segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

27 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - QUARTO DE ESTUDO

Reprodução
Nas férias do ano retrasado foram as últimas a sair de São Paulo. Gostava sempre mas as daquele ano fizeram-no não gostar mais. A volta foi bem complicada e inesquecível. Nem tentara ano passado porque tivera um trabalho a mais, fora do seu habitual, o qual o ocupou quase os 30 dias. Semanas movidas a muito café, TV ligada e intenso trabalho no computador: uma revisão de um compêndio sobre literatura romana, com afinco em Tito Lívio em "A História de Roma - Livro I: A Monarquia". Todos os tomos que remanesceram.
O castelo na grande urbe de falantes do português permitia barulho em todo seu território menos no quarto que ele fizera de quarto de estudo. Lá, pôde reler a obra, a primeira em português no Brasil, como um sentimento grande de gratidão. 
Em um silêncio planejado, o quarto tinha vedação acústica na porta e nas janelas de correr para cima; pensou nisto quando viera ver o imóvel para comprar. Já que não fora mesmo escritor reconhecido - era dos melhores revisores do país - gostava de trabalhar além da grande empresa e mergulhar em seu quarto de estudos para saborear o que mais gostava... Além de ficar em casa e do bichos: fazer de um trabalho um prazer mental. 
Bem, neste ano ele decidiu que não viajará agora no mês de fevereiro. Não que fosse atrás de carnaval nas outras vezes. As férias deste 2012 serão em casa. 

"Espero que aconteça como no ano passado que apareceu aquele trabalho, assim do nada, na última hora. Eu nem estava esperando. Coitado do Felino, nem deixei-o entrar no quarto de estudos para não me distrair. Foi um trabalho de gente grande, de profissional mesmo. Estar lá não é trabalho. Porque aqueles livros permitem tanto prazer para mim, esquecimento. Uma verdadeira imersão em um mundo "vasto mundo"do poeta que eu me perco. Quantas madrugadas tomando coca-cola e café e acordado e lendo e escrevendo"

Ele escrevia, é lógico. Publicado nada, não muito lógico. Porque o reconhecimento de escritor se tornara distante em razão do $ que ganhava agora.
Não é pouco não. O salário, muitas vezes > que o salário mínimo, o comprara? E tudo mais que os reais amealhados permitem, o compraram?
Usando pouco o carro, fez o caminho de sempre para ir ao trabalho e voltar, o metrô ainda pareceu mais vazio no começo do ano. O frenesi paulistano mal começou, mas o "feliz ano novo" ainda se escuta por aí.
No elevador todo cinza escuro de aço escovado, de uma parede coberta por espelho e o painel digital, temperatura, leitura Braille... Sozinho todo o caminho com um cheiro de pizza.

"Comprou e não comprou. Eu ainda escrevo. Só não sei mais se quero tentar publicar. Também, naquelas férias... Estou ouvindo o Rex latir daqui. E falaram que por ele ser meio vira de labrador não ia latir tanto."

Chegando e os bichos realizaram festa soberba logo na entrada do abafado castelo, que cheirando a limpeza da faxina realizada no dia, causou conforto de estar em casa e tomar conta do espaço.
O quarto de estudo hoje será de tratamento psíquico depois do longo dia de reuniões, visitas e leituras que fugiam às humanidades e à genética. Preparado, com a luz branca-azulada e máquina de café. O que não o impede de parar o que lá estiver fazendo e levantar-se no escuro quase completo da casa e coar um naquele momento.

Nenhum comentário: