segunda-feira, 19 de setembro de 2011

16 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - RATOS II

Durante a semana sonhou de olhos abertos com castelos, roedores, garras e perseguições. Implacáveis. ele pensava que me sua vida "real e de viés" não acontecia nada disto, a não ser oniricamente.
Chegando em casa, o seu castelo diário, há uma certa sensação de conforto. De ao fechar todas as trancas das portas de entrada e saída, ele pudesse ser, ou regrar, o que bem quisesse.
Porque de castelos ele estava ficando assustado. Poeira, cheiro de bolor, meia-luz.
Em casa à noite tudo aceso depois do cair da tarde; porque neste horário, de lusco-fusco era a melhor parte do dia em que podia fechar os olhos, deitar-se no chão duro e confortável e receber afagos do Felino rajado de preto e laranja e muito bigodudo.
Deixava uma fresta de porta aberta para a sacada e sentia o vento sobre o corpo, fixava um ponto no teto e ficava a imaginar suas viagens antes de dormitar como fazem alguns bichos; ali não havia ratazanas conscientes.
Chegara na segunda cansado e sentindo uma dor-de-cabeça agulhando suas têmporas... Chamou o Felino e ele, com languidez peculiar, caminhou até ele. Olhou para cima e olhou para o local onde ambos deitavam.
Foi um chamado compreendido.
Ali mesmo ele tirou sapato envernizado, calça, camiseta, camisa, terno. Ficou de cueca e meia pretas.
Descansar seria bom, ele pensou.
Ratazanas guincham. Águias ouvem.
"Sinto o cheiro de maresia, acordando em um quarto à meia-luz... Não sei se é amanhecendo ou entardecendo... 
O cheiro! Voltou, de maresia".
Sentado na cama, caminhou pelo quarto que não havia porta, somente duas janelas; abriu a menor delas e no parapeito a águia o olhou, descansando sobre. Andou com aquele andar meio desengonçado das aves e pousou em seu ombro.
Olhou para baixo e viu que estava perto do chão, poderia pular. Teve um desejo enorme em ver o mar que mandava recados de odores. Olhou mais uma vez e viu ratazanas a passear pelo chão perto do castelo.
Pedras grandes, frias, cinzas combinando com os roedores acinzentados, rabudos, grandes e destemidos.
A águia voou baixo e cravou as garras na maior delas... E o vento fechou a janela deixando-o do lado de fora.
Desta vez ele não despertou e seguiu no chão até a madrugada.

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