sexta-feira, 30 de novembro de 2012

58 - ALETÓRIAS HISTÓRIAS - CORRENDO DA CHUVA, E SE MOLHOU

Reprodução [sítio abaixo]

Uma sexta diferente está acabando, ou pelo menos para ele, que volta meio apressado para casa correndo da provável chuva que prenunciado-se, acinzenta o céu de São Paulo. Sapatos encharcados, como de costume, o que o fez acelerar o passo, agora uma corrida. E acaba de entrar no metrô, destino o castelo invencível e inexpugnável.
Diferente porque na quarta-feira teve um dia daqueles de quebrar o corpo. Lembrou de outras épocas porque teve  mesma sensação ruim ficando letárgico.
Abriga-se em uma marquise tanto mais larga. E pensa na sensação de letargia, todo molhado. Seu guarda-chuva virou ao contrário no primeiro vento na primeira esquina causando risos em duas moças que viram a cena.

Com uma goteira em seu ombro e esprimido sem ter como se movimentar ele relaxa e pode, assim, observar as pessoas correndo para abrigarem-se da chuva, algumas dando saltos desviamndo de poças parecendo atletas em um desempenho irreparável. Outros, apaenas andando sob chuva, encharcados, como ele. A calça do terno até as coxas, sapato "dentro de uma piscina", cabeça, rosto e ombros.  

"Até minhas costas e barriga, o cinto, tudo molhado pela tempestade que não para. Mais um pouco, e ficaria com tudo dentro cheio de água também. Estou indo para casa, sem problemas, depois lá faço um café bem quente e tiro esta umidade de meu corpo. Vantagem de ser homem nestas horas é que podemos molhar os cabelos e nada acontecer. Esta mulher por exemplo, ao lado aqui, coitada... Está toda lambida da cabeça às costas porque seus cabelos castanho simplesmente murchou com tanta água assim. Que vai pra onde né? Devíamos ter contruído São Paulo com um chão mais permeável. Se mesmo os homens mais de cabeça dura, em alguns momentos, eles permeiam novas ideias, modos e pessoas, porque não o chão da metrópole brasileira".

Enquanto devaneava sobre a quantidade de água que São Pedro mandava do céu com afinco visto somente em tempos de verão e suas chuvas, ele se ajeita e logra sair debaixo da goteira, mesmo porque alguns os abrigados saíram para enfrentar as precipitações do céu de chumbo. No bolso interno do terno de corte bem cabado, cinza bem escuro, ele ouve um aviso de mensagem do telefone. Para pegá-lo, ele esbarra em sua vizinha derrubando o aparelho ao chão.

--- Desculpe. Aqui está, acho que sem danos!
Ela curvou-se e teve a gentileza de entregar para ele.
--- Obrigado, nem precisava se descupar. Eu esbarrei em você, meio atrapalhado e por isto ele caiu. Agradeço.  
--- Estamos com pouco espaço aqui. Acontece. A chuva causa tudo isto não é? Tombos, escorregões, resfriados, enchentes. Ainda assim, prefiro morar em lugar úmido a um lugar seco. Morei em Brasília por três anos e não me adaptei.
--- Passei um inverno lá, fazendo um trabalho. Sofri mesmo e muito com a secura do ar.
--- A umidade, até um pouco demais, faz a gente melhorar, lubrifica, estende, dá cheiro e gosto. E para formar umidade, as moléculas de H20 devem estar juntas, em grande quantidade. Isto é São Paulo né? Tudo junto ao mesmo tempo.
Ele ri ao ouvir. 
--- Nunca fiz esta relação. Você tem razão.
--- Exato. Tenho razão. 
Segundos de silêncio. Quebra-se então.
--- Tenho que ir. Ainda tenho um paciente no consultório. Saí para comprar um suco, comer algo e a chuva me pegou desprevinida. Olhe meu como estou! Trabalho aqui, no prédio envidraçado, todo azul, aqui na rua debaixo.  
Trocam cartões. Ela é psicanalista.

A chuva arrefece e ele inicia a caminhada até em casa, seu castelo seco, limpo e invencível. O conselheiro-mor e o príncipe herdeiro devem estar assustados com o trovejar sem cessar. Liga no fixo e deixa um recado em voz alto para eles: "Estou chegando. Calma que vamos todos ficar juntos aí, bem tranquilos. Falta pouco para a gente se encontrar". Assegurou-se mentalmente que apenas a janela da lavanderia haiva quedado-se aberta. 

http://poleshift.ning.com/profiles/blogs/brazil-risk-of-flooding-and     

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