sábado, 18 de agosto de 2012

VIAGEM LXIX - NA CABEÇA

Reprodução do site www.paceintl.net

De um diálogo a dois, ou mesmo, um diálogo entre a voz do interlocutor e o pensamento deste mesmo interlocutor. É assim nestes tempos de nacionalismo barato, de falta de educação, de linchamento da minoria pela maioria ufanista. Pode ser 2012, pôde ser em 1912, ou ainda poderá ser em 2112. Aqui, na Terra das Maravilhas-Brasil, ou no Mali e seus tuaregues islâmicos loucos, ou ainda nos corredores gananciosos de Wall Street.

"Morar aqui nos (tristes talvez?) trópicos traz na memória outros lugares mais aprazíveis de se situar geograficamente. E traz também, outros lugares horrendos com seus governos e elites (sejam as ricas, sejam as criminosas - às vezes há a junção delas, mas nem sempre) que desejam a qualquer custo estabelecer o curso de nossas vidas.
E as minorias? 

--- Aqui, Pensamento, você é muito duro e cruel.  Não se pode ser um vergalhão férreo em não se deixar levar pelos ventos frescos de mudança. Elas estão aí, até mesmo no gigante do Oriente, a China.
--- Aqui, Voz, eu faço um esclarecimento: eles querem dominar o mundo. Sim, os chineses e sua indefectível massa populacional de quase 1,5 bilhão de habitantes. Fica fácil acreditar neste mundo das maravilhas - as navalhas - que você crê existir. Vergalhão? Esta comparação é minha, não sua.
--- Preste atenção: a humanidade está mudando e para melhor...

A Voz redarguiu um sem-fim de argumentos que, a determinada hora, o Pensamento elucubrou estar em uma plateia, na fila do gargarejo, ouvindo os infindáveis discursos dos dois falantes idiotas do Caribe. Riu de tamanha desgraça. Sentiu-se em Havana, mas poderia ser Caracas também.
E assim seguiu o diálogo, sem que o Pensamento contradissesse a Voz; então, diga-se, tornou-se um monólogo de maravilhas navalhadas em que cada um sente dor e onde cada um aceita a dor como melhor lhe aprouver.
Aço, ferro. Pontiagudo em rachar sua caixa craniana e misturar os dados cognitivos dos cérebros. Mas qual é este aço, este ferro? 

A voz voltando a falar e agora mais alto e com eloquência contumaz:
--- Não existe isto, este ferro, este aço.... Este vergalhão. O mundo é um espaço melhor para todos. Veja a ascensão de famintos à mesa posta, a ascenção dos desfavorecidos aos favorecimentos tantos... Repito. Reitero: rumanos para mais felicidade, não há como negar. Veja o progresso, a luz diante dos olhos de todos.
--- Existe o ferro, existe o aço e eles enfiam em sua cabeça para que fiquemos bem comparsas deles. Como? Parece complicado, entretanto, Voz, não é nada. Ficamos à mercê das ideias de sempre. O homo sapiens sapiens é bonzinho mesmo nos contos e estes bonzinhos vencem no maravilhoso mundo de 'todos'".

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