quarta-feira, 29 de junho de 2016

VIAGEM CCLXXXIII - PORQUE É ASSIM QUE SE RESOLVE

Arquivo pessoal - SP
rema, rema mais, rema de novo

contra a corrente

a seu favor, porque é assim que se resolve a vida

tome, tome na cabeça quantas vezes o mundo lhe aporrinhar

cansaço?

extenuado pelo esforço?

pois reme mais, e de novo

até o fim, seja qual for o fim,

seja onde ele esteja; 

rume até onde você aguentar,

rume até mesmo a esmo

porque assim é que se resolve a vida

sem mais, sem menos

rota esgarçada, rota, é verdade, mas é a única

que se lhe apresenta

portanto, sem fugir da raia

empunhe o remo, se jogue, 

nade, bóie, 

estique o pescoço, respire,

e não afunde

mantenha-se firme

porque é assim que se resolve a vida

porque de tristezas, das rasteiras rastaqueras,

a vida é povoada,

se você não se mantiver

acima, remando, respirando...

os ruins tragar-lhe-ão à fossa abissal.

não se renda! porque é assim que se resolve a vida

terça-feira, 28 de junho de 2016

52] CENÁRIO SP - RESISTÊNCIA E RESILIÊNCIA

Arq. pessoal, Rua Teodoro Sampaio/SP
Tudo tão cênico, absurdamente cênico por toda e qualquer esquina da grande metrópole alfa daquele país-continente. Tudo parece ser um cenário milimetricamente estudado e composto. Mas é tudo real e sem ensaio.

Esparramando influência e atraindo olhares, visitas e moradores em todos os dias de sua vida, desde que os padres resolveram estabelecer um povoado logo depois da Serra do Mar, à época uma obstáculo difícil e que pôs à prova a resistência.

Resistente, foi assim que São paulo se tornou; resiliente depois de tantos contratempos e crises.
E ele, um habitante nato, se afigurava em um verdadeiro ser resistente e resiliente, depois de passar por tantas provas, obstáculos, safadezas e puxadas de tapete.

Amor desde sempre e formou tal compromisso quando se apercebeu que ele e São Paulo tinham tantas coisas em comum logo que se entendeu por gente, por homem pensante; tinha seus 20 e poucos. Antes já gostava muito, mas é que nesta época, tomou para si a defesa da cidade, mesmo com todos os seus problemas e com as respectivas soluções.

Casou e descasou. Por algumas vezes...
Cobriu-se de tantas dúvidas e ressentimentos quase aos 30.
Redescobriu-se aos 30 e redescobriu que podia tentar, ao menos, um nova linha a ser seguida.
Viu de perto outras possibilidades de felicidade.
Reinventou-se

Resiliente que se tornara, abstraiu (e ainda abstrai) todos os tais ressentimentos e mágoas e segui em frente; São Paulo, com brasileiros ensimesmados, aprendeu, ao longo dos quase 500 anos, a abstrair detratores fugazes e perenes com aquela visão única de beleza, de estética, de "prazeres".
Por hoje, neste ano de 2016, tanto o que resolver, tanto o que travar conhecimento e tanto o que fazer que a vida corre sem parar e ele precisa estar atento para não ser engolido por tudo que há neste mundo debaixo do azul.

Duro e resistente.
Impávido e resiliente.
Segue seus dias sem fim próximo, como segue a cidade até não se sabe quando.


sábado, 25 de junho de 2016

VIAGEM CCLXXXVII - UM SUPORTE PARA RECONCILIAR

Arquivo pessoal - Teatro Municipal SP
suportar, depois separar
desencostar-nos um do outro, apoiando-nos solitariamente

espicaçar a dor para longe?
(parece não ser possível)

vem a fase de remediar, mas remediar o que?

todo aquele leite derramado pelo chão frio e branco, 
onde tantas vezes nos roçamos?

de todos os barulhos de fora... eu não ouvia nenhum
som,ente sua boca ao dizer indescritíveis desejos, 

remotos desejos, recônditos desejos
em perfeito frêmito de pelos

viscerais e sufocantes beijos
ancestral e apertado abraço

daqueles infindáveis apertos,
sentindo seu hálito, respirávamos o ar que saía de nossas bocas

cansadas, mas firmes
inebriadas, mas alertas

fazendo nossas protuberâncias saltarem, intumescerem-se
arfávamos, arfávamos sem parar e agora?

remédio amargo esta tal separação

"porque o suporte de antes já não existe mais"
por qual motivo estamos onde estamos?
em frente um ao outro,

rasgando as palavras, ofendendo nossas honras 
e ainda nos amando?

qual o remédio para tudo isto?
aquele amaríssimo fel que deixa nossas bocas com gosto de bílis?

fico sem entender para onde iremos
separados, cada um em seu caminho...

poderá haver um caminho de reconciliação?
(mínimo, estreito, curvo... poderá?)

segunda-feira, 13 de junho de 2016

VIAGEM CCLXXXVI - HORAS QUE PARARAM O TEMPO

Arquivo pessoal - Praça do Patriarca/São Paulo
Mais uma vez chegou a ele, desta feita um papel impresso em sua mesa, estrategicamente ali posto. Leu com atenção se demorando em detalhes que estavam, quiçá, um tanto incompreensíveis.

Quem poderia ser? 

Não fazia a mínima ideia; gostaria de saber para poder conversar sobre, explorar mais tal mente e saber mais sobre a pessoa. Porém, esta vez seguiu as outras: ficou sem saber o autor e parou de se ater a isto, pelo menos por hora...

"a dor no frio é de matar, machuca, corta, "queima"

o frio da dor solitária transparece em nossas caras, em nossos corpos

a dor de ver você ir é sofrimento

o frio sem você na cama é imensidão

a imensidão do nosso amor é a cama desarrumada

desarrumação de meus sentimentos quando você para longe

espera de dias, de semanas, com os ponteiros lentamente a andarem

imaginando, fantasiando em derradeiros gozos solitários

separados e, por isto, somente em reparos nestas construções solitárias de prazer

nos dígitos do telefone um alívio

minutos que nos ouvimos se tornam bálsamo benigno para nossas vidas

depois... Vem o dia todo com suas tarefas, problemas, definições 

pessoas e toda a cidade que frenética se move, 

desvairadamente se mexe, se chacoalha, se requebra

e São Paulo vai seguindo adiante o tempo porque não para nunca

mas as horas... quão feitoras elas se tornam,

a vida longa longe de mim e longe de você

de intermináveis horas que não cessam de parar a a cada vez que olho o relógio

parecem paradas no tempo

tempo que não é nosso amigo

porque se fosse, este tempo de estarmos distanciados não teria tempo".

quarta-feira, 8 de junho de 2016

VIAGEM CCLXXXV - PROBLEMAS, LARANJAS E O JOÃOZINHO

Arquivo pessoal, Rua Teodoro Sampaio, SP
Acordou cedo, antes mesmo do horário habitual e, sem vontade de voltar para a cama, iniciou logo nos afazeres prazerosos do dia, ou melhor, preparar o café da manhã, zanzando pelo espaço. 

O cheiro do pó de café evocava um tempo tão anterior e o levava diretamente à infância com a família - composta por ele, uma irmã e pela mãe tão-somente - reunida para o longo dia de trabalho e luta.

À época ele não lutava. Bem, lutava e muito. Para quê? Para conseguir entender a matemática ensinada na escola. Todo dia quedava-se uma briga renhida quando a professora (dona, como todos deveriam chamá-la) escrevia na lousa com giz e com letras grandes a palavra "problema". E lá vinha o tal Joãozinho que possuía duas dúzias de laranjas querendo dividir entre ele e mais dois amigos, mas cada um deveria ter uma laranja a mais que o outro: nunca era uma repartição simples, puramente simples. 

Mas antes, na hora do banho (ainda não executava o banho completo, o que viria a ocorrer alguns anos depois), ele já podia sentir o cheiro do líquido preto espalhando-se pela casa. A mesa posta: pão, manteiga, um pedaço de bolo feito na tarde de antes, o leite com café na xícara, açúcar e uma banana, em geral, nanica. Terminava  de se vestir com seu estômago morrendo de fome e, ainda ajeitando o uniforme sentava-se à mesa. Falante e entusiasmado, ele também tomava uns goles de café preto. "Mãe, na minha classe só eu tomo café puro! Igual meu pai, né?". A mãe, ainda ressentida com Deus pela morte prematura do marido, assentia com a cabeça disfarçando uma ponta de desgosto que poderia ser colérico. 

No dia que tinha marcado prova de matemática, ele não queria se levantar da cama; a mãe, diligentemente, o puxava arrastando-o. Neste mesmo dia não queria tomar banho e lá vinha ela "jogando-o" debaixo do chuveiro quente. Toda vez ele inventava uma dor, uma possível febre... Tudo para escapar da famigerada e odiada prova de matemática, geralmente composta de cinco problemas, mais algumas contas a serem resolvidas.

Hoje, xícara pelando nas mãos, fumegando, andando pelo apartamento na fria manhã de junho em São Paulo, ele pensa que gostaria de ter uma prova de matemática com cinco... Não, poderiam ser 20, 30 problemas que não seriam problemas nenhum. Tanta responsabilidade, tanta conta para pagar, tantos fatos a serem resolvidos, egos e vaidades a serem administrados, complexos... Findando o café, vestir-se-á com o terno de impecável caimento e deparar-se-á com todos os problemas do dia a dia de um adulto. Verdade: ele tem preparo para tal e não deseja uma volta à infância... É que a saudade vem, se instala e aperta o peito às vezes. As horas do dia se encarregam de afastá-la logo que sai de casa. 

Nunca mais ele soube do tal Joãozinho que não sabia como dividir as laranjas com seus amigos. Talvez ele tenha morrido pelo caminho. Ou melhor, pode ser que ele ainda esteja tentando dividir seu pequeno tesouro com os amigos em uma abafada tarde de verão.

domingo, 5 de junho de 2016

HIERARQUIA URBANA NO BRASIL, BREVE ESTUDO

Arquivo Pessoal - Viaduto 9 de Julho
REGIC - Região de Influência das Cidades
Estudo do IBGE, de 2007, sobre as interações sociais, econômicas e de comunicação entre a rede hierárquica de cidades no Brasil e suas imbricações e, principalmente, sobre as respectivas regiões de influência geográfica destes municípios; abrange todo o território nacional e as 27 unidades da Federação. Apesar de ter quase dez anos é ainda o mais completo apanhado que temos para analisar como funcionam as relações entre os diferentes centros urbanos.
Estudo completo disponível  no link do instituto: completo: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/regic.shtm?c=7

Existem, de acordo com o trabalho do IBGE, cinco grandes categorias de centros urbanos no Brasil que, por sua vez, foram subdivididos em dois ou três subníveis (com o números de habitantes da respectiva região metropolitana):


1. METRÓPOLES - Compõem a lista de item os 12 maiores centros urbanos do país divididos em três categorias.

a) Grande metrópole nacional (01):
- São Paulo (SP), 19.683.975 de habitantes na Região Metropolitana
b) Metrópole nacional (02): 
- Rio de Janeiro (RJ), 11.835.708
- Brasília (DF), 3.717.728
c) Metrópole (09):
- Belo Horizonte (MG), 5.414.701
- Porto Alegre (RS), 3.958.985
- Recife (PE), 3.690.547
- Fortaleza (CE), 3.615.767
- Salvador (BA), 3.573.973
- Curitiba (PR), 3.174.201
- Goiânia (GO), 2.173.141
- Belém (PA), 2.101.883
- Manaus (AM), 2.106.322


2. CAPITAL REGIONAL

a) Capital Regional A (11)
- Campinas (SP), 2.797.137(único município que não é capital estadual)
- Vitória (ES), 1.687.704
- Natal (RN), 1.351.004
- São Luís (MA), 1.331.181
- João Pessoa (PB), 1.198.576
- Maceió (AL), 1.156.364
- Teresina (PI), 1.150.959
- Florianópolis (SC), 1.012.233
- Aracaju (SE), 835.816
- Campo Grande (MS), não possui região metropolitana estabelecida
- Cuiabá (MT), 833.766

b) Capital Regional B, por ordem alfabética (20)
- Blumenau (SC)
- Boa Vista (RR)
- Campina Grande (PB)
- Cascavel (PR)
- Caxias do Sul (RS)
- Chapecó (SC)
- Feira de Santana (BA)
- Ilhéus-Itabuna (BA)
- Joinville (SC)
- Juiz de Fora (MG)
- Londrina (PR)
- Maringá (PR)
- Montes Claros (MG)
- Palmas (TO)
- Passo Fundo (RS)
- Porto Velho (RO)
- Ribeirão Preto (SP)
- Santa Maria (RS)
- São José do Rio Preto (SP)
- Uberlândia (MG)
-Vitória da Conquista (BA)

c) Capital Regional C, por Unidade da Federação (39)
- SP: Santos, São José dos Campos, Sorocaba, Piracicaba, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Araraquara, Araçatuba; 
- MG: Uberaba, Pouso Alegre, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga-Cel. Fabriciano-Timóteo, Teófilo Otoni, Varginha
- MS: Dourados
- AC: Rio Branco 
- ES: Cachoeiro do Itapemirim
- RJ: Campos dos Goitacases, Volta Redonda-Barra Mansa
- BA: Barreiras 
- PA: Marabá, Santarém
- AP: Macapá
- MA: Imperatriz
- AL: Arapiraca
- PE: Caruaru
- RN: Mossoró
- CE: Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha
- BA-PE: Juazeiro e Petrolina
- PR: Ponta Grossa
- SC: Criciúma
- RS: Ijuí, Novo Hamburgo-São Leopoldo, Pelotas-Rio Grande
- GO: Araguaína 


3) CENTRO SUB-REGIONAL (169)


4) CENTRO DE ZONA (556)


5) CENTRO LOCAL (4.473)

sábado, 4 de junho de 2016

VIAGEM CCLXXXIV - ENTRE AS CÉLULAS E 'INTERPLANETARIAMENTE'

Arquivo pessoal - Metrô Clínicas
pelo espaço interplanetário eu vou;

alguns amigos, mais próximos, me acompanham
(eles entendem, eles sabem, eles veem);

espaço que não se pode mensurar, onde não há norte, nem sul, nem leste, tampouco oeste;

e o onde o centro é você que pode determinar: o seu centro pelos siderais vácuos inaudíveis
(parece aquele sonho que lhe contei: eu precisava gritar, eu abria a boca, mas se ouvia um sussurro);

e pelo interior das minhas células?

onde estou eu? e o meu grande, profundo, abissal amor que não se vê?

perdido, cortado, desencapado feito um feio fio solto de alta - altíssima - tensão a chicotear o ar,

que eu respiro e que você não está aqui? sumiu?

carregou suas malas?

e os sentimentos entranhados no seu corpo?

aqueles suspiros e gemidos?

vagam pelo espaço interestelar... Qual espaço?

o meu vaga, divaga e conta por dentro o que sinto

oque  me pulsa e o que lateja... Imponente

na vastidão das bilhões de moléculas, juntas

porém um tanto desconjuntadas no aparato

sóbrio de se manter em um castiço comportamento
(complexo, dificultoso);

em sua ligações eletroquímicas

elas se movem irradiando todo e por completo o meu amor para você;

em espaços tão exíguos que se mede por micro nano de cumprimento

e que se ricocheteiam e esperneiam;

e pelo espaço das galáxias, as mais longínquas, onde o homem nunca vai chegar,

reverberando em ondas que só mesmo quem ama... Sabe.

aqui dentro... E lá fora: por nós