhou pelo apartamento naquela escuridão pela metade que precede o amanhecer sozinho e descalço. Notou em vãos e detalhes como batentes da porta do banheiro; viu as revistas espalhadas pelo carpete da sala. Por alguns minutos ficou verificando seu território.
Parou e olhou para tudo aquilo que era seu. Nunca se dera conta como agora que a real importância de morar bem, de ter  o seu castelo que ficava pegado ao seu bem-estar além do daquele proporcionado pela profissão.
Acendeu o cigarro fumado pela metade horas antes, mas antes foi à cozinha porque queria que o silêncio mantivesse o castelo como reino seu. Não que Felino fosse acordar, o que já aconteceu outras vezes, e mesmo que o fizesse, friozinho que estava, pernameceria na cama quente do quarto real. O Rex sim. Este despertaria a jato fogueteando pela casa e causando estardalhaço.
Preferia agora, já, quedar-se sozinho. Recostou na parede que de frente podia ver a fresta da porta que saía à sacada. Fitou a vida lá fora protegido pela muralha do seu castelo. Daqui a pouco, como um formigueiro a mudar-se todo dia, as pessoas ganhariam à rua e tudo recomeçaria indelevelmente. 
Aquietou-se mais e mais. Absorto, foi trazido à realidade porque a cinza já alcançara seus dedos. Nem baforou a última tragada.
Da parece recostado que ficara, deitara-se por completo. Nem se importou com o frio e fechou os olhos.
Reprodução
Seus pés sentiram o frio das pedras limbosas que direcionavam às ruínas daquele forte romano no norte da Escócia. E o musgo am algumas delas decoravam um tapete verde para caminhar.
Olhou, viu a construção à frente. Parada, envolta em uma névoa digna desta parte das Ilhas Britânicas. Atrás, o seu castelo imponente aguardando a volta que seria apressada pelo tempo, pelo clima. Vagou por entre o forte e pôde ouvir ruídos provocados pelo vento que assobiava. Tão só que ali encostou o corpo em uma pedra cinza lapidada que formava quase uma cadeira. Perscrutou até onde alcançava seus sentidos.
'Parece que esta língua... Latim? Ouvindo estou os legionários romanos conversando. Aqueles dois, falam que agora, na Itália o sol deveria estar brilhando por toda a terra. Eles estão estranhando este frio úmido e chuvoso em demasia'.
Olhou para seu pés grandes e procurou esquentá-los. O vento o fez tiritar. Levantou-se e fez meia-volta ao seu lugar naquela Escócia misturada de romanos com pictos e jutos. Misturada com pedras e a maresia ao longe; de segunrança com solidão."
Acordou com o relógio do telefone. E aí então casa se transformou em barulho e correria.

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