sábado, 14 de janeiro de 2012

29 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - TETO DE MADEIRA

Reprodução
Passara a noite procurando um veterinário para o Rex que não parava de vomitar durante a madrugada. Supos que ele deveria ter comido algo ou comido a refeição do Felino. Custou mas achou uma clínica 24 horas quase do outro lado da cidade. Até chegar lá, sentiu-se desamparado em sua busca em meio à cidade. 
Teve uma começo de vertigem ao olhar para fora do carro e ver os altos edifícios debruçados sobre São Paulo, um tentando ser mais alto que o outro. Deve ser a tal febre vinda de Dubai, anuiu para si mesmo.
Pela manhã, logo ao primeiro raiar iluminando a grande urbe ainda aguardava na sala de espera iluminada como deveria ser, por notícias de seu filhote peludo de 4 patas.
Havia ingerido o próprio brinquedo de borracha resistente, segundo constatou o veterinário, tão abnegado ele creu, pelo adiantado da hora em explicar com detalhes. Suas olheiras eram visíveis a olho nu

--- Fiz um procedimento simples, ele respondeu bem e acabou vomitando este pequeno osso de plástico, meio mastigado. Agora está dopado e dentro de uns 10-15 minutos já pode descansar em casa. Ele está acordando. Venha ver, ele vai gostar de saber que está por perto.

A clínica, uma velha casa como as casas do interior: pé direito alto, chão de madeira assolhada, contornos rebuscados nos cantos e a data de construção em cima do batente da porta de entrada. Tudo tão familiar, tão pueril e a recordação de seus anos de quase felicidade saltaram aos olhos.
Enquanto esperava - minutos antes - achou que a casa do veterinário - sim, o estabelecimento era sua casa também, no segundo andar - deveria ser do tipo que abrigava um quintal todo de grama, com árvores frutíferas, um balanço, o vento e amigos por todo o espaço.
Notou que, como todas as construções antigas, esta tinha um pé direito alto, mais de 3 metros, nada usual nos dias de hoje. 

--- Acho que o espaço não permite mais construir casas assim. Será que é uma pura herança portuguesa? Do tempo do império dual, da vinda de Dom João VI? Mas daqui de onte estou, no terraço, não dá para saber como é lá trás. Bem que eu estou com vontade de ir. Devo conter-me. Nunca vim aqui e já quero esquadrinhar o local. isto parece coisa de militar!

Andou mais alguns minutos. Olhava para o teto de madeiras dispostas transversalmente. Sentou na espreguiçadeira de ferro do terraço e relaxou observando o início da manhã com os seus já barulhos característicos se pronunciando.
Recostou a cabeça e quando preparava-se para cochilar, ouviu um "arremedo de latido" do Rex.
No colo do médico de bicho, ele ainda arfava e apresentava um olhar de judiação; bem comum quando fazia artes e era descoberto no pulo.

--- Ele está bem agora. Devemos ir com calma durante o fim de semana todo. Segunda-feira de manhã você o traz aqui de volta para que eu o reexamine, ok? Mas ele é forte, demorou para pegar a anestesia nele. Bem, aqui estão estes remédios; as pílulas a cada 12 horas e este aqui 3 vezes ao dia antes das refeições. São antibióticos, porque ele pode ter contraído alguma infecção quando ele engoliu o objeto. A tampa pode ter cortado a parede interna do estômago, está gasta e toda serrilhada... Então, vamos nos prevenir.

Ele agradeceu todo o cuidado; e ainda comentou acerca da casa que o remetera à infância lá pelas barrancas do rio Tietê onde havia morado até a adolescência. Verdade que só tinha esta lembrança como sendo boa, porque todas as pessoas daquela cidadezinha esquecida por Deus, ele detestava a todas; família inclusa. "Pena que eu não esqueci", murmurava para ele mesmo de quando em vez.
Chegou em casa foi só mimos com o cãozinho. Felino sempre sabichão como o grande bichano que tornara-se, miou exigindo atenção tambpem, ou pelo menos que a atenção demandada fosse dividida.
Aconchegaram-se ambos no chão da sala, deitados todos juntos. Rex estava mais calmo e adormeceu em seguida. Felino... Bem, este nem precisa dizer: é da família dos felinos, eles dormem até 16 horas por dia, e que, mesmo sendo um "gatorro", no quesito sono representava bem os gatos.
Deixou a fresta de costume e o vento batia de leve neles todos.
Dormiu como se tivesse havido um intervalo apenas entre o recostar da espreguiçadeira do velho terraço da verlha casa e o deitar de agora. Olhou para o teto apercebendo-se que este seu castelo quedou-se fora dos parâmetros de pé direito de sua infância. 

--- Fora! O que foi legal lá no seu médico Rex... A casa, claro. E a atenção dele, o cara é paciente mesmo para explicar. Conversamos mais do que converso fora do meu trabalho com nenhum outro ser. Ele deve ser do tipo falante mesmo, também com todas aquelas fotos de seus filhos e da esposa logo na entrada e em sua mesa... Deve ser do tipo que fala mesmo. 

Fixo os olhos no ponto do teto estabelece círculos imaginários e acaba por desenhar rios que correm pelas ranhuras dele. Um território em que ele tinha o domínio total, reinando em absoluto: seu castelo.

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