sábado, 27 de março de 2010

VERGONHA DO FRACASSO HUMANO


INDEFESOS
0h41m de hoje.
31 anos, 1 mês e 8 dias.
26 anos e 8 meses.
Houve a condenação. Anos e anos de prisão para aquelas pessoas.
Ateiam fogo. Arrastam pelo carro. Jogam pela janela. Abandonam em lagos. Prostituem. Exploram. Violentam no "aconchego" do lar.                                                         
Será tudo isto um fracasso? Da civilização?
Ou um fracasso que se estende a cada um de nós, naquela intimidade que somente nós temos acesso?Fazemos parte desta civilização; somos partícipes e responsáveis pelo tal fracasso.
Não nos envergonhamos disto? Desta vez, condenaram. Claro que há o regime fechado de 2/4 da pena. Este é um fracasso, tão canalha quanto o que escrevi aí em cima, porque 40% é pouco.
Eu me envergonho disto. Custei a acreditar que ateiam, arrastam, jogam, abandonam, prostituem e tudo mais que tiram do saco de maldades. Eu nunca quis acreditar. Fui subjugado pelos fatos.
Houve a condenação. E eu sem motivo para comemorar porque me cheira a um fracasso sem tamanho. Serve, ao menos, para acreditar em um pouquinho de justiça feita de homens para os homens. 
É que a outra é de um sucesso que verte angélica sem ser menos ou mais já que não é manufaturada pelos homo homo sapiens.

sexta-feira, 26 de março de 2010

CONTO V

"UM ARQUIVO EM CONSTRUÇÃO"
Mais um trecho do 3º conto chamado "Um arquivo en construção".
Agradeço sempre a atenção de quem lê. Valeu mesmo.
Trata-se de um personagem endividado, com dificuldades para entender o valor do dinheiro e que é supreendido por uma revelação no final em uma viagem até Piracicaba.
"E como a cidade muda nos dias de frio. É, realmente, São Paulo combina muito mais com o inverno porque dá um clima – que clichê – mais europeu abstraindo alguns fatores. Bem lembrado, vou tomar um café na padaria da esquina bem forte e fumar um cigarro. Está frio aqui fora. Porta giratória, sem sensor, e atravesso andando de maneira daquela que de vez em quando eu forço. Nossa fazia isto quando queria aumentar minha presença é... Uma coisa mais de macho mesmo! Meio neenderthal. Que engraçado: neenderthal! Podia ser cro-magnon também. Macho para caralho também. Mas que eu acho que é de macho, eu acho! Balcão em vidro fumê e o cheiro da cafeína se espalhando pelo ar. Delícia. Rindo sozinho de novo...
Frio da pôrra! Mas tem lá suas vantagenzinhas. Nossa, a primeira é que sem dúvida diminui muito a quantidade daquele bicho do demônio! Dos infernos! Que nojo! Porque Deus, que é Deus, fez isto bicho? Ainda bem que lá no apartamento faz ano já que não tem nenhuma barata. Ódio mortal! E quando ela parada mexe aquela pôrra das antenas assim, estou rindo de novo... Quem me visse e ouvisse falando, e mexendo os dedos, ou ia pensar que usei alguma droga ou então que sou louco mesmo. Que asco! Só de imaginar que aquele inseto pode um dia andar em cima de mim acho que vou lavar com cândida de tanto nojo! E na cara então! Bichinho abjeto das profundezas! Pequenos, endemoninhados e repugnantes! Mato todas que encontro na frente! Ódio, muito ódio! Bicho da escuridão! Sem falar que feio que dói. Pára de falar em voz alta! Pára de rir sozinho...
É, acho que vou ter que pedir dinheiro para o Antônio e com prazo de recebimento para daqui bem longe. Mesmo porque as despesas que eu vou ter no fim do ano para eu fazer minha viagem e me adiantar já está separado e destinado. Porque será gasto, sem chances.
Até que está vazio pelo horário, final de tarde. Deve ser a garoa. Ou melhor, agora é chuva mesmo. E não posso esquecer deste detalhe. A chuva cai grossa espalhando como a cafeína muita coisa lá fora. Problemas vários e soluções algumas. Lembrei! Antes, preciso comprar uma mídia, para queimar muito. Dinheiro. Se cada pingo de chuva, aqui, na calçada da padaria, fosse um real. Pôrra, eu ia catar muito dinheiro e resolver meu problema já porque está foda! Não queria ter que pedir dinheiro para o Antônio. Emprestar ele vai, mas não queria. 
Porque fui fazer um negócio destes? Pedir grana a um investidor/lobista de Brasília? Onde eu estava com a cabeça? Eu sei. Pior que sei. Que idiota, eu sou o mais perfeito deles! Agora se fode mesmo vacilão! Tenho que arranjar os R$ 6 mil para ele até sexta-feira. Contando que eu não arrumei nada ainda o negócio vai de mal a pior."

domingo, 21 de março de 2010

MEGACIDADES: RICOS 5 X 18 POBRES


10 MILHÕES ACIMA: FORMIGUEIROS
O processo de urbanização no planeta Terra – tão maltratado pelos terráqueos – recrudesceu muito neste último século de grandes descobertas tecnológicas na área da medicina e na área bélica. Claro, nem poderia ser diferente: o homem sempre quer ganhar, mandar, esmagar, humilhar, explorar seus convivas de espaço nas vizinhanças.

Em razão destas melhoras tecnológicas, ainda que não disponível para todos, houve um ganho na expectativa de vida em vários países, Brasil incluso, um deslocamento em massa do campo para as cidades causando um intumescimento (inchaço) dos centros urbanos. Esta migração campo/cidade apresentou outras razões: desenvolvimento industrial primeiro, e agora de bens e serviços. E não podemos nos olvidar que muitos camponeses foram massacrados por ditadores de esquerda e de direita, além de coletivizações forçadas, latifúndio, expropriação, desastre naturais – alguns induzidos pelo homem –, enfim, os motivos para o aumento dos centros urbanos foram acentuados de 1950 para cá.
Os países mais pobres são ainda os que apresentam maior crescimento nas taxas de fertilidade, assim como na migração citada supra. Estamos chegando já a 50% da população estimada em 6,8 bilhões morando nas cidades; cifra que não é maior em razão de China e Índia serão os mais habitados, com 1,34 e 1,12 bilhão, possuírem ainda mais gente vivendo no campo. No Brasil, o índice de “urbanidade” já ultrapassou a casa dos 80%.
Analisando dados sobre as megacidades – que em meu critério significa aglomerações urbanas com mais de 10 milhões de habitantes – vemos que até 1950, no mundo Ocidental, apenas a cidade de Nova York se aproximava da marca. Pode até ser que na China houvesse alguma perto da cifra também, mas as estatísticas disponíveis não são confiáveis.

Prestem atenção que neste seletíssimo rol de mega cidades pequena parte está entrincheirada no chamado mundo desenvolvido que é formado por Estados Unidos, Canadá, Europa Ocidental, Japão, mais Austrália e Nova Zelândia. A outra parte fincou chão no que se costumava chamar desde os anos 1960 de mundo subdesenvolvido; depois alcunharam para alguns destes o termo “em desenvolvimento”.
Na lista aparecem, do lado dos ricos, Nova York e Los Angeles nos Estados Unidos, Paris na França e já do outro lado do mundo da riqueza e da opulência, Tóquio no Japão e Seul na Coréia do Sul. Esta última é a caçula da lista: obteve vaga no clube burguês há pouco tempo. Cinco apenas! Alguém pode se recordar de Chicago que ficou de fora porque segundo o IBGE local, a cidade quase chega nos 10 milhões e de Londres que se situa em torno de 8 a 9.
Quanto ao lado pobre (tudo bem, há os que moram em favelas, os que moram em cortiços e os que moram em um apartamento de até dois dormitórios, como o Brasil) a lista é bitela. Começando por aqui temos São Paulo e Rio de Janeiro, mais Buenos Aires e Cidade do México. Lima e Bogotá sem demora adentrarão ao clube.
Vale ressaltar que Moscou (Rússia) poderia e em um passado próximo estar no primeiro time. Não é o caso agora devido a razões econômicas que a puseram no segundo time (sim, há uma diferença à capital russa), ainda que o ‘apartamento’ onde more seja mais cuidado. Istambul (Turquia) cresceu com vigor e caminha para se tornar a maior cidade europeia, mesmo que uma parte dela esteja situada na Ásia.
Na África temos Lagos (Nigéria) e o Cairo (Egito) com números que as permitiram recentemente figurar na lista.

E vem pesado agora, por fim, as megacidades na Ásia. Xangai, Pequim e as duas Guangzhou/Foshan na China, Nova Délhi, Mumbai (ex Bombaim) e Calcutá na Índia, Daca em Bangladesh, Jacarta na Indonésia, Karachi no Paquistão, e por fim Manila, na única nação católica e ponto mais “ocidental da América Latina”, nas Filipinas.
Para checar os números exatos passo links logo abaixo.
Eu até ia explicitá-los, mas aí pensei que o texto ficaria cheio deles o que o tornaria possivelmente um porre para ler. Para ciência de todos Tóquio e Yokohama formam a maior megalópole do mundo: mais de 35 milhões de habitantes
O placar ficou então em Ricos 5 x 18 Pobres.
(há estatísticas que colocam Osaca no Japão e Londres como megacidades)

sexta-feira, 19 de março de 2010

TODA FORMA DE AMAR VALE À PENA

O AMOR SEMPRE É DIVINO
Algumas perguntas sobre o maior sentimento que um homem (espécie homo homo sapiens) pode sentir por um semelhante. Aquele mesmo que nos aproxima daquilo que cada uma acredita ser Deus.
Deixo claro que falo do amor verdadeiro sem interesses financeiros e reciprocamente igual que faz de duas pessoas melhores para a vida.
Vale mesmo toda forma de amor?
Vale, toda e qualquer.
Qual a melhor forma de amar uma outra pessoa?
Livrá-la das amarras que nos tornam tão mesquinhos. Se você ama alguém o deixe livre.
Ouvia aquela música do Milton “Paula e Bebeto” que a maioria das pessoas como eu há até um tempo atrás conhecia não pelo nome, mas pelos versos iniciais:
“Qualquer maneira de amor vale à pena...
Qualquer maneira de amor valerá”
E não é verdade?
Óbvio que a sociedade humana dos quatro cantos do mundo (que é redondo e não tem canto algum...) vocifera conceitos, amarras e preconceitos contra toda e qualquer forma de amor com o intuito de fazer com que cada um se coloque em seu lugar pré-estabelecido. Que lugar é este, pergunto eu? Soa como mais uma forma de dominância que os homens insistem em realizar para conseguir e/ou permanecer no poder, seja lá qual for.
Então, um amor que una a prostituta e o cliente apaixonados além, muito além, do dinheiro é criticado porque não pode. Não pode porque? A senhora já de idade com um rapaz mais novo também não pode porque pegar mal para ela. Pegar mal porque?
Um negro e uma branca? Também não pode, afinal ele é um “safado”. E uma negra com um branco? Bem, ela deveria se colocar no “lugar dela”.
Uma rica e culta empresária e um pobre mecânico de 2° grau são mal vistos. “Ele é burro como uma porta e não se comporta bem socialmente! Ela é muito fina para ele”. Quem determinou que fineza é maior que o “amor maior”.
O DJ que trabalha à noite ‘eletronicamente’ e namorada que gosta de pagode também não pode porque haverá pessoas que dirão “ah, isto não vai dar certo. Eles são tão diferentes”. Então, porque os outros acham que você vai dar com os burros n’água você nem tenta.
E a forma de amor que é homoafetiva? Bem, esta é “absurda” aos olhos de grande parte da sociedade porque “atenta” contra a moral e os bons costumes e porque a Bíblia/Corão/Tora dizem isto e aquilo.
E o que Deus diria?
Creio que obtivemos permissão divina para “aparecer” no mundo (aquela história de Adão e Eva... Difícil) e dotados, cada um dos sete bilhões de habitantes, de amar outra pessoa. E ninguém mais a não ser Ele dirá o que é certo e o que é errado. Tenho certo para mim que um homem e uma mulher podem se amar valendo toda forma, assim como duas mulheres e dois homens também. Se há amor verdadeiro e livre, se há respeito mútuo e o que é o sentimento-chave para mim: se há cumplicidade, Deus está ali. Porque amar é ter um tantinho de Deus em seu coração e creio que Ele não faz distinção entre um amor negro ou branco, entre um amor heterossexual ou homossexual, entre um amor velho e um novo, entre um culto e outro inculto.
Sinto-me imensamente feliz por crer que, a Deus, somos todos iguais naquilo que é o pior e o melhor do homem; e quando chegar a sua hora, a minha, a hora de todos, então teremos que nos haver com Ele, que abrirá o caderninho e examinará os nossos feitos aqui na Terra. Quem tiver amado verdadeiramente sua (seu) parceira (o) terá mais chance.
O que você acha?

domingo, 14 de março de 2010

TRIO DE FERRO DO SUDESTE

SP, RJ E MG = 54% DO PIB
No Brasil as maiores populações nas unidades federativas também correspondem às maiores economias. E isto é sabido há muito tempo. Como está escrito no título, os estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais detêm 54,14% do produto interno bruto (PIB) do Brasil: arredondando 33,9%, 11,1% e 9,1% respectivamente. Se acrescentarmos o estado do Espírito Santo, o quarto integrante da Região Sudeste, chegaremos ao total de 56,41% de um total de R$ 2,66 trilhões. Para corroborar, o Sudeste é também a região com mais habitantes (42% de um total de 190 milhões de brasileiros).
Dando uma rápida olhada, vemos os números calculados para 2007 dos 6 primeiros, tudo em bilhões de reais:
SP – 902,78
RJ – 296,77
MG – 241,29
RS – 176,62
PR – 161,58
BA – 109,65
A seguir vem o estado de Santa Catarina, o Distrito Federal – vale ressaltar que é a UF com maior renda per capita – Goiás e Pernambuco.
Vê-se que ainda a riqueza é concentrada no chamado Centro-Sul, região geoeconômica que abrange o Sul, o Sudeste mais os estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, região sul de Mato Grosso e Brasília.
Quando abordamos o PIB dos 5.565 municípios que compõem o Brasil não nenhuma novidade. Apenas a cidade de São Paulo detém com seus R$ 320 bilhões cerca de 12% do total do Brasil, valor superado tão-somente pelo estado de São Paulo. Os números impressionam a qualquer brasileiro com o mínimo de brasilidade. E falando neste sentimento um tanto acachapado por outras questões menores, a cidade de São Paulo, por esta e várias, e diversas e outras razões é sim a cidade síntese deste que é o gigante sul-americano, mesmo que detratores de distintas plagas no Brasil afirmem que não é. Aqui em São Paulo existem todos os “Brasis” e onde, em meu parco entendimento, o regionalismo menos se sobrepõe; afinal quem almeja e luta para ser uma metrópole mundial não pode, não deve ser ensimesmada em seu umbigo olhando para o mundo como fazedora de parte dele abrindo-se a ele.
Aqui uma pequena lista dos 10 maiores municípios em bi de reais do Brasil:
São Paulo – 319,99
Rio de Janeiro – 139,56
Brasília – 99,95
Belo Horizonte – 38,21
Curitiba – 37,79
Manaus – 34,40
Porto Alegre – 33,43
Duque de Caxias (RJ) – 28,14
Guarulhos (SP) – 27,45
Campinas (SP) – 27,16
Logo após seguem na lista Salvador, São Bernardo do Campo (SP), Barueri (SP), Osasco (SP), Fortaleza, Betim (MG), Campos dos Goitacazes (RJ), Recife, Santos (SP) e Vitória. Na lista dos 100 maiores, o estado de São Paulo emplaca 33 muncípios (Piracicaba ocupa o 47º lugar com R$ 7,795 bilhões de reais, a frente de várias capitais).
Aqui abaixo deixo um link completo de todo o Brasil, desde o Oiapoque ao Chuí.

sexta-feira, 12 de março de 2010

CONTOS IV

"REVERSÃO À LUZ DO DIA"

Mercado editorial no Brasil é foda. Para um país em que a maioria dos 192 milhões de habitantes leem apenas 1,2 livro por ano e que tem tiragem de jornais chegando nem a 6 milhões de exemplares/dia vê-se então quão foda é publicar algo nestas plagas. Aos escritores amadores como eu resta a world web...

Posto aqui um trecho do segundo conto que escrevi nesta nova série. Escolhi uma parte em que descrevo o cachorro do personagem, um boxer lindão de morrer, e a casa do dito. O conto para quem quiser saber mais é só entrar em contacto via email/ comentário que mando.

Valeu a atenção.

"O sobrado, tão comum na Aclimação, habitado por ele refletia com simplicidade seu dom às avessas em deixar objetos revirados que tomavam a casa toda: o térreo e o 1º andar. Embaixo, no quintal até que grande, sempre muito bagunçado, com um pedaço de terra, ficava seu companheiro de solidão: o Diesel, um boxer babão e adorável, todo marrom com a barriga branca, de 3 anos de idade. Altura boa e, como ele o definia, um magro sarado. O cão, que ganhara com 40 dias, latia freneticamente toda vez que ele chegava a casa, mesmo que tivesse se ausentado por pouco tempo para comprar cigarro na padaria da esquina. Rabo cortado e orelhas não cortadas caindo em sua cara conferiam um ar simpático, alegre ao Diesel, de um estar bem com a vida. O focinho bem preto, as bochechas caídas e os olhos esbugalhados evocavam alegria.

Mas safado que era (ora, que dúvida), usava esta cara doce e sem-vergonha para escapar de possíveis retaliações, como aquela vez que comeu o pé de cannabis que merecia todo o cuidado. A planta já estava com quase 1 metro de altura de um tom de verde bem bonito e característico. Quando ele chegou e foi brincar com o ser canino viu o que acontecera, olhou feio e ralhou com Diesel. Este por sua vez, todo amuado, deitou-se abanando o toco de rabo que tinha, com cara de judiação... Os olhos saltados fitando para cima. Ficar bravo? Só por alguns instantes...

Quando ele vinha todo contente ao seu encontro, rebolando daquele jeito que só boxer faz, com aquela cara doce e feliz, seu dono pensava como era bom morar junto daquele cachorro.

Perdera algumas mudas de árvores porque o Diesel as comera todas e muitas vezes durante muito tempo. Restaram depois da devastação canina uma laranjeira das bem perfumadas, que dava frutos quase o ano todo, e uma romãzeira. Na verdade, nem comia romã... Achava bonita as flores e as cores da fruta; e incomum, mesmo que tivesse um tanto de trabalho em mantê-la livre daqueles insetos pequenos. Quanto às laranjas-peras o trato era bem fácil. E saboroso. Na primavera, um casal de sabiás, em plena Aclimação, descansava nos galhos delgados do pé. Em noites de ventania conseguia ouvir o farfalhar da árvore que quase alcançava a varanda de seu grande quarto, o que ocasionava lembranças do quintal da casa onde residira quando criança; em outras, de muito calor e com o ar parado, a laranjeira exalava um odor cítrico que de tão denso sugeria até que poderia ser pego no invisível. Como nos desenhos animados de sua infância. Dormia de porta aberta nestas situações e, perto de acordar, o tal cheiro se misturava em seus sonhos. Era bom acordar assim logo pela manhã.

Chegara ao lar um tanto introspectivo sem estar triste. Pensativo. Por alguns instantes, porque o ser de 4 patas o fazia desviar atenção em qualquer coisa que fosse. À sala revirada e cheirando a cigarro acrescentou sua introspecção – Diesel ficou fora – amontoado no sofá em frente à televisão daquelas magras que permaneceu desligada."

domingo, 7 de março de 2010

HEROISMO DE BRASILEIROS

QUEM ANDA MOVENDO O BRASIL?

Quem são os verdadeiros herois de um país? De uma geração? De um ser humano?

Quem ganha R$ 1 milhão por mês ou quem sobrevive com uns R$ 500 e poucos? Aquele que engorda conta de empresários, de clubes sejam quais forem e agregam multidões em estádios e que, por vezes, são motivos de vingança contra rivais “imaginários”? São eles?

Aí eu pergunto: e a professora do interior de Sergipe lá no sertão da caatinga que tem que andar quilômetros para dar aula em uma sala de aula de pau a pique com pouca ventilação e podendo estar infestada de insetos que atormentam a existência humana...? Ou o operário que mora em São Paulo, acorda às 4h da manhã, pega trem, metrô e ônibus demorando no percurso 3h para ir mais 3h para voltar e que anda espremido como sardinha...?

Quem merece o título de herói?

Claro que é o cara do R$ 1 milhão. Afinal, ele move tanta grana e enche as burras dele e de alguns outros vários por toda a vida. É, e é assim mesmo.

Porque à professora de Sergipe move o que não é mesmo? Ora, move a mente de crianças e isto, de imediato como o capitalismo selvagem venera, não traz dinheiro algum a ninguém não é mesmo?

Porque ao operário paulistano move o que não é mesmo? Ora, move suas mãos calejadas para produzir algo que ele mesmo como grande probabilidade não poderá comprar; ele até que movimenta dinheiro que, entretanto, não reverte ao seu bolso.

Deveria causar espanto e estranheza, mesmo repulsa, mas a verdade é bem esta. Mais vale um cara entre 4 linhas de um gramado ganhando milhões por ano que milhões de professoras e operários que labutam incessantemente para mover algo que não é dinheiro.