sábado, 31 de março de 2012

35 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - CAFEÍNA

(antes, muito antes até mesmo do que já foi escrito, ele - aquele que mora no 'castelo' em São Paulo com Felino, o preguiçoso 'conselheiro real', e Rex, o estabanado 'príncipe', - morava só. E foi assim por um bom tempo, até derrapar novamente e se estabacar todo no chão! )
Reprodução, fórmula da cafeína


Uma proeza é aquela de tomar muitas xícaras de café, que de xícaras estão mais para canecas mesmo.
Apareciam-lhe coisas em sua cabeça que pensava como conseguia ter tantos pensamentos - devaneios - de quimera, porque nem todos logra realizar na hora em que eles 'aparecem'.
De agora, destes tempos; não pensamentos de antes.
Come, fato incosteste. Mas não muito; calorias sim, concentradas.
Vícios alguns como todos nós não é?
Alguns secos, outros molhados. Alguns são vícios superados.
Cafeína deve ser o mais forte.
Voltando ao café, a toda hora feito.
Conexão maior entre suas sinapses em forma de vertedouro, como uma onda que te leva a quem você ama, ao amor unicamente seu.
Percorre assim as tantas vezes que fica com a televisão ligada, o computador ligado, as luzes ligadas, se calor - ar-condicionado, se frio - o aquecedor.... E se nenhum alguma outra coisa que para substituir. Acha um toda vez.
Livros, músicas e filmes sendo baixados da rede. Uma sobrecarga, talvez, de energia por toda a casa.
Por vezes, toma banho com a porta aberta, cigarro indefectível na pia, o copo daqueles de pinga, mas de café, é claro.
O dia já está no meio e tanta coisa ainda por fazer, em casa e na rua. E as fará, e mais... Com um pé nas costas.

terça-feira, 27 de março de 2012

REDE URBANA, 300 MIL

Como via de regra, a rede urbana do municípios com mais de 300 mil habitantes também aparece de forma irregular e concentrada. Via de regra porque segue a tendência verificada para o conjunto da população no país e sua má distribuição: temos grandes espaços vazios e muitas manchas urbanas que são verdadeiros formigueiros humanos.
Estes municípios caracterizados/classificados como de porte médio somam, segundo os dados do censo 2010, 79 de norte a sul, de leste a oeste, em todo o Brasil. Apenas os municípios em Roraima e no Tocantins não entraram na lista; todas as demais Unidades Federativas (incluem-se os Estados e o Distrito Federal) tem ao menos um deles acima deste valor. Boa Vista (RR) tem 284 mil habitantes; Palmas (TO) conta com 228 mil.

Amazonas, Maranhão, Alagoas, Piauí, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Sergipe, Mato Grosso, Rondônia, Amapá e Acre são as 11 UFs onde apenas as respectivas capitais superam a cifra dos 300 mil. O Distrito Federal é um caso á parte pois possui apenas uma unidade administrativa, Brasília, que não é 'exatamente' município.
Ceará, Pará e Paraíba têm, além de Fortaleza, Belém e João Pessoa, mais uma cidade que supera a marca desta breve postagem. Ressalta-se que nos dois primeiros ambos municípios se encontram-se na região metropolitana das capitais e na Paraíba um deles é localizado no interior do Estado.
Um quadro ajuda a explicar e visualizar melhor todos estes números. Municípios com mais de 300 mil habitantes, RM e Interior:
UF
SP- 21
RJ- 08
MG- 06
PE- 05
PR- 04
RS- 04
ES- 04
BA- 03
GO - 03
SC- 03

Pode-se dizer que as regiões metropolitanas detêm a maior parte deles.
Em São Paulo, das 21 cidades listadas, 11 estão fora da RM da capital bandeirante, o que demonstra uma mancha urbana no interior bem desenvolvida, ao contrário do que visto no Rio de Janeiro, onde das oito, apenas uma delas não está nos limites da RM da capital. Em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul registra-se um empate entre RM e INT; no Espírito Santo todos eles pertencem à Grande Vitória.
Por outro lado, relizando uma contraposição, em Pernambuco apenas um deles não está na RM de Recife e no Paraná dos quatro, três estão fora da RM de Curitiba.

Destes 79 municípios, 53 são localizados nas regiões metropolitanas estabelecidas; incluí-se nesta conta as 25 capitais que estão acima do teto dos 300 mil e Brasília.
Fazendo um apanhado por regiões, somente no Sudeste há 39 destas cidades - quase a metade do total de 79 -, localizada em apenas quatro Estados: SP, RJ, MG e ES. No Nordeste registraram 17, no Sul 11, e finalmente nas Regiões Centro Oeste e Norte seis em cada uma.

segunda-feira, 26 de março de 2012

34 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - MÉDIA PELA MANHÃ

Reprodução
Noite curta pelas horas dormidas, mas acostumara-se assim desde algum tempo. Sem problemas dormir pouco e seu corpo não pedia sono ao longo do dia. "Deve ser pela quantidade de café que eu tomo!", relembrava para que o próprio corpo "ouvisse" e incorporasse a frase como um vaticínio.
Levantara mais cedo, como de costume. Faz tudo com vagar. Inclusive na troca dos utensílios usados pelos outros dois habitantes do castelo inexpugnável que contruíra em São Paulo. Sua cidadela instransferível e sem nódoa.
Os bichos ficavam todos contentes logo pela manhã: água fresca, caixa de areia trocada, jornal de domingo reposto e a comida farta e desmedida. Toda vez que ele colocava a comida para o Felino, o gato, todo regateiro, lhe fazia carinhos nas canelas cabeludas proporcionando uma emoção única de carinho; um pouco acima do peso, ele deveria iniciar um regine no próximo mês. Já o príncipe, Rex, todo estabanado comia em desespero como se fosse a última de sua vida ou como se fosse a primeira vez que comesse em sua vida. Derrubava muitos grãos de ração para fora imediatamente linguados goela abaixo.

Dirigia-se com um copo de água gelada em mãos ao quarto de estudo para desligar o computador e tirar os livros do acesso dos dentes de Rex. As estantes cobriam três paredes do chão ao teto, com os livros de todos tamanhos protegidos por um vidro fino e transparente. A luz providencial ao lado do pc o ajudava a ler com muita atenção tudo que vislumbrasse em seus estudos e andanças pelas letrinhas miúdas. Ao sair, deixava a luz azul esmaecida do aparelho virtual a noite toda.
Feito isto, ele ia tratar dele. Um bom alongamento enquanto a água do café entrava em ebulição, na cozinha mesmo. 
Fome? Raro ter logo que acordava. Preferia andar os 10 minutos até a editora porque a caminhada quase plana tinha apenas quarteirão - de uma subida íngreme - o que bastava para o estômago avisar que ele estava vivo e faminto.
Nestas vezes, a padaria ao lado do suntuoso prédio construído nos anos 1990 onde trabalhava servia de ponto de parada para pedir no balcão e tomar em pé mesmo (nunca havia uma mesa) um café com leite e pão com manteiga na chapa. Bem tradicional e bem que matava sua fome toda vez.
Ruídos de todos as entonações na padaria de nome português (também muito comum em São Paulo), a "Reino de Algarve", com atendentes se desdobrando para que os clientes esperassem o mínimo possível. Um deles, novato, já o reconhecia e cumprimentava com um sonoro 'bom dia' de um sorriso largo e confiante. Simpatia, seu predicado mais visível. Estes dias passados até trocaram palavras sobre a convivência entre cães/gatos/humanos todos juntos habitanto o mesmo local. 

Saborear a média assim, no canto onde se formava o ângulo de 45° do balcão construído em U, sendo atentido com primazia e sorrisos metálicos de aparelhos, aumentava a fome e a gratidão pela bênção de estar bem servido. O rapaz, nem tão moço e nada velho, tinha um sotaque típico da Mooca, com nível de vocabulário mais abrangente que pudesse supor os "letrados". As questões de futebol, por exemplo, nunca tornaram-se conversas entre os dois (claro, estas conversas eram entrecortadas e meio curtas). 
--- E a semana, promete?
(sua indefectível pergunta às manhãs de segunda-feira)
--- Promete sempre né? Daqui a pouco tenho uma reunião do outro lado da cidade, mas antes do almoço estou de volta. Muito dinheiro para rolar e uma equipe bem treinada. Promete porque eu já sou a promessa que meu presidente procurou durante muito tempo: esperto e bom profissional. E isto traz muito dinheiro para a conta bancária dele.
--- Assim que se fala. Para mim, promete também. Vou prestar um concurso no próximo domingo para investigador de polícia. Sabe, é meu sonho. Preciso ganhar mais e estou estudando para ir bem na prova. Fiquei meio atrapalhado no começo, muitas coisas de português e de conhecimento jurídico que... vou te falar! Fazia tempo que eu não pegava em apostilas para estudar.
--- Você consegue. Concentre-se.

Acabava ganhando quase todo dia que passava lá um dedo de café grátis, devia ser pelo fato de tratar bem o mooquense estudioso. Um aperto de mãos, o "bom trabalho" recíproco, comanda a ser paga. Na fila do caixa, seu silêncio e paciência de Jó e matutava... Matutava. 
Logo mais estaria de novo em seu castelo onde poderia deitar-se onde bem quisesse e sonhar com quem quisesse. Porém renovava-se em poder conversar com alguém que não fosse do trabalho. Lembrou do veterinário do Rex, da vizinha ao lado e do atendente da padaria: o castelo deveria ficar com sempre, intocado. mas ele fora poderia trocar impressões acerca das pessoas e coisas com os outros.
Pronto, a fome fora vencida com a média, tão 'ordinária' aos brasileiros mais comuns.

sexta-feira, 23 de março de 2012

VIAGEM XLIII - LÁ EM ANDRÔMEDA

Reprodução, a galáxia
Qual sua dúvida? Ir ou ficar? Não minta, você já se decidiu.
Você não poderia se perder de mim, aumentar a distância que nos separa.
Agora nem nos vemos.
E porque disto tudo?
Caminhar para o outro lado para realizar o que? 
Dar as costas a toda esta experiência vivida é trair um aliado no meio de uma guerra contra o mais poderosos inimigo e bandear-se para o lado dele.
Sabe o que é isto?
Mais que traição. É um menosprezo atroz.
Vigiar as grandes maquinações que você engendrou para aumentar a distância é de um desequilíbrio de um dia de chuva a derrapar os pneus em uma estrada vazia. Sem socorro, sem para-médicos. Como naquelas paralelas dos pneus na água da chuva.
(não há boca-a-boca)

Eu fui viajar para longe. Quis mesmo ir à Andrômeda, na espiralada galáxia maior que temos como vizinha; espiral igual ao DNA que possuímos em nossas pequeninas células.
Fiquei matutando: ir para um lugar bem pequeno poderia ser uma ideia melhor. Abstrair ao ver tantos congêneres a mim. 
É que Andrômeda tem aquela calma que eu tanto preciso depois do abandono na estrada: a porta se fechou ao descer do carro, o estalido foi seco e metálico.
Então viajei para lá. Passeei com calma e atento a tudo aquilo no vácuo que só o universo tem. Silêncio de minha alma foi tocante.
E quase chorei. Não é dó de mim não... Porque ter dó de si não é coisa que valha muito em uma estrada vazia. E Andrômeda não é vazia: contém aquela paz que agora eu tanto necessito. E que só eu posso dar a mim.
Chorei por você e no diferente ser que se tornou.
Você desapareceu na estrada. Ao contrário dos filmes de amor nos quais aqueles que abandonam sequer olham para trás, você olhou. Três vezes. Na primeira, fez um gesto com as mãos porque viu que eu me levantava do chão para lhe seguir. 
"Pode parar". Li em seus lábios. As outras duas vezes que restaram, eu já estava a caminho daqui onde estou.
Foi aí que me dei conta que não há sofrimento que possa ser pesado em prol de algo. Fui para o outro lado. Lá pelos lados do vácuo da galáxia de Andrômeda.
Vizinha à Terra,  seu pacifismo atávico vai me fazer bem. Dormirei um sono de um justo.

terça-feira, 20 de março de 2012

VIAGEM XLII - DO LADO DE LÁ

Reprodução
Tem sempre que haver por ali uma ponte, longe ou perto, com o imenso e duro chão lá embaixo que quase não se pode ver.
E olhar para baixo é tremedeira na certa. Concentre-se então em atravessar a ponte, que pode balançar com o vento, com a sua insegurança, com sua passagem arrastada por ela e com tantas indecisões.
Pontes que formam um emaranhado de ligações entre quaisquer um de nós: elas existem;
seja entre negros e brancos ou entre amores quase impossíveis.
Sempre há uma por aí construída mesmo que não usada.
Vejam só como acontece quando elas estão esquecidas, sujas ou rotas, ou ainda faltando algumas partes para uma travessia segura. Temo que o tempo as apaguem das nossas memórias.
Nada é seguro, e quem assim falou, cometeu erros em cima de erros. Uma coleção deles.
Segurança para quê? O que querem aqueles que desejam estar seguros, protegidos ao caminharem pelas edificações com o azul por cima e o chão por baixo?

As pontes são tais como estreitos que ligam massas de terra... E por eles passam poucos de cada vez?
Passa um só de cada vez. Porque aquela ponte é a sua trilha para não estacar do lado de lá e esta é só você mesmo que pode marcar pelo chão. 
Quando você a vir, saberá que é sua.
Então, quando se deparar com um fim de um processo, à beira do precípicio, ele não será um fim.Olhem à frente.
Fase nova, de exploração e o caminho é a ponte.
Duvidar de que quando você chegar lá do outro lado (e eu não sei qual é o seu lado, nem qual lado quer chegar) irá olhar para trás, não duvide.
Provavelmente você olhará e perceberá o perigoso caminho que percorreu quando suspenso por 'cordas' e pisando em material frágil, se segurando como pôde para não cair e se estabacar de forma certeira no chão duro.
As pontes são estreitos que unem grandes massas, como o de Behring unindo Ásia e América no norte gelado por onde a transumância humana se deslocou milênios passados.
Desde muito tempo atrás, há este vaguear por todos os lados de forma coletiva.
Você é um indivíduio no meio desta 'massa de gente' à procura de um estreito para ir do lado de lá.
Sabem, do lado de lá pode estar a melhor parte de vocês, a melhor parte de nossas vidas.

segunda-feira, 19 de março de 2012

VIAGEM XLI - PARA ALGUNS POUCOS

Reprodução
Víveres para sobreviver devem 'ser', devem existir para todo e qualquer ser que habita
este planeta de 7 bilhões, de litorais recortados
de montanhas geladas
de ares desérticos
de inundações, de variações provocadas pelo homem;
de homens de paz e de homens de guerra.
Entorta-se o pepino porque os tais víveres não são em abundância para todos; 
não são de fato (para alguns nem deveriam ser)
Para uns bem mais - estes 'uns' são poucos - e para outros bem menos - estes outros são muitos.
Batendo-se uns com os outros cada um quer ter o seu naco que se julga detentor, 
por um motivo qualquer. A força entra como fator que determina; a temperança de cada um - para ela morrer é questão de bater a marreta de força até... Acabar.
(a falta de força joga você no limbo da vida, mais estarrecedor que a morte).

E os predicados para a temperança?
$, poder, autoridade, prepotência, esteticismo e caracteres duvidosos moldam bem a temperança: mais fácil quando se tem os tais predicados.
E aos que não valorizarem os citados,
Ah... A estes, coitados... Sobram os cumes gelados, inabitados, inóspitos de nossa alma que tanto anseia (ainda anseia?) ter uma pertença de proximidade.
Mas isto é para alguns tão-somente. Os predicados para alguns são mais predicados complexos, dominantes, matadores que acertam no alvo;
e os sujeitos do resto que sobra... Ficaram sem nenhum.
Na depressão do grande Pacífico, turvam-se a luz e os sentidos. É o abissal desconforto dos inadequados, das minorias, dos destituídos. E dos desvalidos.
Quem se importa com eles? 
(àqueles detentores da corrente do 'metal' tão em voga, a escuridão da dependência em enfrentar as vagas que norteiam o sistema, cai com precisão milimétrica: eles adoram concentrar poder, mais poder e mais poder ainda)
Quem então se importa? E deveriam se importar? Há tal merecimento?
Silêncio absoluto. Sabem quando a praia fica quieta antes da grande onda? 
Assim, deste jeito... Inabitada, quieta e sem poder correr..
Para alguns existem rotas variadas de fuga; para outros é só esperar e sublimar o limbo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

VIAGEM XL - RECORTE

O trânsito flui para uma quinta-feira, já no fim do horário dos nobres, e a desenvoltura em passear é maior. Bom que seja assim para pessoas como ele... É,  igual não sabemos se é factível; ou que se assemelhem, ao menos com esta nossa persona.
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Danação maior não poderia ser ficar parado há horas em uma rua apertada, como aconteceu da vez anterior. Faz alguns dias; quantos ao certo, ele nunca sabe. Porque não é todo dia que sai para executar sua tarefa, recortando bairros específicos e andando para  "tomar a temperatura" dos humanos. 
Tem o dia do sim e tem o dia do não. Que é o contrário para cada uma destas partes. envolvidas no processo (kafkiano?).
Sem contrariedade e logrando êxito, como as paradas de sucesso que tocam nas rádios. Certo como o azul que está sobre nossas cabeças.
Vagueia por ali, por aqui. Vai um pouco mais para lá, faz a meia-lua na rotatória, segue as placas sentido Zona Sul, lá pelos lados de...
--- Bom ter vindo cair na avenida Santo Amaro. Ela é bem diferente: estreita para mim. Pelo volume de carro que passa por aqui. E os terminais a cada 300 metros? Só entope mais o tráfego. Mas eu gosto, tem um ar de abandono, uma coisa que foi deixada para trás, remetendo a um passado... Bem, poderia ser àquele futuro dos filmes do futuro. Engraçado... como eles sabem como vai ser o ano de 2150, só para citar. A Santo Amaro tem sua beleza também aqui, sua diferença. No fim eu gosto.

Estaciona o semi-novo sedã de velho na esquina de ruela que corta a avenida do passado/futuro. 
Acende um cigarro e recosta sob o capô. Vê muitos nas ilhas centrais da avenida à espera dos ônibus que os levarão para casa, alguns demorando horas.
Muita gente, muitas escolhas podem levar a vaca toda para o brejo.
Ele pensa com esmero sem sair da posição que está e continua a observar a cena da noite de fim de verão. Os freios guinchando, os ambulantes, os carros dos bacanas.
Pela tarde, começou a sentir que algo o atrapalhava, nele mesmo. E agora não é diferente.
A barba não feita por dias acabava sempre o distraindo: começava a coçar se passasse dos 4 dias sem a lâmina fina e cortante. Embaixo do pescoço, perto do protuberante gogó ficava pior.
Automaticamente usadas, suas unhas acusam o seu comprimento exagerado.
Lixar não vai dar. Mas cortar pode ser uma boa distração "assim como quem não quer nada". 
"Bom para eu pensar, distrai", como dizia sua avó sobre as novelas e programas de auditórios de domingo, os quais ela não perdia nenhum.
Tesoura de jardineiro, uma um serrote, uma serra elétrica, um podão, lâmina para cortar metal, um cutelo e uma faca, das afiadas, é claro!
Estes aí de cima são perfeitos para cortar e recortar o que for possível de realizar. Para ele a dita realização acabava sendo exitosa à exaustão.
Ri desbragadamente. 
--- Quem lesse minha mente - um vidente ou médium - teria que me denunciar à polícia. Às autoridades tão competentes. É, o que eu preciso agora para distrair é mesmo meu cortador de unhas. Sem recortar nada.

sábado, 10 de março de 2012

VIAGEM XXXIX - CANSAÇO

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São os que cometem crimes que estão em sua mira, que fazendo uma menção, é de ótimo treino e nunca falha - experiência adquirida nos últimos anos. E a mira se refere a mais que tão-somente bons olhos porque para desempenhar todo o ttrabalho na megalópole há que ser infálivel em todos os sentidos. Nunca falhou nada. Bem, nunca falhou até agora. "E não vai ser agora que vai acontecer", dizia para ele mesmo quando passeava observando os corpos na multidão.
Passeia no início da manhã - com humanos manhosos ao acordarem - de mais uma noite de hercúleo trabalho na grande cidade brasileira com muitas grades protetoras e que se desenvolve dia após dia sem se cair na vala comum do esteticismo barato, da malandragem enaltecida; mesmo que a grande cidade assim quisesse, não combina, ao certo, estética, levar vantagem e trabalho sério. Nem todos cometem os crimes que devem ser notados e escancarados.

É o que sempre faz: escancara os poderosos de maneira não deixar cair no esquecimento. Entenda-se poderoso como o humano que manda em qualquer lugar ou que mande em pessoa(s). E que goste de mandar, aferrando-se ao trono do "reinado". Ele nunca gostou daqueles que se mostram extremamente capacitados e por isto desfazem e vilificam quem podem  e quem conseguem.
Os bichos são sempre os primeiros da lista: se ferram contumazmente. Depois vêm os elos mais fracos da sociedade: menores, velhos, pobres. A lista contém "n" tópicos.
Um café reforçado que transborda a xícara na padaria, a música de elevador ecoando pelo espaço. Pelo grosso vidro de blindex observa os passantes pela calçada, abordados por um noia que perdeu a noção de tudo e que se perdeu na vida. Para um, pergunta para outro, pede para todos.
--- Ele não se cansa...?
Volta-se ao café. Sente cansaço pela noite extenuante pelas idas e vindas nas artérias de asfalto e piche. O trabalho havia sido intenso e no derradeiro "conserto", resolvera-se estender-se um pouco além do que acostumara-se a realizar... Horas mais dedicou-se ao "12 trabalhos de Hércules" em São Paulo. Cansou-se.

Luta para não para bocejar. Remédio: outro café, agora preto e sem açúcar. 
--- O dia mal começa e não posso estar sonado assim. Claro que nos feriados - e hoje é mais um deles no rico "Brasil-potência de pleno emprego" - eu consigo dormir mais nas horas fora de costume. Ainda mais depois desta noite, percebo que estou ficando velho. Chegar em casa e deitar um sono justo. Minha consciência se desliga quando executo bem o que me proponho. Mas hoje, meus pés e pernas pedem mais tempo de desligamento".
Cansar-se, única previsibilidade em se tratando de seus atos, o nivela a todos os outros que cruzam seu caminho. ele julga que seu cansaço tem que ser passageiro porque o trabalho é interminável e o descanso é só para bem depois quando ele estiver diante de um "juiz divino sacrossanto". 
Desgosta que seu físico não aguente tudo como antes: dias dormindo pouco, alimentado-se pior ainda; porém sempre estava desperto e atento. Pronto para mais maquinações (as necessárias, óbvio; porque ficar maquinando em cima de punhetações mentais como hedonistas e feios de caráter o fazem, é um desserviço a ele)... 
Finda a xícara toda tinta de borra de café, nota que queda-se trêmulo. "Deve ser o cansaço, a falta de sono. Por sorte, estou perto de casa". 
No semi-novo sedã de velho useiro e vezeiro a cheirar chocolate, ele se fixa em sua cama: matar o cansaço lhe conforta nos poucos metros que restam até sua casa.

quarta-feira, 7 de março de 2012

33 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - PROTEGER-SE EM CASA

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--- Escolha a verdade de ser o que  você é, de outro modo, você não vai sair do lugar. Nem os outros (quem se importa com os outros? E com quem os outros se importam?) verão nada, só você patinando sem conseguir se mover. Ficar parado só pode ser coisa do passado", falava para ele mesmo dia após dia.
Verdade - todo o tempo esta palavra.
Quanto a sair do lugar, para ele, traduz-se, como certeiro o fato que sair do lugar só - e mesmo - quando assim quiser. Bastavam os caminhos do dia, andando... Sim, mais do que supomos e não apenas pelo picada casa-trabalho aberta em concreto. Muito mais, muito prazer envolvido.
Relacionava-se com o mundo de modo educado procurando não impor seus instintos de solidão aos outros. Funcionava assim para ele. Em razão deste aspecto ser já de longa data, preferia não mudar em nada.

Sentia-se muito verdadeiro para ele, o mais importante de toda sua vida. Para os outros, a verdade ele sempre estampava na cara e quem estivesse preparado para se permitir perceber, perceberia. Na profissão, aquela que resvalava na realmente desejada - de escritor - rascunhava-se seu dia assim chegasse - depois da trilha aberta - em sua sala, à mesa, um tanto bagunçada pelo dia anterior. Dotado de paciência infinita porque aprendera a conhecer os homens e a entendê-los desta forma: como são exatamente.
Não ia a festas fora do ambiente no qual ganhava seu sustento, sustento este que mantinha seu castelo limpo, arejado e invencível - sua cidadela inexpugnável. Confratenizar-se podia ser interessante para ele, desde que fosse lá: no trabalho.
Reuniões ao longo dia, resultados, metas. Tudo explicado e debatido por ele com a verdade sobre todos os seus atos e falas. Lutava para não ter que viajar fora de São Paulo: avião nem pensar - ia por pura obrigação profissional. "Usar do pragmatismo" repetia quando via-se envolto naquele tumulto de terminal de passageiros sendo sufocado por uma pinturta do momente que ocupava toda a tela.
Nos rostos, aqueles rostos variavam sempre de acordo com o dia da semana, ele via satisfação nas reuniões por terem alguém de um trato tão raro.
Fazia aquilo porque se comprazia de estar tão logo tudo terminasse em seu castelo, ver seus bichos. Terminar sem demorar um minuto a mais. Voltar para casa, deitar, beber algo e quem sabe ter alguns sonhos bons.

Da verdade dos sonhos, aquela onírica verdade que destoa da realddade porque sonho não tem verdade nem mentira. Sonha-se tão-somente e "dê-se por satisfeito".
De verdade hoje possui prazeres: o trabalho, os bichos e sim... O castelo. Resiliente. Resistente, impactado por tantas noites sem dormir, e por horas de completo apagão biológico.
Houve um dia da semana por estes tempos em que chegou bem mais tarde no castelo. Estava ofegante, derramava suor e exalava cheiros. Somatizou tudo até a chegada na porta, girar a chave e abri-la: a verdade dele.
Felino e Rex proporcionaram um estado de freio no coração arritmado que batia em descompasso: achegaram-se a ele.
Um olhar pela sala toda - tudo como antes, até mesmo a bagunça: a verdade do castelo.
Trancou a porta principal do castelo e pôde começar a se pacificar. 
Em minutos deitou no chão. Dormiu de verdade, alheio às brincadeiras dos outros dois.

segunda-feira, 5 de março de 2012

VIAGEM XXXVIII - LISTA DE PRIORIDADES

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Como ele não é bom na escrita em desenvolver longos arrazoados com pontos e respostas a eventuais contrapontos, decidiu fazer uma lista de prioridades em sua cabeça. Esta sim, funciona muito bem e logo no começo do dia - bem entendido, no começo do dia 'dele'; na hora em que ele sai dos afazeres comuns e inicia aquilo que ele mais gosta de realizar: vigiar viajando pela cidade os homens/mulheres que habitam este pedaço de chão.
(ele folheia, "virando mesmo as páginas", como uma lista telefônica de anos atrás)
Elaborou certa vez uma lista. Sem compromisso, só para passar um tempo em um dia de insônia (no fim da noite esta fora vencida); à lista, no outro dia, acrescentou as prioridades. Sim, porque uma lista aletória não deve funcionar a contento se não houver um pouquinhio de critério em estabelecê-la. Explicando aos detratores: os critérios para realizar a vigia e os atos são inexistentes, mas as prioridades são criteriosamente elaboradas em sua cabeça; que vez por outra apresenta um machucado cortante (deve ser pelas andanças que faz - sempre há um risco e ele se confirma previsivelmente)... Quanto a estas cicatrizes, elas quase não aparecem. A menos que raspe a cabeça, vezo comum no verão do trópico de Capricórnio. Porém isto - os cortes - é café pequeno. Nada que o aterrorize, nem que o faça desistir; um chapéu ou um gorro... Resolvem.
Porque o verdadeiro horror é a lista de prioridades. Encabeça (unicamente até agora) a mesma os prepotentes, seja de qual matiz for: pelo poder, pelo dinheiro, pela auto-confiança, pela baixa estima, pela alegria, pelo mal-humor, pela beleza, pela inteligência, pela feiura, pela ignorância, pela alegria, pela tristeza, pela força, pela fraqueza... E claro, aqueles que fazem sofrer, aqueles injustos, aqueles que se calam.

Na primeira vez que finalizara a lista, perdeu-se porque todos os humanos se encaixam em alguma categoria de prepotência
--- E não é? As pessoas, por mais míseras que sejam, por mais idiotas que pareçam, sempre possuem um grau de prepotência que os fazem subjugar outros convivas. Não, isto é muito permissivo. Primeiro, os prepotentes; segundo os idiotas que se deixam calar diante destes.
Todos podem encabeçar a lista. O que varia de um dia para o outro são fatores até comezinhos, como a disponibilidade dele, se faz frio ou calor por exemplo. O que acontece é que nunca ele deixa de fazer acontecer algo. Mesmo que a lista não seja seguida ao pé da letra, ipsis litteris, o fato é que na volta de toda a sua tarefa interminável - 'como o sol de todo dia' - algum prepotente fora devidamente enquadrado naquilo que ele perpetra desde tempos... Tempos... De sua adolescência talvez?
Foi neste tempo que tomou consciência da prepotência dos homens com aqueles que lhes cercam.
Então, uma vez aprendido assim - a ser prepotente -, ele usa a mesma para mostrar que quem manda, ou o que manda, não é o alto valor atribuído a este sentimento. Vale mesmo o que ele decidir.
Crê de forma inequívoca não estar comentendo equívoco algum. 
--- Isto melhora o mundo: varrer alguns faz daqui um lugar mais aprazível. Mesmo que tentem se abrigar em esconderijos.
(e ri pela palavra de antanho)