sexta-feira, 3 de agosto de 2012

VIAGEM LXV - BAIXINHO, BAIXINHO...

Reprodução
EU NÃO SABIA DO QUE O AMOR ERA CAPAZ DE ME DAR ATÉ VOCÊ APARECER
Depois de tantos anos, mais de uma década e eu já acostumado ao meu viver simples, tranquilo nem podia imaginar que você apareceria em minha vida e derrubaria as barreiras erguidas com o tempo de sofrimento que me fez ser o que eu era até agora: sozinho, mas sem precisar de ajuda, nem que me acudissem, porém solitário na grande cidade que não para.
Você veio, mansamente, e bagunçou todas as regras à revelia. Misturou-se em minha vida; eu, bem calejado, refutei tal sentimento e tal abordagem. De que adiantou? Nada, você já tinha adentrado em minha vida antes mesmo que eu pudesse esboçar movimentos de reação contrária.
Paciência foi (e é) a grande virtude que você tem dentro de seu coração vermelho, maior e destemido em amar; e você quedou-se paciente, sem atropelos... Até aquela noite que fui vencido pelo seu amor vertido, até que as barreiras trincassem expondo meu coração ao seu, até aquele beijo que eu simplesmente não consegui resistir - eu tentei no início passando em minha mente as dores do passado - e que me fez esquecer todo - todo mesmo - o resto e o que tinha sido até então. Em seguida, minha boca queria ser sua, minha respiração queria respirar o ar que vinha de dentro de você.
Isto foi só o começo.
Era noite, tarde dela já.
E eu fiquei pensando...

Acabamos diferente das outras vezes que você, sutilmente paciente - tentara me desamarrar de mim mesmo: eu fui de braços abertos, coração disparado e olhos que brilhavam. Desta vez, criamos uma cumplicidade sem volta à nossa volta.
Só de amores ficamos naquelas horas da noite de agosto, o mês de desgraça para todo o mundo que pensa assim; eu não, Deus me deu uma graça finita em matéria, em carne, e infinita em sentimento: você.
Acabamos, tranquilos depois de tanto frenesi, enchendo o quarto de barulhos sôfregos, de suores derramados e de vida. Lençol e edredon enrolando-nos como vestes.
Água bebemos do mesmo copo. Queria ser mais seu! Queria ser seu para sempre.
Não tinha mais o que eu pudesse fazer mais para ser mais seu e por isto, eu quase me acabrunhei. 
Você e a sua paciência usual, de voz rouca disse: você já é meu.
"Deita aqui junto, se encosta em mim..."

Lembro bem, eu chorando baixinho... De felicidade naquele instante de madrugada...
Eu e você no quarto depois de um amor que se completa um ao outro.
Quis envolver-me para me fazer dormir.
Eu ainda chorando baixinho, bem baixinho...
E você pergunta com a voz sonolenta:
"Porque está chorando?". Eu disse que era porque eu estava feliz, completo e pacífico como uma paz eterna que só mesmo você podia me dar. Olhou para mim e escancarou um sorriso que o mundo ali, naquele instante, podia acabar porque seu sorriso trouxe um conforto ancestral nunca experimentado.
E vi você adormecer comigo em seus braços e gostei disto. E escutando sua respiração aprofundar-se, pausadamente, iniciando o sono eu pude perceber a felicidade naquele quarto de nós dois, naquele cheiro de nós dois, naquela tranquilidade posta pela primeira vez e que me conquistara. Cada vez mais longa e quem dormiu primeiro foi você. E eu? Bem, eu ainda fiquei ouvindo você e vendo você dormir por algum tempo. Para mim, o mundo se resumia onde estávamos e em seu calor aquecendo meu corpo, fazendo meu coração bater com uma calma que antes eu não tinha nem noção. Logo depois, foi minha vez de adormecer me sentindo o mais feliz do mundo.

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