segunda-feira, 9 de setembro de 2013

VIAGEM CXXXVIII - MATAR CANSA

Reprodução [endereço abaixo]
"Matar cansa.
E cansa muito, deve ser isto".

Em alguns de seus feitos, já nos arremates finais como sempre fizera de maneira imaculada,  mesmo com a respiração encurtada ele se mantinha direcionado no que realizava. Porém, cansando-se progressivamente, não havia como estancar a sangria da fadiga.

"'Mas deve ser da idade'. E ainda me lembro de um verso diverso de uma música antiga. Esqueci quem canta. Este é você, porque os aniversários chegam cada vez mais rápidos. Parecem todos eles que foi ontem. Deve ser a idade, o cansaço, o tempo...". 
 
E cada vez que voltava para o velho sobrado da Vila Mariana, erguido pelos seus pais no fim dos anos 60 - ele praticamente nascera ali -o cansaço era maior cobrando então um descanso de mais horas. Muitas horas. 

Antes, bem no começo, ele nem se cansava. Ao chegar em casa, este época, apenas sentia fome, matando-a comendo lautas refeições, fosse a hora que fosse: por várias vezes comera feijoada de madrugada, comera pernil assado no Estadão de manhãzinha e nada lhe fazia mal.
O tempo passou, rápido os meses se seguiam.

Tempos depois, perto do fim desta história, ele cansava-se à exaustão. Subia mesmo os degraus do sobrado quase como um morto ofegante como se parecesse sua última empreitada. 

Deitava-se estirando-se na cama meio enviesado, quase perpendicular, sob o colchão de densidade rija. Estalava os dedos dos pés e mãos, os joelhos e o pescoço (isto tudo, um ritual para dormir, ajudava-o a relaxar e embarcar em sono solto), e conseguia fechar os olhos e apenas dormitar. Poderia soar contraditório estar cansado e não dormir porque soía que demorava a ferrar no sono, daqueles que você perde a consciência.
Cansado por demais e o sono não vinha. 

E antes? Bem, ele dormia a sono solto quando assim desejava e de bucho cheio, umas 7h ou 8h, raramente mais do que isto. 
E perto do fim? Bem, além de dormitar por um tempo, quando pegava no sono dormia oniricamente por mais de 10h, sem quebras: nada de banheiro, nada de água - só dormir; das últimas vezes chegara dormir mais de 12h. 

Mas o que vinha depois deste tempo todo era ruim: permanecia com a sensação de cansaço, de ter dormido algumas horas tão-somente. 
Estaria perdendo o ritmo do negócio todo? Do trabalho tão meticulosamente realizado?

O que conseguia fazer, embora prostrado se quedasse, referia-se às gravações com a novíssima câmera na garagem cheia de tralhas, com o seminovo sedã de velho ao lado, de motor quente - ele sentia o cheiro. A diferença: não ficava como um clone peripatético de políticos em programas eleitorais, apenas sentado na velha mesa ou mesmo recostado no banco do automóvel.

--- Falta somente pouco  para eu parar de realizar as ações. A verdade deve ser encarada, sem embaço. Tudo pelo canseira que me consome logo quando acabo de executar o melhor trabalho do mundo: eliminando do mundo os piores seres da face da Terra.

--- A última saída me consumiu! Cheguei a ficar cansado no fim do serviço. Verdade que a mulher me fez correr uns 200 metros. Mas não foi isto... 'Não tente se enganar, seu trouxa', a verdade é esta  e digo para mim mesmo. O que me cansou, o que me causou respiração ofegante foi a luta para fazê-la parar de se debater e as porradas na cara, até eu que eu enfiasse a mão na goela dela. Depois o namoradinho imbecil veio por cima, mal tive tempo de me recuperar. Tive que lutar com o fdp e ele era bom de briga. Claro, eu venci! Quase que foi um vitória de Pirro, porque quando tive que dar coronhadas 'n' vezes, eu me cansei ainda mais. Ofegava mesmo! Se eu fosse um cachorro, teria arfado com a língua espumante toda para fora.

Entendemos que ele cansava-se cada vez mais, sem que nada pudesse ser feito.

http://marltonder.deviantart.com/art/Man-yawning-196213892

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