sábado, 30 de junho de 2012

42 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - MEMÓRIA ALEGRE DO TEU RISO

Reprodução- o cérebro registra e não esquece
Tempos atrás, que parece que a memória se perdeu misturando frases, cheiros, cores, lugares... Mas a visão do riso e o som do riso eram tão... Tão cheios de amor, de ternura, de um conforto que nunca mais teve.
Faz anos e anos. Ele nem sabe mais como é isto. Ele sabe que o som e a imagem do riso são vívidos entranhados em sua memória reservada ao sentimento que nutriu um dia.
Seguem-se os dias e tudo o mais vai junto de sopetão: hoje, o que ficou é uma doce sensação, que, mesmo de um choro contido, chega a se apresentar quase de maneira espontânea.
Tanto tempo assim?
Houve um tempo em que ele fora mais feliz e mais feliz; sem sobressaltos, sem surpresas. Havia paz, pacifismo que só o amor pode trazer. De uma calma alentadora da vida dura.
Quanto ao riso... Bem isto não acontece mais, mas ele não chora por isto. Ele tem seu castelo invencível, indestrutível e é lá que agora ele obtém conforto.
Porque o som alegre do riso não vai existir mais nesta vida.
Os dias daquele tempo que nem durou tanto tempo assim não voltam mais; nem devem voltar.

"Quando eu escutava teu riso, podia não estar no mesmo quarto que você... Ficaram tantas marcas. Ah, e às vezes que você acordava cedo aos domingos, ligava televisão, ia à cozinha fazer o café, sentava-se no sofá gordo e aconchegante e xícara na mão ficava assistindo às séries americanas dos anos 90. 'São as melhores', você dizia. Recordo-me que em algumas destas manhãs, quando saía não fechava direito a porta de nosso quarto - não sei se para me acordar com o cheiro de café pela casa -; não sei o porquê com certeza. O que sei é que quando eu abria os olhos naquele acordar gostoso mesmo, escutava você rindo na sala, você gargalhava vendo as tais séries. 

Recordo também que eu ficava na cama, sonolento preguiçosamente, só para ouvir sua risada. Aquilo trazia uma paz para mim. Acho que nunca falei isto com você. Devia ter comentado naqueles quase dois anos que namoramos. Ouvindo seu riso, eu começava o meu dia sorrindo de leve de cara amassada no quase escuro, contente por ouvir que você me dava isto sem nunca ter sabido. Este prazer/sensação eram meus. Recordo também que eu acabava por rir de você, um tantinho mais alto, o que fazia você se levantar e me espiar pela fresta do quarto. 'Acordei você né? Estava aqui vendo tevê e rindo muito. Ah, você sabe!'. Como eu quis mais, como eu quis todo dia. Acabou, seu riso não escuto mais, seu sorriso de sol que brilha não vejo mais. Morrer daquela forma que morreu... Não foi nada justo Nem consegui falar tudo para você".

As lembranças acontecem para ele. Acontecem para todos e acabam que se finalizam - pelo menos esta - em uma tristeza atroz, trazendo a vontade de chegar em seu castelo para ver o conselheiro-mor e o príncipe herdeiro felizes ao abrir as trancas da cidadela sitiada pelo mundo. Deitar-se no chão da sala e ver o mesmo mundo pela sacada, bem seguro. Para dormir em sono solto, largado, esparramado. Mais tarde, pelo meio da noite, o caminhar para o quarto que tinha a porta entreaberta em alguns domingos.

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