quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

25 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - SAPATOS PRETOS

Reprodução
Refúgio bem montado era como caracterizava seu castelo, a cidadela intransponível pelos ratos, pelos humanos ratos e por toda espécie de ser vivo que pudesse e/ou quisesse adentrar pelas grossas paredes.
Com fervor especial, a hora mais avisada pelo cérebro depois que saia do enorme prédio de escritórios bacanas, habitado por mais de 500 pessoas, era aquela de apressar o passo e correr o mais rápído que conseguisse. 
Virando à direta, depois à esquerda, andando mais 300 metros e lá montado estava o soberbo, do tipo inabalável. Construção recente, erguia-se a mais andares do que qualquer outro ali pelos arredores citadinos de Vila Mariana. Olhava e via com satisfação aquele monumental prédio de apartamentos com as enormes sacadas dispostas em "L". O seu estava no 7º andar, não muito alto diga-se a verdade, mas o suficiente para ainda ouvir os barulhos da madrugada que vinham do rés do chão da rua até os aviões e helicópteros que margeavam perseguição a algum marginal que sempre lograva a máxima de Andy Warhol.

Nem mesmo dobrara à direita e chuva veio forte, pesada, primeiro de espaçados pingos; que logo fizeram um junta-junta. Saído de uma dor de garganta não tinha 2 dias não quis tomar a bênção exagerada vinda do céu. Abrigou-se embaixo de uma marquise até que limpa de bitucas para o horário.
Desde ontem quando pensara que quiçá fosse a hora de restabelecer algum contacto mais ativo, ele pensara o dia todo a respeito. Ainda não sabia precisar porque; viver sem precisar soava melhor para ele.
Protegido da  chuva - menos os sapatos pretos envernizados imaculadamente - ele perscruta, como faz pelas madrugadas de andanças internas do castelo, os passantes, os transeuntes.

"Restabelecer o que não é mesmo? Superei da outra vez, do ocorrido aprontado por um verme parasita"; aliás o tal verme em questão trabalha no mesmo local e ele é obrigado a conviver sem ao menos ter tomado uma vez sequer uma colherada das cheias de chá de vermífugo.

"Tenho que admitir que as pessoas são parecidas, mas não iguais. Aquela mulher alta, quase ruiva, por exemplo deve ser melhor. Com este sorriso, tem um cara de paz. Posso estar enganado. E o outro senhor ali, já com mais de 60 querendo aparentar menos de 40. Cada um que aparece".

Riu para ele mesmo. Os critérios utiulizados para comparar - mesmo que não gostasse de comparações - um humano com outro rezava pela cartilha de Pilatos quando lavou as mãos.
Ainda podia ver o prédio que trabalhava, havia apenas atravessado a movintada avenida entupindo-se pelo trânsito e chuva. Olhou de novo, de cima até a entrada de grandes portas de vridro blindado de tom grafite. Os segunraças de ma hálito ainda estavam por lá. As recepcionistas pareciam saair uma atrás da outra.
Ele poderia voltar, porque a chuva apertara e o abrigo quedava-se mais desabrigado e molhado.

"Porque mesmo eu tenhos que restabelecer contacto? Aqui eu onde eu trabalho e meu castelo são suficientes para minha vida. Aprendi e não prentendo desaprender a lição. Então porque fiquei pensando em alguma forma, em algum porquê para achar uma razão que me fizesse mudar".

Em um átimo, saiu à chuva e caminhou calmamente até sua casa. Os sapatos encharcaram-se e ficou todo molhado da cintura para baixo. Sentiu sua cueca empapar-se sob o fino tecido da calça. 
Subindo o elevador o sono como um "imperium" creditado ao césares augustos de Roma como de costume apareceu.
Enxugado todo, jantou e foi brincar com os dois seres do castelo. Não as ratazanas do poço, do fosso do castelo de pedra; a tríade formada agora ainda supria outras vontades.
Dormiu por ali, junto de Felino e Rex. Acordou no meio da noite com o braço esquerdo formigando. Pegou o par de sapatos deixados à porta de entrada e, no escuro total, foi à área de serviço e o colocou junto do aquecedor elétrico. Notou que mesmo úmidos o brilho do verniz não se desfizera deles.
A luz azul do corredor indicava o caminho correto: estirou-se na cama suado que estava e dormiu de imediato, vezo comum dele.
Os sapatos foram colocados na lavanderia junto do aquecedor elétrico.

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