domingo, 30 de junho de 2013

VIAGEM CXXVI - IRA, O DIA E A HORA

Reprodução [endereço abaixo]
 Àquele dia, um dia, (qualquer?), porém não era um dia qualquer. Foi um dia em que ele recebeu tantos nãos desaforados e só fez agravar-se quando não obteve respostas às perguntas. 
E porque, justamente, àquele dia, ele foi tomado pela ira que o transformou em ira de carne e osso? Então, era a ira, ora ele, ora a ira de novo. Que carreava sua carne e seus ossos para lugares que ele nunca havia posto os pés e que, em uma desenvoltura surpreendente, saía-se muito bem, sabedor de onde pisava. Para isto, não se conteve diante de nenhum obstáculo, não se deteve diante de nenhum grupo antes tido como resguardado. 

Em casa, antes da era da ira dominar o dia. 
A câmera montada na garagem continuou filmando a parede nua, por horas e horas até quando ele voltasse - pelo menos era sua intenção ao sair de casa àquele dia.
Um jeans remendado, tênis de alpinista, camiseta, camisa e casaco pretos porque pelo frio a cidade de São Paulo quedava-se envolvida.
Saiu, no seminovo sedã de velho, cheirando a produto químico e não mais a chocolate (não àquele dia), com tudo balanceado, tanque cheio, sem dar setas ao virar, parando em fila dupla e tudo o que ele não havia feito até o dia da ira. 

E fez muito, fez como nunca havia feito usando métodos de sofrimento e de dor, imputando culpa a todos sem o menor critério. Estava esganado por justiça - a dele -, em fazer dela seu instrumento de melhora do mundo, porque a outra que diziam existir ele estava farto de algo que nunca acontecera. E qdo fartou-se de esperar a esta justiça, rompeu com as crenças de indiscriminadamente, culpou a todos e a tudo. "Porque todos devem, todos têm culpa e se pensam que vão escapar sem pagar um 'centavo', equivocam-se sobremaneira. Como se $ pagasse o que fazem".
Ele arfava, e chega a espumar de ira pelos cantos da boca, o coração acelerado. Braços de Hércules, pernas com vigor para suportar os pequenos e eventuais contragolpes.
Ira que o protegia.

Judiou, esfolou, quebrou ossos, arrancou unhas e dedos, castrou homens, apavorou grávidas até abortarem e por fim deixou sangrar à morte todos que conseguira encontrar. Sangrando conscientes, é claro, para que a dor fosse ainda maior.
A ira levou seu dia tão rápido quem nem parecia ter começado ainda.
Voltou para casa àquele dia de ira cansado, prostrado, quase vencido pela tarefa que parecia não ter fim. Guardou o carro na garagem, comeu o último pedaço de chocolate ao leite, doce, mas tão doce que o fez quase engasgar. Trocou a bateria da câmera. Reclinou o banco e ali mesmo dormiu o seu sono de cansaço de ira, daquele dia em que ele esteve melhor como nunca.

http://www.clarion-journal.com/clarion_journal_of_spirit/2011/08/some-thoughts-on-the-wrath-of-man-by-fr-michael-gillis.html

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