quinta-feira, 31 de março de 2016

VIAGEM CCLXXII - O CAVALO, O AVIÃO E O BURACO

Arquivo pessoal - Aclimação/SP
danação tamanha

perfeição pequena

em busca de um buraco

para se meter e de lá

não sair tão já

no imenso nevoeiro da manhã

seu avião sequer taxiou na pista

ainda úmida da chuva da noite

que o embalou em dormir nas

altas horas...

sem aterrizar

sem levantar

qual voo?

para aquele buraco do 

esconderijo da sua

cabeça... Como se fora 

possível tal feito

pela danação que vem 

vindo a galope de um

cavalo com as ferraduras enferrujadas

ele tenta, tenta... Escapar

com o bilhete na mão,

o cavaleiro (do tal cavalo)

entrega-lho e parte

mas de que vai adiantar

se o avião ainda na pista está

esperando pelo próximo...

buraco?

terça-feira, 29 de março de 2016

46] CENÁRIO SP - NO SUBIDÃO DA RUA DO PARAÍSO... UM BEIJO

Arquivo pessoal

do sonho, eu acordei com a minha apneia de sempre

beijava você tanto, tanto... que perdia o fôlego, 

resfolegando as narinas em um chiado

de gato de rua ronronando ao ser acariciado

subindo na rua do Paraíso, quase um passo atrás,

segurei no seu braço e em um átimo

beijei sua boca naquela tarde de calor abafado, 

suarentos ambos que estávamos

no meio do "subidão" enganchamo-nos 

feitos anzóis enferrujados pelos acontecimentos que não se sucediam

sucederam-se naquele beijo e depois dele mais e mais acontecimentos...

quase caindo da cama 
(após quase cair etereamente em sonho no declive do paraíso ao inferno)

envolvido em suor, pelos à mostra e tudo o mais declarando-se amostrado
(sim, todo o meu corpo!)

acordei assim
vivo e ofegante

duro e no escuro
quase da manhã, lá pelas 5h30...

quarta-feira, 23 de março de 2016

VIAGEM CCLXXI - OUTROS FATOS E ACONTECIMENTOS

Arquivo pessoal - Viaduto do Chá e Teatro Municipal
para descer ao inferno de Dante, o grande inferno descrito por um humano,

ele só precisa ficar onde está

nem à esquerda deve ir, tampouco à direita

subir? não mesmo, ele já nasceu descido

virado do avesso para saber as dores de ser o que é

quanto saber de delícias: bem, os momentos são poucos, mas incrivelmente aproveitados
(às vezes servem de alento, algum tipo de...)

e aproveitando sua história, ele vive em dantesca situação

para se livrar, ele quer mais que as  migalhas

que o senhor do inferno distribui

ele quer o trono, ser o mandante para, então, acabar

implodir para que nada escape para fora

implodir o tal território infernal

e poder recomeçar para alçar algum tipo de voo - pré-histórico que seja - e sair

para se acostumar com outros fatos e acontecimentos, outras histórias

a implosão ele já marcou, porque a coroa imperial infernal 

estará em sua cabeça, louros, cetro, domínio e conquistas...

sexta-feira, 18 de março de 2016

VIAGEM CCLXX - DAS COISAS QUE IMPORTAM

Arquivo pessoal 
A ele? São muitas coisas que importam um pouco; e são poucas coisas que importam muito. Números que poderiam parecer, grosso modo, uma conta do balanço anual de pagamentos, contas das exportações/importações. Economistas, financistas e outros da ramo gostam e se importam; deleitam-se até.

A ele? Bem, ele gosta sim um pouco dos números. Mas aprendera ao longo de metade (para mais) de sua vida que a tentativa de viver em paz, pacificamente, com tranquilidade assertiva, valia muito mais do que possíveis amores, dores destes amores; valia muito mais que fodas, das casuais ou das enganosas... 

Importam a ele outros assuntos que são de um valor incontável - a não ser nas velhas histórias da carochinha, à qual o príncipe de olhos azuis, loiro, alto beija a mocinha desacordada, com cabelo impecável, lábios vermelhos carnudos... - impossíveis de se mensurar ali, na conta, na matemática. 
Quais então?
- horas ininterruptas de sono
- um dia de sol
- uma noite de chuva
- a brisa da manhã no verão
- o aconchego do edredom no inverno
- o chocolate derretido com pão
- o sorriso de um amigo
- rir em conjunto com este amigo
- xadrez e o cavalo louco
- linha do horizonte em São Paulo
- ser apenas (mais) um anônimo em São Paulo
- a liberdade deste anonimato
- o cheiro do pó do café no instante que se abre o pacote
- o cheiro da infância do café coando pela casa
- contos de Machado e de Mário
- o $ ganho honesta e prazerosamente
- a não discussão diante de um insano
- o rebolado de quadris andando pela rua
- ejacular pelo quadril andante
- andar descalço pelo chão, por qualquer solo
- trancar-se em casa depois de um dia de ferro no trabalho
- o banho antes de dormir, em qualquer hora
- a resposta ao bom dia

Tantos fatores e tão pouco amor. 
Um dia, este tão pouco amor tornar-se-á um gigante titânico que, então, subjugará as outras tristezas/melancolias; ele arrepender-se-á dos outros equivocados amores... Um arrependimento que virá, por certo, porque ele, um homem, é igual a todos os outros seres: homens se arrependem desde que o cro-magnon transou com o neardenthal. Reger-se-á por tal arrependimento? Não.


Importará, há que se dizer, que valerá a certeza do amor recíproco. 

sábado, 12 de março de 2016

45] CENÁRIO SP - CADA UM TEM O SEU INTERIOR

Arquivo pessoal - Vista da passarela do Terminal Bandeira
Uma cidade como esta, que ele resolvera viver até o fim dos dias, podia deixar alguns desavisados sem o aviso prévio da força, dos desmedidos limites e do tamanho exteriorizados que acompanhavam o interior de cada um dos habitantes da grande, da imensa metrópole do hemisfério sul. 
---- Uma cidade como esta é única!

Encarapitados no COPAN enquanto dormem, ou encarapitados no Edifício Itália enquanto trabalham, ou nos sobrados do Cambuci, ou ainda nas mansões do Jardim Europa... Nas casas térreas de Paraisópolis e Heliópolis, às margens da Guarapiranga e por todos outros.
São milhões, não é correto?

E cada um tem a sua idiossincrasia crescida e moldada ao longo da vida.
---- Quem tem? Todos que vivemos aqui em São Paulo. Pode ter vindo de longe, do outro lado do mundo e também poder ter vindo do interior, do Médio Tietê (de Piracicaba), aqui tão perto... 
Das dimensões paulistanas o que ele mais gostava era poder caminhar e examinar as construções de variados formatos e de variadas décadas. 

Vários desvarios cometeram-se pela mancha urbana paulistana. E não é de pouco tempo atrás não, como alguns podem pensar: acontecem perdições e achados . A Desvairada Pauliceia abrigou (e abriga) as mentes (algumas destas mentem descaradamente - como em qualquer outro lugar do vasto mundo) que mexem com o dia a dia da cidade. Mexem com o que cada um pode trocar com o outro.

E ele era um destes insanos, incorrigível andante pelas sinuosidades idiossincráticas da urbe alfa do Brasil. E então, ao olhar e observar todos sem distinção, em geral quando ia/voltava do trabalho, podia imaginar os interiores contidos que se desabriam à cidade.
---- Mesmo! É assim mesmo! Mentira tacanha dizer que por aqui não se trocam as experiências sobre os desejos e anseios. Sobre o cada um tem em seu interior. A verdade é que isto ocorre sem parar.

Olhando para fora de si, para a cidade de São Paulo, parecia que a "chave pensante" ligava-se no automático (absolutamente!) e vertia abrindo o seu interior para o exterior dos milhões da cidade. 
---- São tantos! Não me canso de observar, de tentar saber, de participar. De entrincheirar-se nos caminhos a serem percorridos.

terça-feira, 8 de março de 2016

VIAGEM CCLXIX - O ESPIÃO QUE NÃO EXPIAVA

Reprodução sem fim lucrativos [endereço abaixo]
Pela pequena fresta, ele espiava todo o movimento da grande avenida de 3 pistas, sentido centro/bairro e vice-versa. E sempre tem versa, ou melhor, versus, no caso dele. Ele versus a vida que ele, de uns tempos para cá, espiava pelas pequenas frestas da janela... Entreaberta o mínimo possível. Ele versus ele: que luta renhida!

Talvez para expiar algumas culpas do passado recente, ele apenas espiava os carros e as pessoas no segundo andar do sobrado, um dos poucos que sobrara depois do arranque desenvolvimentista imobiliário do começo do milênio naquela região de São Paulo onde se misturavam residências, prédios comerciais e pequenas lojas sobreviventes.

Pela fresta, ele percebia - espiando - que mesmo após a construção de três grandes arranhas-céus, a rua conservava conservadoramente um ar interiorano, com aquela preguiça modorrenta de uma tarde de calor de verão extremado com o bucho cheio.

Tinha tantos receios de sair e viver as ruas. Então, ele espiava com boa visão de mais de 180° porque sua casa localizada em uma esquina, tinha o segundo andar em formato arrendondado. Ali, ele havia posto uma cadeira quadrada confortável, de quinas assassinas, que lhe permitia recostar-se e observar pela fresta.

Parecia que ele espiava os outros para se satisfazer da vida do mundo, mas se tivesse alguém atentado para o atentado que cometia todos os dias contra sua existência... Só parecia. Ele espiava lá fora para que o "lá dentro" intocável permanecesse. Ficava horas e horas na intocabilidade da posição logo atrás da janela, pela fresta, apenas se espreguiçando vez por outra; com os olhos abertos para que nada lhe escapasse.

Seus vizinhos contíguos eram os menos vigiados... Bem, espiados, como ele preferiria se soubesse que alguém escrevera sobre ele. Gostava de observar quem entrava no prédio quase em frente e quem transitava pela rua: vendedores variados engravatados, skatistas quase esquálidos ralados, mulheres "aos milhares" (havia ali perto uma grande loja onde se empregava somente o sexo feminino), cachorros corredores atrás de objetos...

À noite, era comum acabar adormecendo na cadeira. Seguia, quando acordava para a cozinha, fazia um café para desperto ficar e voltava ao seu posto. Nas madrugadas, ele via casais trocando mais do que carícias em carros suados, rapazes fumando maconha e rindo, o vizinho da direita traindo a noiva com o vizinho duas casas depois à esquerda, o casal que brigava aos berros no silêncio do horário. 
Um sorriso ele conferia e ele mesmo: era bom viver assim, apenas espiando os outros... Assim não dispunha de tempo para expiar sua ausência dele mesmo.

http://tehparadox.com/forum/f63/%5Brg%5D-top-christmas-movies-all-8889455/

sexta-feira, 4 de março de 2016

44] CENÁRIO SP - DE CABO A RABO

Arquivo pessoal - Vale do Anhangabaú
(São Paulo pertence a quem?)

Vertem-se pelas artérias da cada um dos paulistanos loucos, de cada rua/avenida/alameda vida/suor/esperança.

espraiamento sem areia desperdiçada: e bem, que bom que não há praia por aqui, os prédios necessitam-na;

enchimento sem encheção: são tantos os acontecimentos diários, nas 24h ininterruptas,

sanidade sem que os sãos protestem: e há um só da dúzia de milhões que não se caotize por aqui?;

ziguezague de idas e vindas: pelos aplicativos, o viés é sempre ir para esquerda/direita, para o centro;

temporalidade histórica: aproxima-se dos 500 anos e os temporais vieram nos salvar neste ano de 2016;

luminescência vista nas fotos dos satélites: pontilhada de luzes a cidade que mancham o mapa com o claro espaço geográfico no escuro vácuo do universo;

beleza escondida, introspectiva quase na totalidade: o total de gente acostumada a outras paragens que gritam... Aqui ela sussurra, quase murmura entre muros e intramuros;

se é sua, minha, nossa ou deles a resposta não aparece fácil: o desaparecimento de um só dono e a pertença compartilhada em milhões tornam-na desprovida de amarras egoicas, já que tal heroica atitude a fez mais forte;

é um amor confesso nas reentrâncias da cidade: no mais recôndito ponto, de trás para frente, de cabo a rabo.

quarta-feira, 2 de março de 2016

VIAGEM CCLXVIII - SOBRE O CANSAÇO DE TUDO

Arquivo pessoal - Vale do Anhangabaú/SP
sobre tanta desdita nossa

sobre tanta rudeza

sobre tanto mal-estar

sobre tanto ciúme infundado

sobre a falta de companheirismo que perpetramos um ao outro em uma ou outra vez

sobre os passeios que não fizemos
por São Paulo, nossa cidade

sobre as lembranças das caminhadas juntos
que foram tantas e felizes

sobre as comidas que fizemos e comemos separados

sobre as lágrimas escorridas sozinhas
sem o lenço vindo de de sua (minha) mão

sobre as alegrias que podemos compartilhar/transferir
sem que tivéssemos tempo para tanto

sobre nossos sexos que de tanto ficarem impávidos solitariamente, cansaram-se

sobre nossos suores não vertidos

sobre os calores que impedimos de arrancar roupas
sem que ao menos nos tocássemos, arrefeceram

sobre as juras não murmuradas nas madrugadas frias
(esta fora a mais difícil de digerir)

sobre as discussões infindáveis
doídas

sobre os silêncios de lápide
feridas interditas

sobre aquele amor incontido descendo a ladeira, desgovernado
que adormeceu em sono profundo

sobre o companheirismo e cumplicidade trocados pelo individualismo
seco, frio e estéril

sobre tudo deixou de ser feito em melhoria para os 2
eu me cansei

sobre o meu amor? 
ele ainda está aqui e sigo amando...

sobre o cansaço de tentativas vãs, uma após a outra
eu me recolho

sobre sua possível tentativa sincera em algum futuro próximo
não sei... estarei aqui para esperar e ver...