sexta-feira, 12 de março de 2010

CONTOS IV

"REVERSÃO À LUZ DO DIA"

Mercado editorial no Brasil é foda. Para um país em que a maioria dos 192 milhões de habitantes leem apenas 1,2 livro por ano e que tem tiragem de jornais chegando nem a 6 milhões de exemplares/dia vê-se então quão foda é publicar algo nestas plagas. Aos escritores amadores como eu resta a world web...

Posto aqui um trecho do segundo conto que escrevi nesta nova série. Escolhi uma parte em que descrevo o cachorro do personagem, um boxer lindão de morrer, e a casa do dito. O conto para quem quiser saber mais é só entrar em contacto via email/ comentário que mando.

Valeu a atenção.

"O sobrado, tão comum na Aclimação, habitado por ele refletia com simplicidade seu dom às avessas em deixar objetos revirados que tomavam a casa toda: o térreo e o 1º andar. Embaixo, no quintal até que grande, sempre muito bagunçado, com um pedaço de terra, ficava seu companheiro de solidão: o Diesel, um boxer babão e adorável, todo marrom com a barriga branca, de 3 anos de idade. Altura boa e, como ele o definia, um magro sarado. O cão, que ganhara com 40 dias, latia freneticamente toda vez que ele chegava a casa, mesmo que tivesse se ausentado por pouco tempo para comprar cigarro na padaria da esquina. Rabo cortado e orelhas não cortadas caindo em sua cara conferiam um ar simpático, alegre ao Diesel, de um estar bem com a vida. O focinho bem preto, as bochechas caídas e os olhos esbugalhados evocavam alegria.

Mas safado que era (ora, que dúvida), usava esta cara doce e sem-vergonha para escapar de possíveis retaliações, como aquela vez que comeu o pé de cannabis que merecia todo o cuidado. A planta já estava com quase 1 metro de altura de um tom de verde bem bonito e característico. Quando ele chegou e foi brincar com o ser canino viu o que acontecera, olhou feio e ralhou com Diesel. Este por sua vez, todo amuado, deitou-se abanando o toco de rabo que tinha, com cara de judiação... Os olhos saltados fitando para cima. Ficar bravo? Só por alguns instantes...

Quando ele vinha todo contente ao seu encontro, rebolando daquele jeito que só boxer faz, com aquela cara doce e feliz, seu dono pensava como era bom morar junto daquele cachorro.

Perdera algumas mudas de árvores porque o Diesel as comera todas e muitas vezes durante muito tempo. Restaram depois da devastação canina uma laranjeira das bem perfumadas, que dava frutos quase o ano todo, e uma romãzeira. Na verdade, nem comia romã... Achava bonita as flores e as cores da fruta; e incomum, mesmo que tivesse um tanto de trabalho em mantê-la livre daqueles insetos pequenos. Quanto às laranjas-peras o trato era bem fácil. E saboroso. Na primavera, um casal de sabiás, em plena Aclimação, descansava nos galhos delgados do pé. Em noites de ventania conseguia ouvir o farfalhar da árvore que quase alcançava a varanda de seu grande quarto, o que ocasionava lembranças do quintal da casa onde residira quando criança; em outras, de muito calor e com o ar parado, a laranjeira exalava um odor cítrico que de tão denso sugeria até que poderia ser pego no invisível. Como nos desenhos animados de sua infância. Dormia de porta aberta nestas situações e, perto de acordar, o tal cheiro se misturava em seus sonhos. Era bom acordar assim logo pela manhã.

Chegara ao lar um tanto introspectivo sem estar triste. Pensativo. Por alguns instantes, porque o ser de 4 patas o fazia desviar atenção em qualquer coisa que fosse. À sala revirada e cheirando a cigarro acrescentou sua introspecção – Diesel ficou fora – amontoado no sofá em frente à televisão daquelas magras que permaneceu desligada."

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