quarta-feira, 15 de agosto de 2012

VIAGEM LXVIII - DESMANCHANDO

Reprodução
Olhos no fim do dia no começo da madrugada, raspando feito areia,
o ar, seco como é em agosto.
Longe, mas muito longe, em algum ponto do oceano, ondas se erguem
e se desmancham nelas mesmas. Perceber rente sob água todo o movimento.
No fim, os olhos cansados das lágrimas que caem por todo rosto,
misturando-se àquela pele seca de meia-idade, de vincos tantos.

Nos voos - rente à água - vê-se a cidade por onde quer que se descubra; 
onde há gente que se esconde, que se aterra e que se horroriza.
Nada pode escapar daqueles olhos fatigados, secos e vermelhos.
Onde estão os trovões tonitroantes de antes,
aqui mesmo, perto e que foram se afastando feito uma
tempestade de sons que se vai, levando o ar úmido e fresco de outro tempo?

Uma viga ao longe e agarra-se a ela envonveldo seus braços 
só para savar o que restara daqueles estrato de vida e de luz.
(já na idade de se recolher também como os escondidos?)
Vem a correnteza e ribomba em seu corpo pressionado-o contra e
pressionando contra - igual à força constritora abraçando-o pelo corpo -
até a respiração tornar-se lenta, barulhenta, ainda assim, aguerrida.

Aí veio a vontade robusta de alternar entre segurar até cansar e ficar,
ou soltar, deixar-se levar; e no meio do turbilhão elevar-se para respirar.
Deseja enganar esta pressão, fazer-se mais inteligente, respondendo alto.
Em uma subida para não afundar, fixa-se no azul que vem da luz de cima.
Rota que é rota, verdade; única diante dos meandros de espumas, na miríade de ondas à esquerda, à direita. Um caminho é possível: desmanchando.

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