domingo, 28 de fevereiro de 2016

43] CENÁRIO SP - NO VALE: QUANTO VALE ELE NÃO SABE

Reprodução - Arquivo pessoal, Vale do Anhangabaú
Entre rios e vales, São Paulo tem águas que desconhecemos; aterram quase todos os córregos. Ele aterrou demais o passado, pessoas também, muito mais que os 7 palmos debaixo da terra. isto vale para a tal mula da tal música sertaneja (a legítima) cantada há décadas. 

Regressando... No Vale do Anhangabaú, imenso, ventoso, palco de tantas manifestações por décadas - as alegres, as de protesto, as de luta ferrenha -, passam, passeiam, trabalham tantos paulistanos. Da Rua Formosa, pequena, ele pode ver o alto: os prédios famosos dos modernos aos históricos, árvores e esculturas algumas. 

Olhando para cima, para os lados e para o chão tem gente que vai e vem. Aos montes (não poderia ser diferente: qual lugar na Pauliceia que não há gente indo e voltando, volteando, mudando de direção?). Carros que correm ao lado na grande via embaixo do viaduto; e as pessoas que ziguezagueiam tão atarefadas, mas que por vezes, param, conversam e paqueram. Ele vê beijos e abraços em alguns pares

Pelas pernas retas e eretas, ele cumpre sua função no dia a dia da maior metrópole do Hemisfério Sul, maior metrópole falante do camoniano, maior metrópole industrial/comercial/de serviços da América Latina e também do hemisfério. 
Ele é apenas mais 1 cara por aqui. 

Vale por ele, vale pelo sacrifício e vale trabalhar no imenso Vale do Anhangabaú: o tal coração do poder na cidade alfa. Vale muito para ele morar aqui e trabalhar por aqui: nem moço, nem velho, nem feio, nem bonito, mais alto que baixo, mais magro que gordo, ele é mais "uma pessoa comum, um filho de Deus" como os 12 milhões que transitam em São Paulo. 

Vale escrever que ele se tornara valioso como nunca para si próprio ao longo de sua vida. Encontrara-se nas andanças tantas que realizara até aqui. Dias atrás mesmo, juntara-se para compor a dualidade e afastar (um tanto) a solidão que ele até então achava que valia mais do que qualquer companhia. Vale dizer, de novo, que ele não sabe até quando tal junção vai valer. 

---- Mas está valendo. É só mais uma coisa que não sei.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

VIAGEM CCLXVII - FERRE O FANTASMA

Reprodução [endereço abaixo]
fantasiar?

que fantasia fantasmagórica é esta?

fetichista? de sofrimento?;

pare de fazer fita e permitir que o fantasma arraste correntes pela sua casa, 

pelo corredor estreito e longo que liga seu quarto à sala/saída
(saia daí!);

firme, forte, férreo?

você não é nada disto?
(ou você julga que não é?);

tal fantasma fantasiado de amor é pura bobagem

e, na verdade, é foda sem ser a foda franca

que "sempre não tiveram";

algo como um fantasma do que poderia ter sido?

já não foi

nunca fora em tempo algum

e não é agora... mesmo que travestido de um fantasma camarada

que de camarada não tem nada;

fraqueza de caráter não é...

entretanto, entrar pelo caminho da vida puxando correntes 

de ferro puro e pura "força de nada" para se livrar é fadar-se ao sofrimento;

esqueça, vire-se à frente, foda o tal fantasma

sem prazer para tal "entidade";

o prazer será seu... deixe que o vulto branco fracasse

para sempre;

enterre a máscara do tal fantasma entre podres carnes
(é o melhor lugar para se fazer o enterro da branca transparência aparição)

http://www.marsdenarchive.com/library/preview.php?id=00000723&pg=83

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

VIAGEM CCLXVI - ESGANANDO OS JOGOS/TRUQUES


Tomar o temor que ele tem pelas mãos, amassar, picotar, e jogar no ralo do esgoto mais podre que existe, porque de podridão ele conhece, ele sabe, ele é. Ele fez podres coisas ao longo da vida. A diferença com os outros é a o assumir de tais fatos. Mais homem com H de humano.
---- Podre sim, fedido não. Tomo banho todos os dias. 
Ria com escárnio para os que lhe apontavam o indicador "limpinho de unha suja".

Mas o temor não o domina, não mais. Dominou-o pelo pescoço, esganando-o.
Vazio que ficara, enche-se agora de um ar de soberba milimetricamente contada, da maravilha de poder ser o que ele quiser. Seja aqui em São Paulo ou em um bar em Reykjavik, longe de quem conhece: gelado, gelado em uma procura de calor de mãos. 

Lá, pela distância oceânica, ele pode ter, sem meias medidas, sem floreios, com certezas (algumas) o que lhe é oferecido: figuras públicas, celebridades instantâneas e os guerreiros da vida (na Pauliceia também, com restrições impostas pela fama que adquirira pelo trabalho que realiza).

Um dos piores do mundo ele é? Pode ser que sim. Mas ele pensa que está na média.
Um dos piores do mundo é o seu trabalho? Pode ser que sim. Mas este ele julga que não.
E podres - como foi citado logo acima - ele entende os tais jogos de conquista, de amor que de tão enfado que sente, manda todos estes para o inferno; fez muito dos tais, jogou muitas partidas e nunca empatou.
Retrospecto: vitórias de Pirro e derrotas acachapantes.

Então, vai direto ao ponto, fala, eloquente que é, porém jogar ele não joga mais. 
Cansara-se sobremaneira sobretudo de jogar sem ao menos ter um prognóstico. "Chega" murmurou logo ao se levantar em uma segunda-feira que se anunciava chuvosa.  
Àquele dia esganou os tais joguinhos de amor/traição e os truques inerentes. "Quanta melhora terei daqui para frente. Lá na Islândia eu também esganarei estes falsetes no escuro inverno".

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

42] CENÁRIO SP - O IRRECONHECÍVEL NA RUA DO SUMIDOURO

Arquivo pessoal
Viram-no na rua do Sumidouro. Ele olhava com atenção redobrada cada metro do caminho para chegar mais rápido. Havia uma plantação de chá ali no primeiro quarteirão da dita rua, em um quintal de uma casa "do interior": mas não era chá de sumiço e sim de boldo, amargo como fel, ruim como remédio. Ele fora visto por ali perto. O sumiço ficou por conta de... Outrem. 

Caminhava a passos largos e apressados, em busca de pegar o último metrô para que não sumisse dos olhos de quem ama. Deveria chegar a tempo porque seu amor logo mais sumiria mapa adentro, embarcando em uma longa viagem para a Romênia; e ficaria fora por 12 meses. Porque este país, quase  sumido no mapa-múndi e dentro do caldeirão dos Bálcãs?

Estudaria as plantas dos castelos da Transilvânia em uma tentativa - aparente - de o governo não desfalecer perante os historiadores nacionais e sumir com todas as velhas construções erguidas desde... Desde... Bem, desde mais de mil anos. Havia muitos deles e o trabalho seria de fazer suar por todo o corpo, mesmo que no gelado inverno.

Certeza ele tinha mesmo do caminho que estava percorrendo. Apenas esta. As outras de cumplicidade, afeto, preocupação haviam sumido por parte da outra parte. Ele lutava para que esta metade não sumisse. Queria ser em par novamente, como havia sido por longos anos. 

Só que indo pela rua do Sumidouro sentiu-se tão só, tão desaparecido de si mesmo que mal se reconheceu ao tirar uma selfie para mostrar que estava a caminho, perto, bastava pegar o metrô e desembarcar na Estação Paulista - coisa de nem 10 minutos. Desaparecido e não percebido enquanto tal: um homem que amava, que se dedicava e tudo mais. Preocupou-se com o que estava fazendo.

Transtornado? Não. Triste? Não exatamente. 
Irreconhecível? Talvez.
Tirou mesmo assim e por alguns instantes, sem parar de quase correr, observou-se ali na foto digital de "X" pixels. Não era ele, era um outro que ele definitivamente não reconheceu.

Ofegava ao chegar na estação e ainda pensava no que falaria para que o sentido da ida até lá não viajasse para o distante país latino no leste europeu. 
"O que eu posso falar? Não vá? Este direito eu não tenho, mas é a minha vontade. Vontade aliás de sumir daqui, desaparecer, desmaterializar-me e atingir outro mundo, outro lugar, outra dimensão".

O metrô esteve pontual e 7 minutos depois desembarcava perto de seu destino e já na portaria soube que quem ali morava já partira. Ontem.
---- Viajou ontem. Saiu de às 16h daqui. 
Instantes de vontade de sumir.
---- Deixou nada, não senhor. Bilhete? Também não.

Deu meia volta e fez o caminho de retorno: Rua do Sumidouro. Ali embrenhou-se em sua casa e deitou-se na cama. Sentiu-se aliviado de alguma maneira. Afinal, não precisou pedir por algo que tinha possibilidade nula de acontecer. Desaparecera, então ao perceber tal fato, o não reconhecimento ao olhar de novo na foto. 
---- Sumir de mim mesmo? Ideia estúpida!

Outra foto e reconheceu-se um pouco mais. Ou melhor, era um quase outro: melhor e com parecenças a serem (re)descobertas. Irreconhecível mesmo era aquele que saiu feito cavalo desembestado atrás de algo que a outra metade já nem reconhecia. Dormiu tranquilo e satisfeito. 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

VIAGEM CCLXV - PARA ELES E PARA NÓS

Arquivo pessoal
(à casa em construção solitária, fria e poeirenta - os homens e mulheres com calor do cão)

ao recém nascido apartado no parto - o choro da vida;

à criança iletrada - as descobertas da leitura;

ao adolescente "diferente" - a compreensão de um mundo melhor;

ao adulto cansado das lutas - uma vitória que traga descanso;

ao velho senhor alquebrado e sofredor - a última inspiração da dor e o alívio;

aos adultos solitários na grande cidade - a possibilidade dos milhões de São Paulo;

ao asfalto que frita ovo - a chuva que penetra, que inunda que faz brotar 

aos beijos que fremem - incandescentes e a fervura dos sexos

à casa vazia, cheia da presença do fantasma - a depuração e a expulsão dele

ao mundo judiado por egoístas humanos - o esparramar de compaixão e os abraços solidários;

ao ar, à água, à terra poluídos sem piedade - a revolta, o desconto, a vingança impiedosa; 

aos animais, todos eles, que coabitam - a certeza da habitação intacta;

a você que tanto amei no passado - a saudade guardada por pouco tempo no presente e lacrada no futuro;

a você que tanto amo - a alegria do agora e a tentativa do futuro;

sábado, 6 de fevereiro de 2016

VIAGEM CCLXIV - OBSERVAR E ESCREVER

Arquivo pessoal - Vista parcial de Piracicaba
Porém sem participar diretamente nas observações; o prazer dele está, apenas, em observar a todos e a tudo. 

Assim ele pode chegar em casa com ainda tudo na memória da cabeça ou do telefone (foto, filme e/ou gravação... Anotações também) e  escrever como melhor lhe aprouver, ou como mesmo diz "ao meu bel-prazer". 

Porque, então, ele pode direcionar e decidir na tentativa de se livrar dos próprios patrulhamentos "que são os mais severos, os mais difíceis de mandar pra PQP. Severos como Septímio?", e ria. O funcionamento de escrever tem que ser um libelo à própria liberdade

Mania que adquirira ainda adolescente de se passar por alguém mais agradável, mais palatável ao padrões vigentes à época (e que ainda vigem). Diferentemente da tal período que se estendeu por um tanto da vida adulta, hoje ele luta para não imitar estes padrões, luta para não impor auto-censura.

"Tudo pode ficar pela metade, meio capenga, se eu não conseguir escrever sem amarras. Porque o que vale um escritor que se perde em seu limites, que não os ultrapassa, que não escreve sobre o que não concorda, sobre o que não vive, sobre quem sobrevive?", intuía e mesmo tal frase fora escrita no espelho do banheiro que apenas ele usava. 

Motivo? Para se recordar que um escritor deve exercitar o novo, o perigo, para saciar-se jamais... Tem funcionado desde um bom tempo: ao acordar pela madrugada várias vezes, a luz forte do banheiro incidindo no branco papel de letras altas e negritadas precisam sempre ser lidas e observadas. 

Inspirações vão e vem. Pessoas também; ideias idem. A patrulha... Hum... Se ele se descuidar ela toma conta, domina-o e ele fracassará de maneira inequívoca. "Não quero fracassar, não mais do que me é devido e que me foi imposto sei lá por quem". Porque a estas imposição devida ele não tem rédeas nem poder de atuação.

Escrever é um ato de sucesso, de retomada, de manietar a própria vida. Ele pode atuar como quiser. 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

VIAGEM CCLXIII - SÃO PAULO-LISBOA-LUANDA: A CONEXÃO

Arquivo Pessoal - Av. 9 de Julho, São Paulo
De São Paulo para Lisboa, passando por Luanda, volta-se descendo ao Atlântico do lado de cá, para a Pauliceia dos quase 12 milhões, maior urbe de falantes do português, uma das maiores do mundo. irradia seus sóis por todo Brasil, por muitas outras terras. 
Conexão com Lisboa, a primeira capital deste mundo de lusofonia, lá pelos idos do século XIII firmou-se como tal e, depois de uma/duas centenas de anos construiu um mundo que até então "não existia". 

Chegaram seus habitantes aos quatro cantos do redondo do planeta; país retângulo europeu debruçado para o novo, para o grande oceano de tantos segredos e mistérios: muitos Portugal desvendou.
África (Luanda, a grande metrópole camoniana do continente), dos dois lados, ilhas, nacos maiores e menores do continente-origem da espécie homo sapiens sapiens. Pelo litoral, recortando as costas, para lá, para cá. Rumaram para dentro, avançando expandindo o som das palavras em português, o dioma cantado e belo - o mais de todos. 
Foram ainda mais longe: Ásia e recomeçaram tudo de novo; os primeiros a chegar no Japão longínquo.

Luanda-Lisboa-São Paulo + Maputo, Praia, São Tomé + Praia, Macau, Goa + Belém do Grão Pará, Damão, Mascate e + tantas.
Que conexão é esta ainda pouco explorada?
Que resignação é esta ao universo anglo-saxão?
Ódio? Não.
Inveja? Não!

Lisboa+São Paulo + Luanda = a tantas coisas, gentes, sons, cores, hábitos, belezas, sabores que ele não conhece.
Vontade ele tem de unir os 3 pontos, conectar para que se conheçam mais, que saibam mais das semelhanças muitas, das diferenças que podem conhecer.
São Paulo, a capital do Brasil da oportunidade, da diversidade. É esta a cidade que deve dar o parâmetro para esta confluência de linguajares, de habitantes que unidos são pela língua portuguesa (de africanismos, de tupi-guarani "ismos" e toda a influência de latinos outros idiomas - e de qualquer outra influência... Porque somos antropofágicos desde 1922). 

São Paulo merece e deve a Lisboa, a Luanda, a Maputo, a Macau, a Málaca, a Dili e Bissau o protagonismo do novo levante da língua.