sábado, 2 de março de 2013

68 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - A VISITA

Reprodução [sítio abaixo]
Marcada para as 14h do sábado, ele chega adiantado uns 15 minutos antes para se posicionar melhor e esperar o anfitrião que tanto quer lhe mostrar as novas instalações da clínica veterinária, que deverá ser inaugurada daqui duas segundas-feiras. Na esquina em diagonal, há um pequeno café com mesas altas na calçada, onde resolve tomar um para passar o tempo. Rex junto, é amarrado em seu pulso e, tranquilamente, deita-se na chão, com a boca aberta e a imensa língua para fora arfando depois da caminhada e também depois de beber com voracidade uma garrafa de água. 
Nem sabe porque está ali. Veio apenas como deferência a quem tão bem trata seus animais convivas do castelo inexpugnável. E como é sábado à tarde, sem nada o que fazer - e este nada seria ficar dentro da cidadela - anuiu a sim mesmo que deveria ir. E lá estava à espera do anfitrião.
No horário, ele chega. Do outro lado, Licínio faz um sinal acenando com os óculos de sol; ele desamarra Rex e pela faixa de pedestre atravessa o cruzamento, mesmo com o quase nada de tráfico. Aprendera assim em Tóquio: sempre atravessar utilizando a faixa,
Rex faz uma festa sem fim ao veterinário, pulando, lambendo e soltando ganidos de felicidade, enroscando-se no meio das pernas dele.

--- Acho que é a primeira vez que vejo um cachorro fazer festa ao médico. Só você mesmo Rex!
--- Ele é muito bonzinho, né meninão! Não é tão incomum não, sabe? Os gatos é que são mais reticentes, mas estes peludos aqui, como o seu, a maioria gosta. Claro, esta festa não é feita por todos, principalmente quando eles sentem o cheiro de remédio pelo ar quando entram na clínica.
--- O Rex nem liga. E mais, ele gosta muito de ir passear mesmo que seja para ver seu médico - você! - e ser examinado. o negócio dele é fazer festa, pular, brincar e ser tratado na recíproca.
--- Muitos agem como ele... Esperando a reciprocidade. Mas se a maioria dos humanos não são recíprocos entre eles, o que dirá com um ser que muitos denominam como inferiores? 
--- Verdade absoluta. O Felino ficou em casa mesmo. Estava todo sonolento.
Ambos riem, porque gatos nascem para viver sonolentos em boas horas do dia.
--- Sim! Eles são mesmo! Chegam a dormir umas 16h por dia. Picadas, claro, não de uma vez. Aliás, são iguais aos primos maiores, os leões e tigres. Todos iguais na vontade de ficar na horizontal e dormir. Vamos entrar? Eu ia te oferecer um café, mas a cozinha ainda não está pronta...
--- Acabei de tomar um. Fique tranquilo.
--- Venha, vamos entrar. Venha Rex! Vai ser o primeiro de 4 patas a entrar!


O imóvel - "um palacete assobradado" -, maior que o anterior, tem apenas alguns pequenos reparos para ser inaugurado. Quatro quartos, um canil lá fora que acomoda 6 cães de grande porte e um gatil - que poderia ser chamado de jardim de inverno - de bom tamanho que comporta até 10 gatos. Neste quintal, há três pés de romã adultos plantos em um pequeno gramado. Muros altos com cerca elétrica de pontas foi providenciado desde o início das obras, em todo o novo estabelecimento. Licínio disse que roubos a residências comerciais são muito comuns.
A sala de pequenas cirurgias no andar de cima está totalmente pronta, bem iluminada e com todos os compartimentos necessários para abrigar os instrumentos, lavatórios, macas e tudo mais. De cor clara, todas as paredes dão a impressão de limpeza extrema. 
Na fachada ampla pintada em verde, vermelho e cinza, cabe o nome "Bicho Paulista e Cia." em um luminoso de tamanho condizente com telefone e email, além do logo criado especialmente para tal. 

A vista dura cerca de 1h, não mais do que isto, com a conversa relativa à construção, prazo de entrega, preço de material de construção e os eventuais problemas com a mão-de-obra permenado todo este tempo. Neste tempo, ele por vezes se pergunta o porquê de ter sido convidado para conhecer a tal clínica. 
Já no final, Licínio o embaraça e diz que o convidou por um motivo bem simples.

--- Queria que conhecesse a clínica. E também minha nova casa... Casa entre aspas, né? Vou morar em cima porque acabei de me separar e onde estou não dá mais para ficar.
"E porque ele está falando isto para mim? Que se separou? Que vai morar aqui? Eu nem sabia que ele era casado".
--- Estou falando isto para você porque moraremos perto. Estou saindo lá da Pompeia, zona Oeste, e vindo para a zona Sul, aqui na Vila Mariana. Moro aqui em São Paulo há três anos somente, nem conheço tanto gente. Sei lá... Deve ser coisa de cara do interior mesmo que precisa estar sempre perto de amigos, ou pelo menos, de pessoas conhecidas. Venho de uma cidade que não tem 20 mil habitantes e agora moro em uma com  mais de 11 milhões. Você mora aqui perto, não é?
--- Sim, menos de 10 minutos a pé. Em termos de São Paulo, somos vizinhos bem próximos, mesmo bairro. Eu e o Rex viemos caminhando. Demorei mais um pouco porque você sabe: ele quer cheirar tudo, mijar em todos os postes e qualquer um que fala doce e manso ele fica todo derretido. É descer a avenida aqui da esquerda e andar seis quarteirões. Bem perto. 

A visita terminou logo após com ele caminhando duro - por causa do tênis novo que machucava seus calcanhares - ansioso por chegar à sua fortaleza. Esta proximidade com o veterinário dos seus companheiros não o agrada, ainda mais com a visita que acabara de aceitar e que realizara. Não havia como fugir de lá agora: Felino e Rex necessitam de cuidados. Tudo muito perto. Mais ainda: quer chegar em casa e fechar a porta.
"Que estes cuidados estão muito colados a mim... Estão mesmo!", em voz alta.

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