sexta-feira, 8 de junho de 2012

40 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - SENTINELAS GUARDAM A PONTE

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Pelo espaçoso apartamento, o ar gelado toma conta dele todo. A janela da sala ficara aberta durante a madrugada de chuva, frio e umidade, com temperatura não marcando mais que 8°C.
--- "Cadê o calor lascivo e libidinoso dos trópicos?", pergunta-se.
Quando acordar pela manhã verá que o carpete cinza se umedeceu.
Dorme a sono solto envolto pelos edredons recém comprados em uma grande loja de artigos para casa: ambos são azuis e os lençóis brancos. No criado-mudo a garrafa pequena de água... Vazia, como sempre. Apenas de meias grossas brancas, ele abraça o gordo travesseiro e deve, por certo, estar a sonhar.
Dormira há pouco tempo, daí o fato de ressonar - pensando no amanhã de manhã, que nem seria o amanhã: tarde da noite fora deitar-se. Teria então que ir ao veterinário e depois - e o mais difícil - à padaria cumprimentar o funcionário que conversava minutos, todos os dias, porque talvez nunca mais fosse vê-lo. Uma conversa bem humorada, diga-se.
Ok, podia querer permanecer do jeito que está: sozinho, mais o conselheiro-mor e o príncipe herdeiro. Entretanto, também enclausurar-se por completo nem é possível. Por isto, ir lá para comer o bolo talvez não fosse uma má ideia; verdade, que deve haver a cantoria característica, palmas e abraços e cheiros. "Espero que receba presentes també. O cara merece".

--- Preparado para tanto? Toda aquela zoeira sem fim? Para levar o Rex tomar vacina, tudo bem. Mesmo que aquele café seja de máquina e muito ruim - fraco como os fracos. Hum, posso falar sobre isto com ele. Assim pode melhorar o trabalho de mandar a secretária loira (?) fazer aquele café aguado, com gosto que parece chá para gente gripada. Se fosse pelo meu príncipe do castelo, eu vou sem chateação alguma. Espero que... Espero que a clínica esteja vazia. É lá do outro lado da cidade. Agora, tenho que ir. E o compromisso depois? Não sei...

Fecha os olhos e apaga a luz do abajur; somente a luz mortiça e fria azulada do quarto pegado ficará acesa. Felino e Rex dormem juntos no tapete felpudo com uma pequena manta por cima. Enroscados. O outono está com ares de inverno nesta noite.
A última passagem pela mente antes de largar o consciente para trás e dominar-se pelo sono dos justos.

"Mesmo que eu respondesse, eu não sei se quero ter esta proximidade com alguém. Independente seja lá quem for. O fato é que eu estou ainda em fase de preparação para acontecer tais coisas".

Dormiu como um soldado cansado da batalha depois de os pés ficarem aquecidos - estava sem meia e na extremidade 'sul' de seu corpo é onde o inverno se faz mais presente. Se morasse em um lugar onde neve fosse usual neste período, por certo, sofreria. Mesmo com a quantidade de pelos nas pernas, braços e outros lugares, tal camada pilosa de nada adiantaria. Hoje, abraçados a 2 travesseiros, nu, e edredons dobrados quase o sufocando, ele pôde dormir extenuado da batalha. Re
Respiração pesada e mais espaçada. Foi-se.

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E caminha por largo caminho de terra, de pés descalços, vendo e aprovando a paisagem ao redor. Incerto quanto ao local, ele apenas segue andando. Ao longe, em uma curva quase fechada absurdamente, pode avistar a torre de seu castelo inexpugnável. 
Atento ao caminho está mais confiante que das outras vezes. Sozinho, ele sabe que deve permanecer alerta e vigilante. 
O castelo aparece em seu campo de visão. Apressa-se apertanto o passo desnudo pelo chão relvado de orvalho. 
Na porta, guardando-a dois sentinelas rasos, supôs.
--- 'Estou sozinho. Porque estes dois apareceram por aqui. Querem manietar minha mente? E quem são vocês? Respondam'.
Chegando perto ele enxerga com nitidez o veterinário, à esquerda, paramentado como um legionário romano cansado da construção da muralha de Adriano, e à direita o balconista metálico vestido como um fantasma: com um lençol branco longo e pesado.

--- 'Não pode ser. Até fantasma eu estou vendo. Aqui! No meu castelo?! 
Ao aproximar-se ambos se posicionam en frente à grande porta levadiça impedindo-o de adentrar em sua cidadela invencível.
--- Pensa que é assim? Chegar, passar por nós e entrar sem ao menos dar-nos uma palavra que valha à pena todo nosso esforço para melhorar um tanto sua vida? Veja, o príncipe está lá dentro, protegido por armaduras de ferro mil, como as do exército a que pertenço. E você sabe benissimamente com certeza, de onde eu venho - de longe - e para onde quero ir - muito perto.
Sua cara de de espanto beirando ao horror da surpresa (nunca gostara de supresas, sejam reais ou idílicas) foi percebida antes que o metálico soldado esboçasse alguma fala.


Abre os olhos e já é dia, de manhãzinha. Seu corpo bem aquecido permanece imóvel, mas sua mente começa a trabalhar. Vira-se e olha para o tapete: Felino e Rex ainda dormem juntos. A chuva persiste, o frio continua e o sono fora embora. Não gostou nada, nada, desta combinação.

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