quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

24 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - MURALHAS III

Reprodução, muralha de Adriano, Centro-Sul da Escócia
Mesmo que não quisesse pensar assim, seu castelo em meio a maior urbe de todo o hemisfério ocidental e sul, com milhões morando sob o meu azul, tornou-se sua cidadela inexpugnável ao exterior. Reduto de tudo o que ele não podia mudar no mundo, no trabalho, na rua e em qualquer outro lugar/situação. 
Cidadela fortificada por anos a fio sem cochilar uma vez sequer. Muralhas ainda em condições de suportar o quanto mais viesse.
"Ficou bom assim", anuía falando em voz alta para as paredes ouvirem. 
Tudo conforme ele se dizia toda vez que fechava a porta pelo lado de fora e tomava situação do que ocorreria no mundo que não o dele, e toda vez que abria e jogava-se em qualquer canto do castelo. 
Seus companheiros povoavam a edificação. Havia seres, portanto.

Já naquele castelo insistemente aparecido em seu sonhos de noites por aí... 
Parecia tão distante e ao mesmo tempo tão solitário. Longe, frio e empoeirado.
Fortaleza. Apesar de o sofrimento emergir de tempos em tempos - leia-se quase todo dia -, aprendera que ao lidar com a vida pode-se ficar estacado em um ponto; mesmo que seja o ponto onde está o amor e a cumplicidade.
Desmemorizara-se desta parte. Desconfiara desde então de todos que fossem de fora da fortificação. O que as pessoas não entediam é que a maior fortificação, o maior castelo de pedra, imponente, é ele mesmo. É o que trazia de bagagem nas costas cansadas do começo de tudo até agora. 
Um dia acabará, por certo.
Ansioso que estava para retornar à cidadela sitiada, aumentou os passos só lembrando de como quedava-se relaxado ao andar descalço por ela. havia sim um sentinmento de pertença àquele lugar, habitado por ele mais de 15 anos.
Transformações aconteceram pela vizinhança. Observador, via tudo sem se impressionar pela qual fosse a mais alta, ou moderna ou mais cara. 
Nada disso.
"Bom mesmo é meu castelo. Tão bom que nem me patrulho mais em falar castelo. E não é? Tenho aqui tudo o que eu prdciso. Harmonia plena entre os habitantes do pequeno feudo e de harmonia é tudo o que é necessário. 
É suficiente o que tenho que ver, ou melhor, o que tenho que aturar onde o caos para uns predomina. Mas aqui, tenho eu, o Felino e Rex. Fica bom assim".

Chuva de verão e os passos corridos tornaram-se. Morava a 10 minutos do trabalho que o sustentava para que ele pudesse sustentar o suas construções morais marcando sua psique.
Via-se em seus olhos que o mundo para ele não trazia nada, ou quase nada, de surpresas. Falta de entusiasmo não era; faltava excitação, gana, pelas coisas aqui de fora que não fosse o trabalho.
Pronto, enfim chegou a salvo.
Tirou os sapatos logo na entrada. Gravata, camisa. Chegou no quarto viu o Felino olhar com aquela cara de sono. Rex, já passos atrás em seu encalço. 
Minutos de euforia. Afagando o cachorro, descobrira que coçar perto de suas orelhas o fazia acalmar. 
Deitou-se entção em seu local preferido do castelo: o chão da sala. Abraçado ao Rex, dormitou por duas horas

Séries de cruzamentos feitos pelo caminhar de séculos dos povos que por aqui passaram carregando armas e visões de uma terra melhor.
Onde está agora, havia nevado suavemente há pouco na virada da noite para o dia. O céu claramente aberto pela manhã carreava odores vindos de muitas das pequenas árvores limbosas em sua face sul. 
Vestindo o que se podia chamar de uma roupa que ele... Não sabe como chamar. Desconforto nos pés em que os sapatos pretos calçados de tamanho menor apertam os dedos e esfolam os calcanhares.
'Meus pés parecem que rangem dentro a cada passo. Lembra a porta daquele castelo escocês de pedra. Até que parasse de ranger doia meu ouvido toda vez que eu entrava lá... Agora o barulho se foi. 
O que eu ouço mesmo são os guinchos dos rastejantes peludos, bigodudos'.
Vê a muralha construída no ponto mais ao norte da Europa conhecida pelos romanos.
Segue pelo caminho menos nítido no chão e faltando alguns metros..."

Horas, horas... Noite alta já. Por isto mesmo, o estômago vazio o acorda roncando. Ainda deitado passa os olhos pela porta da sacada. Rex fora dormir com Felino não sem antes arrastar e espalhar o saco de ração em volta dele. O que ele enxerga é o mundo lá fora, ouve o mundo lá de fora. e pensa que "será que não está na hora de voltar?". 
Voltou a atenção aos dois outros e sua própria fome. Pizza congelada.  

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