quinta-feira, 23 de junho de 2011

049 - INDO À ARENA

Os outros não falaram nada, apenas o aparentemente chefe da matilha, o homem alfa: com sobrepeso, na casa dos 50 e tantos, altura mediana, uma barba rala por fazer de 3 dias, botas carrapeta e um óculos de fundo de garrafa; seu cabelo nem para um lado, nem para outro, nem repartido... Desalinho geral como sua camisa amarfanhada de um xadrez claro e manchada de marrom. Uma pulseira de ouro de dois dedos de espessura no braço quase liso e aquele ar de dono absoluto da situação. Simão comentou depois que o cabelo devia ser pintado naquele tom acaju.
O que chamou a atenção de Duílio foi a cicatriz que começava na orelha direita e ia até a junção dos lábios. Uma enorme cicatriz e foi então que ele percebeu que o tal quando falava sempre puxava a boca para a direita.
"Claro, deve ter tomado um talho na fuça e ficou esta baita cicatriz". Teve que se 'acostumar' a não ficar com o olhar fitado naquilo.
Mal baixara a poeira da da estrada seca' e todos se meteram dentro dos carros. Simão seguiu colado a ainda andaram mais uns 10 minutos na estrada de terra com cercas de ambos lados; estreita e mal passariam duas carroças puxadas a cavalo.
Porém, antes de saírem foram dadas algumas regras que deveriam ser respeitadas de uma forma: sempre.
"--- Estou pronto. Espero que os noivatos aí também estejam. Simão, como é a primeira vez de vocês chegando à minha fazenda eu vou pedir para trocarem de roupas para pôr algo... Assim... Mais de acordo com o espetáculo. Outra coisa que é importante se refere, meus amigos, ao não uso de drogas durante o show. Dura quase 90 minutos. Vocês verão que o tempo passa rápido e que ficarão querendo mais. E claro, sem esquecer que o que se vê aqui, se deixa aqui. Passando da minha porteira para fora é proibido demais da conta. Proibido em definitivo e saberão o porquê. Alguma pergunta... Simão?
--- Coronel...
--- Aposentado, mas coronel.
--- Não trouxemos mudas de roupa nem nada. Tenho shorts no carro. Serve?
--- Lá tem um 'uniforme' limpo, dois, para que usem. Vamos? Estão nos esperando lá".
O sotaque dele, nem Duílio nem Simão identificaram; o chefe com a pulseira de bicheiro tinha um S meio acariocado, com o R afirmando o contrário. Falaram que ele podia ser de Santos; ou do sul de Minas. De uma coisa acordaram: intuíram que ele não era paulistano, ou pelo menos, não da gema. 
Dentro do carro reinou o silêncio. Duílio fumava o restante do baseado e Simão 'mais tranquilo' um cigarro atrás do outro. Ambos comentaram do cheiro que advinha do corpo daqueles três homens. Não chegaram a uma conclusão: couro, suor de gente, ração, tabaco... parecia tudo isto junto.
"--- Chegamos Duílio. Nossa, parece um teatro de arena!
--- Que com certeza não tem nada a ver com 'Prometeu Acorrentado', nem com a 'Odisseia'".

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