segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

VIAGEM CLX - ACORRENTADO

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Mais um fragmento encontrado em algum lugar qualquer, de um e-mail qualquer tratado como lixo... Vagando pelo espaço cibernético.

"Sobre os homens, que são mais ou menos assim; alguns somente assim são.
Previsíveis.
Dissimulados.
Fracos.
Solitários.
Temerosos que pensam ter coragem a transbordar.
Acorrentados pela ferrugem.
(teremos a dignidade deles serem dignos de dó?)

A corrente é o pior serviço que um homem pode se auto promover porque o faz estagnar, o faz pensar sempre igual e ainda mais, o faz pensar que tudo vai bem assim.
Corrente da auto suficiência que deve esconder uma oceânica e atroz vontade de se unir a outro. Calma com a gana de libertar: eles nunca se permitirão. 

Afinal, ele são por si e não precisam da ajuda de ninguém.
O dia que ele quis quebrar a tal corrente - e até a chave ele achou - o acorrentado preferiu a segurança da imobilidade afetiva. Segurança?

Libertação é desparceirada das correntes.
Um dia a pele vai crescer e se moldar à corrente e daí nem o mais poderoso amor conseguirá arrancar e separar o metal do corpo".

http://touchedbyred.deviantart.com/art/Blinded-in-chains-175814017



domingo, 29 de dezembro de 2013

VIAGEM CLIX - QUAL MANDANTE? QUAL FORÇA?

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"Escolha ao bel-prazer (e nisto você é mestre).

O Cérbero? Para guardar os maus - você está incluído, no topo da lista.
Minotauro? Que bufa e chifra e fede como um touro macho?
Um Lobisomem? Carniceiro de suas entranhas?
Netuno? Para invadir sua terra, submergindo-a?
Hércules? Por este você não esperava... Forte e incansável.
Vampiro? Um dissimulado sanguinolento com poder de bilocação?

Qual deles?

Jotun, o gigante nórdico? Pisando pelo gelado coração que você tem?
Saturno, senhor do seu tempo que vai acabar.
Um Titã? Destruidor sem dó.
Pan? Para me guardar e me mesclar à natureza, esquecendo você?
Sátiro? Metedor, grosso, derreando você?
Um Centauro vigoroso? Passar por cima da sua alma com ferraduras?

Qual deles?

Hecatônquiro? Com minhas 100 mãos um pedaço de você em cada uma?
E o Ciclope? Velando o sono até ter pesadelos e acordar e me ver feiíssimo?
Marte para guerrear sem trégua contra você?
Zeus? O único deus em sua vida?
Thor? Martelando sua cabeça, dia após dia, tempo após tempo?
E um Abominável? Peludo, grande e perscrutador de seus passos?

Qual deles?

Talvez porque eu queira ter muita força e poder; força física mesmo até dispensaria poderes extraordinários. Talvez ficar invisível? Ou muito pequeno?
O poder viria da força física descomunal intimidadora, atroz e certeira.
Que pode ser do lado do bem ou do lado do mal. Depende, tudo vai depender da sua melhora ou piora. Até mesmo Plutão, deus do submundo e dos mortos entra na lista.
Sabem o porquê?

Pelo que ainda lhe resta de dignidade e de crença nos homens.
Melhor mesmo é você cada vez menor eu cada vez maior, você cada vez mais fraco e querendo proteção e eu cada vez mais mandante, indômito, guerreiro, artista nos ardis só para acabar com seu descaso, com sua soberba. Para acabar com seu séquito de idiotas que lhe lambem o rabo. E que tanto você gosta: usando para seu prazer.
Hedonista que é, terminará por ser propriedade minha".

http://chasestone.deviantart.com/art/Satyr-Hedonist-399177423

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

VIAGEM CLVIII - BRASILEIRO COMO ELE EXISTEM AOS MILHÕES

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Pelo calor que faz aqui neste tropical país, de clima úmido e abafado em fins de dezembro, que tanto encantou os brancos portugueses que por aqui chegaram lá em fins do século XVI, ele percebe que por mais que caucasiano seja, nem é tão tropicalista, mas muito menos chegado em neve que recobre boa parte do hemisfério norte. 

Quando pensa naqueles metros cúbicos de neve... Fica satisfeito por morar aqui. Frio com certeza está longe de qualquer tesão que possa existir; estabeleceu-se por aqui mesmo, no Capricórnio que corta a metrópole síntese do Brasil.

Ele é brasileiro, mas não sabe sambar.
Ele é brasileiro, mas não sabe jogar futebol.

"Devo ter duas pernas cabeludas esquerdas, só pode ser!", pensava quando tentava, por vezes, jogar o esporte bretão. Tanto é que não perdia a fleugma inglesa (ou seria bretã? "Melhor dizer empáfia", repetia), quando era o último a ser escolhido nos jogos realizados na alta escola e depois em churrascos da faculdade.
Mas aí, neste tempo, parou de querer jogar.
Decidiu assumir para si o papel de brasileiro que não samba, não joga bola, nem é fã de carnaval.

O que mais tem de brasileiro - a mistura máxima de africano, europeu, indígena com pitada amarela - é o falar com toque de mão. Ou seria um comportamento atávico herdado dos ancestrais italianos? Bem, o fato é que conversa tocando no outro. Isto já lhe trouxe cara feia, suspeição, mas também proximidade e carinho; o que é uma forma de ser bem do seu ser.
Ele ama - ou pelo menos supõe que sim - bem ao gosto típico dos calorosos terráqueos próximos aos trópicos: intensamente, mesmo que não correspondido seja, ou ainda que seja correspondido de maneira insuficiente. Em alguns verões suados, corresponderam-sem em amor e suores por todos os dois corpos. O samba lá embaixo pela conquista do campeonato pelo time da zona oeste não atrapalhou a cantoria de ofegantes respirações, tampouco os "afazeres de mandos e de desmandos" de delícias.

Apaixonou-se e amou logo em seguida, com muitos toques, claro. 
Sambar ainda não aprendeu. Quem sabe o que pode ensinar o amor? 
Já aprendeu tanto na vida dos trópicos e o espaço continua continental. 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

PIB DOS MUNICÍPIOS

IBGE divulgou hoje o PIB dos municípios brasileiros, todos os 5.570. Disponibilizo aqui os 30 maiores em uma lista menor e magra.

município      pibx1000     %
01- São Paulo/SP 477.005.597,2 11,513
02- Rio de Janeiro/RJ 209.366.429,0 5,053
03- Brasília/DF 164.482.129,0 3,970
04- Curitiba/PR 58.082.415,7 1,402
05- Belo Horizonte/MG 54.996.326,1 1,327
06- Manaus/AM 51.025.146,1 1,232
07- Porto Alegre/RS 45.506.017,0 1,098
08- Guarulhos/SP 43.476.753,1 1,049
09- Fortaleza/CE 42.010.110,9 1,014
10- Campinas/SP 40.525.214,1 0,978
11- Osasco/SP 39.283.026,7 0,948
12- Salvador/BA 38.819.519,6 0,937
13- Campos dos Goytacazes/RJ 37.205.791,0 0,898
14- São Bernardo do Campo/SP 36.337.337,7 0,877
15- Recife/PE 33.149.385,4 0,800
16- Barueri/SP 31.935.455,2 0,771
17- Santos/SP 31.544.842,7 0,761
18- Vitória/ES 28.357.258,3 0,684
19- Betim/MG 28.085.220,8 0,678
20- Goiânia/GO 27.668.221,9 0,668
21- Duque de Caxias/RJ 26.628.609,6 0,643
22- São José dos Campos/SP 25.212.467,4 0,609
23- Jundiaí/SP 21.806.787,1 0,526
24- São Luís/MA 20.798.001,3 0,502
25- Parauapebas/PA 19.897.434,7 0,480
26- Belém/PA 19.666.725,0 0,475
27- Contagem/MG 18.912.325,8 0,456
28- Joinville/SC 18.797.539,7 0,454
29- Uberlândia/MG 18.673.177,1 0,451
30- Itajaí/SC 18.598.456,5 0,449

Piracicaba ocupa a 50ª posição, com PIB de R$ 11.564.543,3 bilhões.
Basta acessar o site - confuso como ele só - do IBGE e ver com detalhes.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

VIAGEM CLVII - ESTIMATIVAS

Reprodução [endereço abaixo]

Público muito respeitável.
Estimado amor, estimada vida e congêneres.
Estimativas feitas por mim lá trás não se concretizaram. Estimei tanto amor que teria sido sufocado pelo vazio que se seguia à época.
Centímetros, litros e sei lá mais o quê... Perdi-me em tais números.
Evitei então, depois, estimar qualquer coisa que fosse. Apenas desejando boa convivência e boa aparência de mente e espírito.
Anos, meses e dias. Janeiros, dezembros. E a agosto com gosto de melhora.
Trabalhava e ia para casa. Todos os tempos que podia imaginar.
Tranquilo com sombra de verão de um dia tórrido... Embaixo de galhadas verdes.
Aí, como um fato não estimado, de longe de mim, inimaginável, surpreendi-me com tanto afeto vindo.
E vinha de alguém que antes nem notava minha presença e o imenso amor devotado.
Estimei então contas imaginárias para me recolher sem dar confiança para este amor...
Não confiei.
E não confio até agora.
Combinar amor com sexo fraco, com certa soberba não é bom, mesmo que as juras de pé-do-ouvido sejam sussurradas ao pé da cama, aos meus pés.
Estimadíssimo público, mais estimada vida:
Terá que ser esforço inestimado para me convencer.
Respeitosamente, eu sou mais minha carne hoje. 

http://restoration1.ca/estimates/

domingo, 8 de dezembro de 2013

ÓDIO AOS TECNOCRATAS DE TI

Aos inventores de novos pacotes de TI.
Porque vocês não morrem?
Ou ainda, porque vocês não são torturados até a morte?
Inacreditável que este imbecil tenha feito o que fez...
Ódio.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

VIAGEM CLVI - DE DIFICULDADES

De dificuldades, ele tem aos montes. E os montes são parecidos com a cordilheira do Himalaia antes mesmo de descobrirem o tal teto do mundo - aqueles alpinistas malucos que enfrentam o frio de -40°C só para fincarem bandeira no cume. E de fincar... Bem, ele prefere fincar outra coisa em algo mais macio, pode-se dizer...
O teto para ele é aquele que ele fixa o olhar a ficar a vagar inerte deitado, nu na cama (ou no chão quando está muito quente por São Paulo), olhos fitos em um ponto e vai longe... Para bem perto daquele tão bem-querer que ele tanto quer.
As dificuldades de como agir, quando agir. E ainda, procurar não ficar se ensimemando em um único assunto: aqueles montes distantes que gélidos que são, uivam como a solidão de agora em seu quarto uiva
Alto, 33° andar; um dois quartos amplos; barulhos de longe pela madrugada de luz intensamente acesa. Olhos incansáveis, mãos que suam.
Um clique e a luz se vai. Ele então deve dormir com certo conforto porque toda a história para embarcar no sono será feita deste amor.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

VIAGEM CLV - TENTATIVAS SEGUIDAS

Raucíssono, com as veias saltadas a garganta que arranha
Feito parede que se lixa e encobrindo o ambiente de pó.
Ao pó, ele retornará depois que passar desta e for para o alto (porque é o lugar que ele julga que irá quando descansar de sua ira), em um azul de paz e de mansidão
Afinal, este pó que lhe entra pelas narinas, esmagando seus brônquios na tentativa de brigar, só faz piorar aquele grito no meio do nada em meio a milhares de pessoas. Gritaria dele mesmo com... Ninguém, pelo visto.
Porque que deveria ouvir sequer fez menção de virar a cabeça e tentar distinguir de onde vem o som, quem profere.
--- É você, idiota! Não percebe? Não me ouve? E sai andando, assim como... Não me ouve?
Chegará ao fim do dia e estará rouco. Raucíssono.
E de que isto adiantará? Terá sido mesmo um esforço? Visto como um esforço?
Mas por hora, cansado que está  empapado de suor nas partes, deseja mesmo ir embora para casa nesta tarde de intenso verão e poder arrancar suas roupas e deitar-se. Nu para se recuperar.
Pode ser que sua garganta se recupere de tudo o que ainda terá que dizer amanhã. E depois de amanhã. Depois... Até ele conseguir.

PIB DOS ESTADOS; SP DETÉM 1/3

O Estado de São Paulo detém quase 1/3 do total do PIB do Brasil: a cifra alcança R$ 1.349.465.140.040 de reais. 
A Região Sudeste alcança  2.295.690.428.980 de reais, mais de 55%.
Lista:
01
SP
1.349.465.140,04
02
RJ
462.376.208,40
03
MG
386.155.622,31
04
RS
263.633.397,84
05
PR
239.366.010,49
06
SC
169.049.529,68
07
DF
164.482.128,96
08
BA
159.868.615,14
09
GO
111.268.552,97
10
PE
104.393.980,36


ES
97.693.458,23


PA 
88.370.609,61


CE
87.982.450,26


MT
71.417.805,28


AM 
64.555.403,73


MA 
52.187.203,94


MS
49.242.254,33


RN
36.103.201,63


PB
35.443.831,52


AL
28.540.303,89


RO 
27.839.144,15


SE
26.198.908,34


PI
24.606.833,12


TO
18.059.158,88


AP
8.968.031,82


AC
8.794.361,37


RR
6.951.189,97




4.143.013.336,26
O Estado de São Paulo detém 32,64% do PIB do Brasil.

sábado, 23 de novembro de 2013

VIAGEM CLIV - RECADO

Reprodução [endereço abaixo]
As curvas do outro corpo na cama quadrada - de viúvo - fazem o espaço ficar um exagero depois que se foi bem cedo, o dia mal havia começado.
("Viúvo? Nunca casei, nem enterrei ninguém", ele pensa)
Pela cama quente com cheiro misturado, ele aninha-se para preservar o calor que tanto procurara e que agora o resgatara daquela vidinha excêntrica de urtigão cosmopolita. Pode permanecer no quadrado enrolado em suor e vestindo tão-somente seus próprios pelos. São as curvas, as proeminências pares e ímpares que o desnudam pela noite - ele permite tal desfrute. E se faz fácil e permissivo.

Passados alguns minutos, o relógio toca despertando-o do torpor da noite que já avança pela manhã. Levanta-se e diz bom dia, faz uma pequena oração em prol deles e dos bichos. Chamado da mãe natureza longo e preguiçoso.
Saiu cedo sua companhia de meses - diariamente - deixando um recado no ímã da geladeira branca, tinindo de nova; o bilhete poderia ser velho e repetitivo, rascunhado, com palavras já ditas à exaustão sem o exaustivo enfado que costuma acontecer quando as pessoas amam.... Ou melhor, quando as pessoas se amam. 
("Porque amar sozinho nem amar é! Agonia é!")
Mas escritas com um calor que nem combinava com o frost-free antártico que se fazia presente abrindo-se a tal. Porque o dia será de calor em São Paulo, marcando uns 30°C e tantos; mais quente mesmo só café já preparado na térmica que, aberta, fumega produzindo o cheiro mais tesão do mundo.

"O mais tesão? Não exagera! Tem o cheiro da cama que é mais tesão. O cheiro do travesseiro molhado de suor que é mais tesão". E ri sem medo. Forte, retinto e amargando suas papilas, ele se lembra-se que quase está atrasado para o trabalho. Banha-se, barbeia-se, veste-se. E ama tanto que já sente saudade. Calma! Não é saudade daquelas que sufocam feita uma prensa esmagando o peito. Que nada!
Só aquela saudade de chegar logo 19h para poder abraçar, ser abraçado, beijar, ser beijado. Poder falar e ouvir com especial interesse tudo o que sai daquela boca.

No caminho de meia hora já na volta manifestações gases lacrimogênios, policiais, mascarados, corre-corre, balas de efeito moral e trânsito desviado. Pela janela vê tudo passar diante como um câmera observa atento, sem envolvimento, os acontecimentos que andam movimentando as ruas dos desvairados da Pauliceia. 
Atraso. 10 minutos. 30 minutos. Mais de uma hora.
Chegando em casa, saudade apertando, o cheiro que tanto lhe traz tesão, a ereção, o faz se apressar em ir ao quarto que ao passar pela cozinha faz o recado da manhã cair dançando pelo ar ao chão.
Ouve então a voz de balsâmica que nunca esquece, a tessitura que derrete o restante do mundo. O som que apaga tudo à volta.
--- Vem aqui, vem, deitar comigo!
E ele vai. Sempre ele vai.

http://es.dreamstime.com/imgenes-de-archivo-libres-de-regalas-refrigerador-amarillo-image25864489

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

VIAGEM CLIII - EQUIVALÊNCIA

Reprodução [endereço abaixo]
Equânime! Foi o desejo.
Equidistância não respeitada!
Terão sido um equívoco tais tentativas?
Tentativas de equiparar-se em altura, 
em amor e em afeto?
Equação, das piores que da época do ginásio.
Insolúveis quando ele olhava o quadro negro cheio de "x", de "y",
e algumas vezes de "z". O pó branco entrando nas narinas...
(de "pi", "alfa"... e as raízes quadradas infinitas...)
Quase as resolveu, quando por intermédio de um afeto esquisito,
quis mesmo cravar-se no chão, tamanha vergonha.
Pelo equívoco, é claro.
Para que desprendeu tanta energia? Para nem mesmo obter um pouco?
Equiparou-se ao melhor que ainda tinha...
E foi ser feliz em outro lugar, com outro alguém.
E foram, sabiam? 

Equivalência no afeto, na cumplicidade... 
Por que se equivaleram sem demandas prévias, 
tampouco aquelas repetidas, as incompreensíveis
(as das equações).

http://whiskerino.org/2009/beards/brandonhill/4434/

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

VIAGEM CLII - OS FANTASMAS DA TARDE

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(em alguns destes incontáveis cadernos eletrônicos perdidos pelo mundo, por aí vagando feito alma penada. Quem sabe é vírus... Quem sabe, não é? Mesmo assim, ele abriu o arquivo)

"E estava eu ali, em plena Praça do Patriarca a caminho de outra praça, a da Sé, e vieram e sobrevieram os fantasmas, em plena luz do dia, mortiça de uma primavera com cara de outono, termômetros marcando 15°C em novembro. Nem calor fazia, como já deveria fazer por estas épocas.
"Lá vieram os fantasmas. Rodearam-me e começaram o que melhor sabem fazer, sem samba de despedida, sempre desmedidos: assustaram-me, e de novo, sem sustos, conseguiriam manter minha cabeça em rodopio de redemoinhos, como arbustos secos ao vento em filme de faroeste espaguete dos anos 60.
Vieram e ficaram um tempo, bom tempo, diga-se.

Em meio a multidão dos milhares que ziguezagueiam pelo centro da grande metrópole alfa, quedei-me solitário: sem ruídos de gente, carros, apitos, alarmes... Eu, todo alarmado, por saber que os fantasmas voltaram a me perturbar, comecei a caminhar em passos rápidos para poder chegar à Sé, a tempo do compromisso. Alarmei-me mais quando percebi que quase corria. Mas não para chegar atrasado, porque eu sempre chego adiantado. Corria quase para despistar - com pitadas apressadas em meu sapato que me apertava o pé esquerdo - os tais fantasmas da tarde, há tempos esquecidos.

O pior deles não representava você; porquanto você se fez representar, é claro! O pior era era eu: o passado. Ou seja, o fantasma mais taciturno e mais soturno era eu mesmo do passado agora neste dia presente  de novembro.
Foi ferro. Não quero tudo de novo!
E que casamento perfeito entre você de sempre - e de agora - com o meu eu de antigos dias. À perfeição.

Na calçada estreita da rua Benjamin Constant, com cuidado de desviar-me de qualquer outro vivente que passa - e passam muitos - pelo meu malmequer fantasmagórico, seguia com pressa. 
Ternos, gravatas, churrascos, saltos, gritos, toques de celulares, ofertas e tudo mais. 
Como só eu lhes via, não é mesmo? Deve ser porque existem somente para mim. 'Parabéns para mim'!
Nunca considerei isto permeado de justiça plena, ao contrário, injustamente você voltara naquela tarde cheia de trabalho a me assombrar.
Que seja assim, mas que seja por esta tarde tão-somente. Você deve ir embora.
Sem mais, vá embora".

http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-images-flying-ghost-sheet-image19987049

terça-feira, 5 de novembro de 2013

VIAGEM CLI - O VALENTE

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Valente, valoroso.
Este era o homem, uns 35-40 anos. Nem tão jovem que tivesse perdido a vontade de mudar. Nem tão velho para desconhecer as armadilhas que os outros homens fazem ao longo da vida.
Desde lá, muito tempo atrás: mudanças e armadilhas
"Mas quando é que estas armadilhas vingaram?", perguntava incessantemente a um interlocutor imaginário.
 Qualquer que fosse, o que importava é não haver ruído na conexão emissor-receptor, como os teóricos (e tétricos?) da comunicação inventaram lá pelos anos 1920, 1930... Ou que o ruído fosse bem baixo, de preferência grave por que de agudos já basta a pouca valentia. Agudiza-se a coragem até quase acabar, se assim for.

E basta também de poucos valorosos homens que existem nesta vida.
Este era o homem, formado em grau superior. Nem tão inteligente que pudesse se ensoberbecer e pelo conhecimento adquirido. Nem tão ignaro que pudesse ser logrado facilmente.
Robusto, o que mais tinha é seu desprendimento em matérias de coisas materiais, tão ricamente vívida em muitos dos seres humanos.
Valente, demais de valente. Até mesmo quando no meio da madrugada acordava de um daqueles sonhos sonhados como pesadelos: de querer correr para sobreviver e sobrevir o perigo imobilizando suas pernas.
Que, digamos, se parece com a maioria das pernas dos homens, seja daqui de São Paulo, ou de Timbuctu, ou ainda de Rovaniemi: com pelos, bem postadas, pouco arqueadas, tudo na medida. Destas vezes, acorda sobressaltado, ofegante e em sudorese plena no corpo todo. Empapando-se.

Mas enfrenta com valentia: levanta, acende a luz e bebe água. Aliás, à agua junta-se o movimento de andar e de pisar o chão frio, o que aclaravam a realidade em detrimento ao sonho sonhado em pesadelo.
Valoroso. Tem valor, como poucos podem afirmar, porque poucos possuem tal valor de homem. De carácter, com caracteres intrínsecos de lealdade, vibrante força e meritória estética mental.
Quem o procura?
--- Eu não sei quem me procura. Bem que quero saber.
Se ele quer saber, muito vai importar a valentia e o valor. Que não dependem da aprovação de outros, porque indelével mesmo é a própria aprovação prévia, preto no branco que ele mesmo auto impingiu. 

http://oddstuffmagazine.com/a-brave-man-that-photographs-danger-volcano.html

domingo, 3 de novembro de 2013

VIAGEM CL - BLINDAGEM COM ARMADURA

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Para vocês, seres humanos: ególatras, egocêntricos e egóicos.
1, que era eu, depois veio aquele 2: você.
E o 3? como dizem por aí: "é demais!". Ignoramos.
E o que é demais para você? Toda aquela soberba entranhada em você que o faz sentir-se um daqueles seres tão grandiosos - um ser megalômano empedernido - que olha o mundo como este lhe devesse um favor, como se fosse um privilégio você habitar (e sabotar) entre nós, os pobres mortais... Os passageiros de 2ª classe em passeio que nada trará realmente de bom à sua vida, que deve ser triste. 
Ou ainda, significa que você é tão insignificante que precisa desta armadura para proteção. Porque quebrar-se-ia à realidade da vida, que aliás, você a vê tão particularmente enviesada.

Fez a blindagem contra interações?
Olha, em se tratando de armadura, sou mais versado e gosto mais daquelas dos cavaleiros medievais: tão dignos na defesa de seus propósitos, na defesa de melhores dias e de um melhor mundo.
Mas você! Ah, você... Tão armado com este ferro que nem percebe existir alguém que possa transferir-lhe certo amor, mais um tanto de solidariedade e reflexão e, então, anda duro nestes tempos de século XXI, monitorado pela armadura que mal consegue ver o que está à volta.
Quer saber?
Você nem que ver mesmo. Disto nós todos sabemos. E eu sei já de longa data.
Nunca tive como lhe falar isto cara a cara. Por que?

Porque eu não consegui e é provável que não consiga tampouco (se bem que hoje tais chances aumentaram um tiquinho e seria bom para mim e para você). Emissor/receptor.
Vista-se de armadura, prenda-se dentro dela.
Duramente dentro dela, limitando a percepção do mundo que já é torta para você.
Caminhe com dificuldade. 
Porque você quis assim e escolheu assim.
Suporte o peso da armadura  (pensando bem, acho que começo a sentir dó deste quadro todo que pintou...). Você range como porta sem óleo.


http://www.wallaceprints.org/image/429366/possibly-ulrich-rambs-armourer-detail-from-equestrian-armour

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

VIAGEM CXLIX - MERGULHAR EM CANSAÇO

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 Em um mergulho naquela água gelada de um agosto friíssimo, chocando-o com o choque de temperatura, em uma casa que já fora dele. Porque ali, morava seu amor, que morreu, e a casa, abandonada, ficando às moscas até um próximo comprador.

Que compre, mas que talvez seja melhor o tal corretor não contar tudo o que ocorrera por lá: quando o carro saiu da rua e entrou na garagem onde seu amor recolhia restos dos anos passados que deveriam ser jogados fora... Não teve tempo de dar um passo à esquerda, ou à direita e assim se safar da van desgovernada, vazia de gente, com um condutor falando ao telefone, garrafa de vodca ao chão e pronto!.

Entrou pela garagem, bateu no corpo, jogou para frente e passou por cima. Coma? Nada! Morte na hora.
Fora de hora foi quando quiseram dar a notícia para ele que estava longe, quilômetros longe, do outro lado da cidade, quase na rodovia dos Bandeirantes.
Tentaram enganá-lo. Demoraram algumas horas para avisarem de toda a verdade.
Isto foi mês passado. Ele saiu de casa, que já ia ser vendida.

Manteve-se por perto, ao redor, vigiando.
E hoje, quando ainda de folga do trabalho, saiu mais cedo do apartamento alugado - o novo, onde iam morar - e colocou na mochila a sunga tão-somente. 
Dirigiu-se ao carro e saiu apressado. Os apelos de um amigo que fora pegá-lo nem foram ouvidos, como não era de costume.
Abre o portão lacrado. Troca de roupa e por instantes fica pelado, ao sabor do vento de agosto que eriça os pelos castanhos. Dobra-se e pega a peça que trouxera, veste-a. 

O mergulho. Debaixo d'água um silêncio de abismo. Quase uma tranquilidade que se queda esquecida de qualidades presentes. Ele não tem hoje a qualidade querida e desejada a 2 quando do começo de tudo... Dois corridos anos atrás.
Vai de um lado ao outro da piscina, grande parte do trajeto sem respirar; água gelada envolve seu corpo que nem treme por conta disto. De tremer ele entende bem nestes últimos dia: é o que mais tem feito. De dia e de noite quando consegue dormir, acorda tremendo de suor que não sabe precisar se é de frio ou de calor.

Pensando tudo isto debaixo... Daquele azul envolvente, límpido e limpo. 
E vai, volta. E vai, volta. E de novo, de uma margem à outra por uma hora e então vem o cansaço que preguiçosamente o envolve.
Apoia-se na margem onde o sol bate para recuperar a respiração, talvez somente o que possa recuperar daqui para frente. E pensa; o cloro se mistura ao sal das lágrimas e mansamente chora sob o vento de agosto, com o peito para baixo na água fria lembrando-se das noites quentes de verão que nadaram juntos, das noites de amor sob o deck. De gemidos e felicidades. Dos fins de tardes a dormirem juntos de mãos dadas.

A casa será vendida, menos dia mais dia, e ele não quer nem saber deste processo todo: o que lhe sobra, ele vai levar junto na carne. De resto... Mais meia hora de idas e vindas.
Porque ele quer se cansar mais e mais e poder dormir uma última vez ao lado do grande azul cercado por grama verde e pedras cinzas.

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

VIAGEM CXLVIII - OS OUTROS

Reprodução [endereço abaixo]
Para vocês, seres humanos: ególatras, egocêntricos e egóicos.
"Insistência. Burrice.
Carência e vontade.
Tudo misturado: boa coisa não dá.
(mas eu não sou outro agora?)
Você é o "eu" mais autossuficiente, como qualquer psicanalista poderia afirmar; sem medo/sem dó. Desconheço outro ego tão vasto.
Ou é por causa de sua vida, voltada ao trabalho, ao dinheiro, à egolatria? 
Autopreservação, esta é a desculpa? 
(você nem parece de verdade; uma máscara teatral grega, por certo!)
Será que eu não vejo isto?
E insisto?
É um domínio que tem sobre mim que não me agrada.
Vontade de conquistar este terreno.
Burrice.
Você não vai mudar e eu não sei fazer como você mudar.
Tentativa aqui, outra ali e não achei uma vaga sequer dentro do seu ego.
Que boa coisa não deve ser. Esnobismo.
Carência: vou fechar em uma gaveta, trancar e esquecer.
Nada! Vou jogar a chave fora.
Nada disto! Vou jogar o criado-mudo com a gaveta, a chave.
E a porra da carência. Seu ego deve ir junto.
Eu não sou os outros! E eu não sou mais o que eu era.
Sou melhor".



http://www.internetblog.org.uk/post/1340/man-files-trademark-for-ego-gtld/

domingo, 27 de outubro de 2013

VIAGEM CXLVII - ZERO ABSOLUTO

Reprodução [endereço abaixo]
5 mil anos-luz não é exatamente distante em termos universais; é onde localiza-se a nebulosa Bumerangue, constelação de Centauro. Nebulosa planetária, com mais afinco.
(o homem-cavalo, desde o Olimpo dá nome a alturas galácticas ainda maiores; seu porte, sua crina, rabo e pernas fazem toda a diferença)
Uma estrela enorme que se queda morrendo já faz tempos.
272°C abaixo de zero, ou seja, perto do "0" absoluto.
O tal absoluto - como poucas coisas por aqui no planeta Terra são, e isto é certo como o dia vem antes da noite - atinge o valor de "apenas" -273°C. Ou ainda 0°K, em outra escala.
Absolutos e zeros. Quanto ele é absoluto e quanto ele é zero?
Zero à esquerda? Não. À direita, mesmo que seja ambidestro, com os dois hipocampos cerebrais funcionando iguaizinhos na arte de manipular o que quer que seja. 
Muitos milhões, bilhões. É quanto vale cada parte do corpo dele.
Absoluto? É o que ele tem de melhor, absolutamente para o bem e para o mal. 
Porque é disto que todo o seu mundo é feito: desde os centímetros até as sinapses. 
Até os átomos quânticos de tudo que é lado.
Que não existe na tal Bumerangue, porque lá naqueles lados, não há lado algum.
E deve ser um frio absoluto.
Teve época que ele desejou ir à Andrômeda - e foi, como lemos em um dos contos no qual ele é o protagonista que viaja pelo espaço -, mas agora, mudou absolutamente de ideia e decidiu ir ao zero. 
Zero de intolerância. Zero de mal-caratismo. Zero de intrigas. 
Absolutos amores ele quer.

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/10/lugar-mais-frio-conhecido-no-universo-lembra-forma-de-fantasma.html