sexta-feira, 8 de março de 2013

03- CARTA DO SUICIDA: ÀS LARVAS DE MOSCA

Reprodução - larva  [sítio abaixo]
Eu sentia os bigatos andarem por todo o meu corpo, me comendo vivo.
Fazendo barulho. Perfurando minha carne podre e boa.
Sonhava sempre com isto enquanto meus pais me encaminharam para um tratamento com um médico alternativo para a época porque eu caí de uma escada porque corria fugindo de um grande cachorro do vizinho ao lado de casa. Ralei-me pela escada subindo que acabei de novo no primeiro degrau. O cotovelo ficou sem pele com uma ferida profunda, em razão do corte que se fez. E o cachorro, soube depois porque ficou meu amigo, queria mesmo pular em mim para brincar. Passadas semanas, o tal ferimento não cicatriza direito. 

O doutor disse que o tecido já começara a necrosar e que não havia muito o que pudesse ser feito, desde então. Corria o risco - eu que corria, claro, porque corri antes - de ficar sem meu braço direito, ter que amputar . Até que na 5ª ou 6ª vez que me levaram ao consultório para abrir, limpar o machucado que ficava de cor vermelho escura e chorar por isto, o médico comentou que um novo tratamento poderia ser aplicado em meu cotovelo.

"Larvas de mosca, sim senhora", explicou diante dos olhos estupefatos de minha mãe. Eu confesso que fiquei ali, como se aquilo fora dito em outra dimensão, que não se dirigia a mim. Emendou que as ditas comeriam apenas a carne que não está se regenerando e que a saudável intacta quedaria-se por toda minha vida.
Então, passados uns dias, fomos ao hospital do outro lado da cidade, bem cedo. eu, rezando, pedindo a Deus, para que curasse imediatamente a tal ferida que não se fechava para que não precisasse recorrer àqueles bigatos brancos que se contorciam como... Larvas que são.
De nada adiantaram minhas preces. Tudo cheio de pus, com uma cor escura, com cheiro forte de coisa quase podre; ela continuava a desafiar os antibióticos, os cicatrizantes e mais o que colocasse por ali. 

Que remédio mais amargo, nenhum xarope poderia ser pior.
Instalaram as tais larvas e eu não senti nada, mas morria de nojo. Morro ainda. 
Resolveu-se o problema da ferida depois de quase dois meses de tira/põe larva, tira/põe larva, a cicatriz ainda ficou do corte até hoje. 

Durante um bom tempo, sonhei com elas: percorriam todo meu corpo, adentrando em meus ouvidos e boca, saíam pelo nariz e caminhavam ao bel-prazer pelo meu corpo. Os sonhos cessaram quando iniciei uma terapia gratuita pelo sistema de saúde porque o psiquiatra interessou-se pelo caso "o rapaz que tem pesadelos com larvas de mosca que comem sua carne". Mereci ser estudado e registrado. Os pesadelos foram embora e dormi bem por anos e anos.
Semana passada ele voltou. Elas caminhavam mais rapidamente e agora faziam barulho como um pequeno chiado agudo. Mergulhavam na carne, eu as ouvia e via, quieto sem conseguir me mexer. Anteontem, ontem...
Hoje tive o mesmo pesadelo com as larvinhas brancas, com seus "caninos" grandes.

http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/2010/08/05/usando-microscopio-eletronico-jornal-britanico-exibe-impressionantes-fotos-de-insetos/

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