sexta-feira, 18 de março de 2016

VIAGEM CCLXX - DAS COISAS QUE IMPORTAM

Arquivo pessoal 
A ele? São muitas coisas que importam um pouco; e são poucas coisas que importam muito. Números que poderiam parecer, grosso modo, uma conta do balanço anual de pagamentos, contas das exportações/importações. Economistas, financistas e outros da ramo gostam e se importam; deleitam-se até.

A ele? Bem, ele gosta sim um pouco dos números. Mas aprendera ao longo de metade (para mais) de sua vida que a tentativa de viver em paz, pacificamente, com tranquilidade assertiva, valia muito mais do que possíveis amores, dores destes amores; valia muito mais que fodas, das casuais ou das enganosas... 

Importam a ele outros assuntos que são de um valor incontável - a não ser nas velhas histórias da carochinha, à qual o príncipe de olhos azuis, loiro, alto beija a mocinha desacordada, com cabelo impecável, lábios vermelhos carnudos... - impossíveis de se mensurar ali, na conta, na matemática. 
Quais então?
- horas ininterruptas de sono
- um dia de sol
- uma noite de chuva
- a brisa da manhã no verão
- o aconchego do edredom no inverno
- o chocolate derretido com pão
- o sorriso de um amigo
- rir em conjunto com este amigo
- xadrez e o cavalo louco
- linha do horizonte em São Paulo
- ser apenas (mais) um anônimo em São Paulo
- a liberdade deste anonimato
- o cheiro do pó do café no instante que se abre o pacote
- o cheiro da infância do café coando pela casa
- contos de Machado e de Mário
- o $ ganho honesta e prazerosamente
- a não discussão diante de um insano
- o rebolado de quadris andando pela rua
- ejacular pelo quadril andante
- andar descalço pelo chão, por qualquer solo
- trancar-se em casa depois de um dia de ferro no trabalho
- o banho antes de dormir, em qualquer hora
- a resposta ao bom dia

Tantos fatores e tão pouco amor. 
Um dia, este tão pouco amor tornar-se-á um gigante titânico que, então, subjugará as outras tristezas/melancolias; ele arrepender-se-á dos outros equivocados amores... Um arrependimento que virá, por certo, porque ele, um homem, é igual a todos os outros seres: homens se arrependem desde que o cro-magnon transou com o neardenthal. Reger-se-á por tal arrependimento? Não.


Importará, há que se dizer, que valerá a certeza do amor recíproco. 

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