sexta-feira, 31 de outubro de 2014

VIAGEM CCXII - PARA ENTRAR, PARA SEGUIR

o maior? para quem?
para mim não é...
mas não deve importar em nada
circulando em movimentos até as escadas rolantes do
metrô Anhangabaú
vigiando os passos da
frente
frenética busca
por uma vaga agora, depois,
em seu quadril
(para começar! rsrsrs)
que vai
que rebola
que me domina
e que sigo quando
como vou falar para você
sobre, neste emaranhado de gente
às 19h, sexta-feira
e você, pela tela do iphone,
ri desbragadamente,
assente com a cabeça
e eu vendo
querendo entrar no seu coração
em você
amar mais ainda - para que saiba bem - você merece e
precisa

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

06] CENÁRIO SP - MANIFESTAÇÃO DE UM HOMEM SÓ

Em meio a milhares de manifestantes que caminham descendo a rua da Consolação parando o trânsito em três faixas, gritando palavras de ordem, portando cartazes, boa parte destes de braços enganchados, alguns mascarados, outros de cara limpa, ele se junta à turma (ou turba segundo alguns detentores do poder) ali perto do cemitério. Nada de morte, só vida é o que ele sente e verte.

Ele rumava, minutos antes, para casa onde se encontraria com seu antigo amor. Encontraria-se é um tempo verbal um tanto inadequado: ele está disposto a manifestar-se em frente e esperar até que saia para poder explicar, falar, de novo falar e tentar as pazes. Tarefa hercúlea, segundo seu melhor amigo versado em mitologia grega e um conselheiro realista demais para o gosto dele.

Desce então junto aos que protestam por melhor mobilidade urbana: ele e os manifestantes estão fortes e com a cabeça quente; e unidos. Inquebrantável união mesmo sem ele conhecer ninguém. Pelo que ele viu logo que adentrou no mar de gente, deve ser um dos mais velhos, do alto de seus 35 anos! Bandeiras do movimento negro, do movimento de mulheres e claro, do movimento gay - os LGBTTs. 

Chegando à igreja da Consolação, os manifestantes irão descer até a rua Xavier de Toledo para uma - suposta - grande concentração em frente à Câmara Municipal da cidade; percebendo o movimento inconteste dos milhares, ele se depara com ele mesmo em seu pensamento: "O que estou fazendo aqui? Minha manifestação é bem outra, é de amor, de carinho e de saudade...". 

Manifestar-se-á em solidão absoluta - a sua companhia é a perseverança e a verdade. Mas continua a ser uma manifestação de um homem só.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

05] MILHARES DE LUZES DAS JANELAS

Pontilhado por elas, no espaço delas, nas janelas por onde ele olhe: as luzes das janelas nos prédios mais baixos, nos prédios mais altos. Aos milhares de pontos pela madrugada esparramados pela grande mancha urbana da metrópole-alfa do Brasil, do Hemisfério Sul. Luzes mais claras, mais fracas, aquelas azuis, aquelas fortes, algumas vermelhas.

Na janela que pode ser uma porta de correr, ele fica fumando - e já perdeu a conta de quantos fumou depois do último baseado do dia - imaginando o que se passa nos pontos iluminados dos edifícios de São Paulo; e são muitos no giro de pescoço que fez.

"Insônia e solidão? Sexo rasgado a dois? Sexo solitário? Espera por alguém? Choro e dor? Esquecimento? Televisão ligada? Preocupação? Sexo a 3, a 4...? Trabalho noturno?"

Nesta cidade que funciona tão bem à noite quanto de dia, vários motivos podem ser considerados para se manter acordado madrugada e desenvolve em sua mente uma lista de alguns deles - incluindo o próprio, já que acordado está às 3h15, sem vontade nenhuma de se deitar na outrora cama de amores que depois se tornou de dores.

Trovões vindos da Serra do Mar, ao sul da cidade, pelas bandas de Santo Amaro e o vento começa a se fazer presente, raios e relâmpagos; o céu queda-se de um vermelho enegrecido anunciando a tão esperada e desejada chuva.

"Pro mundo inteiro acordar e a gente dormir" era o que tocava na rádio do computador.

E ele acordado feito cheirador de cocaína sem cheirar uma carreira sequer, vagueia pelo apartamento com todas as janelas acesas, quase no escuro: apenas a luz da cozinha permanece acesa. Imaginando, imaginando... O que acontece pelos retângulos iluminados que seus olhos alcançam.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

04] CENÁRIO SP - MARGINAL

À margem de tudo, ou de quase tudo - nem rico nem pobre, nem intelectual nem ignorante nem branco nem negro nem católico nem ateu... Solitário na maior parte do tempo. Pelo tráfego intenso da Marginal Pinheiros em direção a um local afastado, ele, um motorista de táxi, quase na casa dos 40, divorciado, dirige sob o sol das 13h (ou seja, às 12h no horário de "inverno") para encontrar o ânimo em sua vida.

Desgastado por anos de profissão, com uma costela trincada na altura do rim esquerdo, ele ainda tem força para dirigir pela São Paulo desvairada - a mais de todas - e disposição para pegar o tal caminho e encontrar em meio à miríade de construções, gente, carros e quilômetros aquele bloco habitacional, aquele apartamento minúsculo, o ser que lhe proporciona alentos diários mesmo separados por grande distância.

De repente o trânsito para, temperatura de 26°C, rádio ligado em uma estação de música orquestrada com mistura eletrônica (sim, existe! Podem sintonizar no dial, lá no final), vidros abertos. À direita: um jipe importado, vidros escuros que a motorista nem aparece (depois conseguiu ver que se trata de uma mulher dirigindo), modelo 2014, com muitos acessórios e decerto o ar condicionado ligado no último; à esquerda: outro importado, mas de passeio, modelo alemão, cor prata, vidros fechados, com chofer na frente e o passageiro atrás. O carro do motorista de táxi é do ano 2008, verde escuro, quase um modelo popular.

À margem da nova ascensão social. À margem de um antigo amor. Apenas este que ainda não se tornou sem fôlego, desembestado, só um amor que ele está seguindo com toda a sua vontade; o presente embaixo do banco, envolto em um pano grosso para não deixar passar (muito) calor - caixa de chocolate. "Disse-me que é chocólatra depois que parou de fumar cigarro... Acho que vou acertar".

Ele? Nem pensar em comer um sequer que seja: perdera mais de 40 quilos com o regime especial e muito caminhada de quilômetros e quilômetros pelo Parque do Ibirapuera - seu favorito -, sem um só dia faltar. À margem de tanto amor depois de se amargar comendo doces e mais doces recluso, alguém o resgatou. 

O trânsito começa a fluir, pelo menos sua faixa, e ele acelera: pelo retrovisor o carro do bacana é assaltado por dois motoqueiros em cima de uma moto nova, modelo 2015; o garupa desce, quebra o vidro com o cabo do revólver e dá um tiro para cima. A pasta, a carteira e o lap top se vão comendo ar pelas rabeiras da marginal, voando a toda velocidade.
"Estes estão à margem de quê? Do consumo é que não; parece que eu sou mais marginal que todos eles: sozinho, carro velho, quase solteiro... Será que o marginal pela marginal Pinheiros sou eu?".

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

CAPITAIS: DE 1872 A 2010 (E 2014)

População de algumas capitais brasileiras, do primeiro recenseamento em 1872 até o último de 2010 (as 10 primeiras deste):

1872 1890 1900 1920 1940
São Paulo  31.385 64.934 239.820 579.033 1.326.261
Rio de Janeiro  274.972 522.651 811.443 1.157.873 1.764.141
Salvador 129.109 174.412 205.813 283.422 290.443
Brasilia  - - - - -
Fortaleza  42.458 40.902 48.369 78.536 180.185
Belo Horizonte  - - 13.472 55.563 211.377
Manaus 29.334 38.720 50.300 75.704 106.399
Curitiba  12.651 24.553 49.755 78.986 140.656
Recife  116.671 111.556 113.106 238.843 348.424
Porto Alegre  43.998 52.421 73.674 179.263 272.232
















1950 1960 1970 1980 1991
São Paulo  2.198.096 3.825.351 5.978.977 8.587.665 9.626.894
Rio de Janeiro  2.377.451 3.307.163 4.315.746 5.183.992 5.473.909
Salvador 417.235 655.735 1.027.142 1.531.242 2.072.058
Brasilia  - 141.742 546.015 1.203.333 1.598.415
Fortaleza  270.169 514.818 872.702 1.338.793 1.765.794
Belo Horizonte  352.724 693.328 1.255.415 1.822.221 2.017.127
Manaus 139.620 175.343 314.197 642.492 1.010.544
Curitiba  180.575 361.309 624.362 1.052.147 1.313.094
Recife  524.682 797.234 1.084.459 1.240.937 1.296.995
Porto Alegre  394.151 641.173 903.175 1.158.709 1.263.239























2000 2010 2014
São Paulo  10.405.867 11.253.503 11.895.893
Rio de Janeiro  5.851.914 6.320.446 6.453.682
Salvador 2.440.828 2.675.656 2.902.927
Brasília 2.043.169 2.570.160 2.852.372
Fortaleza  2.138.234 2.452.185 2.571.896
Belo Horizonte  2.232.747 2.375.151 2.491.109
Manaus 1.403.796 1.802.014 2.020.301
Curitiba  1.586.848 1.751.907 1.864.416
Recife  1.421.993 1.537.704 1.608.488
Porto Alegre  1.360.033 1.409.351 1.472.482


São Paulo alcançou o posto de mais populoso município em 1960, ultrapassando a ex-capital do país, o Rio de Janeiro; 
Brasília em franco crescimento vem galgando, decênio após decênio, posições no ranking;
Curitiba, em menor escala, avançou; 
Manaus avança rapidamente desde 1980;
Recife e Porto Alegre (principalmente), por outro lado, desde 1970 caem no lista;

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

03] CENÁRIO SP - COMPRAS

Muito perfume, dos mais caros; pouca roupa para o calor de outubro em São Paulo, das melhores grifes; sapatos altos, dos mais modernos; carro confortável e moderno, ar-condicionado vidros escuros, importado. Ela sempre vai assim aos passeios no shopping com o cartão de crédito ilimitado fornecido pelo marido executivo, proprietário de uma rede de restaurantes espalhada pelo Brasil. Mas nem sempre foi assim: ela viera debaixo e com a devida e merecida ascensão social propiciada por anos e anos de uma bonança econômica.

Mal havia terminada a faculdade de Letras, universidade pública, e conhecera o tal marido "zona sul jardins rico nascido bem" e foi uma paixão desembestada. Vislumbrou então a grande chance de ao mesmo tempo amar e ser amada de verdade com uma possibilidade real de melhorar de vida. Foi o que aconteceu nestes dez anos de união: tudo certo e muito amor. 

Até descobrir, no começo do ano, que o marido rico tem duas amantes, sendo uma delas em Brasília - a assessora especial. A outra mora aqui mesmo em São Paulo, na Vila Mariana - garota de programa universitária. E foi tudo ao acaso porque nunca ela desconfiara que poderia ser traída. 
"É sempre assim, você não sabe?", redarguiu a melhor amiga quando ela lhe contou que o marido a traia e emendou dizendo que é uma injustiça isto ocorrer "já que nos amamos tanto".

Ela então, recuperada depois de um tratamento de sífilis adquirida do marido, vai aos shoppings e gasta até se cansar de ficar comprando e comprando. Sem parcimônia, afinal o limite de seu cartão de crédito é ilimitado. Assim como antes ela contava o dinheiro quando saía de casa para trabalhar, hoje ela não conta nada - sem necessidade de economizar, tampouco de se frear na "esquisitice neurótica" de comprar para viver: o único que ela encontrou e que consegue amortecer tristezas.

domingo, 12 de outubro de 2014

02] CENÁRIO SP - ITINERÁRIO PELA METRÓPOLE

Mora na Zona Leste, bem ali em Guaianases, onde antigamente se falava "onde Judas perdeu as meias, porque as botas foi em Itaquera". Antes, hoje não mais. Ele nem se importa pela distância e pelo tempo, afinal disposição para ir trabalhar no Centro da cidade logo pela manhãzinha todo dia ele possui. E de sobra: alguns meses desempregado, os gêmeos que nasceram, a depressão pós-parto da esposa fizeram um  "paredão" que resiste às mais fortes ondas vindas da vida. Daquelas que te derrubam estatelando a cara no chão arenoso.

"Sempre vem as ondas, os tsunamis". Comparou - e julgou uma boa comparação - depois de ter lido no telefone celular 3G que mais um maremoto ocorrera no Sudeste Asiático, com o epicentro perto da costa leste da Malásia. Foi dos fortes e a imagem da massa de água devastando tudo pelo litoral o remeteu ao seu dia a dia. Com uma diferença: ele não se afoga. "Este mar não vai me dar um capote não!".

Com 31 anos completos semana passada sem direito a nada - bem, um bolo teve... -a não ser um beijo bem demorado da esposa que parecia estar conseguindo sair da depressão, ele quase nem comemorou pelo noite afora, debaixo dos lençóis. Ultimamente tem se cansado logo chega em casa, ali pelas 19h. Mal tem força para comer porque prefere fazer isto entre os berços dos gêmeos que a esta hora sempre estão acordados e começam a responder aos estímulos do pai: gestos, pequenos assobios, trechos de músicas, estalar de dedos e riso desmesurado.

Mais uma noite cada um virado para o lado, bunda com bunda. O cansaço da noite mascara seu pouco apetite por sexo com a esposa. A razão - e ele bem sabe disto - é que ela está muito diferente daquela mulher que conhecera dois anos atrás em um show de black music na quadra do time de futebol de salão. Claro, ele entende o processo de gravidez e a consequente alteração no corpo dela... Só que não totalmente; os quase 15 quilos adquiridos durante os meses ainda estão aqui ao lado dele denunciando a transformação ocorrida.

Tornara-se um trabalhador das mãos e os calos agora já em ambas denotam o que lhe vem acontecendo: o prazer é mesmo solitário e a fantasia deste engloba delícias que inventa: a criatividade vai longe.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

01] CENÁRIO SP - VELHARIAS

Velharias, coberto de velharias, estava a casa assobradada (um palacete, como diria Adoniran) em uma rua nada movimentada da frenética metrópole-alfa, São Paulo. Ele vivia amarfanhado por antigos amores e meio à bagunça das velharias. Vez por outra, espiava, pela veneziana da sala a rua deserta quase sempre. Meias pretas, cueca e camiseta... 

Talvez um gorro na cabeça onde as entradas já se faziam notar ainda que tímidas; e claro uma boa dose de cafeína - agora sua droga preferida. Porque sentia mais frio hoje todo agasalhado do que antes ao andar de peito nu. E meias, afinal na Terra da Garoa, velhos devem se cobrir por completo.

Nem poderia/deveria ser diferente: com mais de 60 anos, beirando os 70, viveu intensamente até a juventude tardia um passado fincado na tríade que acometia 11 entre 10: sdrr - e não foi pouco não! Quando conseguiu juntar $ e ir para Woodstock, em 1969, e para Iacanga - Festival de Águas Claras - em meados da década dos 70, fritou em todas as apresentações e fez sexo em uma época que não havia Aids e que bastava a penicilina para tratar sífilis e afins...

Hoje não. É só café mesmo - e dos fortes!
"Não tenho nada com isto nem vem falar", só para citar a música que tem ouvido quase à exaustão pelos longos corredores do grande sobrado - que sim, é no Bexiga, colado à Praça 14 Bis. Perto do Carnaval o pedaço ali ferve de samba e negros e negras e brancos e gringos tentando assemelharem-se minimamente que seja com o gingado dos brasileiros.
Mas ele não tem nada com isto - e logicamente que ele nem se daria ao trabalho de explicar para quem quer que fosse.


Pela sacada do andar de cima, ele toma um bourbon americano, de milho, seu preferido, e percebe a vida passar pela manhã de hoje toda distorcida, fantasiosa, vendo todas as pessoas nuas que passam pela rua de pouco movimento; lembra-se das orgias que participou nos festivais e nos becos das bocas do lixo que existiam na São Paulo anos e anos atrás. Tira sua cueca e fica nu sentado em uma confortável cadeira. Mais uma dose e é claro que ele é assim: vontade de sair pelado pela rua, ereto com vigor.

"Se pelo menos eu tivesse uns 40 anos menos, ou 30 anos... Talvez 20 já ajudassem nesta coisa toda. Eu deveria ter feito antes". As pessoas continuam passando peladas e agora acenam para ele descer e se mostrar. A garrafa continua sendo consumida até ele resolver se deitar no chão limpíssimo da sacada. Dorme do jeito que estava antes.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

VIAGEM CCXI - AINDA OS ERROS

errado
(o mesmo erro)
erro
(de novo errei)
erratum
(seria apenas um?)
errata
(não, claro que não: há vários)
errôneo
(caminho tortuoso este que escolhi)
errático
(feito um peripatético andante descontrolado)
e nada de imputar aos outros - quaisquer que sejam -, ou à vida - esta 
doce/amarga vida - que
tanto ajuda
atrapalha no andar de cada dis
mais erros
mas são dos mesmos erros comentidos
desde algum tempo
e porque não tento os novos?
deve haver muitos deles para serem encontrados e agarrados
e finalmente, cometidos;
por precaução, por medo (ou por coragem?) é melhor viver com eles
com alguns deles - os tais antigos
melhor os antigos, velhos - antiquíssimos conhecidos -, repeti-los à exuastão
porque o tratamento é conhecido...
ou um novo: desconhecido, temerário e que sabe-se lá como serão tratados?
(raiva pelo mesmo ou medo pelo novo?)