domingo, 25 de setembro de 2011

17 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - MURALHAS

"Nas muralhas do velho castelo escocês, quilômetros acima da muralha de Antonino, ratos tentavam escalar a paredes com suas ágeis pernas e afiadas unhas; aproveiravam-se das ranhuras por entre as pedras e o desgaste natural de se quase mil anos.
No parapeito, debruçado, nada de sentir o cheiro da maresia. O que lhe vinha às narinas era fedor de rato de de fossas por aí. 
Desviou o olhar por um instante - permitiu-se porque a vigorosa águia lhe compunha nos ombros um arremedo de cão-de-guarda - e viu os restos do acampamento legionário romano de Inchtuhill, o lugar mais ao norte que o império sediado em Roma chegou no mundo. Não durou muito, desnortearam-se ao ponto de voltarem à muralha de Antonino.
Não era fim de tarde, o sol estava a pino. Sem calor, o vento gélido das Terras Altas abraçava seu corpo. As pedras sobrepostas pareciam blocos de iglu e as ratazanas marrons, cinzas e pretas continuavam a tentar escalar em busca, ele pensou, do pouco de calor que há dentro das muralhas.
O vento aumentava fazendo seus olhos lacrimejarem. Fechou-os. 
Era hora de entrar na torre, cerrar a porta e procurar algum lugar mais aquecido; seus pés doíam pelo frio e percebendo que estava sem camiseta, apenas de cueca começou a tremer".
Abriu os olhos, consciência. O ponto de sempre no teto permanecia lá, imóvel, impávido... E ele quase riu da palavra. Pulou-lhe sobre o peito Felino e ronronou pedindo carinho de calor.
Mexeu a boca que parecia uma ter cola dentro. Água! Visceralmente desértica. Levantou-se e o séquito de um foi atrás. E para variar, nesta primavera invernal, pelado, mudou a direção e entranhou-se entre edredons formados por listras pretas e gris. Deixou o gato aninhar-se no travesseiro ao lado.


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