segunda-feira, 30 de setembro de 2013

VIAGEM CXLI - FAZENDO UM PELO OUTRO

Olha o que eu fiz. Para você.
Meio aos trancos e barrancos, aqui cheguei.
Tanta volta, tanta esquina. Fiz por você.
Este andar de quilômetros sem vacilar.
Bebi água, é verdade, em alguns momentos.
Só isto. Garganta seca, sabe?
Você sabe sim! 
Eu fiz e faço por nós. 
o que ninguém me fez, o que eu não fiz por ninguém.
Só por você mesmo.
Cheguei suado pelo caminhada até aqui, 
para estar em frente de onde você mora, bem cedo.
Mesmo, muito mais do que o mesmo,
eu respeito, amo, sou cúmplice.
Fazer por você, porque o que já fez por mim: um resgate!
Verdade, salvou-me do naufrágio no concreto, 
da grande cidade de milhões.
Você fez sem vacilar.
E me convenceu, eu, um verdadeiro Urtigão urbano,
de que para você, eu estou junto, em primeiro.
Amo com uma força que desconhecia.
E você ainda diz: "Não fiz muito por você. Fiz porque eu amo".
E isto é tanto!

sábado, 28 de setembro de 2013

97 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - A DOCE VIDA

Reprodução [endereço abaixo]
Dirigindo-se ao café logo após a Praça do Patriarca, no centro da cidade, perto da Prefeitura Municipal, ele já está sob total controle dele mesmo: sem ansiedade, apenas a curiosidade de quem poderia ser a autora, ou autor de todos aqueles recados.

Início de noite, caminhando por edifícios imponentes de arquitetura mais antiga, com detalhes não mais fabricados, ele se sente bem em morar em uma cidade deste tamanho, com tanta gente, tantas construções diferenciadas - novas e espelhadas, velhas e detalhadas. As pessoas por aqui, pelo grande anonimato que somente São Paulo no Brasil todo pode proporcionar pelos seus milhões, são o grande diferencial. Sem praias, sem brisa do barquinho que vai, do barquinho que vem, São Paulo é quem mora aqui: a diversidade, esta força imaterial, incomensurável, os sonhos. Ele pensa que chegar na frente por beleza da natureza é fácil: ela está ali. "Quero ver esta força desmedida tentar ser medida! Eu gosto demais daqui".

Mesa para fora, cheiro de café nas imediações e pronto: chega ao lugar combinado.
Localizado em um canto no qual podia ver quase todo mundo que passa, ele procura desvendar quem pode passar por ali que seja seu conhecido. Estica o pescoço, mexe-se na cadeira acolchoada.

--- Boa noite. Um café senhor? Ou quer ver o cardápio?
Nem nota a aproximação do garçom de sotaque gaúcho, falando quase aos socos, meio seco.
--- Boa noite... O cardápio, por favor. Mas pode me trazer um puro e uma água mineral. vou dar uma olhada no seu cardápio sim. Talvez eu coma algo em seguida.
--- Muito bem senhor. Eu já volto com seu pedido. Com licença.

"No recado, a tal pessoa afirmava já estar aqui. E não vejo ninguém que eu conheça. Pode ser um despiste para me deixar ainda mais curioso? Pode ser, típico de quem tem medo da aprovação. Quer que aprovem, mas tem tanto medo da rejeição, eventual, que esta toma conta da outra...".

Olha o cardápio, na página dos doces, variados para todos os gostos. Tem um que se chama "La Dolce Vita": 2 bolas sorvete de creme, dentro delas colheradas de creme de avelã com chocolate, tudo rodeado com marshmellow, com cacau em pó polvilhado por cima dele todo.

--- Que doce vida comer algo sim. É com este que eu vou.
Murmurando baixo, consigo mesmo.

Preocupação em engordar ele é desprovido por completo: sua leve barriguinha mal se nota, disfarçada mesmo. A vocação de árvore de cemitério não lhe apraz, muito menos será permitida. Ainda mais que o 'morto' está vivíssimo - verdade que não muito usado em conjunto com outrem... 
O café chega primeiro, sorvido com certa sofreguidão.
Ainda com o amargo na boca, a tigela da doce vida - em português mesmo - é posta à mesa.
E uma mão sobre seu ombro é posta também.

--- Tudo bem?
--- Você? Você que mandou todos os recados? 
--- Vim para te matar...
Ele se levanta da cadeira e a surpresa senta. Ele senta de novo.
--- Matar? 
--- De amor. Quero fazer uma história de amor com você. Longa, muito longa.
--- Você não sabe se eu quero. E tem mais, estou bem sozinho. Eu devia...
--- Está bem sozinho? Penso diferente. Quando olho e vejo caminhando, fazendo as coisas, passeando, respirando, sorrindo...
--- Espera! Faz quanto tempo que me segue?

--- Faz quanto tempo que te amo. Esta é a pergunta mais correta. Aliás, a única correta. Mas se quer saber com tanta vontade assim... Vamos lá. Acho que comecei a te amar logo na primeira vez, faz mais de um ano. Nem tinha obtido minha transferência ainda mas já via você de longe, todo "duro" com aquele terno bem cortado. Verdade que nem sempre sorria muito, havendo dias que percebia que certa tristeza tomava conta. O que eu acho que é uma tremenda perda de tempo. Sim ficamos tristes, mas quando eu o via meio desalentado - nem sabia o motivo - até eu ficava triste e tinha ganas de te abraçar apertado dizendo em seu ouvido: "Eu estou aqui. Tudo vai ficar bem. Calma que vai passar". Hoje tenho mais noção dos motivos que lhe deixam para baixo.

--- Tem? Você acha isto mesmo.
A doce vida começa a derreter pelo prato se sobremesa
--- Tenho sim. Sabe porque? Por que eu amo você mais do que tudo. E quero tentar, quero que me dê uma chance. Por isto resolvi vir aqui hoje e tirar a máscara do anonimato. Pode até mesmo me mandar embora.
--- Embora daqui ou da editora?
--- Da editora você não pode me mandar embora, porque eu já pedi demissão. Sério! Assim que saiu, eu redigi minha carta e encaminhei para sua caixa postal. Sem cópia para o grande chefe, só para você mesmo. Está lá, pode ver.
Sim, o secretário que trabalhara com ele em substituição à grávida, agora de licença maternidade, por alguns meses está na frente dele. Falando tudo aquilo, com serenidade de alguém que quer muito a aprovação, mas não que necessita dela. Pelo menos não neste momento.
--- Vou andar um pouco por aqui. Tem uma exposição no Centro Cultural do Banco do Brasil, "Roma em Três Dimensões" e quero ver. Termina esta semana. Fique bem.
Um leve toque na sua mão e o agora ex-secretário se vai, levando o gosto do café com ele... 

Absorto pela revelação, segue-o com o olhar até virar à esquerda na Rua 7 de Abril e sumir no meio da gente que sai do trabalho, aos montes, não sem antes vê-lo se virar para trás e mostrar o polegar para cima.
Quase derretido pelo vento que sopra nestes tempos de primavera fria, fria, ele volta o olhar para o prato e começa a sorver o sorvete com todo aquele doce, aquele "La Dolce Vita". Na primeira e generosa colherada, ele exclama:
--- Isto é muito bom! Deveria ter vindo antes. Comido antes.

http://www.sanjose.com/restaurants/articles/2013/08/05/dolce_bella_chocolate_cafe_brings_specialty_chocolates_to_san_jose

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

96 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - GIRANDO FEITO BATUTA

Reprodução [endereço abaixo]
Pela porta do Teatro Municipal (ou Theatro, como ainda está grafado - igual à escrita antes da reforma ortográfica de 1943), ele pode ouvir o som de ensaio de uma orquestra, como uma banda dos anos 50. 

Ao acaso, acaba de passar pela calçada em frente. Uma música mística animada, metálica a entrar em seus ouvidos. Fim de tarde, começo da noite nos estertores do inverno de São Paulo e acordes pelo ar.

A orquestra que parece ensaiar para um grande baile, de gala "que talvez nem exista mais como antes: homens de smoking, mulheres de longos vestidos e penteados estranhos", pensa. 
Ele para e tenta distinguir qual música estão tocando, mas nada: apenas se lembra de tê-la ouvido quando criança, na casa dos pais, no aparelho de som 3 em 1. A bolacha fazia parte da coleção deles; ambos eram fãs destas músicas instrumentais feitas para dançar.

"Era um CCE, o mais moderno possível para a época. Acho que foi no começo dos anos 80. Todo preto e cinza, avançado e com um som que era pureza total. Vinha com cassete também! Pelo menos para mim era de última geração, para a época era...".

Afrouxa a gravata, entra em um boteco e toma um café no copo, daqueles de pinga, adoçado previamente; ainda assim preferível aos expressos - uma febre na cidade. No bolso interno, o telefone mudo, sem novas mensagens.

Paga pelo consumiu, atravessa a rua e dá uma espiada na porta do imponente teatro da cidade, o mais antigo. Observa sem conseguir detalhar quem está regendo. O que consegue enxergar é um maestro meio calvo, cabelos brancos, mangas arregaçadas gesticulando pelo ar com sua batuta freneticamente.
Chega uma mensagem. Volta-se de costas à entrada para melhor ler.

"Estou bem perto de vc. Quer me conhecer? Vamos orquestrar este encontro já e desamarrar este nó antigo? O que acha? Perdi vc de vista logo que atravessou o prédio da Prefeitura. Onde está? Eu aq na pça do Patriarca, ao lado da igreja. Vamos?"

Sim, a ansiedade tomou conta dele como há muito não acontecia. A sanidade cedeu espaço a ela. Fica nervoso com o recado. Mais ainda, porque ele tem a certeza que é um homem. E uma pessoa do sexo masculino apaixonada por ele trazer-lhe-ia, se fosse mesmo, um constrangimento interno grande. Ficará sem saber o que fazer. 

De imediato sente o suor escorrer pelos sovacos, nas costas e peito. Rodopia para e para cá feito a batuta que acabara de ver: não pelo ar, mas sim pelas ruas. Girando e suando.
Escorrendo...

Enquanto isto a orquestra para por segundos. Retumbantemente, como em uma apoteose, retoma em seguida tocando um clássico do cinema, de uma época que nem sequer seus pais estavam casados. O maestro está lá, girando, os instrumentos tocados soltando notas pelo centro da grande cidade.

http://blogs.ft.com/tech-blog/2011/07/13/

domingo, 15 de setembro de 2013

VIAGEM CXL - AOS DOMINGOS, PELA MANHÃ

Reprodução [endereço abaixo]

Domingo de sol.
Assim que acordou, telefonou. Teve vontade.
Quis repetir sexta-feira, quis repetir quinta-feira, quis repetir os outros dias.
Teve disposição logo pela manhã olhando o céu mais azul que qualquer azul de todo o planeta.
"Azul este planeta", ele pensou.
"Laranja este sol brilhando", ele arrematou

Calor

Vigiou as horas, vigiou o relógio do computador e seu estômago vigiando também tudo isto.
Lá pelas tantas, quase ao meio-dia, quis em um ímpeto, correr para lá e mostrar-se bom.
mostrar-se o melhor. Porque amar lhe fazia ser melhor em tudo.
(Ou melhor, melhor me quase tudo... Mas já estava bem com esta expectativa)
Escreveu na tela, digitou sobre estatísticas, sobre decréscimo e crescimento (e crescia nele o que deveria crescer!), sobre estudos; pelos eriçados pela corrente de ar

Vento morno

Ele queria mesmo estar lá, junto.
Em outro bairro da grande cidade alfa, a cidades dos anônimos que se encontram.
Para deitar em cima, para movimentar-se em cima. 
Para controlar aquela situação, porque daí advinha o prazer deles, de saberem o que queriam.

Eu tonto depois de você

Para aquelas horas, o domingo seria de ânimo, de cansaço, de suor e de entrega. 
O sol batendo na transversal neles, sobejando calor - como se precisassem -, como um rei da vida, de dar vida, de prover vida. 
Perto, ele se acostuma com estas manhãs de domingos, ao sol, de ventania morna, de ficar fora do eixo.

E depois, conversas, comédias na TV, risos e o almoço tardio


http://www.minoanatlantis.com/Minoan_Navigation.php

CIDADES DO BRASIL

Urbanizamo-nos. Muitas de nossas cidades tiveram crescimento populacional explosivo entre os anos 60 e 90; hoje, o crescimento arrefeceu, com exceção de alguns nas Regiões Norte e Centro-Oeste. Temos, 16 municípios com mais de 1 milhão de habitantes, dos quais 3 no Estado de São Paulo e 2 no Rio de Janeiro (IBGE-2013).

O Brasil tem, segundo estimativas do IBGE para agosto deste ano: 
- 299 cidades acima de  100 mil habitantes (em todas UFs);
- 142 com mais de 200 mil;
- 85 com mais dos 300 mil (Tocantins não emplaca nenhum)
- 39 com mais de 500 mil (Roraima, Acre, Amapá e Rondônia ficam de fora)
Distribuição por Estado e Distrito Federal (>50 = maiores que 50 mil habitantes e assim por diante com as outras colunas):
>50

>100

>200

>300
SP 132 SP 77 SP 40 SP 22
MG 68
MG 30
RJ 14
RJ 08
BA 47
RJ 26
MG 13
MG 08
RS 43
PR 20
RS 11
PE 06
PA 43
RS 19
PR 08
PR 05
RJ 37
BA 16
BA 06
RS 04
CE 35
PA 15
PE 06
ES 04
PE 35
SC 13
SC 05
BA 03
PR 34
PE 12
ES 05
GO 03
SC 27
GO 10
CE 04
SC 03
MA 23
CE 09
PA 04
CE 02
GO 22
MA 09
GO 03
PA 02
ES 11
ES 09
RN 03
PB 02
AL 10
PB 05
MT 03
DF 01
PB 10
MS 04
MA 02
AM 01
MT 10
MT 04
AL 02
MA 01
AM 09
RN 03
MS 02
AL 01
RN 08
SE 03
PB 02
PI 01
SE 07
AL 02
DF 01
RN 01
RO 07
AM 02
AM 01
MS 01
PI 05
PI 02
PI 01
SE 01
MS 05
RO 02
SE 01
MT 01
TO 04
AP 02
RO 01
RO 01
AP 02
TO 02
AP 01
AP 01
AC 02
DF 01
AC 01
AC 01
DF 01
AC 01
RR 01
RR 01
RR 01 RR 01 TO 01 TO 00

638

299

142

85


obs.: se observarmos a coluna com mais de 100 mil habitantes, as capitais destes Estados, que apresentam dois acima deste valor, são bem maiores que os segundos colocados, principalmente.
Alagoas - Maceió com 997 mil  e Arapiraca, 228 mil;
Amazonas - Manaus com 1,98 milhão e Parintins, 109 mil;
Piauí - Teresina com 836 mil e Paraíba, 149 mil;

E a lista dos maiores, também por UFs:


>500
SP 09
RJ 04
MG 04
BA 02
PR 02
PE 02
GO 02
CE 01
DF 01
AM 01
RS 01
PA 01
MA 01
AL 01
RN 01
PI 01
MS 01
PB 01
SE 01
MT 01
SC 01
RO 00
ES 00
AP 00
AC 00
RR 00
TO 00

39

Nota-se que o maior número, em qualquer tamanho listado aqui, a Região Sudeste apresenta protagonismo. Um dos fatores refere-se ao fato que os São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os estados mais populosos do Brasil, nesta ordem. 

Por Região:

>50

>100

>200

>300
SE 248
SE 142
SE 72
SE 42
NE 180
NE 61
NE 27
NE 18
S  104
S  52
S  24
S  12
N  68
N  25
N  10
N  07
CO 38
CO 19
CO 09
CO 06

638

299

142

85


>500
SE 17
NE 11
S  04
N  02
CO 05

39
obs.: São Paulo emplaca 9 municípios, Minas Gerais e Rio de Janeiro, 4 cada um na lista logo acima. Bahia, Pernambuco, Paraná e Goiás 2 cada um.

Todos os números foram obtidos no sítio do IBGE em estimativas para os 5.569 municípios, incluindo Brasília, para agosto de 2013.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

VIAGEM CXXXIX - "ISTO É O FIM, MEU ÚNICO AMIGO"

Reprodução [endereço abaixo]
"This is the end
Beautiful friend
This is the end,
My only friend, 
the end...".
Jim Morrison - The Doors

Tomara uma decisão, extenuado que estava durante o largo, profícuo, solitário trabalho realizado ao longos destes anos - já se vão mais de 15 anos, o que é muito. As contas, ele perdera durante o meio deste período, mas recuperara ao cabo de 2007 para cá. Decidira então que entraria no jogo de melhorar o mundo - São Paulo e adjacências - só mesmo quando tivesse sido mesmo impossível de passar em branco, que nem era sua cor preferida. Gostava das mais escuras, a exceção era a cor laranja.

Manietou sua mente pelo cansaço do corpo (ou teria sido o contrário?), vontade imperiosa, para que descansasse mais, uma vez que percebera que se aproximava o fim de sua vida. Sentia isto como uma certeza adquirida havia pouco tempo. Absolutamente não viveria por anos a fio. Julgou merecer horas de "dolce far niente" e se preocupar menos com o resto e se ocupar mais dele.

Tampouco desejava. Por que? Porque como era Caxias no trabalho de melhorar a cidade, levando tudo muito a sério como extremo profissionalismo, percebera que quanto mais trabalhava, mas teria que trabalhar. 
Segundo ele, a solidão o impedia de resolver todos os problemas do vasto mundo, porque tinha de fazer tudo sozinho. 

"Não tem fim meu esforço de melhoria! Cacete! Faço, faço e aparece mais trabalho. Parece barata que você esmaga sem dó até ver todo aquele branco, que é meio cor de areia, viscoso aparecer... Simples: de cada uma, devem nascer umas 10 baratas, direto das profundezas dantescas do inferno! É uma luta sem fim, sem trégua e estou me cansando. E se cansar nesta metrópole alfa não é boa coisa. Devo parar antes para não pagar mico... Porque aí eu estaria fadado ao fracasso".

Passaria a dormir pelo menos 10 horas por dia, passearia com o semi novo sedã de velho mais calmo, comeria mais chocolate e talvez, quem sabe, podia ser... Quiçá fumaria menos.
Quando estivesse mais perto do fim de tudo, física e mentalmente estaria bem, o que lhe permitiria usufruir como um gastão a boa renda que auferia todo e sagrado mês. Sexo contratado com conhecidas antigas (e também com um ou outro conhecido para participar junto com as meninas), regado à drogas inaladas como a maconha - porque diminuiria o tabaco e rock pauleira.

Quereria, se pudesse determinar como (porque quando ele sabia, ou achava que sabia) iria morrer: rápido, sem avisos e que não doesse tanto. "Mas se doer, beleza, eu aguento, afinal vou estar no fim e não me custa nada me purgar aqui na Terra" (na verdade, ele determinara que morreria logo, em meses, no máximo no começo do próximo ano; veremos que ele acertará). 
E no fim, meus amigos, a dor passa.

http://www.thedoors.at/info_en.html

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

VIAGEM CXXXVIII - MATAR CANSA

Reprodução [endereço abaixo]
"Matar cansa.
E cansa muito, deve ser isto".

Em alguns de seus feitos, já nos arremates finais como sempre fizera de maneira imaculada,  mesmo com a respiração encurtada ele se mantinha direcionado no que realizava. Porém, cansando-se progressivamente, não havia como estancar a sangria da fadiga.

"'Mas deve ser da idade'. E ainda me lembro de um verso diverso de uma música antiga. Esqueci quem canta. Este é você, porque os aniversários chegam cada vez mais rápidos. Parecem todos eles que foi ontem. Deve ser a idade, o cansaço, o tempo...". 
 
E cada vez que voltava para o velho sobrado da Vila Mariana, erguido pelos seus pais no fim dos anos 60 - ele praticamente nascera ali -o cansaço era maior cobrando então um descanso de mais horas. Muitas horas. 

Antes, bem no começo, ele nem se cansava. Ao chegar em casa, este época, apenas sentia fome, matando-a comendo lautas refeições, fosse a hora que fosse: por várias vezes comera feijoada de madrugada, comera pernil assado no Estadão de manhãzinha e nada lhe fazia mal.
O tempo passou, rápido os meses se seguiam.

Tempos depois, perto do fim desta história, ele cansava-se à exaustão. Subia mesmo os degraus do sobrado quase como um morto ofegante como se parecesse sua última empreitada. 

Deitava-se estirando-se na cama meio enviesado, quase perpendicular, sob o colchão de densidade rija. Estalava os dedos dos pés e mãos, os joelhos e o pescoço (isto tudo, um ritual para dormir, ajudava-o a relaxar e embarcar em sono solto), e conseguia fechar os olhos e apenas dormitar. Poderia soar contraditório estar cansado e não dormir porque soía que demorava a ferrar no sono, daqueles que você perde a consciência.
Cansado por demais e o sono não vinha. 

E antes? Bem, ele dormia a sono solto quando assim desejava e de bucho cheio, umas 7h ou 8h, raramente mais do que isto. 
E perto do fim? Bem, além de dormitar por um tempo, quando pegava no sono dormia oniricamente por mais de 10h, sem quebras: nada de banheiro, nada de água - só dormir; das últimas vezes chegara dormir mais de 12h. 

Mas o que vinha depois deste tempo todo era ruim: permanecia com a sensação de cansaço, de ter dormido algumas horas tão-somente. 
Estaria perdendo o ritmo do negócio todo? Do trabalho tão meticulosamente realizado?

O que conseguia fazer, embora prostrado se quedasse, referia-se às gravações com a novíssima câmera na garagem cheia de tralhas, com o seminovo sedã de velho ao lado, de motor quente - ele sentia o cheiro. A diferença: não ficava como um clone peripatético de políticos em programas eleitorais, apenas sentado na velha mesa ou mesmo recostado no banco do automóvel.

--- Falta somente pouco  para eu parar de realizar as ações. A verdade deve ser encarada, sem embaço. Tudo pelo canseira que me consome logo quando acabo de executar o melhor trabalho do mundo: eliminando do mundo os piores seres da face da Terra.

--- A última saída me consumiu! Cheguei a ficar cansado no fim do serviço. Verdade que a mulher me fez correr uns 200 metros. Mas não foi isto... 'Não tente se enganar, seu trouxa', a verdade é esta  e digo para mim mesmo. O que me cansou, o que me causou respiração ofegante foi a luta para fazê-la parar de se debater e as porradas na cara, até eu que eu enfiasse a mão na goela dela. Depois o namoradinho imbecil veio por cima, mal tive tempo de me recuperar. Tive que lutar com o fdp e ele era bom de briga. Claro, eu venci! Quase que foi um vitória de Pirro, porque quando tive que dar coronhadas 'n' vezes, eu me cansei ainda mais. Ofegava mesmo! Se eu fosse um cachorro, teria arfado com a língua espumante toda para fora.

Entendemos que ele cansava-se cada vez mais, sem que nada pudesse ser feito.

http://marltonder.deviantart.com/art/Man-yawning-196213892

sábado, 7 de setembro de 2013

95 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - SÁBADO DE ESPERA

Reprodução [endereço abaixo]
Vira para lá, vira para cá e tudo de novo por várias vezes, igual bife à milanesa, mas impossível adiar um minuto sequer. 

"PQP, vou ter que levantar!".

Corre ao banheiro catando cavaco, que quase cai, e aos trancos e barrancos, o primeiro obstáculo é o batente da porta do quarto - trombada daquelas. Recua meio tonto, acordando de vez em seguida.

O próximo aparece rapidamente e é "pior" que qualquer coisa interposta entre a vontade fisiológica e alguma barreira física. As frequentes e matinais disposições masculinas.

--- Vamos logo! Estou quase morrendo de vontade! Acordei para beber água à noite e não fui ao banheiro; dois copos cheios. Agora acordei com a bexiga estourando de vontade. Esperar um pouco para baixar meu companheiro solitário, que está bem animado. Se bem que de solidão, nós entendemos não é? Há quanto tempo... Esperando, esperando. Ufa, parece que agora a coisa toda vai!

Voz rouca, sonolenta e suficiente para pôr em pé seus companheiros de castelo, o inatingível e imperscrutável castelo. Entre tantos outros que se construíram pela grande cidade de São Paulo.

Fazendo um café forte para acordar do sono das muitas horas dormidas, o que lhe causa uma preguicinha boa, manuseia todo a parafernália para o ato. O cheiro do café traz à mente uma época de acordar cedo para estudar durante sua vida toda. Nunca estudara à tarde. 

Felino ronrona entre suas pernas cabeludas, tentando se enrolar: seu jeito de pedir comida, miando baixinho; Rex, meio afobado como sempre, fica dando voltas chamando a atenção do dono e perturbando o seu amigo gato.

Água fresca e filtrada. Ração separada para cada um deles. E então sossegam um pouco na área de serviço, dando conta de matar o que está lhes matando. Animados pela longa noite de sono e pelo frio que fez pela madrugada, repõem a energia para mais um fim de semana.

"Fim de semana que pode conter surpresas que não sei quantas. Posso ficar sabendo quem é que manda os recados por celular. Hoje é dia de longo passeio com o Rex. Deve fazer um dia de sol bem iluminado. Talvez me anime em cozinhar também... Vou decidir. Tirando a responsabilidade com o conselheiro real e príncipe herdeiro, tudo pode tomar outro curso quando eu souber  quem é! Tomara que aconteça, que a coisa toda se resolva. Tudo isto de eu não saber quem me traz um tanto de aflição".

Passeia pela casa, xícara na mão. Abre a grande janela da sacada e vê a cidade acordando em mais um dia, que devem ser seguidos por outros tantos, talvez, incontáveis. Vestindo cueca e camiseta, pés desnudos, o café, pela manhã, com efeito diurético, o obriga a ir novamente ao banheiro, meia hora hora depois de ter-se levantado.

Desgosta ter que esperar por algo que lhe foge ao controle. Parece que a vida sussurra "bem vindo à realidade da espera, porque o mundo é assim e eu sou o senhor dele. Tudo ao meu tempo desta vez, não ao seu". 

Deve ser um longo sábado, mais um longo domingo de espera e de controle da ansiedade. Pelo visto, ele desaprendeu tal controle porque desperto nem pensa em voltar à cama durante dia todo, o que é costumeiro; celular na mão ou pelo menos à vista; zanzando pela casa procurando o que fazer. O dia será assim: como a vida quer.


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