sábado, 31 de maio de 2014

VIAGEM CLXXXVII - ENTRADAS

Reprodução de Michelangelo [endereço abaixo]
Demanda
que eu faço
pede
que eu realizo
estica
que eu pego
molha
que eu babo
vira
que eu entro
geme
que eu intensifico
desfalece
que eu te cubro
de beijos
pelo seu corpo todo
"briga
que te apaziguo"
depois dorme
que te acordo
com 1 café
espreguiça
que eu sorrio
levanta
que te olho
anda
que eu palpito
banhe-se
que eu converso 
à porta do box
beija 
do amargo da cafeína
que eu te falo
"eu te amo"
que você 
escuta e diz
"meu amor demais"

http://www.fivestaralliance.com/articles/michelangelo-drawings-at-the-british-museum-london

08 - CADERNOS DO ESCRITOR - ATRASOS

Pensando na vida sentado em um banco de metrô, linha verde, indo para quase a Zona Leste, perdidaço em minhas divagações; o vagão nem cheio, nem vazio e eu lá... A pensar (como se diz em Portugal) sobre o que fora a vida deste até os dias de hoje: agora de progressão que só faz-me adiantar em quase tudo.

Muito atrasado, para quase tudo:
amizades,
masturbação,
namoro,
sexo,
trabalho,
decisão,
faculdade,
trabalho (de novo)
e dinheiro.

Perpetrei atrasos que não condizem em nada com a minha vida de de hoje, vivente em uma das maiores cidades do mundo, com os milhões, no "corre-corre danado" metropolitano.
Entretanto, algumas das agruras do passado remoto, do atraso perpetrado, persistem de alguma forma em alguns entraves que são secos e difíceis de manietar para que eu pudesse esmagá-los um a um: sem parar todos eles.

Hoje não é mais assim - somente os atrasos tomando conta -, e posso dizer que sou um cara melhor, um homem melhor; não sei se mais feliz, mas mais perto deste estágio de estar e não de ser feliz.
Atravesso este mar de atrasos com meu veloz motor presente, desmistificando o passado para que não me torne preso a ele.

terça-feira, 27 de maio de 2014

VIAGEM CLXXXVI - A ÁRVORE

Descascar
Reprodução [endereço abaixo]
o cinza do tronco
subir
arranhar-se
colher
com as mãos
com os amigos
lambuzar-se
de jabuticaba
madura
desde o
pé até
o mais fino galho
este para os passarinhos
para nós
os mais fortes
um deles
com balanço
pelas tardes
despreocupadas
em um interior
ainda interiorano
como hoje
talvez
inexista
ou sou eu
que não vejo
longe
hoje é
um mar de prédios
de algumas cores
e eu também
gosto do cinza
que se parece
com o cinza
do começo

http://ludmilasaharovsky.com/2012/11/a-jabuticabeira.html

sábado, 24 de maio de 2014

07 - CADERNOS DO ESCRITOR - TOLUENO, COTANGENTE, ÓPTICA: ANOS 80

Quanta dificuldade com física, com a química - análises químicas -, e claro, com a matemática. Esta com a geometria analítica, geometria espacial (na qual deveríamos "imaginar" um ponto no espaço e a partir desta imaginação, calcular "coisas! Eu não entendia nada!), matriz e congêneres.

E a tal da química orgânica que deveríamos desenhar aquelas figuras horrendas, sem pé nem cabeça, incompreensíveis? Benzeno, tolueno, metano o cacete a 4! Esqueci tudo isto e já esqueci faz anos e anos e anos! Esta parte da química tornou-se a mais repugnante pela minha completa burrice a respeito e pelo professor que ministrava as aulas - detestável! O que significavam aqueles desenhos? Um hexágono com uma bola dentro e um traço em uma das seis pontas?
Isto tudo era inatingível para meu cérebro de adolescente (e punheteiro contumaz!)

"Para que tudo isto?" eu me perguntava. Eu ia prestar algo na área de humanas e ter que saber sobre óptica, em física, também era um inferno que não cabia em meu cérebro. 
Geografia, história, literatura, gramática e inglês; aí eu me encontrava e com um desempenho bem melhor; já na biologia ela ficava em um meio termo entre as duas grandes áreas: genética e zoologia quedavam-se ao lado do bem e citologia, botânica (e o inferno para entender a fotossíntese) e histologia ficavam do lado do mal. 

No início dos anos 80, entre 1980 e 1983 houve grande sofrimento "escolar, pode-se dizer.
E trigonometria e seus senos cossenos, tangentes, secantes e toda esta coisarada feita por quem, por certo, não tinha o que fazer? (rsrsrs)
Recuperação em alguns dos 4 anos e muita, mas muita cola na maior cara dura que eu tive em toda a minha vida. Conseguia passar com nota 5 ou 5,5; quando muito vinha um 6, que era uma alegria; nota 7 tornava-se um fato raríssimo.

sábado, 17 de maio de 2014

VIAGEM CLXXXV - UM TESTEMUNHO

Reprodução [endereço abaixo]
de um lado a tempestade de areia
e minha sede por ti
de outro lado o tsunami de água
e minha secura sem ti
eu no meio em ti pensando quando espero
amor de minha vida toda
amor de minha vida inteira
para sempre até o fim
acima o imenso céu azul de outono
cobrindo a gente de sol e brisa
abaixo a terra áspera
servindo de tapete para rolarmos
tu estás perto, tão perto 
que respiro o ar de dentro
próspero hálito (de um hábito que é meu)
de amor
de doçura
e de voracidade
de me querer ali agora mais tarde em outros lugares
recostados depois de tudo
ofegantes refestelados
contentes
amorosos
(tudo testemunhando por nós - sem preocupações necessárias para nós)

http://the-witness.net/news/2013/07/wallpapers/

terça-feira, 13 de maio de 2014

06 - CADERNOS DO ESCRITOR - O FRIO É PASSADO; O CALOR É AGORA

Calor e mais calor. Sempre foi, em geral em 8 meses do ano calor onde nasci, nas cidades onde morei e na cidade onde moro... Bem, aqui em São Paulo este número pode ser 7; talvez 6 em anos atípicos (e 2013 foi um destes). E o frio sempre foi um aliado poderoso para um corpo magro quase desprovido de atributos que mesmo as crianças notam e que os adolescentes vicejam a todo vapor: educação física - que era futebol - e o clube aos finas de semana e nas férias.

Gostava mesmo do frio, sentia-me bem e ficava todo feliz quando, pelas manhãs, ao falar, saía aquele vapor da boca, parecido com os filmes feitos no hemisfério norte. 
Os dias nublados de inverno: como eu os achava bonitos e atraentes, com aquela luminosidade diferenciada, os dias mais curtos, sem mencionar que a fome aumentava na mesmo proporção da queda de temperatura. 

Neve, queria morar em algum país que nevasse muito tempo no ano como o Canadá ou Noruega para desfrutar do conforto de usar muitas roupas, de poder se vestir melhor e toda aquela baboseira usual que eu proferia. Mais: eu julgava que quanto mais frio, mais gelado, mais civilizado tornar-se-ia um determinado lugar (hoje temperatura é um critério que está nos estertores de uma eventual lista)

Passado frio! Você é um equívoco se os termômetros caem abaixo dos 15°C! Vai te embora para as profundezas da Antártida!
Calor presente! Agora! Para sempre. Reflito e percebo que até mesmo um pouco de frio pode ser agradável, mas algo que fique ali por volta dos 18°C. Porque hoje usar muita roupa é um desconforto só.

Calor vale agora, vale pela minha vida. A alegria de ver corpos quase desnudos passeando pelas vias terrestres é o critério mais usado, sentir o suor, beber água. Sem mais.

terça-feira, 6 de maio de 2014

VIAGEM CLXXXIV - DESMEDIDAS

Reprodução [endereço abaixo]
Urbanidade, aquisição ficante para toda a vida; urbanizou-se feito uma boca que sedenta beija com voracidade feroz a boca que tanto ama. Foi rápido e rasteiro.
Por estes dias, viagem a tantos lugares de dentro do Brasil e por aqui por perto da vizinhança um tanto atrasada de países sul-americanos. Adiantando-se o trabalho, voltou do Sul do continente para rápido desembarcar em Cumbica e seguir para casa.

O que mais deseja, depois de ansiar viajar sem medida, é desmedidamente voltar para sua casa e poder dormir em sua cama ainda sentindo a presença de quem faz pouco levantou-se para o árduo trabalho inferior financeiramente, o que traz à tona que nem mesmo isto pode separar o que já está unido desmedidamente.

Não importa o quão ganhe ou deixe de ganhar: acabam sempre ricos e livres e pornógrafos e amantes e mais ainda, amigos e amores um do outro.
Beijo desmedido.
Mão desmedida.
Respiração desmedida.
Toques incríveis desmedidos.
A gana é de abraçar e apertar a até quase sufocarem-se. 
Gozos desmedidos um para o outro.
Mostras desmedidas de amor.
E os beijos? Desmedidos!

E o cuidado, o respeito, a preocupação?
Um pelo o outro, o outro pelo um - este é o tipo de preocupação que tomou conta de ambos, vivendo em separados, mesmo que próximos. Pela manhã à noite.

Tudo desmedido tornou-se porque eles são de um tamanho imenso: grandes, descomplicados e leves.
O que é medido são as realidades de felicidade que se repetem - sem ser incessante -, apenas acontecem todos os dia que quase falecem amontoados um em cima do outro.

 http://www.biofilia.com/en/environmental-compliance/

sábado, 3 de maio de 2014

05 - CADERNOS DO ESCRITOR - AS IDAS E AS VINDAS

De todo o jeito, com muita gente, em épocas variadas da minha vida aconteceram as tais idas e as tais vindas de maneira que eu não controlava, ainda mais quando atingi a tal idade adulta... Bem, adulto eu me refiro à fase depois dos 25/30 anos e perdurou ainda até quase - atenção ao quase - nos dias de hoje.

Idas com amizades e vindas também. 
E com os amores que apareceram, me cataram e aqueles que eu fui atrás. nem sempre deu certo, mas houve uns poucos que duraram anos as idas e as vindas.
Hoje, penso que com os amigos é um tanto pior porque não deveriam caber rompimentos, rupturas rudes. Amigos de anos, décadas e que somem envoltos em um manto inviosível e que se tornam fantasmas agourentos da saudade.

Pensam que eu não tenho vontade de resgatar alguns deles: as amizades. Sim, porque quanto ao resgate de amores existem outros fatores que complicam e que por isto, podem trazer mais desilusão e arrependimento.
Mencionando arrependimento melhor não - já tenho que carregar alguns deles por toda a vida sem que haja uma solução de curto prazo (as de longo prazo são as únicas possíveis, mesmo que me desagradem de um tanto). 

Nem tudo, porém, deu errado nas idas e nas vindas. Recuperei alguns amigos e isto já está valendo pela vida toda. Recuperei o grande amor da minha vida? Não, este voou para bem longe e está agora tão perto geograficamente que nem acredito que é tão longe assim.