terça-feira, 24 de julho de 2018

VIAGEM CCCXXXVIII - TRAVA-LÍNGUA TRAVADO

Arquivo Pessoal - São Paulo
parece dizer trava-língua quando chega perto

(daqueles que repetem sílabas, fonemas, letras, dígrafos...)

fica sem saber o que dizer
e quando sabe...

trava e mal balbucia as palavras
que expressam sentimentos

estes estão tão recônditos ao mundo

e protuberantes à flor de sua pele

"trazer três pratos de trigo para três tigres tristes"

é o que ele pressentia quando via que chegava perto

leia em voz alta! escanda cada palavra!
mais uma vez, mais várias vezes, rápido

e ele?
ah, bem, continuava a tentar sem parar,
quiçá um dia se canse de não conseguir

destravar o trava-língua que impedia sua língua
de dizer o que sentia

(ele não conseguia dizer... E tudo aumentava pelo desejo
maior e maior: suor, pensamentos, circulação sanguínea, protuberâncias...)

quarta-feira, 4 de julho de 2018

75] CENÁRIO SP - OPIOIDES E OUTROS AMORES

Arquivo pessoal - Avenida Paulista, São Paulo-SP
Drogas, mais um pouco de drogas e a poção vai além do acerto: chega mesmo à perfeição - e ele, tão afeito em se aperfeiçoar só podia mesmo aceitar e abraçar todos os efeitos em sua mente;
que mente, vale dizer, a todo e qualquer custo para si próprio. 

"Minha mente mente,sempre", repetia à exaustão feito um mantra hindu (nunca fora à Índia), que poderia ser um daqueles para tanger algo na cabeça - para que esta, então, logre êxito em conseguir (sabe-se lá o quê?)... 

Acostumou-se à mentira, no corre-corre danado na Pauliceia
Receita de um opioide, talvez?
Para amortecer, para amenizar, para adormecer...
Longe, tão longe daqui, de você e de tudo.

Porém Essepê já é longe, muito ao sul, naquele trópico imaginário que corta a cidade da dúzia de milhões, de superlativos números, índices e amores.
Imaginário, é isto?

Imaginando o ópio vindo lá do Laos, quiçá de Mianmar, ou ainda dos juvenis talibãs no Himalaia afegão, consome-o vorazmente. Sintetizado tudinho, com cuidado, sem exageros...

Porque?
Sua mente que mente com aquele constância veemente;
ele é qualquer um de nós, que luta, que sente, que vive.

Lutas, batalhas e guerras: ah, quantas coisas para a "pobre" mente que mente
na cidade que, às escâncaras, grita a verdade, lhe rompe os tímpanos e...
então, no esconderijo de seu quarto, na grande cama, contorce-se e
poê-se a imaginar a verdade do amor...

Que só ele vê passar, sorrir e seguir - ele não é visto.
então, a mente mente sobre tais amores... 
Opioides arrefecem a verdade de ser invisível: é um outro tipo de amor em São Paulo.

domingo, 1 de julho de 2018

VIAGEM CCCXXXVII - EXPLOSÃO CANHOTA

Arq. pessoal - Estação do metrô/São Paulo
quando vê passando, treme por total
igual vara verde em ventania de agosto

(não se quebra e sim se dobra diante do colírio,
vira-se, contorce-se para ver o andar pelas costas,

para ver o remelexo, o jeans a apertar, 
pulsa, impulsiona e enrijece...)

e o amor personificado - confiante, sorridente, igual bilhete premiado - passa,
vai-se embora; e ele? 

perfume, suor, hálito em um frêmito de narinas febris 
só escuta aquela voz, só olha  enxerga mais do que vê... 

quisera ele sentir no paladar aquele corpo
e tateá-lo em reentrâncias;

E o amor personificado? vai-se toda vez, todo hora, todo dia...
E ele? Só rastreio seu cheiro,

alargando-se, na (vã?) tentativa de captar seu corpo
tanta intimidação, que se recolho

quando se recolhe parece que vai explodir
pelo tamanho megalítico do desejo, de mais desejo,

pela perda do juízo, do compromisso,
da hora, "pela perda da vida";

auto-explora por mãos incansáveis e doídas de cansado
cansa-se toda vez desta explosão canhota...

e a repete, repete e repete - única alternativa 
diante daquela confiança todo exibida e amostrada