quinta-feira, 7 de novembro de 2013

VIAGEM CLII - OS FANTASMAS DA TARDE

Reprodução [endereço abaixo]
(em alguns destes incontáveis cadernos eletrônicos perdidos pelo mundo, por aí vagando feito alma penada. Quem sabe é vírus... Quem sabe, não é? Mesmo assim, ele abriu o arquivo)

"E estava eu ali, em plena Praça do Patriarca a caminho de outra praça, a da Sé, e vieram e sobrevieram os fantasmas, em plena luz do dia, mortiça de uma primavera com cara de outono, termômetros marcando 15°C em novembro. Nem calor fazia, como já deveria fazer por estas épocas.
"Lá vieram os fantasmas. Rodearam-me e começaram o que melhor sabem fazer, sem samba de despedida, sempre desmedidos: assustaram-me, e de novo, sem sustos, conseguiriam manter minha cabeça em rodopio de redemoinhos, como arbustos secos ao vento em filme de faroeste espaguete dos anos 60.
Vieram e ficaram um tempo, bom tempo, diga-se.

Em meio a multidão dos milhares que ziguezagueiam pelo centro da grande metrópole alfa, quedei-me solitário: sem ruídos de gente, carros, apitos, alarmes... Eu, todo alarmado, por saber que os fantasmas voltaram a me perturbar, comecei a caminhar em passos rápidos para poder chegar à Sé, a tempo do compromisso. Alarmei-me mais quando percebi que quase corria. Mas não para chegar atrasado, porque eu sempre chego adiantado. Corria quase para despistar - com pitadas apressadas em meu sapato que me apertava o pé esquerdo - os tais fantasmas da tarde, há tempos esquecidos.

O pior deles não representava você; porquanto você se fez representar, é claro! O pior era era eu: o passado. Ou seja, o fantasma mais taciturno e mais soturno era eu mesmo do passado agora neste dia presente  de novembro.
Foi ferro. Não quero tudo de novo!
E que casamento perfeito entre você de sempre - e de agora - com o meu eu de antigos dias. À perfeição.

Na calçada estreita da rua Benjamin Constant, com cuidado de desviar-me de qualquer outro vivente que passa - e passam muitos - pelo meu malmequer fantasmagórico, seguia com pressa. 
Ternos, gravatas, churrascos, saltos, gritos, toques de celulares, ofertas e tudo mais. 
Como só eu lhes via, não é mesmo? Deve ser porque existem somente para mim. 'Parabéns para mim'!
Nunca considerei isto permeado de justiça plena, ao contrário, injustamente você voltara naquela tarde cheia de trabalho a me assombrar.
Que seja assim, mas que seja por esta tarde tão-somente. Você deve ir embora.
Sem mais, vá embora".

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