domingo, 15 de janeiro de 2012

VIAGEM XXIX - RAPTOR

Raptores, lá do período... Do inferno! 
Ele não tem certeza de quando. Sabe, porém, de uma coisa: que aqui existem muitos destes que roubam o sossego de qualquer um que, em desaviso, passe perto deles (e todos passam, mais perto do que supõem). Rima com caçadores de tudo que vive neste chão do universo.
Um assalto, um bote, uma morte seguida de uma outra vida que se refestela, entre o sangue que se vê na gengiva de dentes protuberantes. Aqueles olhos grandes, de elípticas pupilas dilatadas que parecem as de um cocainômano 'feliz' - idiotas que alegram raptores bem específicos.
Risível para ele.
 Atuam em grupo, espreitam, completam táticas de morte.

"Isto tudo acontecia lá trás, ou acontece ainda hoje? Devem ser mais uma parte da praga do planeta que infesta este lugar de terra e de água. Sobrou o ar, livre destas bestas-feras. Mas eu não posso voar. Então... Então tenho que matar um por um até quando eu conseguir. Cacete, tarefa esta para o Hércules. Aliás, ele bem que poderia, melhor, deveria estar aqui comigo para vencer estes - quase - invencíveis raptores da paz de todo dia".
Sossegadamente, descansa em seu semi-novo sedã de velho um pouco emborcado que parecia à esquerda, vendo a gente que vai e volta, que vai e para.Cinzeiro cheio e metade de um chocolate no banco do passageiro no qual nunca passou ninguém.
Rumina como fará para matar toda a praga de raptores que infesta a grande urbe. A ninguém fazer nada, a cidade deve perecer tão logo eles comecem o butim.
Na noite de garoa na terra desvairada, ele permanece no carro esquadrinhando o quarteirão que cerca as saídas do metrô perto da avenida Paulista. Em seu pc de mão, ele, absorto, fervilha ideias de remar contra esta maré que impõe regras. E quem não se adequar a elas... O fim é o mesmo para todos. 
"Favorece os raptores estas regras, e eles nem se dão conta. Idiotas mesmo!"
Derrete o último pedaço de chocalate ao leite na boca. Gostasamente delicia-se e por um átimo esquece da hercúlea tarefa que se impôs desde há muito. Mastigar algo assim, bem diferente do que os raptores mastigam, recarrega todo o seu corpo; é mesmo um prazer. 
Ruidosamente engata a primeira arranhando. Hoje à noite a estes raptores, a paz lhes será roubada.

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