quinta-feira, 14 de julho de 2011

03 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - ANTES DO SONO

Pelas maiores cidades do mundo e para as nem tão maiores ele poderia viajar dali, onde adormeceu no chão perto da porta sentindo o vento suave de outono; bastava quedar-se onde estava e onde sempre esteve: vasculhando sua mente, hemisfério esquerdo, direito, corpo caloso, cerebelo, córtex e afins. Antes de dormir, ou ali, quase, no último suspiro da consciência em que os problemas se vão para algum lugar. Dormia desde às 20h, logo depois de chegar do trabalho, sem se preocupar onde e por quanto tempo.
Risco o mundo, alguns pontos esquadrinho.
São Paulo, partida; e São Paulo chegada.
Daqui para Montevidéu, rasante pelos pampas e atravesso o rio da Prata e agora é Buenos Aires. Posso virar à esquerda ou direita. Por esta, Cidade do Cabo, atravessando o Atlântico. Depois, todos os bichos de lá passar pelo Índico, chegando em Perth. Se eu subir um pouco, posso ir para Díli e falando português.
Honolulu e claro o eixo São Francisco-Los Angeles. Calor um pouco e poderia ver os carros antigos em Havana. Seguindo no castelhano, Cidade do México e dali para... Madri passear na Praça do Sol, Barcelona, Sevilha, Saragoça, Ibiza, Málaga e Granada.
Ali perto está Faro e Lisboa, Coimbra e o Porto, tudo de Fernando Pessoa.
Paris, Cannes e Mônaco para ver a cor do mar.
Roma e o Coliseu, a via Ápia e o Império Romano; mas tem Nápoles, quente, bagunçada e estimulante. Milão para passear. 
Moscou e São Petersburgo no verão, não sem antes Atenas, e tudo aquilo que Atenas é, e Istambul, tomar café turco.
Claro, posso ver o Cairo também e Jerusalém e o mar Morto e dali para Bucareste, descendo para Alexandria e subo para Londres, desço para Casablanca.
Aproveitando as águas do Atlântico, ver Nova York a menos americana de todas as cidades americanas, andar e ver o mundo. Descendo na transversal 'aportaria' em Luanda. Risco o Atlântico e para em Nuuk (eu prefiro o antigo Gotdhaab, sem colonialismo) e ver o que vikings fizeram por lá. Então, rumo para Copenhagem, passeio pelo Báltico: Estocolmo e Helsinque.
Posso acabar? Não, ainda falta um pouco. Ver a ilha de Trindade e Martim Vaz, ponto mais oriental do Brasil, quase no meio do caminho à África; em ziguezague o verde da Amazônia, e o topo do Pico da Neblina. 
E voltando aos aglomerados de gente, uma parada nos Açores chego a Berlim, sem esquecer de bater o olho (o que significa isto nesta viagem?) em Amsterdã. E dali percorrer junto à ferrovia Transiberiana até chegarm em Vladivostok. Verdade, sempre esqueço de percorrer a ilha Sacalina, mas hoje não. Desço como um fio torto pelo Japão e vislumbro a gigantesca Tóquio. Fazendo uma linha sigo até Sidney e Tasmânia ver o diabo de lá. E já que estou aqui e o vento parece que quer se misturar à "ficção", atravesso o Pacífico inteiro e chego em Santiago; para o norte, Galápagos. 
Dentro do Brasil agora, quero passar pelos tipos de vegetação - cerrado, floresta equatorial de novo, mangues, costa, mata Atlântica, pampas, as serras do Sudeste. Em São Paulo o vento da madrugada refrescou um tantinho a mais...
Os dígitos azuis marcam 4h48. A avenida está meio quieta e a chuva fininha soa como bálsamo ao acordar. Não foi ruim, afinal... Levanta estralando os joelhos. O gato o chama, um afago, um ronronar, e segue para o quarto, logo atrás felinamente pelo companheiro silencioso e atento. 
A luz do computador no outro quarto exibia um esquálido tom de azul dando ao pequeno corredor um aspecto de calmaria perene. O cheiro ainda de pão torrado flanava pelo apartamento. Pronto, o quarto, grande e agora aconchegante. Arrebatou-se à cama puxando o edredon sob a pele fria dos ombros e braços; seu gato pulou para o outro travesseiro.
Ouviu um trovão ao longe, depois outro. Mais um e tentou contar 1, 2, 3... Entre um trovão e outro, porém não foi necessário.

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