segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

VIAGEM CCCXLII - REENTRÂNCIAS AO REDOR

Arq. Av. Lins de Vasconcelos/Aclimação, São Paulo
Sempre o professor - de literatura comparada - recebia vias impressas em papel já usado no verso poemas de amor e de ódio. 

Este era de amor; nunca, ou quase nunca, sabia quem escrevera porque o tal autor não assinava... 

"ele se embrenha pelos pelos, pelas reentrâncias
ele se mata em suspirar provocando tremeliques

ele agoniza em arfar umedecendo recônditas fendas
ele chega e festeja o prazer que proporciona

diante disto tudo, em um passado recente
ele sofre pela ausência (mesmo que apenas dias sejam) 
daquela vontade de querer estar por perto
ao redor...

ao redor para sentir o cheiro da pele
ao redor para ouvir o riso desabotoado (que lhe dá colorido novo toda santa vez)
ao redor para escutar histórias, preocupações, realizações
ao redor para ver o amor por aí... por dentro de casa, saindo do banho, vendo TV

no presente só mesmo a agonia da saudade 
desmedida
demeritória 
desproporcional

um descalabro de saudade até o fim de todos os tempos...

'e que tempo é este?' perguntou-lhe um alguém qualquer
(que por certo nunca experimentara ter um sorriso que enobrecesse a própria vida)
'o tempo sem estar junto, isto só traz demérito à nossa felicidade', ele respondeu,
o alguém então desejou tanto ter uma saudade assim.

domingo, 27 de janeiro de 2019

VIAGEM CCCXLI - O DIA DE IR EMBORA

Arq. pessoal - Av. São Luís, Centro/São Paulo
Em um destes registros feitos a torto e a direito, indo à esquerda e à direita, feito bêbado em ladeira abaixo, em um eterno ziguezague, ele escreveu algo assim e mandou para si mesmo e com cópia para quem se destinava:

"Tenho ido embora de tanta coisa. Tenho ido embora de você, desta casa, deste beijo; tenho ido embora de tudo.
Porém, eu sempre volto... E está errado algo aí.

Não, eu não tenho que ficar indo embora toda vez do desgosto no rosto, do desprazer no sexo, da mentira que você conta e pede desculpa depois. 

Um dia destes, eu vou embora para sempre.
Porque, neste dia, eu terei decidido o melhor, dentro da dor que corrói, para mim. 
Sim, porque é na dor que se tomam decisões mais acertadas; o amor mentiroso como o seu, engana e fede.

Mas também tenho ido embora das coisas da vida; bem, de algumas delas. Você não reina sozinho neste privilégio de eu dever ir embora (um dia eu vou e está chegando este tempo), porque os machucados da vida vivida hão de cicatrizar. 

Fui embora das tristezas do passado porque desamarrei as correntes que eu arrastava - iniciei o processo de paz com tudo aquilo que vivi, contudo isto é só o começo.

Fui embora de lugares alguns, tão queridos e apreciados por mim. Tive que ir, porque já faziam mal e não realizavam bem algum. Demorei e não volto mais por lá.

Fui embora do descaso, do desperdício, da tristeza que queriam imputar em mim.
Tornei-me melhor.
Só falta mesmo eu começar a andar sem olhar para trás.

Vai chegar o tal dia de ir-me e a festa será comemorada com muita alegria, porque das amarguras suas, eu quero a doçura deste novo homem que tenho feito tanta força para construir. Morarei na nova construção.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

78] CENÁRIO SP - 465 ANOS DA CIDADE DE SÃO PAULO


"NON DVCOR, DVCO"*
Arq. Pessoal - Ed. Altino Arantes, no Centro Velho
parabéns São Paulo, a Terra da Garoa, a Pauliceia Desvairada, a Sampa da São João com a Ipiranga, a Essepê. São Paulo não pode parar.


Parabéns à cidade alfa, à maior cidade do Brasil.
Parabéns à mais brasileira de todas e à mais cosmopolita de todas.


Parabéns aos que vão, aos que voltam, aos que constroem, aos que protegem. Para aqueles que fazem poesia, que trabalham à noite e de dia, que cuidam de pessoas e bichos.


Parabéns aos 12 milhões de habitantes paulistanos, paulistas interioranos (este que escreve é um) e caiçaras, brasileiros e estrangeiros que aqui vivem.

Para os números desvairadamente superlativos: os quase 700 bilhões do PIB, aos mais de 7 milhões de veículos, ao milhão de pedaços de pizzas vendidos diariamente; aos hotéis, restaurantes, boates e inferninhos que acolhem e que divertem às centenas, aos milhares juntos; Praça Roosevelt, Vila Madalena e Augusta.

Obrigado Adoniran, Rita Lee, Mutantes, irmãos concretos Campos. Ao Mario, ao Oswald, à Lygia Fagundes Telles; aos modernistas de 22. Obrigado Vanzolini pela cena de sangue num bar da Avenida São João.

Obrigado Parelheiros pela reserva indígena, pela onça-pintada; Pico do Jaraguá e Serra da Cantareira. O Ibira, a Oca e a cidade coalhada de obras de Niemeyer.

Interlagos onde o paulistano Senna despontou. Palmeiras da Pompeia, Corinthians de Itaquera, São Paulo do Morumbi.

Obrigado Avenida Paulista, Masp, Trianon, arquitetura e imponência de encher os olhos; centro financeiro, nervoso, onde passam desde engravatados e mulheres de tailleur, a skatistas e também minas de cabelos alegremente coloridos.

Sim, existe cor - muita cor - e dentro delas existe o cinza, o branco, o preto, o vermelho e o amarelo.
A maior Parada Gay do Mundo, que desce a Consolação que se dispersa na Praça da República.

Os edifícios Martinelli, Itália, COPAN, Altino Arantes/Santander, Mirante do Vale que parecem mesmo arranhar o céu desabotoado de inverno ao carregado de verão.

São Paulo do verão de suores e do inverno tremores.

Todos que moramos aqui vamos de metrô, carro, trem, ônibus, bicicletas e helicópteros em ritmo frenético. "Vam'bora", "vam'bora", olha a hora, "vam'bora"

Ao mercadão e suas delícias de sabores, cores, odores e texturas. O que seria do comércio brasileiro se a 25 de Março não fosse o que ela é?

O samba também é paulistano. O rock, o eletrônico, o rap e outras expressões musicais.
São Paulo, meu amor, minha cidade, meu lar; uma sinfonia de amor, pressa, gente e diversidade mis.

São 465 anos desde que Anchieta e Nóbrega fundaram o povoado, nos campos de Piratininga. São Paulo dos Bandeirantes, da Proclamação da República, do MMDC de 1932, do comício das Diretas Já na Sé.

A São Paulo do café, nosso ouro negro que fez a cidade deixar de ser vila para se tornar metrópole.

São Paulo se fez pelos paulistanos e paulistas de norte a sul, de leste a oeste. E se fez também por baianos, pernambucanos, mineiros, cearenses, paraenses, paranaenses, goianos, alagoanos, gaúchos, amazonenses. 

Tem gente do Líbano, da Coreia, de Angola, de Portugal, Argentina, Itália, China, Espanha, Japão, Alemanha, Nigéria e mais uma centena de nações.

Tudo é superlativo por aqui em Essepê: dos problemas às soluções.

São Paulo não é uma urbe ensimesmada no próprio umbigo, porque não há tempo para contemplações egoísticas: aqui se contempla tudo, do pouco ao muito, de dentro para fora e de fora para dentro. 

São Paulo não para à toa. São Paulo vai.

Mais ainda superlativo que tudo é o amor que verte, transborda, que sua e que existe pelas artérias, marginais, avenidas e travessas.

Parabéns à cidade de São Paulo - é tanto amor.