sábado, 25 de junho de 2011

01 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS

(aqui é uma outra história, de um outro personagem)
Sob um instigante ataque de ira, ao vê-lo, tudo se acalmou diante de seus olhos.
Vermelhos de raiva.
E quem ele terá visto?
O espelho, sua imagem nele naquele dia ficava cada vez mais distorcida.
Nada mudou: boca, dentes amarelados, os olhos castanhos-escuros de cílios longos, barba rala, queixo com furinho... As mesmas entradas no cabelo, o nariz grego, orelhas até pequenas e o mesmo rosto largo e proeminente.
Tudo isto está exatamente como deveria estar.
O que havia cambiado foi o olhar que teve sobre si ao estacar diante do espelho.
Onde estava ele de verdade? Onde?
Depois de tudo aquilo que aconteceu, ele sentia-se em um oceano de águas escuras, turvas, de vagalhões de metros e de águas passadas; parecia que ele não era mais ele, apesar de nada ter feito de botox, plástica, lifting e o cacete a 4.
No oceano sem bússola, sem um céu estrelado e sem ele; ou que ele fora até... Até... Ontem.
Mas hoje, ele não queria bússola alguma e o desejo de perder-se ainda mais só se fez aumentar. No oceano que um dia foi de águas tranquilas, claras.
Fugiu do espelho procurando algo para fazer. Não rolou o tal afazer doméstico. 
Passava da sala para a cozinha, voltava, ia até aos quartos, rodando, andando sem parar.
O copo de café pela metade.
O espelho o perseguia porque onde quer que fosse parecia a ele que o objeto permanecia perto, não deixando que ele se esquecesse de esquecer o que já foi um dia.
"Será minha consciência?".
Foi quando deitou no chão, ao lado da porta da sacada sentindo o vento frio de outono pelo seu corpo. Esticou os olhos em busca do relógio: 7h10.
Relaxou. O copo caiu e espalhou o restante de café. Os pêlos das pernas eriçaram. Dormiu sob um céu nublado com o vento mexendo a persiana da sacada.

Nenhum comentário: