segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

VIAGEM CCCXLII - REENTRÂNCIAS AO REDOR

Arq. Av. Lins de Vasconcelos/Aclimação, São Paulo
Sempre o professor - de literatura comparada - recebia vias impressas em papel já usado no verso poemas de amor e de ódio. 

Este era de amor; nunca, ou quase nunca, sabia quem escrevera porque o tal autor não assinava... 

"ele se embrenha pelos pelos, pelas reentrâncias
ele se mata em suspirar provocando tremeliques

ele agoniza em arfar umedecendo recônditas fendas
ele chega e festeja o prazer que proporciona

diante disto tudo, em um passado recente
ele sofre pela ausência (mesmo que apenas dias sejam) 
daquela vontade de querer estar por perto
ao redor...

ao redor para sentir o cheiro da pele
ao redor para ouvir o riso desabotoado (que lhe dá colorido novo toda santa vez)
ao redor para escutar histórias, preocupações, realizações
ao redor para ver o amor por aí... por dentro de casa, saindo do banho, vendo TV

no presente só mesmo a agonia da saudade 
desmedida
demeritória 
desproporcional

um descalabro de saudade até o fim de todos os tempos...

'e que tempo é este?' perguntou-lhe um alguém qualquer
(que por certo nunca experimentara ter um sorriso que enobrecesse a própria vida)
'o tempo sem estar junto, isto só traz demérito à nossa felicidade', ele respondeu,
o alguém então desejou tanto ter uma saudade assim.

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