quinta-feira, 27 de outubro de 2011

VIAGEM X

Neste Atlântico de emoções, o que é em mim
pacífico como a aragem de uma manhã de verão aqui nos trópicos?
Nas torres altas de pedras que construí para avistar o perigo que espreita e ronda, eu permaneço encastelado como em um passado mediaval de auto-afirmação de meu espaço,
de meu ser varrido a esmo 
para dar com os costados de minha nau no mais ermo  e escondido órgão
que é coração de quem canta a vida;
de quem andou com aquela melancolia de um fado cantado a quem ia para longe. Esquecendo a terra onde nascera, onde se criara e que logo ficou vazia.
Fui, voltei, tornei para os mesmos lugares
Estive em outros que deveria ter passado feito fumaça, evaporado antes de chegar
(os que ainda não pude ir... Estes são os que mais me amedrontam)
Descobrir tanta coisa, agir a mando de você mesmo. Sem variações.
Sem as vagas que afundaram emoções e crenças àquela época de frenesi por descobrir.
Aqui, dezenas de quilômetros do imenso mar que um dia Portugal tomou para si,
aqui, na terra dos Campos de Piratininga onde Portugal construiu a maior de todas
Vejo os milhões ziguezaguearem feito o amor de Camões por sua Inês, apressados
Lutando
Vivendo.
Hoje, nem sei porque estou há tanto tempo aqui nesta terra de pessoas que trazem consigo
um ardor de seguir em frente, dobrando as tormentosas desconfianças, os temores para viver na expectativa 
de verter uma esperança
naquilo que mais me traduz:
a cumplicidade que só sabem e praticam aqueles que se deixaram levar pelo viver. 
Às águas derramadas, um papel, as mãos.

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