terça-feira, 31 de julho de 2012

VIAGEM LXIV - TECLADO

Reprodução

Os dedos cansados, doem.
Os nervos do punho em trabalho exaustivo, repuxam.
Nuca forçada, para cima, para baixo, fisga.
Rins curvos, padecem; olhos cansados marejam

E as palavras vão soltas, díspares e quem sabe algumas delas repetitivas?
Só o que está aqui dentro não se repete, nem se diminui;
aumenta, avoluma-se e parece que igual a represa
tende romper a grande muralha de concreto espesso e grosso.

Insiste-se ainda mais porque há uma razão:
esperança de que lá, em dado momento, toda a dor far-se-á passada
e dias de contorcionismo horizontais verterão 
melhorando as cores, os cheiros, as texturas, os gostos e os

Ruídos de respiração resfolegante.
Ainda há todas as dores e mais outras que aparecerão
na solidão do teclado e das noites em silêncio
em que a cama, vazia, grande e fria está no mesmo lugar.

VIAGEM LXIII - DESMEMBRAR À SOMBRA

reprodução
Desmembramento de todo aquele corpo
Desnudado e dividido antes mesmo de se quedar decepado.
Dúvidas sobre autoria da proeza inexistem; tomar dores tampouco adianta.
Houve o que é chamado de desfiguração dinâmica de sentimentos
daquele que foi separado em pedaços rotos.
Os ramos da árvore logo acima parece até que se vergaram
para tentar encobrir aquilo que fazia-se, sombreando sob sol a pino o que 
iluminado estava diante de olhos atentos.

Desmembrou-se um por um dos membros com maestria divinizada 
pelos imponentes deuses do Olimpo.
Braço, o esquerdo primeiro; depois, o direito.
Pés e pernas na mesma ordem.
O que mais faltava então? De todos estes sobravam
ainda a cabeça, o coração. O falo pênis seria partícipe do desmebramento
como testemunha 'cêntrica' de tudo que decorria - quem sabe ileso...
Passava das 13h, os galhos perdiam para o sol a sensatez da sombra de antes.

Danos causados por tamanha danação serão menores... Caíram em
descrétido para serem esquecidos para sempre na vastidão do campo onde a concentração soa ser matemática; como o tiro de misericórdia.
devem manter-se no local de onde vieram, do nada.
Só há ganhos, desmedidos e desabridos como o céu de uma manhã de verão. 
Drenando o azul para dentro dos olhos mortos dele.
Agora, no meio da tarde,a sobra fincava sua escuridão longe do quase
totalmente desmembrado corpo. Desvaneceu-se para longe e só observava.

Devem estar próximo do fim de tudo.
Do fim do desmebramento e do início do esquecimento,
pois assim que virarem as costas, a sombra estará metros e metros,
e as aves de cima virão esfomeadas passando perto dos galhos que em
determinada hora tentaram oferecer um pouco de conforto, de
dignidade para o triunfo final: decapitaram-no com facilidade inequívoca.
Morto, inerte e frio quase. Nem precisou-lhe que desmembrassem o coração.
Já havia parado antes mesmo de todo o processo. 

segunda-feira, 30 de julho de 2012

44 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - SONHO INVADIDO

Reprodução
Ao acordar perde-se um pouco no tempo e por um átimo não se lembra qual era o dia de hoje. Sabe de imediato que seu estômago ronca feito leão. Não teve jantar à noite e da sexta foi pelos braços do deus do sono até a manhã de sábado. Seus pés nus tomavam o vento da festa da sacada causando certo desconforto. Encolheu os dedos estralando-os.
Ainda embaçado sem conectar tempo e espaço, o conselheiro-mor acordado o fita e mia baixinho reclamando por comida; já o príncipe do castelo ainda dorme encostado nele sem sinal de vigília próxima.
Levanta e começa a satisfazer a demanda de Felino e a movimentação desperta Rex, todo esbaforido ainda com a cara amassada, põe-se a abanar o rabo zunindo pelo ar.
Faz tudo com vagar determinado em não se esquecer de nada. No castelo ele nunca fica sem o que ele precisa, porque, como sabemos, é sua fortaleza invencível e instransponível. Ali, ninguém entrava fazia um bom tempo - claro, que a senhora da limpeza sim, mesmo que não possuísse a chave do 'apartamento'. Porém, outros seres convivas da espécie ali não frequentavam para visitas.

Ollhando pela sala, sentado na poltrona vestindo de cueca e camiseta, os objetos quedam-se espalhados, lembra-se que ontem, antes de dormir folheou o grande atlas comprado há pouco; aquele que é necessária uma mesa que o sustente tamanho peso. Ainda está aberto pelos caminhos históricos realizados pelos homens do Império Romano (o atlas é histórico e geográfico).
Traçou linhas imaginárias de viagens ainda a serem feitas por locais de turismo históricos mas fora da alta temporada, porque assim - supõe - poderia ser possível visitar tudo com traquilidade e muita atenção. Os mapas possibilitam que ele estude as estradas e por onde percorrer. Imagina-se em uma estrada - uma via romana repaginada - passeando em um daqueles carros italianos com seus dois amigos juntos em dia de verão esturricante.

Roteiro preparado ele já tem três no arquivo de seu computador, cortando o Meditarrâneo de norta a sul e de leste a oeste; outro que vai da Irlanda até São Petersburgo; o terceiro destrincha o Brasil em seus caminhos mais distantes da brisa do litoral onde barquinhos vêm e vão há décadas.
Recosta-se e com a xícara do café acabado de passar põe-se a dormitar no meio da manhã. Fecha os olhos e rememora o caminho - pela grande ilha - da invasão dos legionários. Dura apenas alguns minutos porque o telefone acusa mensagem recém recebida. 
"Feira de adoção de vira-latas no Clínica 'O Mundo do Cão', hoje das 10h às 18h. Contamos com seu apoio e carinho", foi a primeira; a segunda, pessoal, o convidava o veterinário do príncipe: "Tudo bem? Vou fazer uma feira de aoções aqui na clínica. Seria legal se pudesse vir e contar sua experiência com o Rex. Abraço, Marco Antônio".
Fica surpreso com o convite tão assim... Pessoal.
O sono agora lhe ordena que vá à cama e só saia de lá mais tarde. Sempre acontece assim quando é tomado por fatos imprevisíveis de ordem pessoal.
Caminha lentamente com ambos seres de quatro patas atrás.
 Nem cinco minutos e o sono vem pesado e invasivo.

"Tudo foi dominado por tantos quilômetros quadrados das terras até então conhecidas e sentia-se bem assim em fazer parte daquele exército que o mundo temia, mesmo os mais bárbaros: protegia e era protegido.
Sim, agora estava vestido de legionário comandante de um pequeno grupo e combateria logo mais os invasores ao norte da Muralha de Antonino para manter com segurança a Muralha de Adriano. Caminha com mais alguns acompanheiros por um estreito caminho por muito tempo mas o cansaço não aparece. 
Desta vez, os pés estão calçados e vê-se coberto no rosto por uma barba rala de alguns dias. Seu companheiro do lado possui uma barba densa de vários dias e entradas generosas na cabeça: é o rapaz do metalizado sorriso à esquerda; à direita, todo barbeado com o cabelo na medida do quer possível penteado, está o veterinário. São os três somente.
--- 'Todos vocês no meu sonho? De novo? Pensei que fossem sentinelas do castelo... Mas não meu companheiros aqui.
--- 'Claro que sim', diz o metalizado.
--- 'Porque não poderíamos ser?', pergunta o veterinário.
--- O sonho é meu, o caminho é meu. A muralha a ser alcaçada é minha. Vocês estão de intrusos.
--- 'Nosso. Você recrutou a gente. Escolheu-nos para sermos seus guardas-costas nesta empreitada. Eu nem queria vir porque estou coma boca cheia de aftas por causa do aparelho nem podendo comer direito, só líquido mesmo.
--- 'Você pode voltar, pode ir embora'.
--- 'E abandonar você e o Marco? De jeito nenhum, foi você mesmo que me ensinou a ser fiel a quem lhe é fiel. E este é o caso aqui de todos nós. Lembra? Eu aprendi com muitoa dor a ser o que eu sou agora e grande parte foi devido a você, ao que me falava todos as manhãs de café com leite.
--- 'Tenho pouco a falar. Só que o seu amor ao Felino e ao Rex, toda vez que faz uma consulta de rotina ou necessária, me faz acreditar que deve haver outros assim como você é... Neste mundo de invasões, guerras, mutilações. e vigarices. Vamos juntos, nós 3, depois mais para frente você vê o que fará com nossa companhia... Vamos?'
Acaba que se encontra, então, sem escapatória e antes mesmo que abra a boca, ambos o acompanham de perto seguindo-o de maneira inconteste e apresentando confiança que poucas vezes ele sentira".


Debaixo dos edredons, perto das 13h, ele acorda querendo-se levantar para tomar banho. Mais uma mensagem não lida no celular, o que significa que terá que ir à feira, mas irá perto do fim. Chega de invasões por hora: ele não sabe lidar bem com o fato. Sabe mesmo que as "14" chaves das portas estão intactas e resilientes. Anima-se e vai para o banho.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

POR QUE DESCONSTRUIR SÃO PAULO?

Reprodução, a antropofagia
(estas  linhas aqui são uma constatação do que vejo e do que ouço de alguns e, sendo assim, resolvi escrever para deixar de passar em brancas nuvens; se aplica a uma parcela de brasileiros que insiste em falar baseada em... Quê mesmo? Às vezes parece que estas pessoas emitem juízos de valores com um olhar viciado. Refere-se a um "falar mal" e não de pontuar problemas e apresentar soluções - são conceitos bem distintos. Resolvi falar mantendo a racionalidade e a calma)

SE A RESPOSTA APARECER, BOM. MAS SE NÃO... MANTER-NOS-EMOS ANTROPOFÁGICOS
Brasileiros, parte deles, fazem questão de desconstruir a imagem de São Paulo, ao qual eu chamo muito despretensiosamente de desconstrução imagética "modernosa" nada antropofágica - é canibalismo; que claro, vai muito mais além apenas da imagem que se quer desconstruir. Começa-se por esta e se estende em uma miríade de argumentos - parte deles falaciosos/enganadores/duvidosos - que tem por finalidade máxima e última impingir à cidade o limbo dentro deste Brasil. São Paulo, a cidade que não tem praia, não é...?
(admito: vivo muito bem sem precisar morar no litoral)

Fico me perguntando qual a razão de tantos milhões de brasileiros terem aqui aportado (ops... Aqui não tem porto porque não tem praia) por diferentes razões que mais lembram o labiríntico caminho do Cnossos em Creta e mesmo assim, insistem na desconstrução; para levar a que? Qual a intenção desta 'manobra'? Batem nesta tecla malhando em ferro quente.

Não, não vou cair na armadilha. Redarguirei sem apresentar o famoso "está ruim aqui? Porque não volta para sua terra?" porque a mim não cabe discutir a questão e apresentar um argumento preconceituoso e falastrão. São Paulo precisa de pessoas do Oiapoque ao Chuí porque é isto que faz mais grandeza à cidade. Faz mais ser o que São Paulo é: uma mescla multi-cultural-social e econômica maior. Somos basicamente e primeiramente antropofágicos no emocional e no racional.

Podem vir e devem vir de onde forem. Paulistanos e/ou paulistas não são melhores nem piores que outros habitantes de outros estados praianos onde a brisa do mar balança o barquinho que vai e que vem... Nós somos o que somos tirando e pondo muita coisa aí e a cidade também precisa de nós; e a precisão talvez quede-se para sempre.

Vejo a cidade como uma urbe do século 21, sem tempo para divagações ao longe como quem espera no cais do porto um amor que nunca vai chegar. Sabe, aqui existem tantas esquinas da ZL à ZO que o amor pode estar por aí, na próxima guinada de seu caminho.
Voltando à desconstrução. Eu ainda, até outro dia, perguntava-me o porquê de tamanha virulência amarga como bílis em destilar o - quiçá - ódio com relação à cidade e aos seus habitantes para com isto alçar outros lugares ao lugar de São Paulo, e não obtive resposta: inveja e despeito não creio que caibam como resposta, pela parte dos comentários ruins.

Os habitantes daqui, os mais de 11 milhões, que não são tão assim deselegantes (mas talvez discretos como diz a música do baiano que resolveu falar deste pedaço de chão porque mesmo? Eu penso que ele nem gosta daqui, o lance dele é preguiça e tempo de estio... Rs), quando respondem à tal virulência que se espraiou (ops, este verbo pode ser mal interpretado) pelos cantos da República Federativa do Brasil contra a construção da imagem paulistana. Discrição e atitude são melhores respostas.

Verdade inquestionável porque o paulistano tem ciência das mazelas da cidade e das potencialidades e mesmo assim não há movimento sério (ótimo) separatista, nem anti-qualquer grupo de outros Estados - praianos ou não, nem queremos que os milhões deixem de interagir conosco, os paulistas, e com os paulistanos. Somos tão cosmopolitas que nunca perderemos a identidade paulistana/paulista porque esta identidade é agregadora e não excludente.

Sim, tenho orgulho de ter nascido neste Estado. Sim, tenho orgulho de morar na cidade e ser/sentir-me um habitante paulistano, mesmo com o meu "R" retroflexo guardando (e deve ser para sempre) o sotaque caipira do interior, o que me faz único entre os 11 milhões, porque aqui todos são únicos. O que é trazido aqui é apresentado ao que aqui já tem. Constrói-se mais assim porque vive-se mais, não apenas em quantidade de décadas - porque é a grande força de São Paulo: tudo junto, misturado, digerido antropofagicamente como o movimento de 1922.

Cansei de me meter - não à exaustão, porque vivo onde vivo e cansar-se por aqui não é boa coisa - nesta discussão de ouvir argumentos característicos, tão "o mais do mesmo" e sigo bem assim. Ouvir falar mal, confesso, antes me incomodava sobremaneira, contudo hoje, sinto que tais palavras são de vento em meus tímpanos, entram e saem devidamente não processadas. Adianta de quê redarguir com quem é inflexível e faz questão de fazer ouvidos moucos diante de outros argumentos que vão de encontro aos seus próprios e portanto nem ao menos refletirão? Nada, nem mesmo o meu parco latim vale ser gasto.

Eu sou deste tempo, o tempo de São Paulo que de uma hora para outra, instável feito louco e mutante feito gente. 
Percebem? Nossa rotina é rotineiramente instável e modificativa e, que alternando com a rotina simples, forma o compasso de vida que aqui a gente leva; 'cosmopolitanamente'.

terça-feira, 24 de julho de 2012

43 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - VITÓRIA SOBRE O TEMPO

Reprodução, romanos rumo à Escócia
Coleciona vitórias no trabalho esta semana, notando que ainda é terça-feira, mas um contrato milionário adoçado por uma reunião em um bom restaurante com a conta paga por ele com direito a café de grãos que vão para o mercado italiano, fizeram sucumbir as últimas exigências dos novos donos do mundo, os chineses (ou, como ele mesmo pensa, "eles acham que são"). Por quase 3 horas ficaram esparramados na poltronas com o intérprete de Macau, chinês que fala um português de sotaque lisboeta com a indefectível entonação oriental no fim das palavras. Fato é que ele é versado no português falado aqui no Brasil porque viaja realizando suas funções regularmente para cá. Ganha muito dinheiro com isto: para quem tem oito irmãos que viviam encarapitados nas favelas é uma vitória.

"Porque eles querem dominar o mundo? Mas eles querem mesmo? Ou é só para mostrar aos norte-americanos que não apenas os Estados Unidos que dão cartas aos quatro cantos do redondo planeta? Percebo que os irmãos do norte - é de se matar de rir - andam meio acabrunhados, meio tristes e desanimados. Enquanto do outro lado, os comunistas chineses andam todos faceiros é lépidos, comprando minerais na África, financiando empresas no Peru, no Equador e invandindo o mercado do Brasil".

Às 15h30 saem do restaurante de comida brasileira. Feliz pelo contrato, feliz porque vai tirar a tarde de folga. Claro, uma passada antes pelo escritório todo azul e cinza para dirimir dúvidas de seu secretário particular - que não deve tomar mais do que 20 minutos de seu precioso tempo no total, que vitória! - e rua. 
Quase 1 h depois toma a calçada para si e sai, ainda engravato com o novo terno comprado de corte mais seco, andando a esmo; bem diferente do que fizeram os romanos quando da conquista da Gália e logo após, quando invadiram e conquistaram boa parte da Britânia. Ergueram duas muralhas, como ele erguera uma em seu castelo invencível habitado por três seres, e ficaram por séculos. Tudo muito bem calculado e feito. Contratempo houve, como há agora para ele neste tempos caóticos de misturar os pensamentos.

As ruas estão cheias e as padarias e cafeterias também neste fim de tarde de julho. 
Andando na região, passa em frente da padaria que costuma quase todo dia parar e tomar a média de sempre. Ao entrar sabe que não vai encontrar o cara de sorriso metálico sempre escancarado para ele, porque fora daqui para outro emprego, o tal do concurso que passou; porém, entra e o procura como fazia até pouco tempo atrás.
Nada, mas já esparava pelo nada.
Com o tempo livre ainda pelo fim de tarde no inverno mais frios dos últimos anos, seus pés dentro dos sapatos pretos estão frios; nem as duas meias resoveram isto durante o dia.
O banco de sempre, na esquina de sempre do balcão; um café preto coado em pano e... A surpresa do dia na forma de um toque no ombro ("as ideias não correspondem aos fatos...")

--- Oi, tudo bem?
Vira-se e vê o concursado sentando ao seu lado.
--- Você por aqui? O que anda fazendo? Achei que já estivesse no novo trabalho... Trampo como diz você. No Fórum do centro que você vai trabalhar, estou certo? Que surpresa!
--- Perguntas e mais perguntas. É o que mais as pessoas têm feito a mim. Vamos lá explicar: foi uma vitória eu ter passado, ainda mais eu, que vim lá do Grajaú, criado pelo meu irmão mais velho, escola pública, segundo grau feito mais tarde, pouco tempo para estudar as apostilas, muito trampo aqui na padaria. Hoje eu sou freguês e acho que tenho razão. Sim, no Fórum João Mendes, na Sé.
Riem juntos.
--- Consegui vencer as adversidades eu acho. Né?
--- Claro que venceu. Derrubou aquele muro que cercava você e que o impedia de ir mais adiante, que o impedia de ir além. Parabéns. Que vitória!
--- Agora estou pensando em me mudar. claro, daqui uns seis meses mais ou menos. Quero morar mais perto do trabalho, aqui na região central. Vai ser melhor para mim e para o meu irmão: minha cunhada não vai muito com a minha cara não... 

Diante deste início animado e surpreendente, entabulam uma conversa que deve durar um tempo razoável, até que a noite os avise que é hora de ir para casa. O metálico rapaz mora longe, no bairro da zona sul e demora mais 1h30 para chegar lá. Enquanto ela não cai vencendo o dia, ambos se permitem permanecer como velhos amigos que há muito não se encontram.
Hoje a vitória dele foi desprender-se do tempo e pensar que quanto mais demorar para adentrar no castelo e erguer as muralhas, maior será a vitória conquistada.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

VIAGEM LXII - ASFALTO GOELA ADENTRO

Reprodução, o asfalto
Um tapete de asfalto e o semi-novo sedã de velho se faz andar sorrateiro, enquanto desliza pelos quilômetros que levam seu ocupante a percorrer de cabo a rabo bairros mais distantes desta grande urbe de falantes - aos milhões - de português.
Teve sorte e o carro vai por ruas e avenidas de milhões de buzinas sem cessar, por onde o tal poder público observou a deterioração e recompôs o chão por onde passam os pneus nus, zunindo a mais de 60 km/h, 80 km/h, com alguns dos imbecis alvos, por ele, de sua ira que não ri, nem é santa.
Zona Sul à zona norte cortando por Santo Amaro, entrando na Bela Vista, chegando no Jaçanã e daqui a pouco à Serra da Cantareira.

--- Existe ainda o trem das onze? É uma boa pergunta por onde andam os trilhos que fizeram tanto sucesso pelo Brasil todo, até na terra "de umbigo" que se proclama como sendo o... País. Eu sou daqui e não sei mais deste trem. Quando eu era criança tinha um resquício de bonde ali na Pompeia. Passeei e brinquei muito pelas colinas do bairro, sempre tinha lugar bom se esconder. Agora... é só asfalto mesmo.

Outros ultrapassam os 80km/h e com suas máquinas vindas de além-mar destronam os pequenos do trânsito usurpando a vida de alguns. Deve gostoso isto para eles, só pode ser; um falocentrismo automobilístico decerto.
Destes, ele quer muita proximidade. Nestes, haverá dor sem ganho. A estes, o que os espera é o gosto de piche penetrando goela adentro, calcinando sua vias aéreas até os brônquios.
Para espantar o frio de São Paulo, um cafezinho daqueles coados em coador de pano em um boteco do centro antes de seguir viagem feito tatuagem que não sai de sua cabeça. Gosta quando o local está cheio e com muito barulho e prefere quando mistura os públicos da metrópole em poucos metros quadrados.
Porque tatuagem não sai lavando, nem esfregando (dá para arrancar com laser...); e seu trabalho não termina, nem hoje, nem amanhã, nem nunca. Relaciona sempre uma coisa a outra.

Açúcar, o mínimo, e sem afeto, que possa parecer uma leniência com os carrões turbinados, ou "tunados, como se diz por aí", profere em voz alta. O doce da vida é ver que alguns podem amargar bons minutos de sofrimento e dor conforme não aprenderam durante toda a vida. A distribuição do atos pela cidade, de sul a norte, obedecerá - como sabemos - aos critérios que lhe vierem à mente na hora, incontinênti. E como hoje quedava-se animado e disposto para realizar o que fosse, esperou não sem muita 'espuma pela boca', ultrapassar a ponte sobre o rio Tietê.
Tudo pronto; a luz azul do rádio quase fenecia, meio mortiça; seus olhos brilhavam de ansiedade assim que chegou.

domingo, 15 de julho de 2012

VIAGEM LXI - DAS VONTADES E DESEJOS

Reprodução
Um dia destes, quando passeava sem rumo nem destino, só observando, em um lugar de grande movimento de gente e cachorro na movimentada São Paulo, de um dia atribulado, um cara com seus 30 e tantos, encontrou em uma das mesas externas desocupadas de uma cafetaria apenas um computador de mão, aberto, com um arquivo ainda não salvo e escrito em word em linhas frias. E o fim, negritado estava.
Chamou sua atenção na fria manhã de julho e resolveu estacar-se defronte sem se sentar e ler aquelas letras que deveriam - quiçá não - fazer algum sentido inteligível. Em pé, se pôs a ler com interesse redobrado.
(A mensagem chegou-me, enviada não sei por quem, e a transcrevo aqui sem negrito, nem caixa alta, nem sublinhado)


Das vontades e desejos de um homem
"--- Quais são os seus desejos, perguntou a voz.
Ele, balbuciando como um bebê babão irriquieto, ficou tentando responder algo que impressionasse.
--- São tantos... Pode ser o primeiro... Sabe, eu tenho muita vontade...
A voz então percebendo que dali não sairia coelho algum, energicamente retrucou.
--- Então é assim que você encara a vida? Balbuciando? Vamos nada bem desta forma. Qual é o maior de todos os seus anseios, desejos? Ou vontade, como queira chamar.
O homem vendo-se acuado mais uma vez, atrapalhou-se por completo e em vão vasculhava veloz seu cérebro ainda inteiro como um queijo suíço alguma resposta que contemplasse respostas dignas e condizentes com sua idade e postura social.
Esperando, a voz começava impacientar-se.

--- Pelo visto, parece que vamos ficar o tempo todo hoje neste passo de tartaruga das Galápagos. 
--- Nunca tive que reponder algo assim...
--- Teve sim. Todos os dias você responde e não se dá conta. Das pequenas vontades devem se formar as maiores, aquelas que estão encobertas esperando liberarem-nas.
Segundos de embaralhamento. Sente o suor escorrer pelos sovacos cabeludos; sente o suor empapar sua cueca na frente, atrás, dos lados. Toda ela molhada de suor de nervosismo por parecer um idiota que não sabe responder a nada. Desejou desnudar-se e livrar-se das roupas 'grudentas'.
--- Eu tenho algumas vontades, ou anseios, ou desejos. 
--- Fale-me um ao menos. Pondere e vasculhe sua mente.
--- Uma brisa de verão em uma tarde quente em uma ilha debaixo de coqueiros com meu amor, ambos nus sem pensar me nada mais além de nós.
--- Isto plágio de uma música daquele francês.
--- Mas eu me identifico com isto...

O homem viu que a voz agora - e inexoravelmente - alterou-se tornando mais grave a alta.
--- Algumas opções ser-lhe-ão dadas por mim. Não se encante com isto porque é só aqui e agora. O melhor lugar do mundo não é aqui, nem agora. Mas o pior lugar você já conheceu.
--- Quais são as opções?
--- $ claro.
A voz cometia este deslize propositado para ver o brilho nos olhos de seu interlocutor.
--- Pode parar. Não quero muito, não quero pouco. Quero o que me couber ter de $.
Uma leve surpresa de pronto disfarçada e a voz sucumbiu em segundos e foi-se embora para longe. Talvez fosse habitar o Olimpo acompanhando Zeus no cuidar do mundo. Talvez no fundo do mar, confabulando com Netuno.
Conta-se que a verdade não foi nem para o alto, nem para baixo. Foi morar no cérebro de outros, alguns daqueles que respondem de imediato às perguntas sobre desejos, ou anseios, ou vontades... Como ela queira".

quarta-feira, 11 de julho de 2012

VIAGEM LX - BOM SENSO

Reprodução, 'Juízo Final' - Michelangelo
Valores equivocados.
Dar valor a valores do senso comum?
Erro, um grande erro.
Mas porque?
Porque o senso comum nem sempre é um bom senso, apenas por isto.
Sim, o mundo está inundado destes valores.
Até mesmo por aqueles que se dizem avessos a estes valores.
Mentira? Só pode ser.

Reproduz-se com perfeição grega clássica o modus operandi da sociedade,
e os valores se perpetuam.
Por algum dia, que ele não sabe quando - se daqui a pouco ou daqui muito tempo -, 
virará tal página,
pela simples razão de viver um tanto melhor, 
sem cobranças e pensamentos de esquisitices
que só um reprodutor de valores do bom senso apresenta.
'Dentro de cada um deve haver mais'. 
Tenta se asseverar para tranpor este rio de largas corredeiras
do bom senso tão 'simpático e abrangente'.
Vive-se mais ou melhor quando cada um de nós encontrar, na miríade de esquisitices, 
o senso comum individual e instransferíveil.

Possível?
Claramente como o sol que nasce ali por detrás a leste de seu ser.
Voga então que há uma supressão do indivíduo pela coletividade
Nada comum dentro do tal senso comum.
Luta. Guerra sem bandeiras brancas, tampouco armistício vigiado.
Da vigília que ele vive várias horas, o que ele vê é o massacre.
Dele e dos outros não 'adequados'. Porque a guerra é suja.
'É mais: ela engana, distrai e apunhala. Fácil como extinguir uma espécie'.
(e extinguimos com maestria, para que não deixemos dúvidas quanto à nossa capacidade)

Para findar tal guerra, far-se-ia necessário um abandono.
Dos tais valores, porque só assim poderá se chancelar à felicidade.
(pelo menos é o que deixa transparecer quando, em meio a milhões, vê-se entranhando na trincheira da guerra com armas à mão, e cansado sonha com dias de mansidão e desprezo pelo que vive nos dias de hoje) 
No julgamento diário (e último de cada vez) contra a dominância, 
que se renova e se perpetua sem-fim,
ele vê o veredicto como forma de redenção deste senso nada bom.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

VIAGEM LIX - MÃOS QUE TRAMAM

O tempo trama o tecido de tênues sentimentos, algumas vezes tortos e tímidos.
As mãos se entretêm juntas.
O tempo traz à tona a temperatura de corpos que se entrelaçaram no passado.
O tempo tem seu próprio jeito de agir;
e ele age rápido, formando tenazes em volta de cada um.

Sem podermos nos libertar tamanha a força do tempo.
Tece paralelos entre as vidas que se cruzam em algum dado momento, tinindo por novidades, sentimentos e
estapeia aqueles que estacados ficam a esperar e a choramingar.
Para estes, o tempo passa ao mesmo tempo arrastado, preguiçosamente, mas quando se vai ver,
ele já pa passou e a morte espera ali batendo à porta. 
Trancas trarão somente alguma dificuldade no tempo de a morte pegar aqueles que deixaram tomar conta.

Que triunfo é este que para se pegar o troféu tem que se morrer?
Longe de triunfal, é triste porque na trama, uma hora algum fio se esgarça por aí, 
o trunfo da vida, trancada a 14 chaves, tepidamente começa a se desfazer.
De transparência, vai-se ao turvo. 
Da calmaria, vai-se à tempestade com uma tropa de trovões
ensurdecedores. Truculento toró sobre minha cabeça.

Eu no meio disto tudo torcendo por um abrigo, por braços que me tomassem 
e me tirassem da chuva
e que, a tiracolo, trouxessem paz e alegria. Tão-somente.
Das horas em que o relógio marca, em seu infinito tique-taque, nada temeria
Diante de sua força e grandiosidade.
Tirou a tempestade de mim, tornou-se parte deste aqui. Abriguei-me em seu corpo.
Tropeços não os tive mais. E o tempo... Este passou de inimigo a amigo.

domingo, 1 de julho de 2012

CARROS MAIS VENDIDOS EM JUNHO

São duas listas dos 30 carros mais vendidos: uma do mês de junho e outra do acumulado semestre .
Houve grande aumento nos números neste último mês em razão da redução do IPI para carros, válido desde fim de maio e que deve perdurar até agosto deste ano.

1-) Lista de junho -
1
Gol 27.200
2
Uno 25.810
3
Fox¹ 17.269
4
Palio 17.174
5
Fiesta² 14.048
6
Celta 12.168
7
Sandero 10.550
8
Corsa Sd 9.496
9
Siena 9.461
10
Voyage 9.094
11
Strada 8.369
12
Ka 7.300
13
Civic 6.027
14
Cobalt 5.942
15
Corolla 5.508
16
Duster 5.150
17
March 5.106
18
S10 4.729
19
Saveiro 4.713
20
Agile 4.271
21
Montana 4.252
22
Fiesta Sd 4.203
23
Cruze 4.115
24
Fit 3.811
25
Hilux 3.581
26
Logan 3.558
27
Corsa H 3.513
28
Prisma 3.459
29
City 3.397
30
Punto 3.363




2) Lista do acumulado do ano até 30 de junho -
1
Gol 126.482
2
Uno 118.674
3
Palio 77.235
4
Fox¹ 71.054
5
Fiesta² 62.063
6
Celta 60.066
7
Strada 52.768
8
Corsa Sd 49.916
9
Sandero 44.478
10
Voyage 42.760
11
Siena 33.013
12
Cobalt 31.246
13
Saveiro 30.741
14
Agile 29.470
15
Ka 26.267
16
Corolla 26.187
17
Montana 22.758
18
Civic 21.736
19
March 21.604
20
Fiesta Sd 19.302
21
Corsa H 19.071
22
Cruze 18.987
23
Prisma 18.661
24
Duster 18.089
25
S10 17.781
26
Logan 16.669
27
Punto 15.727
28
Fit 14.929
29
Ecosport 14.607
30
Hilux 14.376

¹ - vendas do Fox e Crossfox
² - vendas do Fiesta e New Fiesta