segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

VIAGEM XXXI - AS HORAS DE ESPERA

Reprodução
Fluindo em uma miríade de artérias de asfalto e piche durante o verão plúmbeo da grande urbe brasileira nestes confins de Novo Continente, os carros se amontoam no fim da tarde.
Rádio ligado quase inaudível para não distrair e ao mesmo tempo povoar o semi-novo sedã de velho.
Que horas? Sempre no horário de saída da maioria dos paulistanos em busca de casa depois do dia transitando entre a felicidade e a preocupação: por volta das 18h, que poderia ser estendida até mais tarde.
Bastava, às horas, que ele não se empalidecesse com lembranças que não arredam de seu cérebro toda vez que ele se levanta. Não, em sonho não, porque se esquece de tudo do que sonha e isto já vem de anos, e não de horas.
Grande quantidade de carros prateados, cinzas e pretos. 
--- Vermelho que é bom, são poucos mesmo.

Mais uma espera de horas será este entardecer?
Isto só deve apressar o trabalho 'sujo' que nenhum anti-heroi ainda teve a coragem voraz de empreender.
Ele não, sempre mantivera a coragem.
Vinha de tempos em tempos mudando de horário ao realizar sua lição de casa (que na verdade é mais uma lição de rua), o que não significa que não tenha preferência por matar horas e horas esperando. 
Observando o ziguezague esbaforido da maioria em ir para lá e para cá.
Incindindo sobre o capô do sedã (aquele... de velho...), os raios do dono da vida no planeta, vê-se que ele esmorece a cada minuto em que a noite reclama a primazia.
--- Agora é a hora de verter o anti-heroismo e quem sabe melhorar um pouco a civilização.
Depois das 19h, parará o carro e carreará toda sua perspicaz mente em atingir um alvo, na hora certeira.
Que pode ser qualquer uma, pode ser agora. E pode ser até o fim.

domingo, 22 de janeiro de 2012

31 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - O MAIS DO MESMO

Reprodução
É tudo tão igual, tão igual pelo o que os outros querem, pelo que demandam e mandam.
Pior são aqueles que vociferam contra a mão pesada da máquina do sistema e em seu mundinho reproduzem exatamente, com perfeição estética (é claro!!!) cirúrgica, os tais mecanismos do sistema. Estes são os mais afetados e ainda se contentam com as migalhas caídas da grande mesa dos humanos-alfa. 
Para ele, os tais grupinhos que sofrem tanto com o sistema mas que, oportunamente, repetem-no amiúde, são os mais patéticos de se ver, de se conviver. Ele os tem bem elencados em sua cabeça.
Fato que ele sempre pensava enquanto caminhava para o trabalho e quando da volta, após um longo dia de experimentar visões dos tais mecanismos reproduzirem-se em escala industrial do globalizado mundo da informática.
Bem, ele não comunga dos mecanismos, mesmo que vivesse regido por eles.

--- Eu me sinto como um violino dissonante da grande orquestra hipócrita montada pelos dominantes de qualquer área de qualquer viés neste mundo. Toco aqui, tenho que me apresentar aqui, devo satisfações e minha responsabilidade é tocar bem, é tocar sempre e melhor que seja calado; entretanto, eu, dentro de mim, do meu castelo feito de microvilosidades cerebrais várias, eu discordo frontalmente.

Tudo se repete. Ele não acha que seja ruim haver repetições - "os dias também são feitos de rotina, ora" -, o ruim é notar o vezo comum à grande parte da sociedade: reproduzir tudo como lhe foi passado. Sem questionar as inadequações dos que se sentem inadequados, apenas reproduzem... Reproduzem como moscas a voar a carcaça podre depositando seus ovos  no melhor lugar: carne de graça e tudo manter-se-á igualito. 
Dormira - como acontecia muito - no chão da sala com o príncipe e o conselheiro-mor e tutor ao lado; todos os três enrolados um no outro. A noite passou em um raio e logo pela manhã, abriu os olhos e viu o dia começando. 
Tudo será como antes já foi. Tudo do que foi será do jeito que já foi um dia, usando de uma licença poética foi a derradeira música antes de embarcar rumo ao inconsciente do sono.
No silêncio absoluto, ouvia-se a respiração dos habitantes do castelo da cidadela intransponível. A manhã adentrava pelo horizonte espalhando os raios do rei.
Murmurou olhando pela fresta à sacada, alternando com o teto, que hoje o violino será mais perfeito do que nunca, os acordes serão límpidos, afinados e obedientes. 
O que ele tem dentro dele... Mecanismo algum sobrepujará. É a grande arma, a grande armadilha, o grande artefado que ele dispõe contra o mais do mesmo.

sábado, 21 de janeiro de 2012

30 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - RAIOS DO REI

Reprodução, tempestade solar
Depois do grande susto, em razão de meter o nariz em tudo e querer provar este tudo, Rex, o príncipe da casa, fez de sua cama o lugar de repouso pelo dia restante. Houve sossego naquele fim de semana. Felino então, pôde recuperar o terreno perdido no coração do rei do castelo e voltou a ocupar seu lugar.
Então puseram-se a fazer o que mais sabiam fazer juntos: deitaram-se no início da tarde de um verão outonal, ambos acarinhando-se, com longas espreguiçadas e ronronares de tranquilidade.
Enquanto olhava o mesmo ponto fixo no teto - sem desenhar rios pelas ranhuras desta vez - manietava em sua mente como impedir que a tentação de voltar a se misturar àqueles sentimentos que tanto lhe causaram dor e aflição voltasse e tomasse conta dele. Ele sucumbiria como da outra vez; como um navio adernando inexoravelmente encalhado em algum bloco de gelo perdido pelo Atlântico Sul.
Recuperou-se de forma didática, pode-se dizer. Levantou quase em seguida depois deste grande tombo e hoje, as lembranças se não pálidas, ele consegue escolher quando e onde recordá-las. 
Olhos fitos vasculhando agora todo o campo de visão possível Felino, o patriarca do castelo, vencido pelo sono, permanecia estirado sob seu peito. Pêlos que se misturavam: certo que os do gato eram laranjas em dois tons, enquanto os dele em dois tons de castanho: claro e um quase ruço.

--- Hoje eu estou bem assim, sou feliz assim. Parece que as pessoas têm que estar junto de outra, junto mesmo, para que possam ter momentos de felicidade, ou experimentar estes momentos, melhor dizendo. Porque pensam assim? Eu não sou um cara amargurado não, por ter cambiado, por ter rompido com tais sensações. Sei disto. E se todos os outros não sabem... O que fazer não é mesmo? Mudar para que? Eu tenho $, posso comprar uma companhia por horas, por dias até... Sexo eu faço quando quero, mecanicamente ou não, me entregando ou não e amor... Amor é sorte e passa ao largo da torre mais alta do meu coração. Tanto já foi falado né? Arguido... Redarguido né? Sobre este amor... Desde que a humanidade se entende por gente. E quando será mesmo que ela se entendeu por gente? Acho que nem faz tanto tempo assim.

Quando começava a pensar - a lembrar daqueles momentos - vinha-lhe, incontinênti, as noite insones - poucas - mas de uma devastação tsunâmica. Andando de uma parede a outra da inexpugnável cidadela. Em seguida, recuperou-se. "Porque chorar é para os babacas que insistem em crer em tudo o que os "alguens especiais" dizem durante momentos de verter verdade tão-somente. E eles vertem verdade... Sério?", murmurou olhando para o gato que mal conseguia levantar a pálpebra.
O aspecto taciturno de seu semblante contrastava com as ideias que ele levava consigo: não possuía o tal mal-humor, segundo alguns atávico, "destinado" aos solitários encastelados em suas fortalezas na grande urbe desvairada do hemisfério sul.
O céu nublado não quedava-se celeste há alguns dias, percebeu pela festa da porta que saiá à sacada. O sol ainda não havia recuperado sua primazia aqui no trópico de Capricórnio e os dias de chumbo venciam a batalha. Por hora. Porque o astro Rei vai expor suas feridas, sua raiva e sua invencível vontade de vencer. Espalhar energia por aí, por todos que quiserem manter a recuperação.
Uma tempestade  de raios solares para mandar embora o cinza... Pensou, logo antes de dormir, que deveria ser bom morar em Mercúrio e assistir o espetáculo da estrela vermelha.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

VIAGEM XXX - MADRUGADA, ÀS 2H

Reprodução
São 2 horas da madrugada de uma dia assim, e... Bem, ele 'procura' um  entre vários rostos, entre vários corpos, assim perscrutando, inalando um cheiro de animal a farejar o ar; ou alguém de terno velho; mas não até agora nada, sequer um ele vê nas voltas que faz por São Paulo; seu horário preferido é qualquer um, ou melhor, o horário em que estivesse como está agora: atento, dirigindo, olhos fitos em tudo o que é possível.
Lembra que semana passada usou um terno preto, assim, assado?
Arrisca e canta até alguns versos das músicas que tocam na rádio. Preferia, ressaltando, ao cd/dvd/iphone. Verdade, o semi-novo sedã de velho, tem entrada para várias mídias - umas que ele nem usa -, mas gosta mesmo é de ouvir rádio. E mudando a estação, passa uma, e mudando, passa outra, e mudando. Até ouvir esta que não escutava há tempos. 
E desde pequeno vindo lá do interior, tivera contato com o rádio. De manhã, antes de ir à escola, por exemplo. Gostava das músicas e foi conhecendo cada vez mais.
Grandes distâncias só para percorrer o que ele dizia ser a melhor cidade do mundo para executar o serviço; vivera em algumas outras grandes, algumas mais ricas até. 

--- Mas com esta aqui nenhuma se compara às 2h da madrugada. Los Angeles, toda ensolarada, fez a diferença, verdade. Buenos Aires, naquele inverno que nevou depois de anos foi bem interessante também. Pelo tempo que passei lá, considero producente os anos que estive passeando a trabalho. É que São Paulo eu conheço melhor e tenho mais saber dos ardis dos brasileiros.Todos se merecem aqui. Merecem-se todos quaisquer cidades.

Passeia pela zona norte, local que pouco frequenta de dia, ao contrário do centro da cidade e começo de zona sul onde passa os dias úteis cumprindo as funções determinadas. Vem de família, de décadas atrás.
Ao lado do metrô, em Santana, ele encosta perto de um restaurante - ou... "Pelo nome deve ser uma cantina" - grande e ainda cheia, barulhenta, com bandeiras; carros à porta. O cheiro de massa misturado ao molho vermelho menearam em sua cabeça como nos desenhos animados.Movimento demais.
Fica pouco tempo, apenas o suficiente para reprogramar o GPS e descer para comprar uma água gelada. Uma poça em frente ao bar ao lado e pronto: o pé molhado no tênis alto e hoje, porque ele nem se atentou, veste uma bermuda meio folgada, azul. Canela cabeluda toda molhada.
Dentro de novo. Rádio e a velha busca por músicas. 
Vira à esquerda em uma rua de quarteirão extenso, com galpões e fábricas em ambos os lados; algumas árvores e a luz esmaecida os postes clareiam meia-boca o lugar. Uma pequena cabine na frente de um "comércio de atacados XYZ LTDA", uma pessoa. Pela garagem um carro importado, motorista e o ocupante traseiro que parecia já em certa idade de morrer de um enfarto? AVC? Parada cardiorrespiratória (difícil de providenciar, todas requerem tempo e tempo não há para ele)?
Assim, de uma hora para outra.
Ele nem viu a cor do velho.

domingo, 15 de janeiro de 2012

VIAGEM XXIX - RAPTOR

Raptores, lá do período... Do inferno! 
Ele não tem certeza de quando. Sabe, porém, de uma coisa: que aqui existem muitos destes que roubam o sossego de qualquer um que, em desaviso, passe perto deles (e todos passam, mais perto do que supõem). Rima com caçadores de tudo que vive neste chão do universo.
Um assalto, um bote, uma morte seguida de uma outra vida que se refestela, entre o sangue que se vê na gengiva de dentes protuberantes. Aqueles olhos grandes, de elípticas pupilas dilatadas que parecem as de um cocainômano 'feliz' - idiotas que alegram raptores bem específicos.
Risível para ele.
 Atuam em grupo, espreitam, completam táticas de morte.

"Isto tudo acontecia lá trás, ou acontece ainda hoje? Devem ser mais uma parte da praga do planeta que infesta este lugar de terra e de água. Sobrou o ar, livre destas bestas-feras. Mas eu não posso voar. Então... Então tenho que matar um por um até quando eu conseguir. Cacete, tarefa esta para o Hércules. Aliás, ele bem que poderia, melhor, deveria estar aqui comigo para vencer estes - quase - invencíveis raptores da paz de todo dia".
Sossegadamente, descansa em seu semi-novo sedã de velho um pouco emborcado que parecia à esquerda, vendo a gente que vai e volta, que vai e para.Cinzeiro cheio e metade de um chocolate no banco do passageiro no qual nunca passou ninguém.
Rumina como fará para matar toda a praga de raptores que infesta a grande urbe. A ninguém fazer nada, a cidade deve perecer tão logo eles comecem o butim.
Na noite de garoa na terra desvairada, ele permanece no carro esquadrinhando o quarteirão que cerca as saídas do metrô perto da avenida Paulista. Em seu pc de mão, ele, absorto, fervilha ideias de remar contra esta maré que impõe regras. E quem não se adequar a elas... O fim é o mesmo para todos. 
"Favorece os raptores estas regras, e eles nem se dão conta. Idiotas mesmo!"
Derrete o último pedaço de chocalate ao leite na boca. Gostasamente delicia-se e por um átimo esquece da hercúlea tarefa que se impôs desde há muito. Mastigar algo assim, bem diferente do que os raptores mastigam, recarrega todo o seu corpo; é mesmo um prazer. 
Ruidosamente engata a primeira arranhando. Hoje à noite a estes raptores, a paz lhes será roubada.

sábado, 14 de janeiro de 2012

29 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - TETO DE MADEIRA

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Passara a noite procurando um veterinário para o Rex que não parava de vomitar durante a madrugada. Supos que ele deveria ter comido algo ou comido a refeição do Felino. Custou mas achou uma clínica 24 horas quase do outro lado da cidade. Até chegar lá, sentiu-se desamparado em sua busca em meio à cidade. 
Teve uma começo de vertigem ao olhar para fora do carro e ver os altos edifícios debruçados sobre São Paulo, um tentando ser mais alto que o outro. Deve ser a tal febre vinda de Dubai, anuiu para si mesmo.
Pela manhã, logo ao primeiro raiar iluminando a grande urbe ainda aguardava na sala de espera iluminada como deveria ser, por notícias de seu filhote peludo de 4 patas.
Havia ingerido o próprio brinquedo de borracha resistente, segundo constatou o veterinário, tão abnegado ele creu, pelo adiantado da hora em explicar com detalhes. Suas olheiras eram visíveis a olho nu

--- Fiz um procedimento simples, ele respondeu bem e acabou vomitando este pequeno osso de plástico, meio mastigado. Agora está dopado e dentro de uns 10-15 minutos já pode descansar em casa. Ele está acordando. Venha ver, ele vai gostar de saber que está por perto.

A clínica, uma velha casa como as casas do interior: pé direito alto, chão de madeira assolhada, contornos rebuscados nos cantos e a data de construção em cima do batente da porta de entrada. Tudo tão familiar, tão pueril e a recordação de seus anos de quase felicidade saltaram aos olhos.
Enquanto esperava - minutos antes - achou que a casa do veterinário - sim, o estabelecimento era sua casa também, no segundo andar - deveria ser do tipo que abrigava um quintal todo de grama, com árvores frutíferas, um balanço, o vento e amigos por todo o espaço.
Notou que, como todas as construções antigas, esta tinha um pé direito alto, mais de 3 metros, nada usual nos dias de hoje. 

--- Acho que o espaço não permite mais construir casas assim. Será que é uma pura herança portuguesa? Do tempo do império dual, da vinda de Dom João VI? Mas daqui de onte estou, no terraço, não dá para saber como é lá trás. Bem que eu estou com vontade de ir. Devo conter-me. Nunca vim aqui e já quero esquadrinhar o local. isto parece coisa de militar!

Andou mais alguns minutos. Olhava para o teto de madeiras dispostas transversalmente. Sentou na espreguiçadeira de ferro do terraço e relaxou observando o início da manhã com os seus já barulhos característicos se pronunciando.
Recostou a cabeça e quando preparava-se para cochilar, ouviu um "arremedo de latido" do Rex.
No colo do médico de bicho, ele ainda arfava e apresentava um olhar de judiação; bem comum quando fazia artes e era descoberto no pulo.

--- Ele está bem agora. Devemos ir com calma durante o fim de semana todo. Segunda-feira de manhã você o traz aqui de volta para que eu o reexamine, ok? Mas ele é forte, demorou para pegar a anestesia nele. Bem, aqui estão estes remédios; as pílulas a cada 12 horas e este aqui 3 vezes ao dia antes das refeições. São antibióticos, porque ele pode ter contraído alguma infecção quando ele engoliu o objeto. A tampa pode ter cortado a parede interna do estômago, está gasta e toda serrilhada... Então, vamos nos prevenir.

Ele agradeceu todo o cuidado; e ainda comentou acerca da casa que o remetera à infância lá pelas barrancas do rio Tietê onde havia morado até a adolescência. Verdade que só tinha esta lembrança como sendo boa, porque todas as pessoas daquela cidadezinha esquecida por Deus, ele detestava a todas; família inclusa. "Pena que eu não esqueci", murmurava para ele mesmo de quando em vez.
Chegou em casa foi só mimos com o cãozinho. Felino sempre sabichão como o grande bichano que tornara-se, miou exigindo atenção tambpem, ou pelo menos que a atenção demandada fosse dividida.
Aconchegaram-se ambos no chão da sala, deitados todos juntos. Rex estava mais calmo e adormeceu em seguida. Felino... Bem, este nem precisa dizer: é da família dos felinos, eles dormem até 16 horas por dia, e que, mesmo sendo um "gatorro", no quesito sono representava bem os gatos.
Deixou a fresta de costume e o vento batia de leve neles todos.
Dormiu como se tivesse havido um intervalo apenas entre o recostar da espreguiçadeira do velho terraço da verlha casa e o deitar de agora. Olhou para o teto apercebendo-se que este seu castelo quedou-se fora dos parâmetros de pé direito de sua infância. 

--- Fora! O que foi legal lá no seu médico Rex... A casa, claro. E a atenção dele, o cara é paciente mesmo para explicar. Conversamos mais do que converso fora do meu trabalho com nenhum outro ser. Ele deve ser do tipo falante mesmo, também com todas aquelas fotos de seus filhos e da esposa logo na entrada e em sua mesa... Deve ser do tipo que fala mesmo. 

Fixo os olhos no ponto do teto estabelece círculos imaginários e acaba por desenhar rios que correm pelas ranhuras dele. Um território em que ele tinha o domínio total, reinando em absoluto: seu castelo.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

VIAGEM XXVIII - DORMENTES

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Carro empoeirado por fora e por dentro, manchado de marcas de dedos e de outras partes do corpo por todo o painel.
Terra vermelha, daquelas do interior em que ele voltava para casa todo sujo, vergastado pelas brincadeiras de rolar no chão de criança.
Passeando pela estrada de terra no fim da tarde, em uma tarde qualquer de uma dia qualquer de um homem qualquer; andando com tranquilidade de um investidor nestes tempos de finanças quebradas - as dos outros, óbvio -, navega pelo espaço terra devagar observando os últimos raios do sol incidindo em árvores, em pedras e logo mais ali para baixo, no pequeno rio que serpenteia feito cobra constritora.
Minutos atrás, esta andança no pó vermnelho seria de carro na totalidade. Constatou porém, que logo que o rio se afasta da estrada, há uma linha férrea antiga e desativada em um país que não gosta de trens, menos ainda daquelas estradas de ferro que não dão lucro.
"Sempre o lucro claro. Porque gastar menos se se pode gastar rios caudalosos de dinheiros com asfalto, piche... Diesel de caminhões? Falando assim até parece que eu não gosto de $. Eu gosto, mas não o $ dos outros. Aprendi que gostar do $ dos outros é espeto!".

Ainda o sol incidia sobre o chão. Para onde esta estrada levaria? Levou tanta gente, de alegres aos tristes, de homens às mulheres. Nem se quedou a ficar com tais pensamentos, sobreviria um passado. Desceu do carro pisando na terra vermelha, um cigarro transparente nas mãos, respiração presa. Descalço, pôde sentir o chão morno na sola e o pó manchando até suas unhas.
Anda nem dez metros e ele pode ver com clareza a ferrovia, que de reta naquele trecho, se perdia cada vez que ele olha para ela, à esquerda e à direita. Os barulhos do verão começam a se fazer ao entardecer - grilos, cigarras e um apito de uma fábrica distante -, menos a estrada férrea: silenciosa.
Ele também, exceto a inspiração e expiração no cigarrinho manualmente confeccionado, tão companheiro ultimamente.
Sentou em um dos dormentes e ficou não sabe quanto tempo. Deu tempo de a noite chegar e invadir tudo, mas antes disto, ele se pôs ali sem ansiedade, sem pressa. 
Vê as longas e densas baforadas. Cutuca o dormente vizinho ao seu com a unha arrancando uma lasca ínfima.Apodrecendo sob o sol do interior.
Todos estavam se acabando, por quanto tempo mais durarão, ele não soube precisar; nem quis. O importante, no momento, é ficar por ali, pensando nos caminhos de ida e volta, acabar o cigarro...
Os dormentes, por eles passaram tantas histórias. A dele, que acabará de resolver logo mais - a praga do planeta, lembram? - será mais uma. 
Não é nova, decerto. Mas sua verdade é única, sem repetições de dormentes que se perdem pelos interiores de cada um.

domingo, 8 de janeiro de 2012

VIAGEM XXVII - TERRA DA ESTRADA

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Volteando em elipses, círculos de asfalto, ou no que está muito em voga, no octogonal cinturão ao redor de um circuito de começo de zona Sul. Pensa que combina bem com o mundo ver os tais lutadores se batendo. Matando-se algumas vezes; bem isto não entra na conta.
Quando no maior parque de São Paulo, queda-se enfastiado de um tanto que sem demora, resolve esticar um pouco a visão do dia para pegar um entardecer em uma estrada de terra que o levasse a admirar o caminho.
Como quando fazia em suas longas viagens de adolescência tardia (e espichada o quanto pôde) que ficará perdido um pouco no tempo. É o que almeja agora.
Pelo menos assim, poderia manter-se mais distante para pensar em como apagar dele todas as memórias cortantes feito lâmina afiada.

--- Vem o arrepio. Nem posso pensar na tal lâminia cortando a carne de meu antebraço que eriço os pêlos todos do corpo, que não são poucos em se tratando de mim.
Nos passeios sob sol a pino - de rachar mamona - a poeira da estrada de terra o perseguia até o fim de sua garganta. Lembra bem que suas cordas vocais ficaram naquele extremo entre o grave e o agudo; teve vergonha de falar qualquer palavra que fosse; à época nem se deu conta que todo o tijolo "comido" em cima do trator causara os altos e baixos.

Em voz alta, nem se importando de estar sozinho, porque hoje (e já tem tempo) gosta de ouvir sua voz, grave e quase rouca mexendo o ponteagudo gogó coberto de barba de 3 dias de espetados fios castanhos e ruços.
Pelos longos campos de milho ainda em broto, compunha a fase de adolescência que então passava.

--- Faz um tempo já que não percorro nenhuma estrada de terra, sob aquele sol modorrento, sob o sol que incute preguiça... Pena que não tive esta ideia hoas antes.

Os anos de asfalto na megaurbe de São Paulo fizeram-no bem. Acabaram com aquele aspecto tão entranhado de ser jeca que, mesmo querendo, querdar-ser-ia exatamente onde está: na grande cidade, barulhenta, enfileirada, diversificada que manda em você carinhosamente, tomando-o para si.
Destes é que ele gosta mais.
Então hoje, para variar tão-somente - ele um invariável na conta de liquidar as pragas da Terra - dirigir-se-á a caminhos de chão batido, vidros abertos do semi-novo sedã de velho.

--- Incrível, mas eu sou velho já. Melhor. E é assim que a sociedade classifica os homens da minha idade, não é? Se é desta forma, porque então se preocupar? Tenho outros assuntos mais prementes do que ficar me espremendo em vergonha ao responder quando nasci.

Calcula pelo GPS andar uns 50 quilômetros até atingir aquela específica estrada de terra de cor ocre, sinuosa, serpenteando o rio que corre próximo.

sábado, 7 de janeiro de 2012

28 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - ESPELHO ÀS ESCURAS

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Como sabem, o corredor de seu castelo na megaurbe de falantes do camoniano - dos milhões - é extenso com as paredes sem adorno algum, com exceção do grande espelho de 2 metros de altura na parede direita, pegado ao banheiro social, em frente ao quarto de estudo.
Nas vezes - e são muitas estas vezes - ele, diletantemente, limpa o cômodo que tem uma banheira (que ele só faz funcionar nas tardes quentes do verão paulistano), mesmo que sua faxineira de anos o faça uma vez por semana; ele faz mais uma. 
Quanto ao espelho, desafortunadamente, não é muito bem quisto depois das visões infernais que ele tivera ao passar por ele certa madrugada de insônia e que, quando por fim, adormecera, tivera as mais horrendas possíveis: uma matança generalizada pelos corredores do velho castelo escocês manchado por tantos povos e homens que lá estiveram. Ratos roiam os dedcos de soldados moribundos, escarnecendo-os às escâncaras.
Faz meses apenas. Desde então, ao passar por ele, que emoldurado de preto fosco caía muito bem na cidadela inexpugnável, nem desviava os olhos mantendo-os acima ou para os seus pés.
A relação entre o espelho e o sonho quedara-se estranha, verdade seja explicada. Outra noite de chuva de verão e temperatura tépida, ficou a pensar sobre, deitado fazendo carinho de ronronares de Felino. 

"Deve ser porque da última lembrança antes do sono agitado, eu olhei o espelho e me vi. Nem agrado, taampouco desagrado. Ficou embaçado porque cheguei bem perto para poder me ver àquela luz mortiça do computador do quarto de estudo. Claro, e no sonho, entre a correria toda pelo castelo de paredes emboloradas, um espelho que tomava todo um andar e mais o térreo por entre a escada e um mesanino, eu vi cenas por detrás de mim que angustiei-me: os ratos mexendo seu bigodes, suas bocas pingando sangue; gente para lá, gente para cá; tombos pela escada de caracol e eu mais perdido do que qualquer outro, quedei-me paralisado e fito na cena. foi quando eu quis acabar com aquilo tudo e quebrei o espelho, trincando-o de cima a baixo. Cortei minha testa, bati contra ele. O sangue escorrendo pelo meu rosto de barba por fazer... Aí acordei, mas percebi que o gosto do sangue é bem diferente das lágrimas que me pus a chorar".

Ainda hoje é assim. O espelho está lá porque é bonito tão-somente, tem um estilo contemporâneo, combinando bem com o restante da mobília (que é pouca, mas confortável). Motivo bem torpezinho - "Comezinho eu digo" -, sempre adia tal pensamento. Entretando, o tal motivo funciona em determinadas - bem específicas - situações. Se bem que com referência a elas, ele parece andar meio devagar, as manipulações tem feito sentido nenhum.
Instante antes de dormir, antes de iniciar a contagem dos trovões, murmura no ouvido do seu companheiro de armas de castelo; deitado no mesmo lugar de sempre, com a aragem fresca da chuva em seu corpo fazendo-se sentir vestido de cueca apenas.
--- Você não faz ideia como os gostos são distintos. Para falar a real, eu prefiro sem gosto algum se for para escolher entre estes 2.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

VIAGEM XXVI - A PRAGA DO PLANETA

Reprodução, o que seria um nascimento de um planeta
E quem vai lhe dar algo em troca neste mundo?
"Ninguém", respondia para ele sempre quando ouvia estas preocupações roucas de que existem seres por aí no planeta Terra sofrendo.
"Ora, e quem não sofre? Eu sofro e a mim não dão nada de graça. Nunca deram".
Grupos de defesa de X ou de Y atuam com ênfase em redes sociais e TV, e para ele a atuação destes grupos é nula.
A preocupação com os mais fracos inclui um grupo muito seleto de seres que realmente precisam de tal proteção no planeta Terra.
Seu sentimento de repulsa vinha de um descaso - era o que ele tinha certo em sua mente atormentada por dores de cabeça diárias - de todos pelo amor, pela compreensão, pela gratidão, pela solidariedade; certo tornara-se um rançoso sem tamanho em toda a sua vida desde... Desde que fora ludibriado pelo planeta.
Desistira de ajudar os outros; desistira de tentar algo para melhorar o planeta Terra. Nunca havia a recíproca.

Em um grande vazio, ecoam os gritos de raiva aos que detêm poder; aquele poder aliado ao $: primeiro o $ que é o grande aliado dele mesmo, depois a inteligência, depois a estética, depois a cor da pele e por fim o desejo de amar - ou como queiram os psicanalistas chamarem - os amores de um ser.
"Todas as teclas são exatamente iguais, sem tirar nem pôr a agulha do palheiro aqui no planeta Terra. Extenuei-me de bater nelas. No fundo todos se acham únicos mas se igualam na vala comum do preconceito e do descaso geral".
Não, ele não quer nada de graça ou de mão beijada, mesmo porque neste planeta aqui perdido na via Láctea ninguém dá nada de graça a ninguém. Nem gratidão, nem amor e muito menos o $
Reprodução, Terra vista do espaço

"E é uma mixórdia sem tamanho eu misturar tudo isto em um sentimento só".
Bem igual ao que a sociedade faz com alguns de seus integrantes de planeta. Os convivas da festa 'superior' pouco se lembram, são como baratas nojentas; os da festa 'inferior' são nulos na pouca capacidade de entender as tentativas de diferenciação".
Sobra mesmo o quê, ele se pergunta?
Montado no semi-novo sedã de velho, engata a primeira e sai desejando recomeçar tudo de novo, sob sua batuta, sob sua lei. Sob seu jugo. Teve um tempo em que ele mesmo acreditara nisto e o seu jugo teria sido de paz. Obrigatoriamente de paz aqui no planetinha desta galáxia leitosa lembrando porra deramada ao leú, sem ninguém para receber aquilo que um dia ele creu ser uma prova de amor.
Paz de justiça. 
Então, seu carro é seu planeta - o que havia sobrado dele - em que ele é dono absoluto sem absolutismo qualquer seja para os outros em específico: um aqui outro ali; não. Seu poder é para todos os que detêm algum poder. De A a Z, ele esmagará um a um. Crudelíssimas maneiras serão postas na topo da lista.
"Vai ser ótimo ferrar com todos eles e acabar com a praga do planeta. Depois, reconstruo o planeta, deixando-o livre para nascer".

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

27 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - QUARTO DE ESTUDO

Reprodução
Nas férias do ano retrasado foram as últimas a sair de São Paulo. Gostava sempre mas as daquele ano fizeram-no não gostar mais. A volta foi bem complicada e inesquecível. Nem tentara ano passado porque tivera um trabalho a mais, fora do seu habitual, o qual o ocupou quase os 30 dias. Semanas movidas a muito café, TV ligada e intenso trabalho no computador: uma revisão de um compêndio sobre literatura romana, com afinco em Tito Lívio em "A História de Roma - Livro I: A Monarquia". Todos os tomos que remanesceram.
O castelo na grande urbe de falantes do português permitia barulho em todo seu território menos no quarto que ele fizera de quarto de estudo. Lá, pôde reler a obra, a primeira em português no Brasil, como um sentimento grande de gratidão. 
Em um silêncio planejado, o quarto tinha vedação acústica na porta e nas janelas de correr para cima; pensou nisto quando viera ver o imóvel para comprar. Já que não fora mesmo escritor reconhecido - era dos melhores revisores do país - gostava de trabalhar além da grande empresa e mergulhar em seu quarto de estudos para saborear o que mais gostava... Além de ficar em casa e do bichos: fazer de um trabalho um prazer mental. 
Bem, neste ano ele decidiu que não viajará agora no mês de fevereiro. Não que fosse atrás de carnaval nas outras vezes. As férias deste 2012 serão em casa. 

"Espero que aconteça como no ano passado que apareceu aquele trabalho, assim do nada, na última hora. Eu nem estava esperando. Coitado do Felino, nem deixei-o entrar no quarto de estudos para não me distrair. Foi um trabalho de gente grande, de profissional mesmo. Estar lá não é trabalho. Porque aqueles livros permitem tanto prazer para mim, esquecimento. Uma verdadeira imersão em um mundo "vasto mundo"do poeta que eu me perco. Quantas madrugadas tomando coca-cola e café e acordado e lendo e escrevendo"

Ele escrevia, é lógico. Publicado nada, não muito lógico. Porque o reconhecimento de escritor se tornara distante em razão do $ que ganhava agora.
Não é pouco não. O salário, muitas vezes > que o salário mínimo, o comprara? E tudo mais que os reais amealhados permitem, o compraram?
Usando pouco o carro, fez o caminho de sempre para ir ao trabalho e voltar, o metrô ainda pareceu mais vazio no começo do ano. O frenesi paulistano mal começou, mas o "feliz ano novo" ainda se escuta por aí.
No elevador todo cinza escuro de aço escovado, de uma parede coberta por espelho e o painel digital, temperatura, leitura Braille... Sozinho todo o caminho com um cheiro de pizza.

"Comprou e não comprou. Eu ainda escrevo. Só não sei mais se quero tentar publicar. Também, naquelas férias... Estou ouvindo o Rex latir daqui. E falaram que por ele ser meio vira de labrador não ia latir tanto."

Chegando e os bichos realizaram festa soberba logo na entrada do abafado castelo, que cheirando a limpeza da faxina realizada no dia, causou conforto de estar em casa e tomar conta do espaço.
O quarto de estudo hoje será de tratamento psíquico depois do longo dia de reuniões, visitas e leituras que fugiam às humanidades e à genética. Preparado, com a luz branca-azulada e máquina de café. O que não o impede de parar o que lá estiver fazendo e levantar-se no escuro quase completo da casa e coar um naquele momento.

30 CARROS MAIS VENDIDOS EM 2011

Segue lista abaixo dos 30 carros mais vendidos no território nacional. 
O Gol segue na liderança desde 1988. No mês de dezembro, entretanto, mesmo a diferença tendo sido pequena, o Uno (Fiat) vendeu mais (24.263) que o carro da VW (24.231).
Todos os 10 primeiros colocados tiveram um desempenho nas vendas inferior aos montantes registrados em 2010. Exceções à picape Strada (Fiat) e ao Fiesta (Ford); e do sedã Voyage que apresentou ligeira elevação no volume. A principal razão para esta queda em determinados segmentos do mercado de veículos é a concorrência dos importados indianos, chineses, coreanos e japoneses.
[bem, ouvi dizer que este século será o da Ásia; acho que já começou...]

Os números:
1
Gol
293.458
2
Uno
273.538
3
Celta
149.045
4
Corsa Sd¹
125.785
5
Fox²
121.887
6
Strada
118.611
7
Palio
105.800
8
Fiesta³
99.281
9
Siena
90.173
10
Voyage
87.219
11
Sandero
81.783
12
Agile
73.260
13
Saveiro
71.220
14
Ka
63.764
15
Corolla
53.148
16
Prisma
51.066
17
Montana
45.831
18
S10
42.818
19
Corsa H
41.954
20
Logan
39.086
21
Ecosport
38.530
22
C3
37.574
23
207 H
36.872
24
Punto
36.548
25
I30
35.717
26
Fiesta Sd
35.016
27
Hilux
33.259
28
Fit
28.765
29
Focus H
27.611
30
Clio H
27.057
¹ Fox + Crossfox
² Corsa + Classic
³ Fiesta + New Fiesta
Números totais de todos os veículos (incluindo caminhões e ônibus), subdivididos por emplacamentos de todos as UFs + o DF podem ser acessados no sítio da FENABRAVE, link abaixo:
http://www.fenabrave.com.br/principal/home/