terça-feira, 26 de março de 2013

70 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - SEMANA CURTA DE OUTONO

Reprodução, sítio abaixo
O dia está frio, como sugere a estação assim que olha a temperatura pelo aplicativo do celular: 16°C. Outono se faz presente até mais cedo, porque interminável março ainda não se findou e sendo interminável, o calor sempre tem primazia. Sexta-feira há um feriado e, para variar sem muito pensar sobre, passará o tal dia em casa, no sossego do "grande castelo invencível, de pontes levadiças, de grandes paredes de pedra, de fosso ao redor" para não precisar viajar, nem pegar trânsito e assim descansar e fazer bem o que ele faz melhor: dormir.
Com a companhia de Rex e Felino, os seres que convivem muito bem com ele. No castelo, só ambos possuem permissão para entrar e permanecer - exceção à faxineira que trabalha 2x por semana para mantê-lo limpo; "bagunça é diferente de sujeira, principalmente no quarto onde estão meus os livros, anotações, computador e impressora". Neste cômodo, a ela só se permitia limpar quando o dono havia feito uma lista e deixada colada na tela do pc.

Semana mais curta, com feriado religioso feito à base de peixe, algo do mar. Pensa que quando mais moço, mais jovem, esperava com ansiedade por feriados que pudessem quebrar todo a rotina; este quebrar subentendia-se viajar em todo e qualquer dia destes. Hoje... Bem hoje ele tem seu castelo que não se cuerva, nem se dobra a tudo o que vem de fora, porque ali pessoas estranhas não adentram. Ninguém que possa deixar marca além de uma que seja profissional.
Antes acampava, viaistava amigos, praia e campo. Feriados eram bons.
Hoje são feriados e é bom que sejam só isto.

Recostado na parede ao lado da sacada, coça-se, toca-se e uma brisa fria lhe avisa que deve vir garoa e chuva.o cigarro esquecido nas mãos, com cinza a vergar-se ao chão. Tudo tranquilo na segunda-feira da semana mais curta.  Um vento mais forte parecia querer assobiar pelas frestas.

"Eu quis assim, que a realidade fosse do jeito que está. Moldei-a assim, quero que permaneça tudo. E ainda posso sonhar. Não tenho mais pesadelos, nem acordo sobressaltado pelas noites. Chega de insônia. Perder o sono por conta daquilo que eu perdi quando acordado, tudo de novo? Não, eu dispenso. Só snho bom tenho sonhado, de paz, de aventura, de mistério, de suspense. Nada de terror. Tenho meus dois seguranças para vigiar meu subconsciente... Será? mas o inconsciente  Dormir no feriado por toda a tarde sem preocupação de qualquer outra coisa. Levar o príncipe para passear nem que faça frio. Comer, ficar, reler algum livro pela metade, ficar jogado..."

Fazia um tempo que ele não dormia ao lado da sacada. Ajeitou-se e dormiu em minutos, sem tempo para lembrar do dia. Procurava impor à mente um controle para que esquecesse o dia, tenha sido bom ou o contrário. Felino foi o primeiro, Rex ainda fica mastingando um osso de brinquedo. Chega em seguida com os dois já apagados.

"Respiração ofegante, os três andando ombro a ombro, formação incomum. Pelo lugar que cheira a carne queimada que vinha não soube precisar de onde, ele acha que alguma batalha deve ter ocorrido pelo campo aberto quase sem fim. Cansados e com sede, o passo é mais acelerado com um barulho de turba gritando é ouvido logo atrás.
É um exército diferente, armados com lanças cumpridas, com emblemas de prata que irradiavam a luz do sol quase cegando quem ficasse mirando por segundos. Muitos homens em formação quadrada, um caveleiro à frente. De repente, eles três começam a correr preocupados em manter a formação lado a lado até a próxima curva, porque depois, é o castelo que será visto: a salvação de todos.
A ponte rebaixada é alcançada. Manobram rápido e ela é levantada cerrando a única entrada possível do castelo; possível de ser derrubada.
Assim que os perseguidores se debatem nas paredes e na ponte, ele respira com alívio imediato: o perigo de fora havia sido enganado. Quedar-se-ia longe por algum tempo".

Pelo ressonar, devem dormir por muitas horas no chão de carpete. Mais um sonho de paz vencendo a turbulência.

http://www.williamoellers.com/Art_Gallery_People.htm

quarta-feira, 20 de março de 2013

05- CARTA DO SUICIDA: AO GATO NO PEITO

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Este chiado no peito, que parece um ronronar de um gato, sempre me acompanhou bem de perto. Desde meus... Hum... Acho que desde que me conheço por gente de carne e osso, porque de mente e cabeça ainda desconheço. Rsrsrs. Difícil mesmo era respirar quando esfriava muito, quando eu ria muito, em ambientes úmidos, onde havia bolor, livros velhos e tudo o que pudesse juntar poeira. Meu colchão era forrado com plástico grosso para não juntar pó. Adiantava bem pouco mesmo, porque virava e mexia, lá estava eu, muitas vezes de madrugada, no colo de meu pai - cambaleante em algumas vezes destas vezes -, correndo em direção ao médico. Ao pronto-socorro também.
Depois, na adolescência, a coisa melhorou em meus brônquios, os tais alvéolos pulmonares. Até minha juventude meio tardia, porque veio então o cigarro e o pó - a cocaína. Engraçado que quando eu estava com o chiado, com o gato no peito e a leve falta de ar, eu cheirava e desaparecia como em um passe de mágica. Aí, eu fumava, fumava e fumava!

Outro dia tive uma crise braba! Fiquei sem conseguir respirar por uns 30 segundos, eu acho. Pareceu mesmo uma eternidade. Sensação ruim, viu?
De morte iminente.
Fui pela 95ª (rsrsrsrs) vez ao médico. Ele me explicou: broncoespasmo. Foi o que ocorreu. 
E veja só! Neste dia aí, eu nem tinha usado nada. No dia anterior sim, mas não no dia do broncoespasmo. Aliás, depois de tabto fumar um dia antes, tinha fumado 5 cigarros só. Só!
E aí me dá esta porra!
Porra! Tenha dó! Ou... Tenha pó!
Rsrsrs.
Pediram chapa do meu pulmão. Sim, sim. Fiz inalação, tomei um lance na veia que me deu um enjoo. Não tirei a chapa. Para quê?
Para me sentir mais culpado ainda. Não, passo!
De culpas eu estou farto, mesmo que as carregue por todos os dias.

O pneumologista avisou, quanse me intimando, que eu deveria parar imediatamente, para ontem, com o cigarro. Se eu não parar, vou ter com mais frequência o tal broncoespasmo: todo dia, depois, 2 por dia, 3... Explicou que terei então que ser hospitalizado porque não conseguirei mais respirar sozinho.
Ele afirmou que o cigarro é o grande culpado pelo chiado e pela crise brônquica. "Afinal, o senhor fuma há mais de 20 anos, mais de um maço por dia. Só fazer as contas. Seus pulmões estão sobrecarregados".
Repito: para quê mesmo?
Eu não vou parar de fumar nem a pau. Médico mais do sem-vergonha. Nem perguntou o porquê de eu fumar tanto assim. Nem se eu uso alguma substância entorpecente.
Bem do apressado ele. 
Não vou para com nada. Ponto.
Para quê parar?

http://www.livestrong.com/article/164744-causes-of-a-chronic-wheezing-cough/

domingo, 17 de março de 2013

04 - CARTA DO SUICIDA: À COCAÍNA

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Que não parece tristeza não. Pelo menos não quando se está na parte boa do pó. O antes (logo antes), a preparação, com quem você está, onde vai fazer, quanto pagou. E a qualidade da mercadoria, coisa importante. O amargo descendo na garganta, perto do céu-da-boca. Aí sim, vem o que se gosta do 'maravilhoso' pó branco. E euforia, "o eu posso tudo, porque sou foda".
Depois ela não parece, ela é.
De tristeza mesmo é quando acaba. Quando você esgotou seus traficantes, quando eles não atendem o telefone e quando não há um lugar só para ir (no começo você ainda tem vontade de sair, passear, ir a lugares, entrar nestes lugares; tudo muda depois).
Bom mesmo quando era aos montes mesmo. Literalmente aos montes.

Lembro bem, de quase todas as noites e alguns dias também (que não foram tão raros) que fiquei na função em cima do prato, do cd, do 'manuel', da carteira, da mesa de vidro, do espelho, da gilete, do cartão.
Das notas enroladas improvisadas das canetas bic que sempre perdia-se a carga em seguida. Cigarros e mais cigarros. Falas e mais falas - a grande maioria esmagadora de mentiras em cima de mentiras que se provavam como tais, logo passasse a sensação, ops, o efeito do pó aspirado.

Horas muitas sem dormir catando sei lá o quê, procurando, tentando uma diversão que nem eu sabia qual exatamente. Quando eu tinha $, e eu sempre tinha por conta do meu trabalho de viver de renda e herança deixadas pelos meus pais que se mataram, era melhor e mais fácil de arrumar gente para ficar junto e também para mandar embora quando eu ficava com aquela sensação de paranoia, de me trancar. O lance da paranoia veio no fim já, perto deste fim de vida, do contrário eu nem estaria escrevendo as linhas de agora porque eu ainda andaria  pelo começo da adicção de anos.

E porque?
Bem, primeiro devo falar que comecei tarde até, tinha meus 27 anos; mas devo confessar também que compensei o tempo perdido me enfronhando na cocaína praticamente sem parar por todos estes anos. Tenho 40, quase 41, com 13 anos, quase 14, levando a vida que eu não sabia que um dia eu ia querer.
Porque eu quis. Simples assim. Primeiro porque eu quis, ninguém me obrigou a nada, não enfiaram nada em meu nariz forçadamente. Não. Ninguém me influenciou. Não. Houve estímulos, isto sim. 
Mas fiz tudo o que fiz porque eu assim queria, assim desejava. 
Depois, vem claro, as companhias que podem estimular o uso do pó branco. Porque às vezes, eu precisava só de um estímulo para comprar mais, um empurrãozinho para que minha consciência não ficasse me cobrando que eu tornara-me um viciado que sempre queria mais e mais. Nestes momentos, a companhia deveria ter o mesmo nível de vício que eu, melhor quando era ainda mais forte que o meu. Porque eu me sentia bem e pensava que eu poderia parar quando quisesse.

Eu não parei nunca. Nem agora. Nem com os meus dedos travados. Nem com meus olhos cansados de enxergar. Nem com meus músculos carregados de ácido láctico. Nem com meu maxilar travado.
Estou aqui, de manhã, vendo a cidade de perto. Sacada do 30º andar. COPAN. Tomando coragem para ir olhar para baixo.
O vento de outono.
Porque? Eu realmente não sei. Só tenho a vontade.

http://deaddictioncentres.in/news/cocaine-use-abuse-addiction-treatment-guide/attachment/cocaine-2/

sexta-feira, 15 de março de 2013

69 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - MÃOS NO TRÂNSITO DE SÃO PAULO

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No trânsito de São Paulo sempre há tempo para pensar, divagar e falar consigo mesmo; dá mesmo para ficar conjecturando uma miríade de razões, de perguntas, de respostas (estas em menor números que aquelas) e de tantos pensamentos. No sufocante março na capital bandeirante, lá perto do meio-dia atravessar a cidade do centro até a avenida Washington Luís, perto do aeroporto de Congonhas, apresenta tempo de sobra para questionamentos acerca de X, Y, Z e A e B... 

"Parado há 15 minutos aqui na Liberdade, na avenida Conselheiro Furtado. Hoje o trânsito está demais, o calor está de rachar e meu ar-condicionado... Quebrado. Só rindo!!! Estou com todas as janelas abertas e resolve um pouco. Milhões que circulam sozinhos em São Paulo todo dia sobre 4 rodas que deslizam pelas coberturas asfálticas. E reclamam! Por que? 
Pergunto: qual cidade, qual metrópole não tem trânsito congestionado, carregado? Tóquio tem. Los Angeles tem. Roma tem. Lagos tem. Moscou tem. Todas têm. Para reclamar é fácil. Afinal, eu não moro em Los Angeles, nem em Moscou, tampouco em Roma e qualquer outra, eu moro aqui.  Mas conheço Tóquio e a Cidade do México: trânsito pior que o daqui!".


Concentrado está no lado do motorista que pode observar a intensa movimentação de pedestres por toda a avenida, agora já quase perto da rua Domingos de Morais. Gente de todo o tipo, para o bem, para o mal e para o meio disto, que habita a cidade. "Devo fazer parte destes tipos que vivem por aqui", pensou.
Caminhantes apressados, mulheres e homens, moços nem tão moços, a trabalho ou a encontro. O skatista com manobras radicais pela calçada leva um tombo desnudando quase por completo sua traseira já meio descoberta antes da queda cinematográfica. E ri do próprio infortúnio, como as pessoas desencanadas fazem. Duas adolescentes com fones de ouvido andam juntas, porém não conversam; o engravatado homem olha insistentemente no relógio, também para um lado e para o outro - deve estar a espera de alguém. Lojistas, comerciários e senhoras com seus cachorros 'fru-frus'... Modernos e tradicionais, brancos e negros são captados pelos seus olhos "de tempestade" castanhos.

Ao passar por uma clínica veterinária recorda-se da vista feita no fim de semana passado. Inevitável acontecer tal lembrança, mesmo para ele que se considera um ermitão na desvairada cidade, um cara que se satisfaz com o trabalho, com o conselheiro-mor e com o príncipe. Está bem assim para ele, não há dúvida, tanto que ansiou em desespero quaser para chegar ao castelo inquebrantável e fechaer a porta depois da vista à clínica de Licínio, o médico que cuida de Felino e Rex.
A proximidade ede outro ser bípede como ele, fora das paredes do trabalho, fora das reuniões fora destas paredes - como esta à qual se dirige -, causa certo temor. Melhor explincando, causa apreensão.

"Está bom assim.Não quero proximidade exagerada com ninguém. Tenho receio das pessoas que se cercam de mim que não sejam do meu trabalho. E mais, até acho que melhorei porque permito que o Maximiano me procure, converse, conte coisas, desabafe, permito que bebamos juntos até. Licínio também, ele é um cara inteligente, trata bem meus 'filhos', mas ir lá... Na clínica que será casa provisória dele... Não sei não. Basta os sonhos que eu tenho com os dois".

No sinal, ele começa a suar nas mãos e começa a cantar uma velha música junto com a estação sintonizada - um sucesso no seu tempo - para abafar o pensamento do encontro de sábado. No trânsito, ele canta alto e bate com as mãos na direção, como se um instrumento de percussão fosse. 

http://www.torontosun.com/2013/02/15/florida-suspends-new-driving-permit-rules

quarta-feira, 13 de março de 2013

VIAGEM CXI - IGUAL BARATA TONTA

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Ficou até quase o amanhecer gravando e apagando; regravava e apagava de novo. Fizera algumas vezes tal processo de "ziguezaguear" em frente à câmera com as palavras, sem roteiro algum. Andava de lá para cá, de cá para lá cobrindo toda a espaçosa garagem, agora com muito menos entulhos decenais adquiridos ao longo de anos. Peripateticamente, ele se recordava de uma barata marrom tonta atingida por uma aspersão de inseticida dos fortes para tonteá-la, não matá-la: batia cabeça pelo chão igual zagueiro de fazenda.

Indeciso se deveria quedar-se parado ou se poderia fazer movimentos suaves para permanecer no enquadramento estabelecido - tornava-se um craque cada dia que passava no manuseio -, ensaiva por um tempo antes de ligar a parafernália e gravar seu depoimento (pensava mesmo em fazer um curso de edição de vídeo, comprar o programa para instalar em seu computador e poder deliciar-se com tudo isto).

Mas de barata tonta ele entendia bem. Muitíssimo bem. "Benissimamente bem", como redundantemente ele exclamava, poderíamos depreender, depois de anos e anos de trabalho realizado para melhorar um pouco as condições dos que ficam, dos que não são alvo de nada, aqui pelo planeta Terra. 

"Por que? Como não entendeu a relação entre entender bem sobre baratas e ficar como uma destas tontas? Primeiro, é pertinente dizer que não sou entomólogo, nem estudo por mim mesmo, tampouco sou autodidata no assunto destes bichos nojentos e sujos. Gostos existem, cada um é cada um... Aliás, deve ser de chato pra cacete ficar dissecando baratas, estripando... Ops, nem sei se o bicho tem o que se chama de tripa. Rsrsrs. É isto! Hã? Ok, vou explicar de novo. De barata tonta eu entendo porque muitas das minhas saídas para corrigir o mundo eu encontro e escolho alguns alvos que após receberem uma bordoada doída demais, tentam correr e quedam-se parecidas como baratas tontas quando recebem o primeiro jato de inseticida naquele corpo marrom, nojento e sujo".

"Outro dia mesmo, depois de um bem dado pé-do-ouvido no camarada advogado corrupto, ele saiu tonteando, com a mão na cabeça.  Estávamos em um lugar bem tranquilo. Aí, dei um telefone nos dois escutadores do homem, aí ele bateu umas 3 vezes na parede, tentando achar o caminho de saída para escapar. Foi engraçado até: vê-lo como uma barata tonta, nojenta e asquerosa, ziguezagueando feito bêbado. Mas, como não é diversão e sim precisão, logo terminei e "aspergi mais inseticida" no homem tonto. Uma gravata exata pondo fim ao engravatado. Caiu como jaca podre. Só faltava mesmo virar de costas para o chão como os nojentos e sujos insetos marrons fazem. Fiquei esperando um tempinho, mas nada... Rsrsrs. Fui embora e como era verão, o chão onde pisava tinham baratas com longas antenas que se mexiam para todos os lados: bom ouvir o estalo esmagando o corpo das cascudas".

http://monstersvsaliens2009.proboards.com/index.cgi?board=luv&action=display&thread=121

sexta-feira, 8 de março de 2013

03- CARTA DO SUICIDA: ÀS LARVAS DE MOSCA

Reprodução - larva  [sítio abaixo]
Eu sentia os bigatos andarem por todo o meu corpo, me comendo vivo.
Fazendo barulho. Perfurando minha carne podre e boa.
Sonhava sempre com isto enquanto meus pais me encaminharam para um tratamento com um médico alternativo para a época porque eu caí de uma escada porque corria fugindo de um grande cachorro do vizinho ao lado de casa. Ralei-me pela escada subindo que acabei de novo no primeiro degrau. O cotovelo ficou sem pele com uma ferida profunda, em razão do corte que se fez. E o cachorro, soube depois porque ficou meu amigo, queria mesmo pular em mim para brincar. Passadas semanas, o tal ferimento não cicatriza direito. 

O doutor disse que o tecido já começara a necrosar e que não havia muito o que pudesse ser feito, desde então. Corria o risco - eu que corria, claro, porque corri antes - de ficar sem meu braço direito, ter que amputar . Até que na 5ª ou 6ª vez que me levaram ao consultório para abrir, limpar o machucado que ficava de cor vermelho escura e chorar por isto, o médico comentou que um novo tratamento poderia ser aplicado em meu cotovelo.

"Larvas de mosca, sim senhora", explicou diante dos olhos estupefatos de minha mãe. Eu confesso que fiquei ali, como se aquilo fora dito em outra dimensão, que não se dirigia a mim. Emendou que as ditas comeriam apenas a carne que não está se regenerando e que a saudável intacta quedaria-se por toda minha vida.
Então, passados uns dias, fomos ao hospital do outro lado da cidade, bem cedo. eu, rezando, pedindo a Deus, para que curasse imediatamente a tal ferida que não se fechava para que não precisasse recorrer àqueles bigatos brancos que se contorciam como... Larvas que são.
De nada adiantaram minhas preces. Tudo cheio de pus, com uma cor escura, com cheiro forte de coisa quase podre; ela continuava a desafiar os antibióticos, os cicatrizantes e mais o que colocasse por ali. 

Que remédio mais amargo, nenhum xarope poderia ser pior.
Instalaram as tais larvas e eu não senti nada, mas morria de nojo. Morro ainda. 
Resolveu-se o problema da ferida depois de quase dois meses de tira/põe larva, tira/põe larva, a cicatriz ainda ficou do corte até hoje. 

Durante um bom tempo, sonhei com elas: percorriam todo meu corpo, adentrando em meus ouvidos e boca, saíam pelo nariz e caminhavam ao bel-prazer pelo meu corpo. Os sonhos cessaram quando iniciei uma terapia gratuita pelo sistema de saúde porque o psiquiatra interessou-se pelo caso "o rapaz que tem pesadelos com larvas de mosca que comem sua carne". Mereci ser estudado e registrado. Os pesadelos foram embora e dormi bem por anos e anos.
Semana passada ele voltou. Elas caminhavam mais rapidamente e agora faziam barulho como um pequeno chiado agudo. Mergulhavam na carne, eu as ouvia e via, quieto sem conseguir me mexer. Anteontem, ontem...
Hoje tive o mesmo pesadelo com as larvinhas brancas, com seus "caninos" grandes.

http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/2010/08/05/usando-microscopio-eletronico-jornal-britanico-exibe-impressionantes-fotos-de-insetos/

quarta-feira, 6 de março de 2013

02- CARTA DO SUICIDA: À PEDAGOGIA ESCOLAR

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"Vai palito, corre!".
"Quebra o lápis!".
"Se ele ficar de perfil, ninguém vê!".
"Olha, um esqueleto nadando!".

Na aula de educação física (que educação mesmo? Que física mesmo?) durante o primário e, principalmente, o ginásio - porque eu sou do tempo desta nomenclatura - as coisas não iam muito bem para mim. Verdade que era um alívio ir à escola porque o ambiente em casa com pai alcóolatra e mãe violenta, que batia nele e que dava broncas homéricas em mim e nos meus irmãos, tornava-se uma válvula de escape para mim. Lá pelo menos, eu não presenciava esta cena familiar tão "terna". 
Na sala de aula, dependendo da rigidez do professor, as coisas iam muito bem. Toda a classe não dava um pio com medo de algum esporro, ou o que era pior, uma prova surpresa - que se igualava no terror a uma chamada oral sem aviso. Equivaliam-se.

Mas querem saber: isto tudo tornava-se coisa pouca para mim. Eu nem tremia de medo nem nada, até deveria já que aluno nota 10 nunca fui, tampouco fazia parte da turma temida turma do fundão. Sempre na média das notas, sempre no meio da classe, em fileiras coladas à paredes pintadas de duas cores. O fato que este terror causava uma certa inspeiração para melhorar e um esquecimento do que eu vivenciava logo pelas manhãs quando saía de casa para estudar e um paliativo para quando eu voltasse. Gostava quando tinha bastante tarefa de casa: uma boa desculpa para me enfiar no quarto e estudar a tarde toda.
A coisa toda pegava mesmo quando tinha que ir à educação física. Magro como um varapau, um perfeito perna-de-pau no futebol e por isto, o último a ser escolhido para quando havia o tal jogo. E sempre havia jogo de futebol; o único esporte "ensinado" e praticado pelos meninos em idade escolar. Que tormento! 
Lembro que eu rezava para que começasse a chover, um toró que fosse, o que se fez inócuo quando a direção da escola inaugurou o ginásio coberto, moderno para os padrões da época. Aí, nem mesmo as águas (de março ou de qualquer outro mês) me salvavam. 

Devo confessar que, às vezes, eu matava aula e ficava perambulando por dentro da grande escola que ocupava 2 quarteirões por 1 quarteirão de área, me escondendo e me esgueirando: a parte mais legal da educação física, melhor, a única parte. Acho que veio daí minha vontade, à época, de me tornar um espião que possuía poderes como o de se miniaturizar para saber de segredos e entrar nos lugares que não se permitia e o de correr muito rápido a ponto de ninguém conseguir captar com os olhos.Tinha até um codinome: WR1
Aventurar-se pelas dependências durava não mais do que o tempo da aula, pois ao retornar para casa, já recebia uma bronca fenomemal de minha mãe porque eu havia faltado - como sempre - das aulas ao longo do bimestre todo, pode-se dizer. A direção pedagógica ligava, lá por agosto ou novembro, dizendo que eu poderia ser reprovado em faltas. "Seu filho falta sistematicamente às aulas da tarde". Minha mãe repetia o tal sistematicamente para que eu entendesse e eu não entendia; custei a compreender o que era o tal advérbio!

Direção para onde? Para o barranco? 
Pedagógica? Que método pedagógico era aquele que só se ensinava futebol para os meninos? 
Ah, porém para ligar "pedagogicamente" em casa, a direção mantinha-se no rumo traçado e executava com presteza rara surtindo o efeito necessário e indelével em mim.

http://www.weightlossprose.com/exercise/despite-obesity-rates-physical-education-classes-cut/

segunda-feira, 4 de março de 2013

01- CARTA DO SUICIDA: AOS PAIS

Reprodução
(Uma breve explicação: aqui tento perscrutar a mente de um suicida em potencial, ou ainda, que já tenha tentado e mesmo assim, falhado. Mais de 99% será invenção criada para o personagem e o restante de própria lavra desde amador escritor, ou seja, muita ficção e um tiquinho de realidade experimentada)


E para quem vai esta primeira carta que eu começo a escrever? A lista é bem grande, assim como minha vontade de puxar o pé à noite dos que estão nela!
Família? Amigos? Amores? Colegas? Patrões? Subalternos? (des)Conhecidos? Pessoas que passaram com rapidez por esta vida que não quer ser mais vivida?
Atenção: escrevo e desejo que endereçar eletronicamente que seja não para condolências ou comiseração ou dó. Nada disto. Escrevo para saberem como me sinto diante do que passo - do que me faço passar e do que me fazem passar.
Não quero imputar culpa em ninguém, absolutamente. A culpa é toda minha, mesmpo porque ninguém assumiria culpa alguam. Pensar nisto é motivo de riso, acreditar nisto é motivo de patetice.
E não quero conserto, tampouco ajuda. Só quero que a informação chegue a quem é devido que chegue, oras! Bem simples.
Vamos lá, porque agora nada me custa fazer.

Deveria escolher família no rol elencado ali em cima, não é? sim, porque primeiro núcleo humano que a gente se socializa - ou pelo menos grande parte de nós - e também porque não escolhemos, o que é bem foda. Aliás, tanta coisa e gente não escolhemos.
Então... Família: é você mesmo.
Nasci algumas poucas décadas atrás de uma mãe e um pai quase normais. Durante a gravidez dela - vim a saber depois - quase a matei tamanha vontade de sair de seu útero (se eu soubesse o que viria depois...) exigindo descanso absoluto, fora as hemorragias e a insônia causadas por este aqui. Não deve ter sido fácil. E não foi mesmo. Do lado do cromossomo Y - um vagabundo de marca maior - não pude esperar muita coisa: quase derrubou minha mãe da escada porque voltara do trabalho, no 1º mês, e já pedira demissão porque obedecer à ordens estava quilômetros de suas poucas qualidades. Ela, percebera que não havia sido intencional; de intecnonal só mesmo a garrafa de rum que ele bebera e trazia debaixo do braço, quase no osso. 
Verdade que ela batia nele! Sim, é isto mesmo! Determinada e com uma vocação para brigar, todo dia havia uma discussão acerca do alcolismo e do clichê "agora somos 3 e você não se emenda, saeu bêbado vagabundo e inútil!". 

Amado mesmo acho que não fui durante a gestação. Queria poder me lembrar da voz grave de meu pai falando com a barriga da minha mãe, porque às vezes ela quedava-se em um bom humor irresistível e ambos deitados conversavam sobre como seria meu nome e o que eu seria quando adulto (hahaha)
Retificando: quando escrevi que não fui amado quero dizer que não fui desejado na prévia sem camisinha e também que gostaram de mim depois, suponho...
(gostar é diferente de amar?)
Mas isto era às vezes. Raro mesmo.
O que valia no sentido de o que acontecia eram as brigas no tapa, o alcolismo e a reclamação por ter que ficar em repouso.
Bem que eu podia ter sangrado por toda a cama e assim teria ido desta para melhor sem nunca ter existido de verdade. 
Esta é boa! Sangrado antes e nem estaria aqui escrevendo. Talvez fosse uma solução melhor, mais adequada porque pouparia tanto trabalho.

http://sumtinprecious.blogspot.com.br/2012/09/sumtin-serious-depression-and-suicide.html

sábado, 2 de março de 2013

VIAGEM CX - ROTAS À SUA PROCURA

Reprodução [sítio abaixo]

De São Paulo (tudo termina aqui) a Bucareste;
de Bucareste a Colombo;
de Colombo a Tóquio;
de Tóquio a Sidnei;

(em São Paulo nasceu nosso sentimento)

de Sidnei a Buenos Aires;
de Buenos Aires a Luanda;
de Luanda a Roma;
de Roma a Macau;

(em São Paulo durou o que sentíamos)

de Macau a Istambul;
de Istambul à Cidade do México;
da Cidade do México a Reikjavik;
de Reikjavik a Antananarivo;

(em São Paulo teve a finalização deste amor)

de Antananarivo a Lisboa;
de Lisboa ao cerrado do Brasil Central;
do cerrado do Brasil - na sua cidade pequena do interior - a São Paulo.
Tudo de novo, tudo começa em São Paulo.

(mais uma vez, reiniciamos e para sempre?)

E assim foi, assim tem sido. Todo o dinheiro, todas as moedas e aplicações, 
o dolce far niente de estilo felliniano impelem-me em seguir seu rastro.
E o poder que havíamos estabelecido um sobre o outro?
Esvaiu-se? Dissipou-se? Existiu?

Nem moedas, nem travellers checks, nem visa international ilimitado
fazem que eu ache você.
Aeroportos, escadas rolantes, alfândegas, esteiras, pisos quadriculados,
chegadas/saídas, gente gritando... Em nada encontro você.

Passaporte com carimbos inúmeros de lugares distantes, bonitos, exóticos,
alguns pestilentos de preconceito - passei e passo bem longe.
Tudo para encontrar você? Tentativas seguidas.
De volta a São Paulo?

Aqui, no bairro vizinho, na esquina... Onde você está?

http://openflights.org/blog/page/2/

68 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - A VISITA

Reprodução [sítio abaixo]
Marcada para as 14h do sábado, ele chega adiantado uns 15 minutos antes para se posicionar melhor e esperar o anfitrião que tanto quer lhe mostrar as novas instalações da clínica veterinária, que deverá ser inaugurada daqui duas segundas-feiras. Na esquina em diagonal, há um pequeno café com mesas altas na calçada, onde resolve tomar um para passar o tempo. Rex junto, é amarrado em seu pulso e, tranquilamente, deita-se na chão, com a boca aberta e a imensa língua para fora arfando depois da caminhada e também depois de beber com voracidade uma garrafa de água. 
Nem sabe porque está ali. Veio apenas como deferência a quem tão bem trata seus animais convivas do castelo inexpugnável. E como é sábado à tarde, sem nada o que fazer - e este nada seria ficar dentro da cidadela - anuiu a sim mesmo que deveria ir. E lá estava à espera do anfitrião.
No horário, ele chega. Do outro lado, Licínio faz um sinal acenando com os óculos de sol; ele desamarra Rex e pela faixa de pedestre atravessa o cruzamento, mesmo com o quase nada de tráfico. Aprendera assim em Tóquio: sempre atravessar utilizando a faixa,
Rex faz uma festa sem fim ao veterinário, pulando, lambendo e soltando ganidos de felicidade, enroscando-se no meio das pernas dele.

--- Acho que é a primeira vez que vejo um cachorro fazer festa ao médico. Só você mesmo Rex!
--- Ele é muito bonzinho, né meninão! Não é tão incomum não, sabe? Os gatos é que são mais reticentes, mas estes peludos aqui, como o seu, a maioria gosta. Claro, esta festa não é feita por todos, principalmente quando eles sentem o cheiro de remédio pelo ar quando entram na clínica.
--- O Rex nem liga. E mais, ele gosta muito de ir passear mesmo que seja para ver seu médico - você! - e ser examinado. o negócio dele é fazer festa, pular, brincar e ser tratado na recíproca.
--- Muitos agem como ele... Esperando a reciprocidade. Mas se a maioria dos humanos não são recíprocos entre eles, o que dirá com um ser que muitos denominam como inferiores? 
--- Verdade absoluta. O Felino ficou em casa mesmo. Estava todo sonolento.
Ambos riem, porque gatos nascem para viver sonolentos em boas horas do dia.
--- Sim! Eles são mesmo! Chegam a dormir umas 16h por dia. Picadas, claro, não de uma vez. Aliás, são iguais aos primos maiores, os leões e tigres. Todos iguais na vontade de ficar na horizontal e dormir. Vamos entrar? Eu ia te oferecer um café, mas a cozinha ainda não está pronta...
--- Acabei de tomar um. Fique tranquilo.
--- Venha, vamos entrar. Venha Rex! Vai ser o primeiro de 4 patas a entrar!


O imóvel - "um palacete assobradado" -, maior que o anterior, tem apenas alguns pequenos reparos para ser inaugurado. Quatro quartos, um canil lá fora que acomoda 6 cães de grande porte e um gatil - que poderia ser chamado de jardim de inverno - de bom tamanho que comporta até 10 gatos. Neste quintal, há três pés de romã adultos plantos em um pequeno gramado. Muros altos com cerca elétrica de pontas foi providenciado desde o início das obras, em todo o novo estabelecimento. Licínio disse que roubos a residências comerciais são muito comuns.
A sala de pequenas cirurgias no andar de cima está totalmente pronta, bem iluminada e com todos os compartimentos necessários para abrigar os instrumentos, lavatórios, macas e tudo mais. De cor clara, todas as paredes dão a impressão de limpeza extrema. 
Na fachada ampla pintada em verde, vermelho e cinza, cabe o nome "Bicho Paulista e Cia." em um luminoso de tamanho condizente com telefone e email, além do logo criado especialmente para tal. 

A vista dura cerca de 1h, não mais do que isto, com a conversa relativa à construção, prazo de entrega, preço de material de construção e os eventuais problemas com a mão-de-obra permenado todo este tempo. Neste tempo, ele por vezes se pergunta o porquê de ter sido convidado para conhecer a tal clínica. 
Já no final, Licínio o embaraça e diz que o convidou por um motivo bem simples.

--- Queria que conhecesse a clínica. E também minha nova casa... Casa entre aspas, né? Vou morar em cima porque acabei de me separar e onde estou não dá mais para ficar.
"E porque ele está falando isto para mim? Que se separou? Que vai morar aqui? Eu nem sabia que ele era casado".
--- Estou falando isto para você porque moraremos perto. Estou saindo lá da Pompeia, zona Oeste, e vindo para a zona Sul, aqui na Vila Mariana. Moro aqui em São Paulo há três anos somente, nem conheço tanto gente. Sei lá... Deve ser coisa de cara do interior mesmo que precisa estar sempre perto de amigos, ou pelo menos, de pessoas conhecidas. Venho de uma cidade que não tem 20 mil habitantes e agora moro em uma com  mais de 11 milhões. Você mora aqui perto, não é?
--- Sim, menos de 10 minutos a pé. Em termos de São Paulo, somos vizinhos bem próximos, mesmo bairro. Eu e o Rex viemos caminhando. Demorei mais um pouco porque você sabe: ele quer cheirar tudo, mijar em todos os postes e qualquer um que fala doce e manso ele fica todo derretido. É descer a avenida aqui da esquerda e andar seis quarteirões. Bem perto. 

A visita terminou logo após com ele caminhando duro - por causa do tênis novo que machucava seus calcanhares - ansioso por chegar à sua fortaleza. Esta proximidade com o veterinário dos seus companheiros não o agrada, ainda mais com a visita que acabara de aceitar e que realizara. Não havia como fugir de lá agora: Felino e Rex necessitam de cuidados. Tudo muito perto. Mais ainda: quer chegar em casa e fechar a porta.
"Que estes cuidados estão muito colados a mim... Estão mesmo!", em voz alta.

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