quinta-feira, 22 de setembro de 2011

TERRITORIALIDADE

(aviso desde já aos navegantes que porventura vieram a dar com os costados de suas naus por aqui, em "mares nunca dantes navegados", eu tive uma ideia mas ao longo da postagem acho que agreguei outra e deu no que deu... No fim, acho que fiz de algum jeito a conexão entre as duas)

I -
O que trato aqui, nesta postagem, é sobre uma questão que levanta polêmica, gera ufanismos meio idiotas, faz surgir a xenofobia e os nacionalistas manipulados exacerbados na defesa de sua suposta ou de facto terra. É, não mudamos muito desde antes das grandes civilizações na Ásia, como Mesopotâmia, dinastias chinesas e sociedades na Índia; claro que no período neolítico já havia deslocamentos humanos, coleta e até mesmo um início de agricultura - de cultivo à terra -, e a domesticação de animais.
Percebe-se então que a luta por terra entre nós começou faz milênios!

II-
Adiantando um pouco o tempo, até o século XXI, vemos que perdura o sistema de confrontação por meio de guerras de motivos econômicos, territoriais, étnicos e o pior de todos, em meu entendimento, de motivos religiosos.
Como estudo por conta própria história desde o período da Antiguidade, atlas antigos, mapas étnicos, geográficos e religiosos, dados demográficos e estatísticos relacionados, notei que o mapa da Europa sofreu e ainda sofre de problemas de territorialidade, conflitos étnicos-religiosos e movimentos separatistas. Fazendo um contraponto, há quase 110 anos que o Brasil mantém uma paz em sua fronteiras com seus 9 vizinhos mais o "ultramarino departamento" da Guiana Francesa, o que é uma façanha! Na verdade, a gente brigou mesmo em... 1899-1903 a última vez se não me engano, contra a Bolívia na Questão do Acre.
Esta paz fronteiriça não é comum para muitos países que vivem conflitos de todas as espécies (como os que citei acima) e é uma boa prerrogativa para o país se firmar como âncora da paz entre as nações com reverberações que vão além do subcontinente latino-americano. Temos 8,51 milhões de km² e nenhum, ressalto, nenhum movimento separatista; tampouco nos mais de 15 mil km de fronteiras terrestres não há sequer um movimento que pudesse ser considerado agressivo pelas Forças Armadas da República por parte dos vizinhos: a Argentina - (antigo) inimigo (uma idiotice sem tamanho!) a ser vencido -, e segunda economia e território da América do Sul mantém boas relações em vários níveis com o vizinho subcontinental (Brasil).
Portanto, somos um país de paz até agora. E nossas reivindicações territoriais foram resolvidas por intermédio de arbitrações internacionais, pelo menos boa parte delas. Incluo as Ilhas do Atlântico.

III -EUROPA
Já na Europa, o berço de nossa civilização (ainda bem, graças!), as disputas vêm desde os gregos antigos e se perpetuaram até o século XX no "centro" antigo e novo do continente e até o século XXI na "periferia" europeia: entenda-se por 'centro' (ainda que este conceito possa ser contraposto) países como - em ordem aleatória - Rússia, Alemanha, Itália, França, Reino Unido, Espanha, Polônia, Dinamarca, Impérios Árabe, Turco-Otamano, e Austro-Húngaro, Holanda e Suécia (e Portugal, pode ser?). Todas as guerras e interesses no continente tiveram estes como protagonistas em dado momento. Em 1945 acabou a guerra no continente: alemães vivem em  paz com franceses, italianos com ingleses, gregos com turcos, poloneses com russos, e por aí vai... Para dar alguns exemplos.
As guerras acabaram, seja dito, no continente, menos em uma das regiões da Europa.
Porque nos Bálcãs não se pode dizer que acabaram efetivamente! Lutaram (até bem pouco tempo) nesta região menor que o estado do Mato Grosso e com população de mais de 65 milhões de habitantes vários exércitos e povos de todas as épocas. Conviveram (e convivem) povos de antagônicas e próximas culturas, religiões, costumes e interesses. A cizânia alastrou-se.
Nos Bálcãs - uma península - há esta miríade estabelecida 'territorialmente' que nem sempre se coaduna com as atuais fronteiras entre os países, que são: 
Eslovênia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegóvina, Montenegro, Macedônia, Albânia, Grécia e ilhas, Turquia Europeia (Istambul está aí... ok?), Bulgária, Romênia, Moldávia e porque não parte sul da Hungria,  e (tequinho) da Ucrânia; e se tinha Ucrânia, havia a URSS... Russos também habitam a península, bem como italianos, alemães, judeus, eslovacos, valáquios (vlachs) e os ciganos - povo roma. 
Os eslavos constituem maioria na Bulgária, Macedônia, Sérvia, Croácia, Eslovênia, Montenegro e na Bósnia (reitero que religiosamente as coisas mudam...) acrescentado as minorias russas e ucranianas. Porém, há forte presença em determinadas regiões de povos germânicos, túrquicos, magiares (húngaros) e na Grécia, os gregos... rsrsrs; além de albaneses que se espalharam também pela Sérvia, Bósnia e Montenegro, e na Macedônia - onde são quase 1/3 da população total; há uma minoria grega no sul da Albânia. Merece nota a minoria húngara na Sérvia, 4%, mas primeiramente na Romênia, onde são ~11% e a minoria de ~10% de turcos na Bulgária.
E claro, a "grande ilha do 'Latium'" em meio a um mar eslavo: Romênia (e Moldávia), povo latino como nós. É o maior e mais populoso da região. Outros latinos - os italianos - se concentram na Ístria² e em algumas cidades e ilhas na costa da Dalmácia³.
Outros povos não-eslavos como alemães são encontrados em regiões da Romênia, Sérvia e Eslovênia, onde há presença de austríacos também. 
E tem Kosovo¹...
É uma "mixórdia" só em milênios de história, de idas e vindas, de ganhos e perdas, de alianças, de reveses nestas mesmas
E dura até hoje. 

IV - 
Há o fator língua, alfabeto... Sérvios, assim como macedônios eslavos e búlgaros usam o cirílico; o grego usa o grego... rsrs (originou o russo, que é cirílico), croatas usam o latino, assim como os albaneses, bósnios, húngaros, romenos e turcos (com variantes, evidente). Mas tanto sérvios quanto croatas, montenegrinos, macedônios, eslovenos, búlgaros e  parte dos bósnios são eslavos. Que misturada!
E o fator religioso só contribuiu e contribui para que a coisa se complique um tanto mais: há cristãos majoritariamente - ortodoxos, católicos e protestantes  - e muçulmanos minoriariamente, de maioria sunita.
Os ortodoxos são maioria em todos os países contínuos, com exceção da Albânia, Eslovênia e Croácia; há, porém uma minoria islâmica espalhada por quase todo os Bálcãs; na Hungria católicos prevalecem, seguidos pelos protestantes.
Na Bósnia 40% são muçulmanos - eslavos islamizados em sua maioria que contituem o maior grupo unitariamente; na Albânia, mais de 75%, com minoria católica. Em Montenegro 18% e na Macedônia 32%. Há também os turcos minoritariamente espalhados pela Bulgária - por exemplo, onde são 12% -, Macedônia, Grécia e Bósnia que professam o islamismo.
Entretanto, na Romênia e na Sérvia (excluindo Kosovo então...) os ortodoxos são mais de 95% do total, mesmo ocorre na Grécia, a ponta da península; Bulgária, 85%; e Montenegro ~75%; Macedônia quase 2/3. Na Croácia os católicos são 88%, com minoria protestante e na Eslovênia são ~60%.
Na Bósnia-Herzegóvina, os cristãos são maioria, quase 60%: sérvios ortodoxos, 31%, croatas católicos, 15%, protestantes em geral, 4% e outros.
Eita! 

V -BRASIL
É bem interessante a história do lugar, uma região de encontro de muitas civilizações, muitos povos, línguas... Interesses comuns entre alguns, interesses contrários entre outros que permeou a história desta região da Terra.
Enquanto que no País-continente, somos absolutamente e resolutamente coesos em nosso imenso território; e isto é nossa maior força. Somos mais de 190 milhões que nem sequer pensam em realizar movimentos de carácter separatista. Somos uma União indissolúvel. Não há "guerra" - por motivo qualquer que fosse - entre estados e/ou municípios. Nem lutas dentro de estados e/ou municípios, ora!
Falamos um mesmo idioma do Oiapoque ao Chuí, da Serra de Contamana à Ponta do Seixas, com pequenas variantes: quiçá o maior legado que Portugal nos deu.
Somos cristãos majoritariamente e razoalvemente tolerantes com aqueles que não o são.
E temos os nossos problemas estruturais que ainda não foram resolvidos.  
Educação, o primeiro deles.
Nossas mazelas estão aí à mostra, a olhos nus. Políticos canalhas, corrupção, tráfico, extermínio de gente.
Entretanto. 
Todavia.
Contudo, aqui no País-continente, não temos aqueles problemas tampouco aquela mistureba (uma ruim, porque a nossa é boa!) de gente/religião/costumes/povos... Guerras! Não as temos, pelo menos não "oficiais", digamos.
Aproveitando as falas da senhora Rousseff na Assembleia da ONU, o Brasil pode ser sim membro permanente do Conselho de Segurança (CS), com todo o bônus e todo o ônus que este reconhecimento possa acarretar. O lugar não é para brincadeira tampouco para interesses partidários (que seriam mesquinhos) dada a importância da cadeira no CS.
Deve ser uma política de Estado de uma nação que pensa pelo Brasil e pelo mundo, agora e depois. Estaremos lá não apenas para defender nossos reais interesses - que devem ser legitimados pelo povo brasileiro -, mas também tentar preservar com todos os esforços a Paz Mundial: este conceito sempre em primeiro lugar.

¹(Que, eu, não reconheço como um país de fato. Tem uma parte  que é muito importante para os sérvios - um monastério - que marca o povo como cristão ortodoxo fazendo parte da identidade religiosa deste povo - o sérvio, refiro-me. Estão lá antes dos turcos-otomanos invadirem e levarem o islã até a Bósnia, Albânia e Kosovo.Claro que isto de chegar primeiro nunca foi impedimento para ninguém em nenhum lugar, nem antes nem agora. No fim, até mesmo a Sérvia vai reconhecer 'de facto' Kosovo; faz parte do desejo de entrar para a União Europeia. Ok. Mas que pode ser um precedente e tanto esta secessão para alguns outros países europeus, como Bélgica, Reino Unido e Espanha, sem mencionar a Rússia; os dois últimos não reconheceram Kosovo como país independente. Na Itália parece que o movimento arrefeceu)

[Tem também Chipre que é um problema sem tamanho para Turquia/UE no processo de negociações travadas entre ambos para a entrada daquele no 'clube' deste. A ilha continua dividida entre o setor grego - parte maior - e  o turco. Acho um equívoco - para não dizer uma patetice - da Turquia apoiar a República Turca do Norte de Chipre, afinal é  ÚNICA nação no mundo a reconhecer a "tal" RTNC; lembrando que sou simpático ao islamismo moderado do Erdogan e espero que continue moderado porque é um exemplo e tanto como co-existência entre muçulmanos e cristãos...; mas isto é outro assunto]

²(península ao norte do mar Adriático, dividida em entre Itália, < parte, Eslovênia e Croácia, > parte)

³(região da costa leste do mar Adriático que apresenta um litoral recortado e com muitas ilhas; pertence à Croácia)

Nenhum comentário: