sexta-feira, 30 de novembro de 2012

58 - ALETÓRIAS HISTÓRIAS - CORRENDO DA CHUVA, E SE MOLHOU

Reprodução [sítio abaixo]

Uma sexta diferente está acabando, ou pelo menos para ele, que volta meio apressado para casa correndo da provável chuva que prenunciado-se, acinzenta o céu de São Paulo. Sapatos encharcados, como de costume, o que o fez acelerar o passo, agora uma corrida. E acaba de entrar no metrô, destino o castelo invencível e inexpugnável.
Diferente porque na quarta-feira teve um dia daqueles de quebrar o corpo. Lembrou de outras épocas porque teve  mesma sensação ruim ficando letárgico.
Abriga-se em uma marquise tanto mais larga. E pensa na sensação de letargia, todo molhado. Seu guarda-chuva virou ao contrário no primeiro vento na primeira esquina causando risos em duas moças que viram a cena.

Com uma goteira em seu ombro e esprimido sem ter como se movimentar ele relaxa e pode, assim, observar as pessoas correndo para abrigarem-se da chuva, algumas dando saltos desviamndo de poças parecendo atletas em um desempenho irreparável. Outros, apaenas andando sob chuva, encharcados, como ele. A calça do terno até as coxas, sapato "dentro de uma piscina", cabeça, rosto e ombros.  

"Até minhas costas e barriga, o cinto, tudo molhado pela tempestade que não para. Mais um pouco, e ficaria com tudo dentro cheio de água também. Estou indo para casa, sem problemas, depois lá faço um café bem quente e tiro esta umidade de meu corpo. Vantagem de ser homem nestas horas é que podemos molhar os cabelos e nada acontecer. Esta mulher por exemplo, ao lado aqui, coitada... Está toda lambida da cabeça às costas porque seus cabelos castanho simplesmente murchou com tanta água assim. Que vai pra onde né? Devíamos ter contruído São Paulo com um chão mais permeável. Se mesmo os homens mais de cabeça dura, em alguns momentos, eles permeiam novas ideias, modos e pessoas, porque não o chão da metrópole brasileira".

Enquanto devaneava sobre a quantidade de água que São Pedro mandava do céu com afinco visto somente em tempos de verão e suas chuvas, ele se ajeita e logra sair debaixo da goteira, mesmo porque alguns os abrigados saíram para enfrentar as precipitações do céu de chumbo. No bolso interno do terno de corte bem cabado, cinza bem escuro, ele ouve um aviso de mensagem do telefone. Para pegá-lo, ele esbarra em sua vizinha derrubando o aparelho ao chão.

--- Desculpe. Aqui está, acho que sem danos!
Ela curvou-se e teve a gentileza de entregar para ele.
--- Obrigado, nem precisava se descupar. Eu esbarrei em você, meio atrapalhado e por isto ele caiu. Agradeço.  
--- Estamos com pouco espaço aqui. Acontece. A chuva causa tudo isto não é? Tombos, escorregões, resfriados, enchentes. Ainda assim, prefiro morar em lugar úmido a um lugar seco. Morei em Brasília por três anos e não me adaptei.
--- Passei um inverno lá, fazendo um trabalho. Sofri mesmo e muito com a secura do ar.
--- A umidade, até um pouco demais, faz a gente melhorar, lubrifica, estende, dá cheiro e gosto. E para formar umidade, as moléculas de H20 devem estar juntas, em grande quantidade. Isto é São Paulo né? Tudo junto ao mesmo tempo.
Ele ri ao ouvir. 
--- Nunca fiz esta relação. Você tem razão.
--- Exato. Tenho razão. 
Segundos de silêncio. Quebra-se então.
--- Tenho que ir. Ainda tenho um paciente no consultório. Saí para comprar um suco, comer algo e a chuva me pegou desprevinida. Olhe meu como estou! Trabalho aqui, no prédio envidraçado, todo azul, aqui na rua debaixo.  
Trocam cartões. Ela é psicanalista.

A chuva arrefece e ele inicia a caminhada até em casa, seu castelo seco, limpo e invencível. O conselheiro-mor e o príncipe herdeiro devem estar assustados com o trovejar sem cessar. Liga no fixo e deixa um recado em voz alto para eles: "Estou chegando. Calma que vamos todos ficar juntos aí, bem tranquilos. Falta pouco para a gente se encontrar". Assegurou-se mentalmente que apenas a janela da lavanderia haiva quedado-se aberta. 

http://poleshift.ning.com/profiles/blogs/brazil-risk-of-flooding-and     

VIAGEM XCI - BURACO DE TATU

Reprodução [sítio abaixo]
Túnel, terra, tríade pelos caminhos do interior nos arrebaldes de São Paulo. Tempo de calor e sol da tardezinha.
Terra no túnel, escuro, tom avermelhado, parecido com ele: incomum em uma grande cidade feita a que mora, porque também eram únicos.
Trovão, um temporal no trajeto de retorno pelo serviço tão bem executado e de bom rendimento.
Túnel urbano, concreto, barulho sufocante como uma quente noite de verão, as suas preferidas entre todas. 
 
Dirigindo mansamente até sua casa, ainda um pouco longe, braço para fora, cigarro, rua estreita e atento ao bêbado na calçada vendo seus movimentos em relances. Assentiu a ele mesmo que o infeliz bêbado estava feito gambá. Viu-o caminhar gesticulando e falando em voz alta com alguns de seus 'sabe-se lá o que' - os prováveis demônios que muitos dos 7 bi têm e fazem de conta que não têm este mal nas mentes. Bem devagar em segunda marcha àquela hora e não é que o pária da sociedade quase se arremeteu em direção ao semi-novo sedã de velho? Ficou volteando os braços para trás; nada resolveu e por fim cai na rua de joelhos. E o xingou e muito com os palavrões todos.
Na hora que ele toma tento da situação, conseguiu desviar-se do mesmo e por pouco não bateu no importado da direita, estacionado, último ano, conversível, de bacana.

"Mas este maltrapilho fedorento me mata do coração! Que susto dos infernos! Porque ele não volta para o buraco de onde saiu? Porque ele não se enterra nesta porra de buraco que deve morar? Filho de uma peçonhenta pessoa. Que susto, eu podia tê-lo matado, assim, em alguns segundos. Alcoólatra dos infernos. Deveria morrer, mas não assim! Que susto incrível! Cadê meu cigarro? Ainda bem que eu tive um reflexo rápido, porque senão ia ser uma dor de cabeça. Aqueles dois caras, companheiros do pinguço, viram tudo o que aconteceu. Cachaceiro! Podia ter matado e ainda quase porrei no meio daquele 'carrão', caro que vale uns cinco do meu".

Olhou pelo retrovisor e o esfarrapado ainda fazia obscenidades com a mão para ele. Virou à esquerda pela avenida República do Líbano tentando se esquecer do susto, fumando e comendo um chocolate mole em barra e por uns 10 minutos fez tudo compulsivamente; então passou (alterara-se como há muito não ocorria).
Tempo, ganhou tempo pegando o túnel do piloto e na transversal tomou o rumo de sua casa, três quadras dali.

http://chc.cienciahoje.uol.com.br/na-toca-de-antigos-tatus/

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PIBs DOS ESTADOS + DF, 2010

Dados do IBGE (na página  http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2265&id_pagina=1) divulgados neste mês apresentam os números dos PIBs de todos os 26 estados do Brasil + o Distrito Federal em 2010. Não há grande variações sobre o ano de 2009, mas algumas merecem destaque: Minas Gerais (3º) ganhou 0,4% passando a casa dos 9%, Santa Catarina ultrapassou o DF, o Pará quase ultrapassou o Ceará e Pernambunco (10º) atingiu sua melhor marca percentual sobre o total do Brasil, encostando em Goiás.

Na rabeira da tabela, o Acre tirou o lugar do Amapá e o 25º agora, Roraima é o 27º. Em cima, São Paulo teve queda de 0,4% no período, mas ainda lidera - de longe - com cerca de 1/3 de tudo o que o país produziu com um PIB superior a muitos países desenvolvidos (e também maior que o da Argentina e cerca de 2/3 do valor total do México); o Rio de Janeiro teve queda 0,1%. Juntos, SP e RJ concentram ~44% do PIB nacional.

Neste ano, para o Brasil apurou-se o número de R$ 3,77 trilhões (R$ 3.770.085.000.000,00)
          UF             PIB(bi)¹            renda          %

1
SP
1.247.596
30.243
33,092
2
RJ
407.123
25.455
10,799
3
MG
351.381
17.932
9,320
4
RS
252.483
23.606
6,697
5
PR
217.290
20.814
5,760
6
BA
154.340
11.007
4,094
7
SC
152.482
24.398
4,044
8
DF
149.906
58.489
3,976
9
GO
97.576
16.252
2,588
10
PE
95.187
10.822
2,525
11
ES
82.122
23.379
2,178
12
CE
77.865
9.217
2,065
13
PA
77.848
10.259
2,065
14
AM
59.779
17.173
1,585
15
MT
59.600
19.644
1,582
16
MA
45.256
6.889
1,201
17
MS
43.514
17.766
1,154
18
RN
32.339
10.206
0,858
19
PB
31.947
8.481
0,847
20
AL
24.575
7.874
0,652
21
SE
23.932
11.572
0,635
22
RO
23.561
15.098
0,625
23
PI
22.060
7.073
0,585
24
TO
17.240
12.462
0,457
25
AC
8.477
11.567
0,225
26
AP
8.266
12.361
0,219
27
RR
6.341
14.052
0,168


BR
3.770.086
19.766

¹os valores devem ser multiplicados por 1000 pois estão expressos em bilhões de reais

A Região Sudeste que abrange São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo responte por 55,4%, ainda que apresente valores inferiores ao exercício estatístico anterior; ao passo que a Região Norte - Pará, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Acre, Amapá e Roraima - e todos os nove estados do Nordeste vêm aumentando a participação.

Em termos de renda per capita, mais uma vez - e seguidamente - o DF tem quase o dobro do valor da de São Paulo, 2º colocado. Também, na outra ponta, o Piauí deixou de ser o estado mais pobre da república; Sergipe com mais R$ 11 mil mostra a maior renda do NE. Apenas setes UFs do país contabilizaram renda superior à média brasileira: DF, SP, RJ, SC, RS, ES e PR; excluindo-se a capital, os demais pertencem às Regiões Sudeste e Sul.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

VIAGEM XC - NEM CARTILHA, NEM SUAVE

Reprodução "suave" [sítio abaixo]
retorcido, tramado, tecido em tópicos escritos por mãos sujas
de unhas carcomidas até a pele.
tomava como exemplo um exemplo que nem era devido: o pior que havia
(bem próximo, bruto, brasa dormida pronta a incendiar-se)
segue retorcendo tudo o que via pela vida
pelo gosto de fazer tudo mais difícil,
já que de facilidades ele não sabe

nunca soube e não quererá saber... Diz que é tarde para tanto;
"porque se não me entregaram a cartilha, porque devo facilitar?";
agia assim mesmo para verem as dificuldades que lhe foram impostas
e tomou gosto por elas "assim faço jus à 'maravilha' que escolheram a mim";
não se lamentava não, pelo contrário, apreciava
o que os outros viam como injustiça, ele via como normal,
o que viam como morbidez, via como quase prazer;

teve sua queda, seu choro e sua vela e cessou de tentar
desatar nós e construir para ser destruído;
agora, na verdade de um bom tempo pra cá, ele vê uma corda
destas que a vida bem apresenta toda satisfeita,
ele corre para retorcê-la o máximo que puder
à perfeição que só ele mesmo pode conseguir;
joga o mesmo jogo determinado pelos detentores da distribuição

das cartilhas que ensinam sobre a vida, sobre amores, afetos, pessoas... 
o que poderia ser um problema: então todos os recebedores
aprendem estudando o ABC completo?
"até parece! a cartilha ensina, quem recebe tem que aprender"
(nem sempre aprende-se, o que o iguala a estes)
Ele não vai aprender nada, nem ensinar nada;
Ele ficou de fora da lista dos que receberam a cartilha.

http://anos80incriveis.blogspot.com.br/2010/11/cartilha-caminho-suave.html

sábado, 24 de novembro de 2012

VIAGEM LXXXIX - ARRUMANDO UM JEITO DE VIVER

Reprodução [sítio abaixo]
Bate e bate até os punhos ficarem inchados, porque logo mais ficarão roxos, depois marrons e depois amarelos em tons que vão do desmaiado ao morto. Porque veio a dúvida de usar, de não usar, de ameaçar ou não.
Naquele "campo de concentração" no qual o vivente sobrevivia, as câmaras de gás são mamão com açúcar perto de tudo que passara até aqui, mas como tudo muda (é o que dizem por aí...), é passageiro, fica para trás, inicia-se novo ciclo.... O dele iniciou-se depois daquela cartada final em que a chantagem foi chamada de sobrevivência pura, sem mais, sem menos... Nem choro, nem vela.
E nem poderia ser de outro jeito.

Viu, ouviu e escreveu e gravou pelo telefone de parafernália moderna, como os valentes chineses que querem dominar o mundo e ficar tudo só para eles. 
Veio então, após negociação demorada e rude - com socos e punhos e chutes e agarra-agarra -, o acordo para que no fim tudo ser selado, no chão como os jiujiteiros violentos sem orelhas fazem, com um beijo breve, molhado e forte.
Ganhou seu ganha-pão a partir deste dia para ficar tranquilo com aqueles que lhe importam; para voltar àquele que realmente faz valer todo os dias, faça calor, faça frio, estando endinheirado, estando duro, de cama e tomando um café para viver melhor.
Que horas foram aquelas? Quais?

A hora da chantagem.Sem hesitação, tudo passou em sua cabeça como em um curta-metragem que bate na cara e fica, fazendo render discussões entre os moderninhos de plantão na única cidade que isto é possível (modernos também), aqui mesmo em São Paulo, metrópole de tantas caras e jeitos e afazeres.
Fora o último a perpetrar tal subterfúgio lançando mão de artefatos tecnológicos para provar tão antigo vezo humano: o de humilhar e ameaçar com violência extrema. Relutou, mas acabou entrando na luta com a chantagem. 
No tal curta-metragem curtiu-se mesmo o fim - um gran finale real, tal é a vida por aqui- com a resolução resiliente de seus problemas. Minutos de suspense hitchcokiano; claro que em preto-e-branco, filmado em película, cenário dos anos 1920. Tudo para compor sua razão em tal 'exploração'.
E findou-se assim a história.

http://www.stefanaurelius.eu/Censorship_And_Blackmail.html

terça-feira, 13 de novembro de 2012

VIAGEM LXXXVIII - AINDA A FUGA

Reprodução [sítio abaixo]
A fuga de tudo, de todos.
Faz com um pé nas costas
virando as costas para onde não
deve ficar; porque aqui não é mais seu lugar
nem o melhor, nem nada...
A fuga das pessoas da promessa
de uma ajuda tímida ou nenhuma;

de um quê de desdém e dó que danifica,
(domestica a direção que antes voltada para outros)
e acaba, então, por dominar tais relacionamentos.
A fuga, o que pode ser
acrescentado para que nem mesmo olhe para trás?
Ver lá longe, em frente, seguindo
sem muita certeza, apenas a certeza de poder esgueirar-se

daquelas tumbas farônicas que o consumiam
e que atado, preso, estava.
À fuga, soma-se um fôlego incansável,
invencível, respiração controlada e firme; 
tudo para firmar o que mais ele deseja: fugir.
E para isto, começou ontem, manter-se-á hoje
e amanhã, fugirá ainda mais.

Correr e correr: tamanho esforço
traz o esquecimento de tudo aquilo que ele virou as costas,
e sem mais, sem menos, deverá sentir-se aliviado
quando ainda estiver correndo e nem se lembrar mais 
o porquê de sempre olhar para frente.
A fuga o fará viver de uma outra forma, diferente,
eficaz para não desmesurar a tristeza. Esta desaparecerá.

Então, as rotas cordas amarradas, arames farpados retorcidos
e estas amarras que não permitiram amar a nada
e a ninguém, romper-se-ão feito fios de algodão doce
e assistirão sua fraqueza
diante da imensa força de homem em fuga
que conseguiu chegar em primeiro em algum ponto final
de uma corrida que nunca teve chance de ganhar.

http://www.flickr.com/photos/nataliyakhan/3388023029/

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

VIAGEM LXXXVII - DESPREPARO

Reprodução [sítio abaixo]

"E a incompetência, junto ao despreparo
formam a ignorância e o desrespeito.
Basta só chafurdar na lama bem preparada pelo despreparado para tantas outras coisas;
aí, vira-se refém desta ignorância que de santa não tem nada,
mas não é aquela de ignorar algo por falta de conhecimento
tão-somente por assoberbar-se em detrimento ao trabalho de outros.
Juntem tudo: o despreparo/incompetência
+ a lama do fundo
+ a intolerância
+ a falta de querer aprender
+ o desconhecimento das funções vitais
e mexam bem.
Dará nisto, um sem fim de mediocridades que se espalha por aí sem que algo possa ser feito.
Lá na frente, você tentará reverter o irreversível e será tarde,
muito tarde para qualquer reversão mínima que seja".

(mais um daqueles escritos que chegam para ele via correio eletrônico de endereços falsos, vindo sabe lá...)

Estes são os preferidos dele: aqueles que se fazem de bonzinhos, os dissimulados e aqueles que se julgam amigos para sempre desde a primeira hora que lhe veem, acrescentando toques, risos e comentários, todos para agradar seus ouvidos e assim fazer crer que são, de fato, os melhores amigos de todos os tempos. 
Para que tanto procurar? Nem preciso é: eles estão por aí, em todos os lugares, seja no centro de São Paulo, seja lá no deserto ressecado da Namíbia.
Como são farejados por ele de longe sem equívoco algum, ele para, olha e perscruta com vagar que só mesm o ele tem; e aí, certeiro, rápido em um átimo, ele se lança ao alvo: pode ser pela frente, pelas costas ou poelo lado. Até já fez por cima e por baixo. E deveria ter pudor por realizar algo pelas costas deste tão "bonzinhos" seres? 

Que tipo de problema há nisto?
Como ele é despossuído de tais características éticas que tanto agradam ao bom senso coletivo ("Bom senso? Coletivo? Hahaha..."), a coisa toda torna-se ainda mais vil e mais prazerosa para ele aplicar a correção aos despreparados que riem dos outros pela dissimulação que lhes é adquirida por livre vontade. E sendo quando eles não veem também é bom; o que acontece é que prefere que ele seja a última imagem a ter cognição pelas mentes dos escolhidos.
--- Mas se não der, faço mesmo pelas costas, sem problemas.

Passeando na segunda-feira à noite de chuva na grande urbe, as voltas por bairros menos visitados, a facilidade com que deve encontrar os 'taizinhos' de ambos os sexos fez que ele devorasse um tablete de chocolate até se esbaldar. 
O tesão do chocolate ao leite prolongar-se-á até que ele tenha voltado para casa: desmascarar os sonsos é um dos seus deleites que ele se permite à exaustão, tudo escorrendo pelas mãos e boca.

http://www.illustrationsource.com/oas/portfolio/1/

domingo, 11 de novembro de 2012

57 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - FAZENDO-SE NOTAR: ESPELHO

Reprodução [sítio abaixo]
Certa vez, durante um daquele sábados que parece que só mesmo São Paulo tem - em pleno novembro, temperatura de maio, nublado e um certo frio -, ele se mede dos pés à cabeça e observa todo seu corpo pelo grande espelho da porta do armário embutido, com tamanho gigante em retângulo. Não que seja propenso a este tipo de vaidade, que ele julga menor, mas ele vive em um mundo que julga muito a tal vaidade no sentido de estética exagerada (qualquer uma, não apenas as de linhas apolíneas; diferenças são, em certas ocasiões, apenas diferenças...).
E são de todos os tipos: intelectual, financeira, física, de força, e tantas outras. 

Olhando pelo espelho ele nota, com certo atraso ou desleixo, que seu corpo passa por modificações ao longo das 4 décadas de vivência neste pedaço de terra. Algumas partes mantém-se intactas, mesmo com as tais décadas, como por exemplo os pés - motivo de gosto para ele - que nunca tiveram unha encravada nem outros problemas inerentes; verdade mesmo é que os acha bonitos e um tanto rudes, toscos, algo "neolítico". Subindo, pelas panturrilhas... Hum, hoje são melhores de quando estava no ginásio (é, ele é deste tempo de nomenclatura), em razão de ter sido corredor durante uns anos na faculdade. Treinava os 110 metros com obstáculos. Hoje são fortes na medida, condizentes com o restante. Condizentes? Vejamos mais para frente...
De cueca cinza, modelo sunga, sua observação caracteriza-se pela tenacidade.
Hirsuto não é, mas têm pelos como qualquer homem na medida, na média que existe por aí; nas pernas são mais adensados e encaracolados em tom castanho escuro.

Enquanto se observa com vagar e precisão, os outros dois habitantes do castelo invencível, se esbarram próximos a ele e iniciam mais uma das brincadeiras matinais: é o horário no qual ambos estão mais ativos e Felino, mesmo com idade avançada já em anos, dá chapéu atrás de outro no Rex, o jovem com gás todo. Rolam pelo chão da sala e Felino sai em disparada. Rex nem sempre consegue alcançá-lo. E é bom que o conselheiro-mor não deixe, porque o príncipe se joga em cima e fica mordendo sua orelhas. Nunca houve desgaste nesta relação porque parecem que tanto um quanto o utro sabem dos limites que suportam. 
A cena sempre o diverte e hoje ele ri muito, porque Felino deu um leve vacilo e Rex então o abocanhou pelo rabo. Rolam pelo chão do quarto, perto dele.

--- É pelas pernas, eu acho até que poderia sair por aí mais, de bermuda ou shorts. Estão bem plantadas, feito poste quase e disto eu não posso me queixar. Brancas como o resto do corpo porque não vemos areia, nem sol, nem piscina há algum tempo. Bem, nem gosto disto. São boas, parecem mesmo. Eu gosto. Combinam com os pés meio magros e ossudos. Flexionando posso ver a batata se fazendo presente. Delineadas, ok! Pensar que eu nunca joguei bola... As coxas são "ok" e só, nem muito, nem pouco.
E ri dele mesmo.
Com a segunda xícara de café puro na mão, ele continua a análise, nem tão desencanada assim como ele mesmo deve pensar. 
Subindo a coisa toda pode melhorar ou piorar...

Acima das coxas, no seu pau, tudo ok, mesmo que não o use há tempos; não está adoecido fisicamente, a coisa é outra. Nem mesmo circuncisão sofrera, quanto mais doenças venéreas e congêneres. "Está de quando você veio ao mundo hein, 'camarada'!". Quanto ao fisiológico, sim, ele está com sua fábrica de prazer legitimamente intacta e que deve manter-se assim por hora - leia-se por sem saber por quanto... O que balança em par... Balançando permanece, como coadjuvantes principais, ou melhor, co-protagonistas, de filmes que atuara no passado (seus amores, seus encontros casuais).

Logo por ali, acima do púbis, uma concentração maior de pelos, sem ser uma mata fechada, o que deve ter vindo dos dois lados da família; de quando em vez, dá uma aparada para que os fios não se embrenhem demais uns nos outros. A cicatriz pegada ao umbigo - um corte em um acidente quando criança - fechava com chave não sabe se de ouro todo o quadro do baixo-tronco. E o abdômen com uma pequena camada de gordura que adquirira ao longo da comilança de porcaria diurnas e refrigerantes noturnos, em permanente vigilância. "Tudo, menos barriga de homem que bebe cerveja em pé na porta com os botões da camisa mal se fechando. Isto é mesmo uma grande derrota, o que descombina com minha pessoa". 
Marca de sunga nunca tem quase nada, quer dizer, teve uma época que encanara em tê-la, e ele, parecido com um alemão tropical de branco que é, deveria ter marca  de sol para destacar as partes proeminentes escondidas quando às claras. Gostava de sol, mas de ficar na praia... Faz tempo que assumira sua brancura mais que paulistana.
Mexe os braços, dá uma volta e abraça o ar. Tudo isto ainda à frente do espelho para reparar no corpo todo com atenção redobrada; retorce-se, agacha. Nada de pele caída nos bíceps e tríceps que guardavam um pouco da tonicidade.

Barba cerrada, "um arame farpado!" quantas vezes ouvira... Pelo meio das maçãs destacadas até para baixo do pomo-de-adão, espraiando-se desde que começara a puberdade. Por outro lado, as entradas nos cabelos, antes avançando cada ano que passava, agora parecem que estancaram, com os fios brancos lutando para se destacarem entre os castanhos que insistem em ser maioria - na última vitória.
Nota também que a quantidade de pelos nos ombros vem aumentando um tanto desde que começou a notar alguns anos atrás; assim como nas orelhas: quando vê um, arranca veloz e sem dó. Suas costas, de largura média, apresentavam pequenos problemas de dores, ainda mais quando passava horas digitando e lendo: tudo parecia se esticar com uma faca cutucando ali, logo abaixo do pescoço.

Os bichos se aproximam reclamando atenção e carinho. Bem que ele tenta continuar o estudo de si próprio ("e quem mais?"), mas com aqueles bichos se enroscando nele, a coisa toda torna-se impossível. E ele sorri para os 2. 

http://www.customworldbedrooms.co.uk/blog/index.php/category/sliding-doors/