quarta-feira, 6 de março de 2013

02- CARTA DO SUICIDA: À PEDAGOGIA ESCOLAR

Reprodução [sítio abaixo]
"Vai palito, corre!".
"Quebra o lápis!".
"Se ele ficar de perfil, ninguém vê!".
"Olha, um esqueleto nadando!".

Na aula de educação física (que educação mesmo? Que física mesmo?) durante o primário e, principalmente, o ginásio - porque eu sou do tempo desta nomenclatura - as coisas não iam muito bem para mim. Verdade que era um alívio ir à escola porque o ambiente em casa com pai alcóolatra e mãe violenta, que batia nele e que dava broncas homéricas em mim e nos meus irmãos, tornava-se uma válvula de escape para mim. Lá pelo menos, eu não presenciava esta cena familiar tão "terna". 
Na sala de aula, dependendo da rigidez do professor, as coisas iam muito bem. Toda a classe não dava um pio com medo de algum esporro, ou o que era pior, uma prova surpresa - que se igualava no terror a uma chamada oral sem aviso. Equivaliam-se.

Mas querem saber: isto tudo tornava-se coisa pouca para mim. Eu nem tremia de medo nem nada, até deveria já que aluno nota 10 nunca fui, tampouco fazia parte da turma temida turma do fundão. Sempre na média das notas, sempre no meio da classe, em fileiras coladas à paredes pintadas de duas cores. O fato que este terror causava uma certa inspeiração para melhorar e um esquecimento do que eu vivenciava logo pelas manhãs quando saía de casa para estudar e um paliativo para quando eu voltasse. Gostava quando tinha bastante tarefa de casa: uma boa desculpa para me enfiar no quarto e estudar a tarde toda.
A coisa toda pegava mesmo quando tinha que ir à educação física. Magro como um varapau, um perfeito perna-de-pau no futebol e por isto, o último a ser escolhido para quando havia o tal jogo. E sempre havia jogo de futebol; o único esporte "ensinado" e praticado pelos meninos em idade escolar. Que tormento! 
Lembro que eu rezava para que começasse a chover, um toró que fosse, o que se fez inócuo quando a direção da escola inaugurou o ginásio coberto, moderno para os padrões da época. Aí, nem mesmo as águas (de março ou de qualquer outro mês) me salvavam. 

Devo confessar que, às vezes, eu matava aula e ficava perambulando por dentro da grande escola que ocupava 2 quarteirões por 1 quarteirão de área, me escondendo e me esgueirando: a parte mais legal da educação física, melhor, a única parte. Acho que veio daí minha vontade, à época, de me tornar um espião que possuía poderes como o de se miniaturizar para saber de segredos e entrar nos lugares que não se permitia e o de correr muito rápido a ponto de ninguém conseguir captar com os olhos.Tinha até um codinome: WR1
Aventurar-se pelas dependências durava não mais do que o tempo da aula, pois ao retornar para casa, já recebia uma bronca fenomemal de minha mãe porque eu havia faltado - como sempre - das aulas ao longo do bimestre todo, pode-se dizer. A direção pedagógica ligava, lá por agosto ou novembro, dizendo que eu poderia ser reprovado em faltas. "Seu filho falta sistematicamente às aulas da tarde". Minha mãe repetia o tal sistematicamente para que eu entendesse e eu não entendia; custei a compreender o que era o tal advérbio!

Direção para onde? Para o barranco? 
Pedagógica? Que método pedagógico era aquele que só se ensinava futebol para os meninos? 
Ah, porém para ligar "pedagogicamente" em casa, a direção mantinha-se no rumo traçado e executava com presteza rara surtindo o efeito necessário e indelével em mim.

http://www.weightlossprose.com/exercise/despite-obesity-rates-physical-education-classes-cut/

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