sábado, 21 de janeiro de 2012

30 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - RAIOS DO REI

Reprodução, tempestade solar
Depois do grande susto, em razão de meter o nariz em tudo e querer provar este tudo, Rex, o príncipe da casa, fez de sua cama o lugar de repouso pelo dia restante. Houve sossego naquele fim de semana. Felino então, pôde recuperar o terreno perdido no coração do rei do castelo e voltou a ocupar seu lugar.
Então puseram-se a fazer o que mais sabiam fazer juntos: deitaram-se no início da tarde de um verão outonal, ambos acarinhando-se, com longas espreguiçadas e ronronares de tranquilidade.
Enquanto olhava o mesmo ponto fixo no teto - sem desenhar rios pelas ranhuras desta vez - manietava em sua mente como impedir que a tentação de voltar a se misturar àqueles sentimentos que tanto lhe causaram dor e aflição voltasse e tomasse conta dele. Ele sucumbiria como da outra vez; como um navio adernando inexoravelmente encalhado em algum bloco de gelo perdido pelo Atlântico Sul.
Recuperou-se de forma didática, pode-se dizer. Levantou quase em seguida depois deste grande tombo e hoje, as lembranças se não pálidas, ele consegue escolher quando e onde recordá-las. 
Olhos fitos vasculhando agora todo o campo de visão possível Felino, o patriarca do castelo, vencido pelo sono, permanecia estirado sob seu peito. Pêlos que se misturavam: certo que os do gato eram laranjas em dois tons, enquanto os dele em dois tons de castanho: claro e um quase ruço.

--- Hoje eu estou bem assim, sou feliz assim. Parece que as pessoas têm que estar junto de outra, junto mesmo, para que possam ter momentos de felicidade, ou experimentar estes momentos, melhor dizendo. Porque pensam assim? Eu não sou um cara amargurado não, por ter cambiado, por ter rompido com tais sensações. Sei disto. E se todos os outros não sabem... O que fazer não é mesmo? Mudar para que? Eu tenho $, posso comprar uma companhia por horas, por dias até... Sexo eu faço quando quero, mecanicamente ou não, me entregando ou não e amor... Amor é sorte e passa ao largo da torre mais alta do meu coração. Tanto já foi falado né? Arguido... Redarguido né? Sobre este amor... Desde que a humanidade se entende por gente. E quando será mesmo que ela se entendeu por gente? Acho que nem faz tanto tempo assim.

Quando começava a pensar - a lembrar daqueles momentos - vinha-lhe, incontinênti, as noite insones - poucas - mas de uma devastação tsunâmica. Andando de uma parede a outra da inexpugnável cidadela. Em seguida, recuperou-se. "Porque chorar é para os babacas que insistem em crer em tudo o que os "alguens especiais" dizem durante momentos de verter verdade tão-somente. E eles vertem verdade... Sério?", murmurou olhando para o gato que mal conseguia levantar a pálpebra.
O aspecto taciturno de seu semblante contrastava com as ideias que ele levava consigo: não possuía o tal mal-humor, segundo alguns atávico, "destinado" aos solitários encastelados em suas fortalezas na grande urbe desvairada do hemisfério sul.
O céu nublado não quedava-se celeste há alguns dias, percebeu pela festa da porta que saiá à sacada. O sol ainda não havia recuperado sua primazia aqui no trópico de Capricórnio e os dias de chumbo venciam a batalha. Por hora. Porque o astro Rei vai expor suas feridas, sua raiva e sua invencível vontade de vencer. Espalhar energia por aí, por todos que quiserem manter a recuperação.
Uma tempestade  de raios solares para mandar embora o cinza... Pensou, logo antes de dormir, que deveria ser bom morar em Mercúrio e assistir o espetáculo da estrela vermelha.

Um comentário:

Frank Thousand disse...

Lindo, meu querido! Lindo!