sábado, 6 de agosto de 2011

052 - "ESPETÁCULO" I

O cheiro de jaula ficava cada vez mais forte. 
Chegaram naquilo que era um arremedo dos antigos teatros de arena gregos; Zeus, o do Olimpo, por certo não gostaria nada, nada, deste lugar.
Fechado na porta principal, que depois vieram a saber que era a destinada aos convidados, o local fora iluminado como uma farmácia 24h. Mesmo com o cheiro forte espalhado pelo ar, o lugar quedava-se limpíssimo como um hospital sem infecção hospitalar. 
"--- Em cinco minutos vocês verão o maior espetáculo feito desde o tempo em que cristãos eram jogados aos leões no Coliseu. Desde o tempo em que Spartacus tornou-se campeão, matando vários outros gladiadores. E outros animais também, mas os de 4 patas".
Riu escarnecidamente expondo os 4 pré-molares de ouro, que refletiam a luz 'farmacológica' do novo Coliseu dos trópicos. 
Duílio e Simão entreolharam-se. E foram surpreendidos quando os separaram, indo cada um de um lado da arena que valia tudo. Não deveriam se comunicar durante os 20 minutos de espetáculo, por isto foram separados. Tampouco nenhum dos convidados deveriam se olhar durante e para isto a arena fora construída em 3 partes com tapumes de 2 metros de altura. 
Aquilo deixou Duílio tão apreensivo que pensou mesmo em dar meia volta, ir embora, um desejo de "quero fugir deste lugar", e quase o fez. "O que o Simão está achando disto? Porque nos separaram?".
Uma sirene soou. Respiração em pausa e o silêncio pesado como um bate-estaca antes do tsunâmi imperava inequívoco. Zeus fez a contagem regressiva."
Prontos? Todos? 10, 9, 8...".
De uma porta saiu um cara grande, forte, parrudo e armado apenas com uma rede e um capacete com motivos gregos. Calçava sandálias fechadas e vestia um shorts de couro preto. O fato real: o gladiador tinha corpo de um e parecia ser bom lutador. Simão notou que o rapaz deve ter praticado aquelas lutas de vale-tudo: suas orelhas carcomidas estavam. "Sem falar no nariz quebrado". 
Simão, na divisão ao lado via aquilo tudo sentindo a adrenalina correr pelo seu corpo. Ansioso, estralava os dedos, cruzava e descruzava as pernas. Queria fumar um cigarro para conter parte de seu nervosismo.
Outra porta se abre, diferente da outra bem à vista, esta estava pintada e desenhada como cor dos azulejos da arena. Passou despercebida pelos dois. Ela corria para cima.
Nova contagem regressiva. 
"Deve aparecer um cara do mesmo tamanho. Talvez, com armas diferentes... Machadinha, lança".
Ele levantou-se atordoado com o que vira. 
"--- Vai começar o show! É aqui que me divirto. Aproveitem", disse Zeus.
Assim que a porta se abriu apareceu uma onça-pintada, das grandes. O felino logo avistou seu oponente, rugiu e avançou veloz, sem medo. 
Simão realmente não esperava por este tipo de luta, nem em sonhos. Quem desejava ir embora agora era ele.

Nenhum comentário: