quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

VIAGEM XXI

Reprodução
Respirava-se um cheiro de mel pelo ar naquele pedaço de chão umído, doce demais,
que não vinha debaixo, vinha-lhe à altura das narinas dilatadas
pelas noite sem dormir há alguns dias, por certo.
Olhou para verificar a existência de alguma colmeia; 
se tivesse, ali não seria mais o melhor lugar.
Nem sabe como fora parar naquele lugar esquecido 
que parecia ninguém saber do paredeiro de ninguém.

Levantou o vidro do semi-novo carro comprado por insistência de uma promessa feita anos atrás ao velho amigo; 
toda hora quebrava a tal manivela do modelo setentista-retrô.
Debaixo de uma garagem de uma casa que não sabia de quem, pôde estacionar e sair.
Espreguiçou-se, esticou as pernas estralando os tornozelos; ecoou no espaço.
Examinou com certa acuidade procurando controlar o barulho do ar entrando e saindo, entrando e saindo; isto atrapalha os ouvidos.
Recostou sob o capô. Não havia nada nem ninguém à espreita.
"Só o usual. Espreitando sempre", pensou
Havia janelas grandes nos 3 lados da construção. Conservadas até, em vista do chão vermelhão trincado,
partes de paredes sem reboco;
o mofo e teias de aranha nos cantos do teto.
Chuva forte e os trovões aquietaram o mundo lá fora.
Ali, eram ele, os trovões e o carro - pronto para qualquer emergência (menos o vidro do motorista).

Programou o GPS para que não houvesse perda de tempo como acontecera horas atrás na saída de São Paulo, alterado que ficou.
Descansou um pouco de dirigir. Estudou as rotas possíveis, que se não se configuravam em rotas de escape,
podiam funcionar para ele que desejava chamar o menos atenção, 
e esparar a chuva passar. 
Olhou outra vez por todo o ambiente cheirando a mel. Tudo tranquilo.
Recostou-se e dormiu no banco da frente com a perna esquerda para fora.
Acordou e a chuva persistia mais tranquila, só o dia que já tinha ido embora no horário de verão do trópico de Capricórnio.
(não dormia assim havia meses, pensou)
E ele iria agora procurar mais o que fazer.
"Quero fazer de novo".

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