sábado, 16 de maio de 2020

82] CENÁRIO SP - VERSOS DE PANDEMIA

Arquivo pessoal
O ISOLAMENTO
apartamento brilhando,

chocolates e TV e pc e música

e escritos...

tristeza,

solidão

necessária

e absoluta;

vazias ruas

milhões a menos em Essepê

mortes em recorde

recorte de velhos e doentes

comorbidades; 

pelo ar, o vírus

pelo toque, o vírus

espalha-se, dissemina-se;

máscaras,

sem sorrisos,

tapadas

pessoas arfantes;

negacionistas

da ciência

nefastos

ainda numerosos;

um ditador, um projeto de, 

é um autoritarismo

o antípoda da vida;

quedo-me em saudade

sonhos

em quimeras

de abraçar alguém,

de abraçar você...

quarta-feira, 18 de março de 2020

VIAGEM CCCLII - VIRAIS O VIRAL

Arquivo pessoal - São Paulo/SP

vírus que

viralizou


viroticamente 


a virilidade


vista por 


vis


vitórias...



vir a 


advir pela


viração a tal


viremia da


virose,


que virologia é esta?


de virescência vegetal, estática, deve ser



viral coisa... 


virulenta e purulenta em uma


viravoltas e mais viravoltas


viripotente?


vir a ser o que?


uma virilocalidade de viril varão...


vírion tu és.



sábado, 14 de março de 2020

81] CENÁRIO SP - PARADOXO E SIMILAR

Arquivo pessoal - Teatro Municipal
água/fogo
calmaria/nervosismo
acordar/dormir
ir/voltar
inverno/verão
chuva/aridez
São Paulo

homens/mulheres
homens/homens
mulheres/mulheres
amor/sexo
escondidos/mostrados
recôndito/saliente
São Paulo

tecnologia/reserva natural
indústria/serviços
avenidas marginais/ruelas
sobrados/COPAN
grafites/cal
engravatados/skatistas
São Paulo

carnaval/seriedade
Adoniran/Rita Lee
bandeirante/modernista
PIB/pessoas
pizza/sushi
virado à paulista/veganismo
São Paulo

12 milhões/eu e você
garoa/sol
centros comerciais/vendas de bairro
metrô/bicicleta
Parelheiros/Jaçana
modernos/tradicionais
São Paulo

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

VIAGEM CCCLI - AO REDOR E MAIS LONGE

por onde anda? ao redor? mais ao longe?
ou aqui perto? onde você está que não chega
que não vem...
quando você vai chegar?

de onde? Em São Paulo procurei,
pela metrópole olhei, em um drone sobrevoei, nada vi.
Não está mais em SP?
Desceu ao sul?

Na gelada península da Antártida de mar azul?
Em alguma ilha perto da costa?
Mais adentro do continente, o mais sortudo dentre deles...? (porque não há dentro nem gente decomposta )

voou pelo Pacífico e chegou ao Taiti?
sol tórrido e você nadando em mares calmos em Fiji?
voando até Nova Zelândia admirou-se a ver a ave quiuí
e depois passeando por Sidnei assistindo uma efêmera opereta,

subiu para Tóquio em sua modernidade de século XXI,
Seul, Xangai, Bangcoc, ou passeou 
por uma nau em Macau falando português, talvez...
em Lhasa, no planalto do Tibete mandou-nos boas vibrações para o mês.

Deslocou-se a Beirute, na franja do Mediterrâneo,
pegou um avião e andou por Istambul, um pé em cada: Ásia/Europa.
mas pelo que sei de você, rumou para Atenas,
Creta, Míconos, Rodes e o Monte Olimpo falar com Zeus.

pegou um trem e passou por Bucareste, 
foi sob neve até a Transilvânia visitar o conde empalador...
de lá, seguiu para os canais de Veneza,
Avistou e visitou Roma, a mais bela como diz, e comeu pizza em Nápoles

em um dia de frio e sol, tomou café na Porta do Sol,
andando pelas ruas de Madri, museu e cinema
Andou de bonde pelas ruas de Lisboa,
leu Fernando Pessoa animado no Chiado...

Paris, Berlim, Copenhague e Estocolmo
em dias alegres com amigos indicando os melhores passeios
em Dublin um legítimo café irlandês esquentou os ossos
e fez aumentar a saudade dos corpos, de mil anseios...

Pelo nosso oceano, o Atlântico, foi a Montreal
em um país dos mais civilizados, 
em Nova Iorque exercitou-se no parque
e viu ruínas astecas perto da Cidade do México

Desceu até Belém do Pará
comprando compotas e especiarias amazônicas
na viagem pelo Cerrado retorquiu-se com as árvores retorcidas
entre Brasília e Goiânia

Com tanta saudade, passou rapidamente
em Piracicaba e visitou parentes e amigos
com mais saudade, bateu em minha porta às 2h30
um toque, dois toques, três toques

atendi sonado na tépida noite de São Paulo
e você falando, contando, teatralizando 
em detalhes mil com o sorriso ímpar
fazendo par com meu coração

Na Pauliceia voltamos a dormir juntos
esparramados e nus
lá fora todo o infinito mundo que não vale nada sem você,
só porque nos amamos.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

VIAGEM CCCL - CALHAS E ESPELHOS

Arquivo pessoal - Piracicaba/SP
eles: sem falhas no aparelho de amar
batem 2, batem um ao outro e recostados...
eles se pilham em eletricidade pelo outro

o leite talha, azeda, esquecido à mesa
o namorado ralha,  com o esquecimento, 
mas se tolhe quando o outro se desculpa

se rasgam as malhas, vestes únicas, se molham
então, o brilhar daquela manhã se acerta
na trilha de amar...

todas as tralhas assolhadas ficarão,
ajoelhadas para amealhar atenção...
ele gargalha e farfalha pela respiração

e, então, ofega...
para a batalha ele se debulha
em lágrimas que se empalham
de engasgar, secas pela barba...

entulhos? aqueles separados para o lixo;
fagulhas? somente centelhas de frenesis;
mobilhas? só os de madeira maciça, resistentes;
humilha você a quem lhe ama?

retalhos se espalham em mim, em você;
molhados de amor um ao outro
agasalhos são falhos em corpos desnudos...
porque o mergulho em nós nos cala...

o amor se espelha, 
se espalha 
em calhas retas e duras...

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

VIAGEM CCCXLIX - O VENTO E A CALMA

Arquivo pessoal
"Vento uivando 

pelas frestas das janelas 

e portas fazendo uma alcateia de sons,

cercando-me por todos os lados:

uma tempestade vem vindo com nuvens

carregadas, plúmbeas e densas.

"Uma chuva de vento!", eu disse aliviado.

Fecham-se os leves vidros 

e batem seguidas vezes todas as pesadas portas.

Cortinas balançando em desvario; 

papéis flanando pelo espaço.

Fumaça subindo pelo ar na vertical.

Quadros dependurados se debatem

temendo a  gravidade da queda.

O ar úmido e frio envolve e me abraça: ventos

e mais ventos... 

Dia de ventania, 

prenuncio de calmaria na minha alma".

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

VIAGEM CCCXLVIII - NA CONTRAMÃO

Arquivo pessoal - Largo São Francisco, São Paulo

"de leve que é na contramão".
(Lulu Santos, verso de)

pelas ruas, avenidas, ruelas, travessas, autopistas e marginais
eu observo e babo, boquiaberto

ver você andar, remexendo que só os quadris, com um gingado para se perder se encontrar o caminho

pela contramão da vida,
pela contramão do status quo
contradizer o discurso dos caretas

este discurso sem piedade
sem arte, sem amor
sem sexo e sem você - não!

só me faz olhar mais
e procurar por um guardanapo para me recompor 
da baba sobre minha barba hirsuta a escorrer 

e você anda, e vai, e vem, e rebola, e remexe
e mexe com meu juízo tão sério
tão profissional que acaba por solapar toda a minha seriedade

você me arrasta pela contramão
para que a gente se encontre,
para que a gente transgrida

e perverta a seta de mão única
nada disto, nada desta gente rança! 
minha seta é só para você, só seguirmos em frente.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

VIAGEM CCCXLVII - O CAMPEÃO MAIS TRISTE

Arquivo pessoal - Piracicaba/SP
uma medalha de ouro no peito, nada novo
para quê tudo isto?

mas e dentro do coração: latão?
brilhante, vistosa, ganhadora: 

esta é a tal medalha,
exposta, pesada e valiosa...

ganhou como?
na corrida pela vida, pelo dinheiro, 

pela saúde e pela paz,
pelas amizades

(foi campeão com rodadas de antecedência no campeonato das décadas).

pelos amores sequer conseguiu classificar-se
entre os medianamente amorosos:

desclassificado em letras grandes e timbradas pela escola de uma vida
vivida sem ouros.

ele não sabia como ter o ouro dentro do coração,
até agora havia sido o medalhista campeão sagrado mais triste

mais triste ainda, depois de tanto agosto seguido,
porque nunca fora primeiro no coração de ninguém,

e o que era pior: nunca permitira que acontecesse 
este campeonato no qual jogam apenas dois

sem o terceiro, o juiz, sem a torcida,
somente dois, que lutariam por mais amor

mais compreensão
mais tesão

mais respeito
pois nunca perderiam - os dois ganhariam com o tal jogo

então, o campeão mais triste abandonaria o pódio solitário
de campeão absoluto

e desceria ao chão para ser feliz ao lado de alguém
sem que lhes importassem quem chegaria em primeiro lugar

terça-feira, 23 de julho de 2019

VIAGEM CCCXLVI - DANADOS DE AMOR

Arq. pessoal - Piracicaba/SP
danos colaterais
colados

dúvidas e dívidas
que não sanamos 

e que não nos pagamos

a dor dilapidando demais
desde daquela vez

e que dominou nossa relação

dor demais!
dor demais!

delegamos à raiva a nossa conduta

nunca dantes havíamos feito disso
a regência de nossas vidas

o tempo passou
saudade sentimos

em calor ardemos solitários
duradouro, percebemos, é nosso amor

apesar das dúvidas
das dívidas
das dores

porque é bálsamo benigno
ouvir nossas bocas dizerem belezas, carinhos e afetos

porque é frenesi em seguida
beijos pelo corpo

em protuberâncias e reentrâncias...

danados de amor somos um pelo outro
o outro por um!


quinta-feira, 18 de julho de 2019

80] CENÁRIO SP - TODO ENROLADO

Arq. pessoal - Vila Mariana/São Paulo
"eu aqui, enrolado em edredons pesados

sem roupa, de gorro meio remendado

enrolo-me em pensamentos no quarto grande

em um cheiro, rolo de amor que roça meu corpo

rouba a quietude
rouba de forma rota meu juízo

ao lado do criado-mudo
tudo enrolado

naquele papel vindo de Roma direto para São Paulo,
que só espera por nós

neste frio gélido de julho, a Pauliceia madruga com a garoa
cobrindo a vasta metrópole

o frio nem consegue roubar o tal calor
que sinto, que tenho, que quero em você

e eu insone, reto nas partes, rijo, enrolo-me ainda mais
e mais em você

que veio, viu e venceu as resistências
bem das esfarrapadas dadas por mim

quando você me disse
que era um ladrão, um ladrão que não rouba $, bens ou casa

"Roubo você", explicando em um pausado, mas sôfrego
e alterado em cada sílaba

ah, e eu enrolando
em cima

embaixo
pelos lados

pela fresta da janela, São Paulo me roubou o sono,
o vidro embaçado rouba uma visão do céu...

só não me roube você de mim
(porque estou sozinho, com saudade do calor que um roubava do outro)".