terça-feira, 28 de agosto de 2012

47 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - LETRAS E PALAVRAS

Reprodução (endereço do sítio abaixo)

Fechando a porta do castelo - sua ponte levadiça agora sem sentinelas -ele pensa que deveria mesmo retomar seus escritos e fazer deles um grande livro, daqueles pesados e grossos, com mais de 500 páginas; igual aos escritores russos fizeram - só ver Doistoiévski e suas obras. Porque o que ele tem de escritos e destes os inacabados, fariam a festa de qualquer editor (uma auto-ironia).

"Será que eu conseguiria retomar minha aliança com minha criatividade nestes tempos de ganhar e muito dinheiro? Tem tantos outros caras que realizam tudo junto e tudo nesta vida. Dinheiro, não é? Por isto que eu acho que não sobre tempo para eu não pensar em qualquer outra coisa. Virei um ermitão, discricionário de mim mesmo, sem nada para retomar... Bem que eu deveria. Bem que eu poderia. E vendo desta assim... ora, sei lá. Porque não descartar o que foi escrito antes - lembro de tanta coisa, de tanta gente ´e iniciar algo novo, no qual as pessoas pudessem participar?".

Antes de andar as poucas quadras até a editora, em casa ainda, no café da manhã, fez tudo como sempre fizera ao longo deses anos de cosntrução do castelo intransponível: com calma e vagar que constratam em demasia com sua performance que apresenta em sua sala de trabalho, na imensa sala povoiada de manuscritos, papéis, livros e toda a parafenália moderna que se possa ter. Andou pela casa porque acordara mais cedo que o relógio-despertador - ainda de madrugada -, fez o café e sentou-se na grande sala sozinho alimentando os sonhos e esperanças de um vida mais promissora de um escritor que pouco escreve, porém que deseja escrever mais, sem parar. 

Saboreando cada gole de café amargo, acabou por lembrar que sua conta, ou melhor, suas contas bancárias haviam crescido em aplicações e saldos sem que aplicasse em nada em sua vida de antiga escritor e que o seu saldo como tal, fora parar no limbo. Transformara-se em alguns poucos anos: de escritor quase sem dinheiro - "na pindaíba usual" - em um executivo engravatado com certo poder financeiro. Ainda sentado, viu que o dia começava a se espraiar lá fora e que deveria levantar-se da poltrona.

Assim que o fez, Felino e Rex vieram ao seu encontro muito felizes cada um expressando como lhe cabe cada espécie seu afeto. Pela manhã, talvez por estar meio sonolento e também pela idade avançada, o conselheiro-mor ronronava e enroscava-se em canelas cabeludas miando baixinho. Já o príncipe herdeiro, todo estabanado pulava e latia sem parar. Espreguiçaram-se, que foi uma delícia de ver, no caminho à cozinha. 

Sai do prédio e vê a metrópole de tanos nomes, de tanos milhões, de tantas coisas e números e palavras e fatos e crimes e soluções como uma verdadeira fonte de qualquer coisa que decidisse escrever. E porque ainda não retomou a carreira de antes, quando andava com um bloco, depois com um gravador e registrava o que via e ouvia e tudo? 
Resposta lhe vem à mente de imediato: sua preocupação em não repetir a vida de antes, nem aquele relacionamento de antes, o último tão natimorto que o enganara desde o primeiro dia. Razões que talvez não merecessem considerações maiores por quase ninguém. Para ele, tornaram-se uma barreira férrea.
Letras e palavras, os fonemas que as formavam... Tudo o que ele sempre quis e que deixou de lado.

Nenhum comentário: