sábado, 11 de agosto de 2012

45 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - ESCREVENDO

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Determinadas noites, aleatórias, o quarto de estudo torna-se o cômodo preferido pelas altas horas adentro porque ficando ali, pondo em ordem seus livros não publicados, mente ocupada com o que gosta, xícara na mão e a janela apenas com o vidro fechado.
Assim tem sido durante estes dias da semana o que ocasionou poucas horas dormidas. Banira o café da quinta para a sexta. Ontem, porque hoje...
Xícara com os ramos do café ao lado do pc.
Descalço, somente de bermuda sente-se confortável com o pequeno aquecedor elétrico ligado logo ao lado da cadeira voltado para sua cintura. "Aquece o ar sem ir direto na minha cara". 
Abre um, dois, três arquivos esquecidos há alguns meses. Retomar tais escritos para dar um fim digno como nos vários outros que escrevera. 
Apaga alguns que nem se lembra mais porque começara, mais alguns por achar o enredo fraco. E queda-se tranquilo e aquecido verificando um por um. Letras, sílabas, fonemas, palavras, frases, períodos.

Por fim, abre mais um e ainda pela metade, começa a reler a história do homem que vivia no mais alto prédio da cidade, no último andar - o 33º - e que pelas manhãs saía para trabalhar e quie demorava quase 10 minutos de percurso para chegar ao chão. Tudo normal com precisão cronométrica, até o dia, em que fica preso no elevador, desce entre o 16º e 17º andar e vê uma mulher - sua vizinha - sendo estuprada por dois homens mascarados, que nus fazendo dela um sanduíche 'estragado', o ameaçam apontando um revólver calibre .45; eles o dominam e o obrigam a estuprar a moça que parecia desacordada.
"Mas agora ela vai acordar. Está acordando e quem ela vai ver em cima dela, dentro dela é você", diz um deles com o cano em sua boca. 
O outro: "Será que ele vai funcionar para conseguir foder esta vagabunda de quinta que só me fodeu a vida? Sei não, pelo jeito ele não gosta da fruta. Vai ver é frutinha".

Havia escrito até esta cena 89 páginas; e a cena do estupro (dele acordando até estar pelado em cima da mulher) consumira mais quatro. Quando começara, houve a febre e passara horas escrevendo até seus dedos ficarem retorcidos de câimbras inúmeras vezes.
Mas hoje, sexta-feira, decide que vai reler todo ele para encontrar possíveis erros de gramática e/ou digitação.E pode alterar um frase, nada muito drástico.
Lá pelas 4h, suas costas pedem por um alongamento. Aproveita para andar um pouco por todo o espaçoso castelo sem mofo, sem cheiro de umidade, com as luzes apagadas; mas não é lua cheia e a ampla vidraça que dá para a sacada da sala não logra iluminar o lugar. Mesmo assim dirige-se à cozinha com o conselheiro-mor em seus braços e príncipe herdeiro, ficando grande para carregar, atrás deles. Faz-se a luz.
Todos com sede e agora com frio porque deixara a janela da lavanderia escancarada e o vento de agosto atiçou o corpo meio peludo mas desprotegido. Tudo fechado em seguida.
E o sono o venceu; ao passar pelo corredor vê o computador ligado, modo de espera e segue decidido para o quarto: daqui a pouco vai fazer 24 horas acordado. O séquito imperial vai à frente e cada um encontra seu lugar: Rex e Felino enrolam-se no tapete felpudo; ele agora com os pés gelados pega o meião do chão e o veste. Aconchedo embaixo dos edredons, o sono o faz derrapar na curva e capotar.

"Enevoado que mal vê metros ao lado e à frente. Acompanhado de seus 2 soldados subalternos, caminham em silêncio, escalando pequenos aclives, sendo cuidadosos nos declives escorregadios, sem se cansarem. Calçados sujos de barro da chuva da noite.
Pode sentor o ar úmido entrando pelas narinas que ainda detectam o cheiro de clorofila que espalha espelhando toda a vegetação ao redor. Um atrás do outro em uma fila indiana certeira: ele, o sorriso metálico e o de barba feita. Mas esta disposição muda logo e o caminho de se alarga e agora eles se ombreiam.
--- Fico me pertguntando porque resolveram me seguir até aqui sem reclamar de nada, pedir por nada... Porque escolheram minha companhia?
--- Companhia do exército legionário ou pela sua companhia pessoal? Pergunto porque no hospital de bichos muita gente quer qualquer um e alguns poucos preferem escolher quem vai cuidar deles.
--- Eu não sei disto que você está falando. Aliás, o que eu sempre soube é que sou bom para escrever.
--- Então quando a gente chegar no forte e você seguir adiante sozinho vai poder escrever no conforto de seu castelo arejado e seco. Eu e o médico de bichos vamos dar um refresco da nossa companhia. Mas você tem que ir se acostumando".

Pela respiração ofegante e movimentos bruscos, gemidos e grunhidos, ele sonha algo que vem depois que o está deixando agitado. Príncipe e conselheiro acordam com o rebuliço; e observam por segundos. Pronto, quando ele se acalma a manhã volta à toada do sossego e três seres dormem.

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