terça-feira, 27 de setembro de 2011

URBANIZAÇÃO CONCENTRADA E DESCENTRALIZADA - I

MACROCEFALIA URBANA - CIDADES
Macrocefalia urbana (MU) é um conceito que se aplica com mais frequência a países de industrialização tardia e a países subdesenvolvidos e com médio grau de desenvolvimento; refere-se ao crescimento das cidades. Na parte rica do globo terrestre, este processo atualmente não é encontrado. Este grupo gerou um desenvolvimento econômico nas cidades mais planejado e já apresenta há algumas décadas baixo crescimento populacional. 
Tudo o que a parte pobre não teve ou ainda não tem.
O que é então MU?
Compreende-se que ocorre a MU quando há uma  cidade "X" em país um "Y" que concentra boa parte (por vezes mais da metade) das atividades econômicas - serviços e indústria - e das atividades culturais. Mas, principalmente, em meu entendimento, quando poucas cidades (pertencentes em geral a uma divisão administrativa tão-somente), ou mesmo uma, concentram considerável parte da população absoluta e relativa do território nacional; há uma grande concentração destes fatores em um pequeno território. Isto pode se repetir em nível nacional ou mesmo regional. Urbanização concentrada.
Traduzindo: países com urbanização descentralizada não apresentam, a rigor, macrocefalia urbana.

Então, quais países encaixam-se na categoria de MU?
Vizinhos nossos. São dois os primeiros que me vêm à cabeça: Uruguai e Argentina. 
Vamos lá. 
a. Montevidéu tem ~1,34 milhão de habitantes (RM 1,65), o Uruguai tem ~3,34 milhões, ou seja, 40% da população total do país. A 2º maior cidade, Salto, não alcança 100 mil; acrescenta-se ao fato de a capital representar mais de 50% do PIB da nação. Ressaltando que culturalmente o Uruguai é Montevidéu. É um caso explícito de MU.
b. Buenos Aires, segundo o censo argentino de 2010, tem 2.890.151 habitantes de um total de 40,1 milhões. O número se refere somente à cidade; já a Grande Buenos Aires tem 12.806.866, que correspondem a 31% dos argentinos. A > cidade fora da GBA é Córdoba com 1.329.604 habitantes, porque a 2ª fica dentro da metrópole bonarense, La Matanza. 
E para deixar escancarado o fenômeno de MU na Argentina, a província de Buenos Aires (capital La Plata) tem 15,6 milhões de habitantes e juntando com a cidade de BA, chegamos a um número ~18,5 mi. Incríveis 46% do total de argentinos; cujos quais produzem também mais de 50% do PIB total. 
Outros países da América do Sul podem ser enquadrados na MU, como Peru e Chile. 
c. Lima (mais Callao, seu porto), a província de mesmo nome possui ~1/3 da população total, ou seja, 9,3 milhões de um total ~29 milhões de habitantes; a 2ª >, Trujillo, tem 785 mil. É o maior centro econômico e cultural da nação e que detém índices  sociais acima da média do país; Lima e província detêm mais de 45% do PIB do país.
d. Santiago; no Chile a MU também é evidente. A capital e RM não encontra rival à altura em termos número de habitantes e no peso do PIB chileno. A RM de Santiago (área que corresponde a província de mesmo nome), segundo estimativas do INE para 2010, tem 6,9 milhões de um total de 17,1 mi, + de 40%! Em um território que corresponde a menos de 3% do total de km²! Para efeito de comparação, diante do gigantismo santiaguense, as outras cidades excluindo a RM, não ultrapassam os 350 mil habitantes. 
Finalizando, a MU é um processo que a médio prazo não deve se manter em razão de ser uma "fonte" de estagnação econômica e social de outras regiões de países que a apresentem. Se no Brasil, em hipótese, ocorrresse a macrocefalia em números parecidos com os da Argentina, por exemplo, a GSP saltaria dos atuais quase 20 milhões para algo em torno de 55 mi (!) e o Estado de SP teria entre ~88 milhões!! Com acréscimo no PIB R$ 350 bilhões.

Em outros continentes este processo de urbanização se deu de forma similar como nas nações africanas que sofreram o mesmo mais tardiamente e demograficamente mais 'explosivo'. Lá, os índice de natalidade e fecundidade são os mais altos do planeta, em que pese o alto de mortalidade e um crescimento urbano - e econômico - ainda mais desorganizado que o latino-americano. Ambiente um... Tanto propício, diria, para que em alguns países seja constatada a MU (país, capital):
Senegal, Dacar; Tanzânia, Dar-es-Salaan; Angola, Luanda; Uganda, Campala; Congo, Brazzaville são alguns exemplos. Hoje a população da África é de ~1 bilhão. 
E na Ásia, creio que um exemplo de MU - ainda que não 'exatamente' - é a Indonésia, 4ª nação mais populosa com 237 milhões de habitantes. Só na ilha de Java vivem 136 milhões. São 6 pequenas províncias que concentram mais de 55% dos indonésios.
Urbanização descentralizada é um fator comum a nações de diferentes níveis sócio-econômicos: EUA, China, Índia, Rússia e Brasil. Canadá (35 mi) e Austrália (23 mi) são grandes países com pequenas áreas densamente povoadas em um meio de um grande nada de ninguém... Mas não podem ser enquadrados na MU no aspecto cultural e econômico; afinal são do clube dos bacanas.
Penso que concentração econômica, primeiramente, em uma ou poucas áreas pode ser um sério vetor contra o desenvolvimento social de uma nação.

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